Quase por acaso escrita por The Escapist


Capítulo 5
V


Notas iniciais do capítulo

Me desculpe qualquer coisa xD



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Benjamin percebeu que estava nervoso demais assim que passou pela porta do quarto de Eric, embora o ambiente já fosse bastante familiar.

— Não... — tossiu, a fim de limpar a garganta. — Não precisa fazer isso — disse, depois de se sentar na pontinha da cama. Eric se sentou ao seu lado e segurou em sua mão.

— Relaxa. — Ele ficou de cabeça baixa por alguns segundos, mas depois voltou a erguê-la, e levou a mãos aos óculos escuros para retirá-los.

Benjamin sentiu o coração palpitar e se xingou mentalmente. O que estava esperando? Apesar de estarem namorando há mais de quatro meses, ainda não tinha visto Eric sem aqueles óculos. Ele havia contado tudo sobre o câncer e a cirurgia que removera o globo ocular de seus dois olhos quando ele tinha oito anos; contara como tinha sido difícil se adaptar, como aprendera a ler em braile, utilizar as ferramentas de tecnologia e andar dentro de casa sem tropeçar nos móveis. Tinha confessado que sentia falta de ver as estrelas e de ver TV, dos desenhos animados e que, além de si próprio quando era pequeno, nunca tinha visto outro garoto sem roupa. De modo geral, ele não tinha problemas em falar sobre sua cegueira, contudo, não gostava de tocar no assunto dos óculos. Na única vez que perguntara algo sobre isso, ele tinha fechado a cara. Depois de conhecê-lo, Ben aprendeu que havia coisas sobre as quais ele não queria conversar e era melhor não insistir, embora não entendesse os motivos. Por isso ficou tão surpreso quando Eric tomou a iniciativa e falou sobre as próteses oculares.

Se não soubesse que ele havia passado por uma cirurgia de enucleação, Benjamin não saberia diferenciá-las de olhos de verdade.

— Nem parecem de mentira — disse, ciente de que era um comentário ridículo.

— Mas são — Eric rebateu. Ele pediu que Ben pegasse um recipiente que estava sobre o criado-mudo, e ao recebê-lo, começou a remover as próteses, guardando-as ali. — Geralmente meu pai tá por perto pra limpar e tal. Quando criança, eu odiava a ideia de ter olhos de mentira. Agora, isso é o de menos, mas ainda não me acostumei a andar exibindo estas lindas e falsas íris azuis. Além disso, minha mãe me convenceu de que eu era o Ciclope dos X-men, acho que ainda continuo acreditando nisso. — Ele deu um sorriso nervoso. — Não é muito charmoso, é? — perguntou, aludindo às cavidades vazias. — Olha, eu sei que você não é igual ao Bruno, mas... enfim, faço a maior parte das coisas que qualquer pessoa normal faz, mas tem muitas que não posso e, talvez meu pai tenha razão, tenho que aceitar minhas limitações. E entendendo se você ficar de saco cheio de ler o cardápio todo pra mim ou descrever as cenas silenciosas no cinema, eu...

— Cala a boca, Eric — Benjamin falou, mas não havia rispidez em seu tom de voz. — A gente tá junto há quatro meses, já tinha percebido que você é cego há algum tempo, sabe?

Outch!

— Não muda nada. Além disso, acho que tá mais fácil você ficar de saco cheio de mim, do que o contrário.

Eric o beijou e o empurrou, fazendo-o deitar de costas na cama.

— Seu pai tá em casa — Ben grunhiu, ainda que fosse difícil abrir mão daquele contato, porém a ideia de dr. Lucas entrando ali, de repente, e surpreendendo os dois, não lhe parecia agradável.

— O famoso empata foda. Cê acha que um dia a gente vai?

— Vai o quê?

— Transar.

— Espero que sim.

— Quando?

— De preferência quando seu pai não estiver por perto?

— Da próxima vez que ele estiver de plantão e a Miriam viajar — Eric determinou e Benjamin deu uma risada: aqueles dois eventos raramente coincidiam. Miriam às vezes precisava ficar um ou dois dias fora da cidade, mas ela e Lucas eram bem coordenados no sentido de sempre ter um adulto em casa para cuidar de Eric. — Ok, já que a gente não pode fazer, vamos ler lemon — acrescentou e pediu que Ben pegasse o tablet.

A primeira vez que Eric tinha sugerido aquele gênero de leitura, Ben ficara constrangido, mas agora isso tinha se tornado uma coisa só deles, afinal, quantos casais faziam leitura compartilhada de fanfictions com lemon?

— O que você quer hoje? — Ben perguntou, enquanto passava o dedo pela tela do tablet, rolando a página do site.

— Que tal Victuri?

— Boa ideia, inclusive eu salvei uma aqui que parece ser legal.

Os dois se acomodaram na cama para mais uma jornada de leitura, onde, vez por outra, eles paravam para executar alguma coisa que fora descrita em uma cena, ou mesmo comentar a praticidade de uma ou outra “técnica”. Se Lucas não viesse bater à porta e reclamar do barulho, passariam a noite inteira ali, acordados, mas depois de levar duas ou três broncas seguidas, Benjamin se levantava, dava um beijo de boa noite no namorado e ia para sua própria casa. Ou, se já fosse muito tarde, Lucas deixava que ele ficasse, então adormeciam de mãos dadas.

O melhor, Ben pensava, era que com Eric, ele se sentia seguro. Com ele, tanto podia ler Jean-Paul Sartre quanto alguma versão Yaoi dos contos da Disney. Podia falar sério ou fazer piadas autodepreciativas. Podiam mandar cento e vinte mensagens durante um dia, ou passar um dia inteiro sem se falar sem que isso parecesse estranho ou o deixasse apreensivo. Eric não havia se assustado nem com a cara enjoada de Eduardo, que naturalmente não se esforçava muito para gostar do namorado do filho. Mas isso era o de menos, Benjamin estava bastante convicto de quanto mais distante ele e o pai fossem, melhor seria a relação deles. Claro que amava o pai, mas não pautaria sua própria vida nas opiniões dele, tampouco o imitaria em qualquer aspecto. Diferentemente do pai, estava disposto a valorizar cada mínimo detalhe do garoto a quem amava.


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