Então não se importe
Eu estou indo muito bem, eu vou ficar bem, eu vou ficar bem - Sad (Bebe Rexha)

Não sei como, ou o porquê, mas sei que como minha mãe falou eu não tive pesadelos. Ela estava certa, como sempre.

Mas uma coisa que eu não entendia era como? Pensei e repensei em minha mente enquanto tentava criar coragem de sair da cama ao ver o sol brilhando em minha janela, bem através da cortina. Não tive coragem de ver as horas, eu provavelmente só dormi uns 20 minutos mas meu corpo reage como se eu tivesse dormido dias.

Afastei o lençol preto e me sentei na cama, passando a mão na raiz do meu cabelo, estava húmida, é, eu estava suada.

Caminhei até a porta do banheiro para tomar banho, mas parei ao ver que não tinha toalha e muito menos roupas para vestir depois. Seria melhor descer e falar com Renée, mas eu ainda tenho que… Droga, Angie!

Corri até a cama e peguei meu celular encima do criado mudo. Ela atendeu no terceiro toque.

— Obrigada pela consideração, Bella. — Sorri ao ouvir sua voz. — Sério, se não tivéssemos perguntado ao Charlie eu acharia que você estava morta!

— Não fala assim, Anjinho. — Disse sorrindo. Angela odeia esse apelido. — Desculpe, ok? Feliz?

— Muito. — Disse ela satisfeita. — Então, como está sendo ai? Faz muito sol?

— Ah... Por enquanto está ótimo, eu ainda estou acostumando. E sim, faz muito sol.

— Tire fotos. 

— Você quem manda. 

— É sério, só vou poder sair de Forks para a faculdade e eu vou fazer questão de ir para o lugar mais quente que eu achar.  — Ri de sua voz dramática.

— Bells? — Ouvi a voz alta da minha mãe, abri um sorriso e me despedi de Angela prometendo que ligaria antes de dormir. — Meu bem, você morreu ai dentro?

— Oi mãe. — Abri a porta do quarto e desci até o andar de baixo, soltando um bocejo. Cerca de dez minutos depois eu via o sol da janela da sala. Engoli um pouco de água gelada e ouvi Renée falar sobre sua vizinha fofoqueira e o menino que ela queria que eu conhecesse, seu nome era Alex e ele aparentemente tinha minha idade.

— Ele é lindo, você podia muito bem ter um… Como a Hanna chama? Ah, lance! Isso! Vocês poderiam ter um lance. 

— Mãe, eu estou bem solteira. — Assegurei.

— Agora, pode me falar quanto tempo eu dormi? 

— Bells, agora são nove da manhã. — A olhei chocada.

— Mas… Eu comi pizza na hora do almoço… Como pode ser nove da manhã? 

— Você dormiu o dia inteiro, Phil chega hoje a noite e nós vamos no shopping. E não adianta discutir. — Seus braços foram cruzados e ela bateu os pés no chão, igual uma criança mimada. — Quando você dormiu eu comprei uma peça de roupa, e um par de tênis. Vou te dar a toalha, tome banho.

— Mas eu ainda nem comi. — Choraminguei.

— Vamos comer lá. É melhor se apressar amor, eu tenho que escolher o presente do Phil. 

 — Porque eu achei que teria pelo menos um dia de descanso? 

— E você teve, meu bem.  Mas gastou dormindo. — Disse a morena de forma risonha. Seus cachos curtos se bagunçaram a medida que sua cabeça se mexia. — Lave o cabelo. 

— Okay, mas se eu escorregar, cair no banheiro e bater a cabeça a culpa é sua por estar me apressando. — 

— Se você bater a cabeça eu não vou poder pagar uma hidratação para você, então vai logo.

Cerca de vinte minutos depois eu estava saindo do banho. Meu cabelo húmido estava formando leves ondulações nas pontas. Olhei as roupas estendidas na cama, uma blusa que com certeza era masculina estava lá. A cor predominante é preto, mas na frente tem em amarelo uma palavra grande escrita: "Nirvana", e embaixo tinha uma espécie de emoji. 

Vesti a peça que batia um pouco abaixo da minha bunda. Vesti o short jeans desfiado que estava estendido. É, isso é a cara de Renée em seus tempos de rebeldia.

Calcei o par de all star vermelho e arrumei o cabelo, descendo as escadas logo em seguida. 

— Vamos? — Perguntei. Renée se levantou e me avaliou, sorrindo de orelha a orelha ao me ver. 

— Pronta para um dos melhores dias da sua vida? — Eu não tinha certeza se seria realmente um dos melhores dias da minha vida, mas balancei a cabeça me preparando psicologicamente para o "melhor dia da minha vida".

       …

Se tivesse uma palavra para descrever o que eu senti durante meu tempo com minha mãe é; Indescritível. Não existem palavras para descrever o que eu senti hoje.

Apesar de termos ido em quase todas as lojas femininas  — e algumas masculinas, a pedido meu — daquele shopping, eu não me senti pressionada momento algum. Pelo contrário.

Gargalhei das piadinhas sem graça de Renée, não porque eram engraçados, mas porque eram tão idiotas que eu não poderia deixar passar. Enquanto experimentava roupas eu ouvia as "fofocas dos vizinhos" que minha mãe fez questão de me relatar. 

Surpresa. É, eu estou surpresa por não ter me sentido oprimida em momento algum do dia, na verdade eu amei com todo o meu coração, e quero fazer novamente. Apesar de não ver o porquê de tanta roupa de calor, afinal eu não vou morar aqui, mas estou pensando seriamente em passar as férias de fim de ano.

Além de ir ao shopping minha mãe me fez ficar sentada em uma cadeira por duas horas, enquanto eu queria morrer pela dor de fazer a sobrancelha, okay, estou sendo dramática. Mas de qualquer forma não adiantou eu ter lavado o cabelo, já que minha mãe realmente me fez hidratar lá no salão enquanto eu observava ela fazer as unhas e conversar com  Jenna — a dona do lugar —. E aliás, eu tive que cortar as pontas do cabelo, mas no final eu até gostei, inclusive a parte se pintar as unhas.

É... Eu faria de novo.

Minha mãe sempre teve a grande capacidade de fazer tudo ficar mais leve. 

— Meu amor, você está um arraso. Não é atoa que saiu de mim. — Renée sorriu, ajeitando minha saia xadrez  que combina com... Minha mãe me falou o nome disso mas eu com certeza não vou lembrar. De qualquer forma a parte de cima só cobre os seios deixando toda a mostra, é incrivelmente bonito, tenho que admitir, mas meio aberto. A saia vem em cima do meu umbigo e termina no meio das minhas coxas pálidas. — Parece uma bonequinha. 

Uma bonequinha provavelmente pornográfica.

— Hum, é, mãe? — A chamei. — Tem certeza? Eu não sei se estou bonita-

— Não ouse terminar essa frase, Isabella Marie Swan! — E de repente uma pequena nuvem de raiva se fez em minha mãe, a fazendo me agarrar pelos braços, forçando-me a olhá-la nos olhos. — O que aqueles malditos fizeram com você, meu amor? Porque a sua auto estima está tão baixa? Se fosse a uns meses atrás  você riria comigo e apenas reclamaria de ter pouco corpo para uma roupa linda assim. Mas olha para você! Se dissolveu, está maravilhosa e não consegue enxergar isso? 

Puta que pariu.

Fiquei sem saber bem o que dizer diante disso, então sorri. Um dos poucos sorrisos verdadeiros que eu dei diante da minha situação atual. 

— Obrigada, mamãe. 

— Ótimo, agora chega. Vamos aproveitar a noite.

E então tão rápido como veio, a nuvem de raiva e tristeza foi embora. Estávamos em meu quarto para minha mãe me ajudar a… Pintar minha cara? Bem, eu não deixei ela passar aquele tanto de coisa em meu rosto, apenas acatei um batom vermelho, uma máscara de cílios e… Eu não sei o nome daquela coisa. Que se foda. Algo relacionado a olho de gato.

Phil tinha chegado antes de nós, passamos o dia fora e quando chegamos ele estava na sala assistindo algum jogo. Eu achei que minha mãe fosse lhe beijar e todas essas baboseiras de filmes românticos mas ela apenas sorriu e mandou ele pegar as compras no carro. Não pude deixar de rir quando ele foi sem reclamar.

Em pouco tempo aqui eu tive mais certeza que ele na verdade é o amor da vida da minha mãe. Se é que isso existe. Eles se completam de uma forma tão única que eu sei que, por mais que eu já quis quando criança, Renée nunca terá com meu pai. 

Sob meus protestos, Renée ajeito meu cabelo longo e sorriu ao me ver de saltos pretos. Não são tão altos então ficou mais fácil de me equilibrar. E também foi mais fácil porque eu estava treinando para o baile antes de James e da minha quase morte.

— Pronta? — Ela sorriu com sua alegria me contagiando.

O que eu posso dizer se a minha primeira festa na vida será ao lado da minha mãe e do meu padrasto? Eu só espero que não termine em catástrofe.

— Pronta.