Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 23
Como se eu já não tivesse problemas o suficiente, o Universo mandou mais um


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, eu quero deixar claro que o acontecimento em que gira esse capítulo todo NÃO é aleatório.



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A chuva de tiros nos acompanhou até a TARDIS, passando pela gente e nos errando por pouco. O Doutor foi o primeiro a chegar na nave e se jogou para dentro, me puxando com ele. Jack passou pelas portas e as fechou rapidamente.

O Doutor correu para o console, fazendo a TARDIS sair dali antes que os Sontarans dessem um jeito de nos pegar.

A culpa dessa encrenca toda foi de Jack. Ele fez um comentário totalmente impróprio sobre os Sontarans na frente deles, além de dizer que como eles se pareciam com batatas, milhares deles deviam estar sendo mortos para virar batata frita.

—Vocês viram como eles ficaram putos?-Perguntei, tendo uma crise de riso.

—Jack, você não pode falar esse tipo de coisa. -O Doutor repreendeu. -Principalmente sobre a reprodução dos Sontarans. Até por que eles são clones, então não...

—Ninguém quer uma aula da biologia das batatas aliens, Doutor. Ai, eu fiquei sem ar. -Tentei parar de rir.

—Eles deviam ter um pouco mais de humor. -Jack comentou. -A culpa não foi minha... -Me apoiei nele, cobrindo a boca com a mão, a risada cessando automaticamente. -Tis? O que foi?

—Nada. Só... Essa correria me deixou cansada.

—É a segunda semana. -O Doutor disse.

—O que?-O encarei, ele parecia muito sério.

—Como poderia não saber? Vocês todas deviam saber esses coisas. -Franzi a testa.

—Do que está falando?-Olhou para Jack, então pra mim.

—Você está grávida. -Balançou a cabeça como se espantasse um pensamento. -Eu devia criar uma regra proibindo pessoas de fazerem coisas na minha TARDIS. Já é a segunda vez!

—Como é que é?-Voltei a rir. -Essa foi boa, mas não sou idiota de cair nessa. Se tivesse dito que eu tenho uma doença alienígena ou coisa do tipo...

—Não é uma brincadeira. -Parei de rir.

—Doutor, sério, isso não tem graça.

—Não estou brincando. -Abri a boca e a fechei, sem saber o que dizer. -Eu juro... Não é brincadeira.

Olhei para Jack. Ele parecia chocado, muito chocado.

—Diz alguma coisa. -Pedi. -Jack.

—Tis, eu... Sinto muito. -Ativou o Manipulador de Vórtex e desapareceu.

—Filho da... Desgraçado!-Me abaixei, as mãos na cabeça, respirando com dificuldade. -Isso não devia acontecer... Não devia... Eu... Eu não podia...

—Está tudo bem. -Se abaixou ao meu lado.

—Não. Não está. -Olhei pra ele. -Você tem certeza?

—Fiquei desconfiado e fiz uns testes com a TARDIS. Cem por cento de certeza.

—Sempre me disseram que eu não podia... Que eu não teria... E nunca aconteceu.

—Quem disse?-Olhei pra baixo.

—Não importa. Não... Não im...

—Tis, respira. -Segurou minhas mãos. -Vai ficar tudo bem. Apenas respire. Você não está sozinha. -O encarei. -Sei que está pensando nisso. Mas eu estou com você, e Jack... Jack jamais a abandonaria.

—Mas ele abandonou. -Balançou a cabeça negativamente.

—Jack apenas... Ficou surpreso e assustado... Mas vamos encontrá-lo e vamos lidar com isso juntos.

—Eu...

—Você confia em mim?-Assenti. -Então acredite quando digo que tudo vai ficar bem. -Me ajudou a ficar de pé. -Alguma ideia de onde encontrar Jack?

—Meu MV pode localizar o dele. É um ajuste que eu fiz... Secretamente, em caso de emergência.

—Acho que isso pode ser chamado de emergência.

—Com certeza.

Jack tinha voltado para Cardiff. O Doutor e eu descemos da TARDIS, olhando em volta até localizá-lo sentado num banco. Havia uma garota ao lado dele, eu não podia ver direito seu rosto, apenas suas roupas e cabelo escuro. Ela ergueu a cabeça quando percebeu que eu me aproximava com o Doutor e ficou de pé rapidamente, se afastando e sumindo nas ruas.

Parei na frente de Jack. Pelo menos ele parecia culpado.

—Tis... Me desculpa. Eu não devia ter fugido. Sinto muito. -Acertei um tapa no rosto dele.

—Sente muito? Sente muito?

—Tis...

—Estamos nessa juntos. Se acha que vai pular fora, saiba que eu acabo com você. Entendeu?

—Entendi. Eu só... Você sabe que minha experiência como pai não é a melhor.

—Não me importo. Olha pra mim. Eu nunca tive uma figura materna. Acha que é um pai ruim? Espere pra me ver em ação. Isso... Isso se eu decidir ter o bebê.

—Desculpe, o que? -O Doutor perguntou. -O que isso...

—Significa que a gravidez seria interrompida.

—Você... Você faria isso?-Assenti. -Mas... Jack?

—A escolha seria minha, Doutor, é o meu corpo.

—Jack?

—Eu a apoio em qualquer decisão. -Respondeu.

—Achei que vocês não desistissem. -Me encarou. -Você era contra desistência.

—Isso é diferente. -Avisei. -Não tomei decisão nenhuma ainda, nem poderia. Mas quando decidir, ninguém vai me impedir, entendeu?

—Sim. -Suspirei e me sentei ao lado de Jack. -Há algumas coisas que vocês precisam saber. Não são o primeiro casal a... Vocês não são os primeiros... Vocês fizeram um bebê na TARDIS, e isso tem consequências. Sei disso por que já aconteceu antes.

—Está tentando dizer que vou dar a luz a uma coisa com duas cabeças ou três pernas?

—O que? Não. Seu bebê é humano, mas com características de um Senhor do Tempo.

—Ele pode se regenerar, como você?-Jack perguntou.

—Exatamente. E mais outras coisinhas também, mas o fato é... Isso pode acabar... Bem perigoso.

Então ele contou sobre Amy e Rory Pond, e como eles tiveram um bebê, Melody Pond, e que ela foi sequestrada para ser uma arma e mais tarde se tornou River Song.

—Espera. -Pedi. -River Song... A mulher na TARDIS... Você se casou com uma mulher que devia te matar?-Deu de ombros.

—Essas coisas acontecem.

—Você acha que o nosso bebê corre perigo?-Jack perguntou. -Como aconteceu com a filha dos seus amigos?

—Sinceramente? Eu não sei. Eu espero que não. Há muitas pessoas que adorariam colocar as mãos num bebê tão especial, mas... Não posso afirmar nem negar nada.

—Mas se...

—Quero ir pra casa. -Interrompi, ficando de pé. -Doutor, pode me levar? O MV não deve ser utilizado por grávidas... Gera complicações na gestação e pode prejudicar o bebê.

—Eu levo, claro que levo. -Respondeu. Jack ficou de pé.

 

—Se não se importa... Eu prefiro ficar um tempo sozinha.

—Tudo bem. -Murmurou. -Se precisar de alguma coisa, é só me ligar e eu...

—Certo. Doutor, podemos ir?-Comecei a ir em direção à TARDIS. O Doutor demorou um pouco, e se apressou para me acompanhar.

—Ametista...-Começou.

—Sério, não diga nada. Já ouvi coisas demais por um dia.

Eu ia pirar. Sentia que minha cabeça ia explodir. Como poderia pensar no que ia fazer se não conseguia pensar?

No que estava me tornando? Alguém que desabava facilmente? A Ametista que costumava ser parecia estar desaparecendo... E eu ainda não sabia o que achava disso.

***

—Tis?

Sentei na cama, despertando confusa e sonolenta. Jack apareceu na porta do meu quarto, agitado como nunca.

—Graças à Deus. -Murmurou, suspirando de modo aliviado.

—Que?

—Você não deu sinais de vida há três dias. O que queria que eu pensasse? Não pode ficar fazendo isso.

—Você achou o que, que eu tinha me matado?

—Três dias, três!-Revirei os olhos.

—Grande coisa. Se você esperou três dias pra aparecer, não estava tentando me impedir de morrer.

—Achei que você precisava de um tempo.

—É, eu precisava sim.

—Precisamos conversar. Te espero na cozinha.

—Tá legal.

Permaneci mais alguns segundos na cama, então suspirei e levantei, procurando roupas mais quentes por causa do frio.

Jack estava fazendo café, acho que mais pela necessidade de se manter em movimento do que por vontade de beber.

Me sentei em frente a bancada, encarando o pote de açúcar.

—Esse clima estranho vai durar até quando?-Jack perguntou, parando do outro lado da bancada.

—Não sei.

—Tis...

—Eu pensei bastante sobre... Isso, mas ainda não cheguei a alguma conclusão gigantesca. Só sei que... Seria um desastre como mãe. Não tenho nada que seja necessário pra criar ou cuidar de uma criança. A vida no orfanato foi um inferno, e é o único exemplo de infância que eu tive. Não é algo que seja desejável para nenhuma criança.

—Eu não sou um bom pai. -Ergui o olhar lentamente para encará-lo. -Pergunte à Alice se quiser. Eu fui péssimo. Mas não significa que eu não possa fazer tudo diferente dessa vez. Você e eu até podemos errar com essa criança, mas vamos aprender juntos com nossos erros. -Ergui uma sobrancelha.

—Andou falando com o Doutor?-Deu uma risada curta.

—É. Ele está preocupado com essa situação.

—Não. Ele acha que vou abortar, por isso está subindo pelas paredes.

—E isso não passou pela sua cabeça?

—Ainda estou pensando nas opções. -Apoiei o rosto na mão. -Como é que justo a gente foi se meter nessa confusão?-Sorriu.

—De um jeito bem divertido.

—Você está proibido de fazer piadas sobre isso, Jack Harkness. -Ergueu as mãos em gesto de rendição.

—Como você mandar.

—Olá!-Nos viramos para a porta. O Doutor entrou e sorriu olhando de um para o outro. -Como estamos?

—Você entrou sem bater. -Avisei. -Isso me faz querer bater em você.

—Agressiva como sempre, parece estar bem. -Jack me entregou uma xícara com café. -E então... Prontos para o casamento?

—Que casamento?-Jack perguntou.

—O de vocês. -Ele escolheu um péssimo momento pra dizer isso, pois eu tinha acabado de beber café, e acabei cuspindo tudo. -Opa, tudo bem aí?

—Você perdeu o juízo de vez?-Perguntei. -Casamento? Quem falou em casamento?

—Eu falei. Vocês vão ter um bebê. Precisam ficar juntos e protegerem um ao outro. Um casamento é uma promessa, e é justamente o que precisam agora.

—Isso definitivamente não vai acontecer.

—Tis, não adianta fingir, todos sabem que você é apaixonada pelo Jack.

—O que foi que você disse?-Fiquei de pé. O Doutor recuou.

—Eu não devia ter dito isso?

—É melhor se preparar para regenerar!

Avancei na direção dele, que começou a correr pelo apartamento e se escondeu atrás do amigo. Quando tentei pegá-lo, Jack me segurou.

—Tis?

—Ele é maluco. Você sabe que ele não fala coisa com coisa.

—Ei!-O Doutor reclamou, então se encolheu quando o encarei.

—Não vai haver casamento nenhum. Entendeu? Vocês acham que vou colocar um vestido branco e ir até uma igreja e dizer votos? Vão ter que me amarrar e tudo mais se planejam isso.

—Não é má ideia.

—O que disse?-Arregalou os olhos.

—Nada. Na verdade, imaginei que casamentos tradicionais não são a sua cara e não estava sugerindo isso. Já ouviram falar nas igrejas do Elvis Presley?

—Você fumou alguma droga espacial?

—Eu posso levá-los para serem casados pelo Elvis original. Ele é meu amigo, me faria esse favor.

—Seu amigo?-Jack perguntou.

—Com quem você acha que ele aprendeu aquele gingado todo?-Revirei os olhos. -E então...?

***

—Não sei como contar isso de outra maneira... Tis e eu nos casamos. -Jack disse. Ianto, entrando na sala de reuniões, deixou a bandeja que segurava cair.

—Vocês casaram?-Gwen perguntou. -De verdade?-Mostrei a aliança.

—De verdade. Tis está grávida, então... -Ianto, que já havia recolhido o que tinha deixado cair, derrubou tudo outra vez. -Tudo bem aí?-Jones assentiu.

—Vocês vão ter um bebê?

Eu estava exausta, então deixei Jack explicar tudo. Enquanto isso, me mantive observando Ianto. Ele não ergueu mais a cabeça, e parecia bem pálido.

No fim, Jack saiu com parte da equipe. Fiquei para trás, com Ianto.

—Eu sei que você gosta dele. -Avisei. -E sei que esse casamento é mais uma obrigação do que qualquer outra coisa, mas farei de tudo para que dê certo. Então te peço: se afaste de Jack. Não importo que seja amigo dele, apenas lembre-se que ele é meu marido agora.

—Jamais faria qualquer coisa para prejudicar seu... Casamento.

—Obrigada. -Então continuei andando sem olhar para trás.

Jack se mudou para o meu apartamento ainda naquele dia. Mesmo sem dizer, eu sabia que ele queria que isso tudo desse certo. O Doutor tinha nos unido, agora restava saber se alguém ia desafiá-lo e nos separar.


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Notas finais do capítulo

Quando Tis diz "Sempre disseram que eu não podia...", é uma referência ao passado obscuro dela.
Eu sei, eu sei, grande parte de vocês devem estar gritando "clichê!!!" aí do outros lado. Em minha defesa, eu amo um bom drama mexicano. Enfim, eu não posso falar nada ainda sobre essa novidade na vida da Tis e do Jack, muito menos o que vem pela frente. O fato de Ametista estar grávida surgiu antes mesmo da fanfic começar a ser escrita. Eu decidi isso enquanto anotava minhas ideias sobre todas as fanfics da Série Universo. Então, novamente, não foi algo aleatório. Logo vocês vão ver que isso era necessário.
Jack e Tis agora estão casados... E no próximo capítulo, as coisas podem ficar frias para alguém.
Até mais e não me matem kkkkk



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