She keeps me warm [Sherri Polo] escrita por larissa


Capítulo 4
Terraço e escrivaninha.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem, esse capítulo está um pouco apimentado no final, mas é que não dá pra ser um simples beijinho entre as duas. Espero que vocês gostem!



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Semana 4: A primeira vez que nos beijamos.
Capítulo 4: Terraço e Escrivaninha



Para o bem da nossa amizade fizemos um pacto inconsciente de que ignoraríamos o que tinha acontecido e seguiríamos, fingindo que aquele momento cheio de emoção havia sido apenas um devaneio, reflexo de nossas personagens. Tínhamos passado tão perto de cruzar a linha, nunca me perdoaria se fizesse algo que afastasse para sempre Sherri de mim, afinal, eu não tinha nenhuma garantia de que era recíproco e se eu tivesse avançado, por mais que estivéssemos envolvida naquela situação momentânea, depois seríamos lembrada - como aconteceu - de que ao sair dali ela tinha quem lhe dar um braço gentil e reconfortante: seu marido no qual ela pretendia ter filhos com ele.

 

Essa perspectiva fez com que eu colocasse meus pés no chão. Era melhor tê-la ao meu lado como amiga do que não ter mais sua presença e se Sherri estava feliz, eu também ficava feliz. Obviamente que não estava sendo uma decisão fácil, mas assim como o meu acordo com o governo, esse também daria frutos positivos, era necessário apenas ter calma e autocontrole. E talvez por isso, eu evitava ficar sozinha com ela. Avisei o porteiro de que ela podia continuar subindo, mas que ele me avisasse assim que ela passasse por ele, só para eu não ser pega de surpresa.

 

As visitas continuavam vindo, mas agora aconteciam sempre acompanhada com outra pessoa do elenco ou até mesmo a sua irmã. O que era imensamente engraçado, pois eu tinha certeza de que se algo realmente acontecesse entre mim e a Sherri eles não falariam para ninguém, talvez sua irmã, mas tenho dúvidas, pois todos eram extremamente leais. Naquela noite, teríamos uma comemoração, a primeira temporada tinha sido uma das melhores audiências da emissora e a série estava em alta. E eu tinha sido escolhida para ser homenageada e ganhar um prêmio de representatividade e luta pelos direitos dos LGBTQ+ e a festa ocorreria algumas semanas a frente, mas quando todos souberam do convite logo arrumaram uma desculpa para comemorar.

 

Eu havia avisado que minhas condições financeiras impediam algo daquele nível, mas rapidamente fui calada por vários: "Nós estamos fazendo isso por você". Então, lá estava eu, no terraço do apartamento de Peter Paige, nosso produtor. Como era algo nosso, não me arrumei muito, apenas um vestido solto com meus sapatos de salto, cabelos ondulados e maquiagem leve. Quando cheguei já estávamos todos e eu sorri imensamente ao ver minha segunda família.

 

Meus filhos me acompanhavam, mas não ficaram muito ao meu lado, afinal, eu não era a única com crianças e logo que chegaram caçaram um modo de se divertirem. Cumprimentei a todos com carinho, conversando com cada um sem pressa. Em meio a socialização bebia um vinho e de longe vi a atenção que Sherri dava para minha filha. 

 

Era naquele tipo de momento que ficava extremamente difícil amar aquela mulher, pois quando ela tomava atitudes daquele modo, facilmente eu imaginava um futuro juntas, nós duas dividindo as responsabilidades e cuidando da nossa família. Foquei tanto na cena que até me desliguei da conversa que estava com Bradley e quando dei por mim, ele já me olhava com um sorriso desconfiado.

 

— Eu não sei o que seria o melhor conselho pra vocês… — Ele falou desviando os olhos da direção que eu encarava, enquanto eu bebia outro gole me fazendo de desentendida. — Mas espero que eu não aguente vocês duas grudadas uma na outra o dia todo, por nada.

 

— Posso dizer que não sei do que você está falando, mas se eu soubesse, diria que a vida dela está muito bem planejada e encaminhada… — Ao menos era isso que eu repetia sempre para mim. — Em listas e agendas…

 

— Estar planejada não me soa bem… Mas, você não pode negar a liberdade que trás para ela. — Acabei por espionar minha co-star novamente com a frase de Bradley, Sherri ainda estava próxima da minha filha, deixando a pequena brincar com suas madeixas. — Afinal, antes de você Sherri era uma pessoa vergonhosa, toda séria e reta. Todos nós vimos que você fez o botão se abrir em uma linda rosa. E isso é lindo.

— Ainda não sei se você é o anjo ou o capetinha que fica sussurrando ao meu ouvido.  — Precisava de uma piada e um escape para aquela conversa que mostrava que talvez tinha uma mínima chance de ser verdade um futuro com Sherri. — Porém, não cabe a mim decidir qual caminho ela seguirá. Mas isso é tudo uma hipótese para o acaso de estarmos apaixonadas uma pela outra, o que é um equívoco, pois somos boas atrizes e amigas.

— Boa atriz não sei se você está sendo olhando-a assim, mas ‘cá entre nós, o casamento dela não está indo bem, pois uma certa pessoa  — Nem precisava usar o sarcasmo para eu entender de quem se tratava.  — Está mais parecendo a mulher dela do que o próprio marido. — Bradley sabia tocar na ferida e deixar meus sentidos aguçados.  — Vocês deveriam conversar e se resolverem, porém, eu não vou mais me intrometer, já fiz meu papel de anjo. — Ele deu uma risada e eu estreitei os olhos, lembrando que Lúcifer também era um e olha só o que deu.  — E parabéns pela representatividade LGBTQ+, mas o prêmio mesmo é você conseguir a sua mulher.

Terminando a conversa séria sobre mim e a Saum, recebi as felicitações, porém, algumas das falas de Bradley ainda perpetuavam na minha mente. E por mais estranho que tivesse parecido, eu e a Sherri não passamos de um olá na entrada, mas decidi relaxar, evitando pensar o que significava, afinal, a noite era pra eu esquecer dos meus problemas.

 

Bebia meu vinho que fazia o trabalho de me deixar mais solta e alegre, baguncei os fios castanhos-escuros de Hayden e disse para ele se comportar mais como uma criança do que com um adulto de quarenta anos, atrapalhei uma selfie de Maia e Cierra com minha mania de fazer careta, dancei brevemente com David e agora só faltava interagir com minha co-star.

 

Como o jantar ainda não tinha sido servido, havia pessoas espalhadas por todo o local, mas eu fui sentar na mesa, então Sherri se aproximou, como se soubesse dos meus passos e que só faltava ela a receber um pouco de carinho. Eu  já havia bebido mais do que três taças de vinho tinto e começava a ficar embriagada, mas totalmente consciente do que eu fazia, mas a presença da minha co-star balançava uma pequena chama dentro de mim.

 

— Então é você que fica mimando a Bailey. — Puxei assunto, afinal, até para distância havia um limite, ainda tínhamos que ter um bom relacionamento pela profissão. Totalmente saudosista a Saum sorriu com meu comentário.

 

— Se alguém é culpado aqui, é você, por ter feito filhos tão maravilhosos.  — O sorriso dela era tão lindo.

 

— Boa jogada, mas estou de olho em vocês aprontando.  — Estreitei os olhos tentando parecer ameaçadora, mas Sherri não se importou, na verdade eu senti o olhar dela concentrado em mim. Eu gostava daquela atenção.

 

— E parabéns! Estou muito orgulhosa de você.

 

— Se você não fosse minha co-star tenho certeza que nada disso teria acontecido. — Uma frase ambígua, pode significar tantas coisas e revelar tantas outras, podia até ser aceita de forma negativa ou positiva.

 

A verdade era que muita coisa mudou desde o momento que vi Sherri saindo do elevador. Significou que eu podia amar uma mulher como nunca achei que fosse capaz e que além disso, não havia problema em amar alguém do mesmo sexo. Eu me encontrei quando achava que estava perdida pelos casamentos fracassados e as dívidas, um amor além de mim, além da minha felicidade, pois o que importava para mim era aquela pessoa ao meu lado. Todas as emoções pensadas se afloraram com o álcool e minha mão trêmula segurou com mais força a taça, Sherri percebeu, por que quase nada escapava daqueles olhos castanhos.

 

— Vou pegar mais vinho. — Dei uma desculpa qualquer para levantar, precisava de um ar, meus pensamentos estavam rápidos demais e a bebida ressaltou muito do que eu pensava em sentir, estava totalmente emotiva. Segui o caminho para o apartamento, precisava sair daquela festa um momento, colocar meus pensamentos em ordem e segurar as pontas para o restante do jantar. Estava ao mesmo tempo desolada e satisfeita por ter noção do que minha abdicação de Sherri significava.

 

Eu realmente não sabia se alguém havia reparado minha ausência ou que Sherri tivesse me seguido com o olhar para saber que eu não havia ido buscar bebida, mas assim que fechei a porta do cômodo que eu havia entrado, me senti mais aliviada. Percebi que era o estúdio de criação de Peter. Deixei minha taça sobre a escrivaninha e sentei-me na poltrona, tinha fotos de outros trabalhos, mas também havia do elenco de The Foster’s. Passei a mão sobre a fotografia, como se acariciasse o rosto de Sherri. Fiquei encarando o porta-retratos dando um suspiro longo.

 

— Espero que não esteja fugindo de mim novamente. — A voz de Sherri quebrou o silêncio e eu levantei da poltrona em um pulo, assustada, ofegante e envergonhada por ter sido pega no flagra. — Não trocamos nem meias palavras.

 

— Eu não fujo, o vinho subiu um pouco e vim relaxar. — Menti. — Está tudo bem?

 

— Eu não sei... — Ela pareceu confusa e um tanto insegura, eu me preocupei, segurei sua mão na minha apertando os dedos dela.

 

— Prometo ser uma ótima ouvinte. — Dei um sorriso pequeno para passar segurança.

 

— Você sempre é ótima, na verdade, é até demais. Eu é que deveria te dar apoio nesse momento e olha só onde estou. — Ela sorriu magoada, talvez se achando uma péssima amiga. Fiquei um pouco aliviada por ela não querer falar de nós, mas também intrigada pelo o que incomodava a afro.

 

— Conversa comigo, Sherri. — Ela ficou desconfortável com a frase, pois remexeu levemente o pescoço como se entortasse. — O quê? Não gosta quando eu te chamo pelo nome?

 

— Só estou acostumada com outros apelidos e não meu nome. — Ela deu um sorriso sapeca e se aproximou, puxando minha mão para passar pelo corpo dela indicando que queria um abraço.

 

— Não sei se estamos fazendo isso certo. — Ponderei lembrando-a do nosso momento na cozinha. — Você sabe...

 

—  Não precisamos falar sobre isso, agora… — Ela me silenciou colocando o indicador sobre meus lábios, apertando levemente para depois raspar o dedo na superfície. Meu coração bateu mais rápido e eu apertei ela mais em mim, dando o carinho que ela precisava. Aconcheguei seu rosto no meu ombro e beijei a lateral de seu rosto.

 

Em todos os meus devaneios, nunca imaginei que aconteceria o que ocorreu. Sherri se aproveitou da posição e deu um beijo no meu pescoço. Começou com um selinho que me fez curvar os lábios em uma risada tímida, depois ela esfregou a ponta do nariz, contudo, ela não estava satisfeita, mais ousada entreabriu os lábios dando um beijo mais apetitoso e mesmo se eu resistisse nada impediria o arrepio que dominou todo meu corpo. Minha boca secou, meu coração acelerou. O quê aquela mulher estava fazendo?

 

A boca carnuda subiu para a orelha e puxou o lóbulo da mesma, dando uma mordida leve que me fez soltar um gemido baixo, sem resistência eu curvei o pescoço dando total acesso a ela, entrei com meus dedos em seus cabelos, segurando e bagunçando os fios. Eu estava com tanto calor que parecia que os lábios de Sherri era lava vulcânica que estava passando por meu corpo. O que estava acontecendo?

 

Eu não tinha controle sobre meu corpo, minha mente tentava gritar mais o coração e o desejo facilmente calavam o som, Sherri estava acabando com minha sanidade do nada, colocando fogo em todo meu ser. Eu não entendia o motivo daquilo ou o por quê, talvez ela também estivesse louca de saudade e desejo e bem ali tentava saciar, porém, eu não podia deixá-la se aproveitar de mim daquela maneira, eu precisava ter consciência. Entretanto, quando ela se afastou a última coisa que eu quis era ter noção do que estávamos fazendo.

 

Sua expressão parecia dizer que ela não sabia o que estava acontecendo, nem o real motivo, uma confusão do certo e errado, antes que o momento fosse estragado por culpa ou qualquer outra coisa, as minhas mãos que estavam no cabelo desceram pelo pescoço, empurrando o corpo dela para o meu e assim finalmente, minha boca tocou a dela.

 

Eu já havia sentido os lábios dela antes, já havia beijado-a várias vezes em cenas, mas só o fato de não ser algo escrito para fazermos deixava tudo mais gostoso. A boca dela tinha gosto de vinho tinto que e era o meu sabor preferido. Eu beijei Sherri com tanta calma, sem pressa, sentindo a textura dos seus lábios inferior com a ponta da língua, deixando meus dentes rasparem lentamente. Nem me dava ao trabalho de sair para respirar, tentava ao máximo fazer a façanha enquanto nos beijávamos.

 

A necessidade fez a situação se evoluir. Nosso beijo estava tão gostoso que eu me deixei envolver, minha mão acariciou a cintura magra e fina, apertando a carne da lateral. Com calma eu troquei de lugar com Sherri para colocar ela apoiada na escrivania e eu ter mais aproximação, pois agora estava entre suas pernas. Nem precisava dizer o quão excitante era a situação, porém, mesmo que estivéssemos dando breves respiradas durante o beijo não foi o suficiente e nos separamos. Nossos olhos se encontraram, os dela estavam foscos de desejos e os meus, eu tinha certeza que estavam também.

 

Eu queria mais. Conduzi minha boca para o seu maxilar, passando meus lábios do queixo a orelha. Passei a ponta da língua no seu lóbulo, assim como ela havia feito em mim, conduzi para trás da orelha, mudei os movimentos e mordi levemente a lateral do pescoço e fui descendo. O perfume dela estava forte ali que eu queria ficar com o cheiro no meu corpo. Sherri suspirou e com as pernas em minha cintura me puxou para frente. Provavelmente eu estava sonhando, porque peguei no sono na cadeira, não era possível.

 

— Nossa.

 

— Precisamos voltar ou vão sentir nossa falta. — A tranquilidade que ela disse a frase me surpreendeu, pois eu estava devastada depois do que houve. Como do nada a gente se beija daquela forma? Eu estava totalmente derretida.

 

— Precisamos conversar…

 

— Não é o melhor momento para conversar, mas precisamos. — Ela desceu da mesa, ajeitou sua roupa que eu tinha muito bem amassado e tirado do lugar. — Eu vou na frente. — Eu não falei nada, estava me recuperando de tudo. Fiquei encarando as costas dela, perdida. Bebi o restante do vinho da minha taça, mesmo que já tivesse quente e voltei para festa. Nunca fiquei tão feliz em usar um batom que não borra ou sai da boca.


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Notas finais do capítulo

A fanfic está acabando! O que vocês estão achando? O último capítulo é na próxima semana, porém, tem um especial que é a PRIMEIRA VEZ QUE FIZEMOS AMOR. Vocês querem esse? Se sim, como preferem? Retratando os acontecimentos até a chegada dos finalmente ( nada explicito) ou isso tudo com os finalmente explícitos? Deem o feedback pra eu saber como escrever.

Beijos, até mais.