Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 26
Explosões


Notas iniciais do capítulo

"everything that kills me, makes me feel alive" - One Republic; Counting Stars



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O jantar foi uma tragédia como vocês puderam ter o desprazer de ler. Ou prazer né, tem gente que gosta de ver a desgraça alheia. Enfim, eu me arrependi da gente ter ido no momento que pisei meu pé naquele piso da cor do vinho. E as coisas só pioraram quando voltamos para casa. Esperávamos um pouco de paz, mas recebemos uma multidão nervosa na frente do apartamento. Acho que o pensamento dos três foi o mesmo: ferrou tudo.

Olhei para a minha namorada e ela tinha simplesmente paralisado. Ninguém podia ver o rosto dela, de jeito nenhum. Logo, a garota se abaixou e deitou no banco traseiro. Eu com minha cabeça de vento, ao ver aquela cena decidi abrir a porta do carro e ir andando para o meio da confusão. Lá, tinha um menino que devia ser o líder, gritando num alto-falante e levantando a galera. Esperei ele pausar para descansar e perguntei como o melhor ator que sou, me fazendo de desentendido:

— Qual é? O que tá acontecendo aqui?

— A Riley tá aí dentro, cara! – respondeu com os olhos brilhando de empolgação.

— QUE?! Ela tá aí dentro? Como assim? – fingi surpresa berrando igual aos outros fãs ao redor.

— É, ela está morando nesse prédio. – o guri respondeu e voltou a pular e balançar os braços todo animado. Um verdadeiro boneco de posto.

— Sério?! Como que pode ela estar morando no mesmo prédio que eu ? – botei as mãos no rosto como se tivesse chocado.

— Oi? Você mora aí? – nisso ele e mais umas três crianças ao redor dele pararam a agitação para prestar atenção em mim. – Mentira, cara!

— Claro que moro, se liga! – procurei o porteiro e achei ele sofrendo por tentar barrar a entrada do pessoal eufórico. Merecia receber mais. – E aí, seu Antônio?

— Oi, Benjamin!

—Tá vendo? O porteiro sabe o meu nome! – acenei para ele finalizando nosso curto diálogo. – Estou falando sério, eu moro aqui.

—Há quanto tempo?

— Faz dois an..

— CALA A BOCA, PESSOAL, PRESTA ATENÇÃO! – o moleque me interrompeu no susto com um grito no alto-falante que segurava. – O CARA AQUI MORA NO PRÉDIO.

Em pouco tempo, todo mundo fez silêncio e voltou o olhar para a minha pessoa.

—Mas você é fã dela mesmo? – perguntou uma garota de casaco. Estou comentando esse detalhe, porque estava um calor dos infernos; fiquei preocupado se ela estava doente ou se era uma nova moda doentia.  Se fosse a segunda opção, olha só o que as pessoas fazem por moda! Opa, voltando ao interrogatório.

— Claro. Meu quarto é cheio de pôster dela e troquei meu toque de celular para minha música favorita, sabe aquela dela "noites sem você"? – nisso ouvi umas vozes aleatórias "amo", "melhor música", "nossa, a mais chata", "a perfeição em forma de melodia", "essa é a favorita dele? Gente...". Mas o importante é que acreditaram em mim. – Me empresta seu alto-falante? Valeu.

Quando peguei o megafone, reparei que tinha uns repórteres me observando. Numa ideia rápida, eu esperei que estivessem me filmando para acabar de vez com essa perseguição. Mas sabia que ainda podia não adiantar nada sei lá, então fiquei com um sentimento dividido sobre o que poderia acontecer. Mesmo assim, suspirei e soltei.

— Ah... é, ca-calma. – eu nunca tinha falado para tanta gente, estava muito nervoso, minha cabeça ficou em branco. Fiz uma pausa de alguns segundos e fui. – Eu sou muito fã da Riley desde quando ela só cantava para o canal de vídeos dela e como eu já falei com alguns daqui,  tenho muitas coisas da nossa diva tipo fots, músicas, também já fui em show dela... Sou tão fã que meus amigos numa época chegavam a me chamar de "namorado da Riley" e ela de "aquela cantora que o Ben namora". – ouvi umas risadinhas. – Mas o que eu quero dizer é que se ela estivesse mesmo morando aqui, eu com certeza teria reconhecido essa mulher e contaria tudo para a mídia! Porque quem não quer ser famoso né, galera?! Imagina se eu soubesse onde ela está, poderia ser conhecido como o papparazi número um! Ou o namorado dela, porque é claro que tentaria chegar na...

 — Ah mas você poderia esconder ela, ou querer ela só para você! – uma voz masculina gritou de algum lugar no meio daquelas pessoas.

— É... você tem razão. – ele me pegou. Precisa de outra desculpa, qualquer coisa. – Tá, mas ela tem lançado música nova, como moraria aqui em Niterói, aliás, se está sempre viajando? Ela não tem tempo para um lugar desses, o lugar de uma deusa dessas é em um ônibus de viagem ou um avião luxuoso!

— Ela deu uma pausa nos shows, mano. – uma garota lembrou.

— E vocês acham mesmo que ela viria para esse fim de mundo descansar?!

—Talvez ela queira despistar as pessoas, ir para algum lugar improvável é melhor. – A mesma guria respondeu.

— Não, não, cara. Ela tem dinheiro, gente! Se ela quisesse sumir, por que logo aqui em Niterói e não numa cidade isolada e legal como Fernando de Noronha, Cacun, Nova York, Londres? – dei de ombros. – Aliás, deve ser onde ela está agora relaxando e rindo da nossa cara, enquanto vocês estão aqui fazendo balbúrdia por causa de um blog que já errou em várias notícias; como aquela do Luan Santana fazendo curso de crochê! Não fiquem incomodando os moradores do prédio tipo eu, meu irmão e minha namorada que estão naquele carro ali. – Apontei para o automóvel preto do meu irmão, ja começando a perder a paciência. – A gente só quer entrar no nosso apê e descansar, então libera aí, galera? Faz esse favor?

Assim, o pessoal acabou abrindo espaço e o carro entrou para o apartamento. Quando o portão da garagem fechou, consegui suspirar aliviado. Ninguém viu minha namorada dentro do carro. Depois disso, encarei o portão da garagem sem muita ideia do que fazer para a multidão dispersar. Passando pela portaria, olhei para os jornalistas que pareciam já entediados e só esperando algo pequeno para irem embora. Putz, o que essas pessoas ainda querem?

— Gente, é sério, não faz sentido ela estar aqui. Vão para casa! – acabei gritando, indo para a rua de novo – Vaza, galera...

É claro que ninguém me ouviu. Ainda tinha gente balançando  seus cartazes em rebuliço e eu fiquei ali sentado, estarrecido.  Acabei conversando com uns fãs, até troquei meu contato com alguns. Então, se aproximaram de mim uns dois jornalistas.

 — Oi, posso te fazer umas perguntas? – perguntou uma moça com um sorriso simpático, mas não o bastante para me convencer.

— Foi mal, não quero ser filmado.

— Ah relaxa, não precisa. Só quero que você me responda umas perguntas, sem câmeras nem nada.

— Se for assim, tudo bem. – aceitei todo ingênuo. 

 — Certo, obrigada. – ela pegou um bloquinho e uma caneta, já começando a anotar – Você passa muito tempo em casa?

— Eu vou trabalhar sete da manhã e chego em casa sete da noite. De segunda a sexta. Tirando isso, passo bastante tempo aqui.

 — Tá bom... – assentiu sem nem olhar para mim, apenas escrevia. – E você tem bastante contato com seus vizinhos?

— Eu sempre cumprimento algum quando vejo.

— Então você conhece todo mundo?

—Sim.

— E tem certeza que não se mudou ninguém diferente para o prédio nos últimos meses?

— Tirando minha namorada e um senhorzinho, não. – nisso, ela parou com a caneta e me encarou.

 —Sua namorada deve ter sua idade, certo? – perguntou me analisando dos pés à cabeça, e eu concordei. – Ela mora com você há quanto tempo?

— Acho que vai fazer dois meses... – Eu nunca fui bom em matemática, sei que é clichê dizer isso, mas não conseguia contar direito de cabeça mesmo, então se eu acertei, foi sorte.

—E vocês se conhecem há quanto tempo?

— Vai fazer um ano, eu acho. – aí que comecei a entender o que ela queria. – Mas para que você quer saber sobre a minha namorada?

— Como vocês se conheceram? – me ignorou total.

—Olha, eu tenho que subir. – Tentei desenrolar, arrumando qualquer desculpa para fugir do interrogatório. – Tenho um compromisso marcado para daqui a pouco, não posso me atrasar. Desculpe se não pude te ajudar, tchau.

— Na verdade, ajudou muito. Obrigada!

Apertei a mão dela e olhei ao redor procurando um caminho para sair dali. Percebi que a maioria já estava se espalhando para partir e os repórteres faziam o mesmo. No fim, demorou horas para todo mundo sumir de verdade dali.

— Caramba, amor, você demorou! – Rita comentou assim que consegui subir. – O que aconteceu lá?

— Ô povo difícil de convencer... – respondi, me jogando ao lado dela no sofá. – Ainda fui entrevistado por uns jornalistas.

— Como assim? O que eles perguntaram e o que você falou para eles? – se endireitou para me encarar, enquanto perguntava.

— Queriam saber se eu conhecia todo mundo aqui do prédio, se tinha algum morador novo e aí começaram a perguntar de você.

— Eu?! Por quê?! Espera, eu como eu mesma ou eles estão achando que eu sou a Riley? Explica isso direito, Benjamin!

Então, contei toda a conversa para ela. Quando terminei, levei um tapa no ombro. Olhei para ela confuso.

— Agora eles têm tudo para perseguir a gente e ficar atrás de mim! – falava meio irritada. - Você sabe como jornalista é curioso e desconfiado, amor!

—Você acha que eles vão fazer isso mesmo? – ela assentiu rápida. – Não... eu não falei nada demais, só falei que tenho uma namorada.

— Eles exageram, inventam, trocam e colocam palavras na sua boca. – deitou-se no meu colo e voltou a prestar atenção na televisão. – Jornalistas ficam só esperando você falar um "a" diferente para poder sujar a sua imagem... - comentou como se estivesse acessando alguma leve lembrança. 

A conversa acabou aí e pouco tempo depois, meu celular começou a tremer muito até cair no chão. Poxa, acabei de quebrar o outro, mais um não! Mas quando peguei, o bichinho estava bem; fiquei aliviado e fui checar as mensagens. Não deu nem tempo de abrir, porque tinha uma ligação "Pipirada".

— Que que é?

— POR QUE TU NÃO VEIO AQUI NO TEATRO HOJE? – Pietra gritava. Eita, esqueci que tinha combinado isso semana passada. – Deixa eu adivinhar, esqueceu? Mas olha, Benjamin, é muita falta de consideração com a sua melhor amiga aqui que puxou o maior saco do diretor chato para te dar uma chance. Sinceramente, viu?! Não dá para contar contigo.

 — Me perdoa, minha amiguinha favorita! – ouvi uma risada sarcástica do outro lado seguido de um "o falso". – Hoje teve almoço com a minha mãe e tá tendo mó confusão aqui em frente ao prédio por causa da Riley. Foi mal.

— Foi péssimo!  Mas deixa... Quando eu te encontrar, vou descer a mão em você! Agora, quero saber dessa treta, conta tudo, "amiguinho"!

Afastei um pouco o celular e cutuquei minha namorada.

—Tá de boa eu falar para a Pipi sobre aquilo de você ser a Riley?

—Faz o que você quiser, Benjamin. – Respondeu sem tirar os olhos da tela da televisão.

Acabei contando tudo para a Pietra que surtou a cada frase que eu dizia. Foi engraçado, mesmo a situação sendo desesperadora. No final, ela disse que queria ver isso de perto e desligou o celular. 


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