O Colecionador escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
Realidades paralelas


Notas iniciais do capítulo

Atrasei... eu sei...

Antes tarde do que mais tarde, non?

Boa leitura! xD



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Suspirou, deixando os ombros caírem. As íris selvagens passearam pela superfície do lago rodeado de árvores. Tudo era tão calmo e surpreendente.

Inclusive o par de olhos que o mirava de volta, duas esferas esverdeadas e translucidas, flutuando brilhantes mais ao fundo, impossível de se ver a que criatura pertenciam.

Kiba gritou de susto e caiu sentado no chão, arrastando-se para longe da água. 

—--

Arrastou-se pelo chão o bastante para levantar-se em segurança e correr para longe da margem, embreando-se pela floresta sem pensar em nada a não ser fugir daquele monstro que habitava as profundezas do lago.

Correu até ficar sem fôlego, momento em que tonteou e tropeçou em uma raiz de árvore.

A queda foi inevitável.

Ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão que, mesmo coberto de folhas murchas, causou um arranhão em seus joelhos.

Ficou deitado, ofegante e assustado.

Os sentidos se aguçaram como nunca desde que acordou naquele lugar.

Ele sabia que não estava em Konoha. Sabia que aquele tal Naruto falava a verdade. Em cada fibra de seu corpo havia a sensação de estranhamento, como se a parte shifter se adaptasse a uma atmosfera adversa. Os cheiros, os sons… a estrutura do cenário… tudo transbordava magia elementar pura, remetendo a uma ancestralidade que desconcertava Kiba.

Confuso, sentindo os joelhos arderem enquanto o fator de cura sobrenatural se ativava, ficou deitado no chão, recuperando-se.

— Pensa, Kiba. Calma. Pânico não adianta de nada. Ontem… foi meu aniversário…

Ele se divertiu com os amigos, com a família. A mãe estava por perto, mas não o bastante para atrapalhar a diversão de quem entra na vida adulta e faz algo desejado, embora proibido até então: beber álcool sem ser contra as regra do clã. Esperou dezessete anos para fazer aquilo! Seguindo a tradição, festejou como outros garotos até então. Riu, brincou, emocionado por não ser mais um garotinho. Por poder dar inicio ao sonho de virar um ninja, por todo o futuro que se descortinava, no qual queria dar tudo de si e conquistar coisas grandes!

A noite cedeu espaço à madrugada, tinha flashes confusos a partir de então. Um brinde aqui, abraços efusivos ali, congratulações sinceras…

E seu quarto. Sim, conseguia recordar-se bem de chegar em casa com a mãe e a irmã, bêbado, porém feliz; aconchegar-se na cama e adormecer.

Parecia irreal acordar ali naquele espaço desconhecido, que parecia desconectado da realidade ao qual conhecia e era familiarizado.

— Mamãe… — sussurrou entristecido.

Os joelhos se curaram por completo, mas a tristeza permaneceu. Respirou fundo e reuniu forças para se levantar. Ficar caído no chão não faria os problemas desapareceram.

Levantou-se e passou as mãos pelos joelhos, para limpar as folhas que grudaram no sangue que começava a secar, não havia nem sinal dos ferimentos.

Precisava descobrir que lugar era aquele e como voltar para Konoha. Conseguia orientar-se, sabia para onde ficava o norte. Devia seguir naquela direção? Não adiantava muito saber tal ponto de referência dadas as circunstâncias misteriosas em que se encontrava.

Começou a andar quase de forma inconsistente.

Seguiu em frente.

Estava mais calmo, mas não se sentia pronto para enfrentar o monstro dentro do lago. Era forte, sabia lutar. Porém não fazia ideia do que era aquilo a espreita na água. Por mais impulsivo e esquentado que fosse, não se sentiu capaz de arriscar tudo naquela cartada inconsequente.

Caminhou por um bom tempo, todos os sentidos em alerta. Prestava atenção nos detalhes das árvores, da vegetação rasteira, o clima agradável e fresco. O silêncio comum à natureza exuberante. Parecia tudo tão deserto e solitário!

Pensou que a floresta não tinha fim, até que notou uma claridade diferente se insinuando entre os troncos das árvores. Isso o animou. Apressou o passo inundado por uma esperançosa agitação.

Assim que venceu os últimos obstáculos naturais, saiu em um grande descampado, de grama verdinha e um tapete de flores coloridas.

O sol alto no céu indicava que as horas avançavam e se aproximava do meio-dia.

Nem se deu conta da passagem do tempo, estava tão nervoso e ansioso que nem fome sentia. O que era muito, muito, muito atípico!

— Caralho… — resmungou em busca de algum alívio para sensação ruim que levava no peito.

Nem pensou muito antes de continuar seguindo em frente. Que opção tinha?

E foi por pouco tempo. Logo levou novo e inesperado baque enquanto vencia a distância coberta pela beleza verdejante.

Longe ainda, cortando a linearidade do horizonte, estava deitado um rapaz. Uma figura que Kiba não precisou se esforçar muito para reconhecer, de roupas em tom laranja e curtos cabelos loiros.

Uzumaki Naruto.

Kiba andou por todo aquele tempo apenas para voltar justamente ao ponto de partida.

A garganta apertou dolorida. Mas o garoto engoliu o choro e venceu o resto da distância indo se reencontrar com um sorridente Naruto.

— Yo! Gostou da floresta? Chegou rápido aqui, aposto que foi por noroeste. Se tivesse desviado por sudeste ia demorar mais pra sair da floresta, ela é mais larga do que cumprida.

— Que caralho aconteceu? — Kiba soou grosseiro, olhando para Naruto de cima.

— Eu te disse. Não tem como sair daqui. Tentei várias e várias vezes, agora desisti.

— Que lugar é esse? — por fim Kiba sentou-se ao lado do outro que permaneceu deitado na grama.

— Acho que é tipo uma prisão. Não, não uma prisão. Mas é como um aquário. A diferença é que não tem só peixes e água aqui. Tem uma galera diferente na coleção.

— Aquário? Coleção? Você não faz sentido, não entendi nada!

Kiba cruzou os braços com irritação.

— Tá — Naruto sentou-se e dobrou as pernas, apoiando as mãos nos joelhos — Isso aqui é um lugar sobrenatural, tipo um espaço mágico. Eu acho que é um recorte dimensional isolado da nossa realidade.  Por mais que a gente procure nunca acha a saída. Só quem sabe disso é o Colecionador.

A frase final despertou o interesse de Kiba.

— O Colecionador? Você já falou sobre ele antes. Quem é?

— Um tipo sinistro, de casaco, rosto coberto e presença forte. Ele deve ter rondado sua vida por um tempo.

— Oh…

Kiba sabia exatamente de quem Naruto estava falando.

— Sim. Provavelmente seus pais fizeram um pacto com o Colecionador. Aconteceu com todos nós.

— Caralho… então esse colecionador que me trouxe pra cá?

— Sim. Ele me trouxe e todos os outros.

— Outros? Você é um shifter também?

— Não!

Naruto respondeu. Então a magia característica do ambiente ondulou de leve. Surgiram orelhas felpudas no lugar das orelhas humanas. As marcas de bigode se soltaram das bochechas, virando longos fios de verdade, três de cada lado. Atrás dele uma longa e fofa cauda acastanhada de cinco pontas.

— Eu sou filho de Kitsune. Meu pai ou minha mãe… um deles era youkai raposa, o outro era humano.

— Youkai! Nunca conheci um youkai!

— Sou mestiço com humano, não tenho sangue puro.

— Eu também. Minha mãe é uma shifter lobo e meu pai é humano.

Naruto acertou um soquinho na mão aberta.

— Todos aqui são meio-sangue. Concluí que somos itens da coleção justamente por causa de sermos mestiços. Humanos não procriam com seres sobrenaturais com facilidade. É muito raro o sangue misturar e nascer um filhote vivo.

Kiba murchou um pouco.

— Eu era o único no meu clã. Não… era o único entre os shifters de vários clãs. Chamava atenção — sempre gostou de estar no centro das atenções. Não pensou que isso causaria a situação impensável de ser raptado e levado para longe de casa!

Naruto desfez a forma que exibia partes youkai e exibiu-se como humano.

— Não fique triste. Aqui é um bom lugar, você se acostuma. Depois eu te apresento cada canto e os outros moradores.

Kiba balançou a cabeça com incredulidade.

— Nem precisa. Não vou ficar muito tempo aqui, vou achar o Colecionador e socar o nariz dele. Vou voltar pra casa de qualquer jeito, acredite em mim.

O outro riu do jeito explosivo, mas havia incredulidade no olhar de íris azul.

— Não é como se eu não tivesse tentado, cara. Estou aqui já faz uns anos, sabe? Não estou mais perto de escapar do que estava quando o Colecionador me trouxe pra cá.

A informação tirou um pouco do folego de Kiba.

— Anos…?

— Hn. Perdi a noção de quantos, mas sei que o tempo corre diferente nessa realidade e no mundo real. Quando conversei com outros mestiços, descobri que há saltos temporais enormes, tipo. Em que ano você vivia antes de vir pra cá?

Kiba coçou a bochecha.

— Era o ano de dois mil e dezoito.

— Caralho! — Naruto mostrou surpresa no olhar — Passou mais de cem anos desde que a Ino veio pra cá! Ela é a nossa novata. Era a nossa novata. Agora é você.

— Cem anos? — por pouco Kiba não caiu para trás de choque.

— Hn. Ela vivia na época da revolução industrial. Mas nem se compara ao Sasuke. Ele é mais veterano na coleção, apesar de não ter sido o primeiro. Mestiços não são eternos, sabe? Sasuke vive aqui desde meados do período Kamakura — informou como se não fosse grande coisa.

Dessa vez a surpresa de Kiba ficou estampada em sua face e em cada detalhe de sua reação. Não era expert em história, na verdade, sempre que podia matava aulas da matéria tediosa. Mas nem mesmo ele desconhecia o famoso período japonês. Meados do período Kamakura? Isso se referia a que? O ano de mil e trezentos? Um pouco antes, um pouco depois… uma diferença monstruosa de quinhentos anos até o nascimento de Inuzuka Kiba.

— Ca-caralho.

— Eu sei. Reagi do mesmo jeito. Não nasci em um tempo tão antigo quanto Sasuke, eu já sou do período Edo, o Colecionador me trouxe do ano de mil setecentos e vinte e três, quando fiz dezessete anos.

— Ah, ontem também foi meu aniversário.

— Parabéns. Acabou de pegar o seu presente.

Kiba ignorou as congratulações. Estava mais preocupado com tudo o que ouviu até então. Aquele garoto que conversava consigo estava preso na realidade alternativa há séculos!

— Trezentos anos…? — sussurrou.

— Não! — Naruto agitou as mãos apressado — Não faz tudo isso de tempo que eu estou aqui, só que eu sai do mundo real. Eu te disse: o tempo passa diferente aqui dentro. Perdi as contas, mas calculo que to aqui faz uns três ou quatro anos. No máximo cinco.

— Então…

— Quanto mais tempo ficamos aqui, mais rápido o mundo gira. Acho que se for traçar um paralelo, um dia aqui equivale a meses lá fora. Foi a Ino que chegou a essa conclusão, só não me pergunte como!

Kiba sentiu um gosto amargo na boca e um aperto no coração.

Sua mãe e sua irmã deviam estar arrasadas com o seu sumiço! Precisava tirar aquela história a limpo, não podia passar nem mais um minuto naquele lugar!


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem. Eu acho...

Tenho até o 13 digitado, mas gosto de fazer leitor sofrer... é meu jeito de amar vocês! xD

/foge



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