Percebendo que Beckett foi pega de surpresa e estava visivelmente aflita com aquela solicitação incomum, Castle decidiu apelar para o lado amiga / fã / musa da Detetive e, para convencê-la, ele teria que provar para si mesmo que era bom em usar as palavras. Ele teria que falar a coisa certa e na hora certa.

— Kate, eu só consideraria fazer este pedido para você. E eu tenho três excelentes motivos... Você é a única que tem condições de me ajudar na seleção dos vestidos, não só porque é minha amiga há quatro anos, contudo...

— Mas Castle...

Ele a interrompeu – Beckett, a gente briga igual cão e gato, eu sei... Eu sei disso tudo... Mas sei também que somos amigos e a nossa amizade é um dos motivos que me fez te procurar para fazer este pedido. É isso mesmo, Kate, a nossa amizade é verdadeira e tenho certeza que você nunca faria nada contra mim e nunca me daria as costas. Você até já teve chance, mas nunca se afastou. E ainda tem outro motivo que também é muito forte... Apesar de você sempre ter deixado claro que não gosta da denominação de “musa”, querendo ou não, Kate, você é minha musa, e como tal, é a única mulher na face da terra que me inspira a escrever a série NIKKY HEAT... E, por você gostar dos livros e do modo como eu os escrevo, também é a única que pode me ajudar nessa tarefa incomum, eu sei, pois conhece não só a personalidade da Nikky Heat... Você também conhece a alma e a mente dela, já que mergulha a fundo na história.

— Sim, Castle, eu sou sua amiga... É verdade... A gente briga muito... Isso também é verdade... – ela sorriu – E eu nunca daria as costas para você. Ora, eu sou sua amiga.

Castle observava atentamente os olhos e as expressões faciais de Beckett.

Ela respirou fundo e, apesar te já ter sonhado milhares de vezes se vestindo de noiva para se casar de verdade com o amor da sua vida, Richard Castle, ela precisava ter coragem para recusar aquela tarefa estapafúrdia, mas não sabia como dizer isso.

Por mais excêntrico que o Castle fosse, , ela tinha certeza que sua proposta não tinha o objetivo de ofendê-la. E, partindo deste princípio, ela também não queria ofendê-lo, e, por muitos motivos, também não tinha coragem de confessar que o amava, então, de um modo suave, a Beckett tentou recusar o estranho pedido – Castle, você tem razão, eu mergulho nos seus livros e por isso, conheço a alma da Nikky Heat, mas uma coisa é eu opinar na escolher do vestido de noiva dela recorrendo à internet, ou seja, um mundo virtual e outra coisa é eu entrar em uma loja real e experimentar um a um os vestidos de casamento... Perceba que é uma tarefa estranha, Castle. Eu sei que você não pensou por mal, mas eu acho que você não considerou o fato de como eu me sentiria ao fazer isso... Eu entendo que isso seria... Seria... Seria... – Kate estava tensa e queria usar a palavra “ridículo”, mas isso iria magoá-lo, então, buscava outra palavra e um jeito mais suave para se expressar – Castle, eu entendo que isso seria... Bem, isso iria me expor bastante... Nem eu nem você podemos confundir a Nikky Heat com a Kate Beckett... Somos completamente diferentes. Você se inspira em mim para escrever sobre ela, mas eu não sou ela.

— Kate, eu nunca confundi vocês duas e jamais seria capaz de te pedir uma coisa que fosse ofender a sua integridade emocional. – Ele demonstrava sinceridade – Mas, como eu te disse, eu só fiz este pedido em nome da nossa amizade e também porque você é a mulher que eu me inspiro para escrever a Nikky Heat... E o último motivo, não menos importante que os outros, é porque você é fã do Escritor Richard Castle e fã da série NIKKY HEAT... – ele falou aparentando estar constrangido sobre o fato dela ser sua fã.

— Ah, não, Castle... Não precisa ficar acanhado sobre isso... – Kate sorriu do jeito como ele ficara – Apesar de eu saber que você se diverte com a sua falta de modéstia... Hey, Castle, você não precisa ficar constrangido ao afirmar que eu sou sua fã... Não posso mentir... Sou sua fã mesmo... Adoro seus livros... Tenho todos eles autografados e você sabe disso e adoro suas histórias. Mas a verdade, Castle, é que existe uma grande distância entre a Kate Beckett ser sua amiga, ser sua musa e sua fã e a Kate Beckett entrar em uma loja de roupas para casamento e ficar provando e desfilando vestidos de noiva até encontrar um adequado para a Nikky Heat... Até que você se decida por um. Eu não ficaria confortável com esta situação, nem que estivesse nas minhas mãos a incumbência de ter a última palavra na escolha do vestido de noiva.

— Kate, você era a minha única alternativa... Este é o último capítulo do livro... E vejo que não consigo sair do lugar. Eu tenho que entregar o capítulo na segunda feira e não tenho a mínima condição de fazer isso sem ter noção do que a Nikky Heat usaria no próprio casamento... Depois de escrever milhares de cenas dela, todas com riquezas de detalhes, não posso fazê-la usar um vestido qualquer, mas vejo que é isso que vou fazer... Vou escolher na internet de modo aleatório... – ele torceu a boca, macambúzio e pensativo – Talvez um branco sem rendas e bordados... Ou com rendas e sem bordados... Não sei... Ou talvez um cor de rosa pálido... Não... – Castle fez uma cara de repulsa – Não! Cor de rosa... Não... Acho que não... Cor de rosa iria ficar parecendo festa de Quinze Anos... Acho que seria melhor um vermelho forte, quase vinho, com detalhes pretos... Ou então... Deixe-me pensar... Ah, já sei... Amarelo!... Não... Amarelo também não... Acho que amarelo não ficaria bem nela... – Castle mostrou-se preocupado – É tenho muito o que pesquisar. Já vi que meu dia vai ser longo... E pelo visto, o final de semana também.

Era nítido que o Castle estava preocupado e desanimado, então Kate arriscou. Ela pegou de volta seu notebook e o abriu – Quer que eu te ajude nesta tarefa de pesquisar na internet, Castle? Eu posso ajud...

Castle se levantou com a fisionomia apática – Ah, não, Beckett... Obrigada! Mas não precisa... Eu faço isso sozinho... Vou para o loft... Nem sei se terei prazer em escrever este capítulo e muito menos se os leitores vão acreditar neste casamento... Espero que gostem. Espero que você goste... De qualquer forma, Kate, obrigada por me ouvir e peço mil desculpas por ter feito este pedido para você... Reconheço que é um pedido estranho mesmo... Desculpa, viu? - Ele estava sem graça, completamente diferente do Castle brincalhão e sorridente que chegara mais cedo.

— Ah, tudo bem, Castle... E obrigada pelo café da manhã... Estava uma delícia!

Beckett sentia-se culpada pelo estado abatido em que o Castle se encontrava.

Castle se dirigiu lentamente até a porta da rua com o coração apertado, mas com uma esperança imensa da Kate mudar de ideia, tendo em vista que apelara no que pode.

Apesar de triste, ele simulava uma tristeza infinitamente maior do que realmente sentia, para ver se conseguia comover a Beckett e convencê-la a ir com ele a uma loja de trajes de noiva.

De costas para Kate, ele segurou a maçaneta da porta da rua e, como se estivesse representando no palco uma cena dramática, ele contou silenciosamente até cinco, antes de tentar abrir a porta.

No momento exato em que iria girar a maçaneta para abrir a porta, Kate o chamou.

—  CASTLE!

A voz de Kate era aflita, pois ela estava confusa.

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Ao mesmo tempo que ela não queria experimentar dezenas de vestidos de noiva, haja vista que seria um vexame total se expor daquele jeito, sua vontade era de encontrar um modelo belíssimo e desfilar para o Castle e fazê-lo ver que ela o amava... Sentia que estava ficando louca, pois, sabia que o propósito do Castle era apenas encontrar um vestido para a Nikky Heat e não para Katherine Beckett. Esta pressão estava lhe fazendo mal. Sua cabeça estava a ponto de explodir com muitos pensamentos contraditórios.

Refletindo sobre tudo que acontecia e afastando de sua mente seus devaneios loucos e poéticos, Kate se predispôs a ajudar o Castle por muitos motivos, inclusive os três que ele havia mencionado: Ela era sua musa... Ela era sua fã e, sobretudo, valorizaria um fato muito importante... A amizade que eles tinham e, por conta disto, fecharia os olhos para o seu lado racional e se jogaria de cabeça nesta tarefa que, com certeza, era uma missão completamente bizarra.

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Para demonstrar que estava realmente magoado com a recusa da sua musa, Castle não atende de imediato, nem olha para a amiga.

Ele gira a maçaneta lentamente, abre a porta e dá um pequeno passo na direção da saída, e, de modo teatral e sem se virar para ficar de frente a  Kate, ele indaga, desanimado, mesmo de costas para ela – Diga, Beckett.

— Eu vou com você, Castle. – Kate prendeu a respiração ao comunicar sua decisão e ficou à espera da reação dele.

De forma cênica, Castle contou novamente até cinco e, simulando mágoa e dor, girou o corpo para ficar de frente para Kate.

— Se aceitar meu pedido vai te agredir, Beckett, não precis...

— Castle, eu já me decidi e não vou mudar de ideia... – Kate estava tensa e falava rápido, atropelando as palavras – Confesso que ainda estou muito desconfortável, mas daqui a pouco estarei melhor... Vem, Castle... Fecha a porta... Sente aqui no sofá enquanto eu vou tomar um banho refrescante e daqui a pouco poderemos ir. Eu vou procurar e experimentar o vestido ideal que vai se encaixar perfeitamente no perfil da Nikky Heat.

Sem esperar mais nenhuma reação do Castle, Kate vai para sua suíte, fecha a porta e, da sala, ele ouve o barulho do chuveiro.

Somente no momento em que o Castle ouve a água caindo do chuveiro é que ele se sente seguro para comemorar o seu sucesso e fez um trejeito engraçado no rosto e começou a rir sozinho.

— Consegui! – Castle vibrava e ria intimamente quando esticou o braço direito para cima, em sinal de triunfo, a fim de comemorar silenciosamente aquela vitória.

Continua...