Refletindo sobre o recente contato telefônico que mantivera com a sua linda Detetive Katherine Beckett, Richard Castle continuava recostado na sua confortável cadeira giratória de couro, lembrando-se daquela linda voz e da pessoa deslumbrante que ela era.

Desde o primeiro momento em que a viu, ele ficara completamente apaixonado por ela. Além de linda, ela era forte e destemida e a cada minuto ele encontrava mais atrativos de toda as formas. Ele a amava, mas não tinha espaço ou mesmo coragem para se declarar por receio de perder sua amizade, até porque, apesar de captar o interesse dela na sua pessoa, ele não tinha certeza. Sim, Kate o enchia de desaforo e muitas vezes o tratava com descaso, mas ele imaginava que esse era um recurso que ela usava na tentativa de se manter afastada dele. Apesar disto, a maioria do tempo em que passavam juntos, a grande amizade prevalecia e quando conversavam sobre assuntos do cotidiano, eles se entendiam muito bem e ele se sentia à vontade até para solicitar muitas orientações sobre a Alexis e demais assuntos de meninas ou mesmo a respeito de outros temas que ela entendia muito bem e Kate nunca o deixara sem resposta. Castle percebia que o que Kate sentia não era somente dedicação de amigo... Havia paixão na troca de olhares deles, mas, infelizmente, ele tinha dúvidas.

Esta troca de olhares cheios de paixão acontecia desde os primeiros anos, antes mesmo de ela namorar com o Detetive Tom Demming e depois com o médico Josh Davidson e se acentuaram quando os namoros chegaram ao fim. E durante todo este tempo, o Castle não namorara ninguém a sério, pois, constantemente mantivera dezenas de casos passageiros. Mas isso tudo acabara há um ano. Ambos estavam sem nenhum relacionamento... Ela sem namorado e ele sem nenhum caso amoroso.

O pior é que ele tinha quase certeza que Kate ainda não conseguira apagar a imagem do antigo Castle... O playboy mulherengo que trocava de mulheres como quem trocava de roupas... Ele realmente mudara seu jeito de ser e ela ainda não acreditava nisso. O amor que sentia por ela o fizera se transformar em um novo homem. Ele era um homem melhor e como um bom observador, Castle constatou que ela, no fundo, até podia saber disto, mas tinha medo de acreditar.

Voltando à realidade, Castle se deparou com a tela do notebook que continuava em branco, a exceção do título do capítulo que escrevera em caixa alta e negrito, “O CASAMENTO” e ao final, o cursor piscava... e o piscar incessante do cursor o irritava.

Na tentativa de se concentrar no seu livro, mais precisamente no novo capítulo, Castle deletou o título e o substituiu por outro... “VESTIDOS DE NOIVA”..., apagou novamente e substituiu por outro... “VESTIDA PARA CASAR”..., por outro...  “NIKKY E ROCK, VESTIDOS PARA CASAR”..., por outro...  “A FESTA DE CASAMENTO”... apagou e voltou para o primeiro título “O CASAMENTO”.

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Conforme combinado, Castle não compareceu ao 12ª NYPD na quarta-feira, tampouco na quinta-feira e na sexta-feira. Nestes três dias ele nem mesmo telefonou para a Beckett.

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No início da manhã de sábado, Kate Beckett despertou com o som de fortes batidas à porta do seu apartamento e ela pôs um travesseiro sobre o ouvido.

— Oh, não! Que insistência é essa? Será que o prédio está pegando fogo? – Bastante sonolenta e curtindo o colchão macio e o edredom quentinho, ela aspira profundamente, mas não sente cheiro de fumaça e descarta aquela hipótese – Quem será a essa hora? – Ela pensa alto, ainda de olhos fechados, recusando-se a acreditar que tinha alguém querendo vê-la – Não estou esperando ninguém... Será que é a Lanie? Ou pode ser meu pai... Não... Eles não viriam assim... Ainda mais batendo tão forte, quase querendo derrubar a porta...

As batidas na porta não param e ela puxa o edredom para cobrir a cabeça.

As batidas na porta continuam mais intensas.

Irritada, Kate corre ao banheiro e faz uma rápida higiene matinal e vai até a sala, rezando para que a visita inesperada seja um engano ou tenha desistido e já tenha ido embora.

Sem nem mesmo se utilizar das lentes do “olho mágico”, Kate abre a porta de aço do seu apartamento e, para seu espanto, se depara com Richard Castle que, sem esperar ser convidado a entrar, adentra sorridente de forma divertida no apartamento da amiga, deixando-a pasma.

— Pode entrar, Castle, fique à vontade. Você veio bem cedo, conforme combinamos. – Ela ironizou.

Ele não se abalou com a ironia de Kate e a encarou sorrindo – Ah, poupe-me da sua ironia, Kate, pois, como somos amigos, eu sempre estou à vontade na sua casa... A qualquer hora. – Ele se sentou no sofá de forma bem confortável.

Encarando o Escritor e ainda mantendo aberta a porta do apartamento, Kate demonstrou estar irritada – Bom dia... Aliás, o mais certo seria falar, boa “madrugada”, não é mesmo, Castle? – Ela frisou a palavra “madrugada”.

— Ops! Você disse “madrugada”? Perdeu a hora, Detetive? São sete horas da manhã... Cuidado, ou vai chegar atrasada à Delegacia.

— Estou de folga, Castle. Não vou trabalhar neste final de semana, portanto, não tinha hora para acordar porque não agendei nenhum compromisso para hoje. – Kate mostrou-se áspera.

— Ah! – Ele comemorou - Então, pelo que eu vejo, hoje é o meu dia de sorte. – Castle parecia uma criança que ganhara seu brinquedo tão sonhado.

— E, pelo jeito, hoje “não” é o meu dia de sorte... – Kate retrucou, frisando a palavra “não”.

— Seus problemas acabaram, Kate, eu vou te preparar o melhor desjejum da sua vida. – Ele se levantou e ia se dirigindo à cozinha quando Kate o impediu e, com agilidade, o empurrou até a porta da rua que continuava aberta.

— Você vai sair daqui agora, Castle... Eu não quero que você me prepare nenhum café da manhã. Eu estou cansada! Eu não quero você na minha cozinha, nem no meu apartamento... Quero ficar na cama... Vou ler... Vou assistir filmes... Vou ter esse tempo somente para mim e, se eu quiser, posso até ficar sem fazer nada... Estou de folga. Entendeu, Castle? Folga! F-O-L-G-A!

Beckett até podia ser ágil e muito forte, mas só que o Castle era muito maior e mais forte do que ela, então, com muita facilidade ele conseguiu se desvencilhar dela e, em seguida, fechou a porta da rua, trancou-a, deixando a moça boquiaberta.

Sem dar importância a irritação da dona da casa, Castle foi até a cozinha da amiga e com a desenvoltura que ele tinha, abriu a geladeira e armarios da dispensa a procura de alimentos e começou a preparar rapidamente uma refeição matinal saudável e deliciosa, cujo aroma estava maravilhoso.

Castle olhava para Kate. Ela usava um belo pijama branco-gelo com pequenas estampas em preto e detalhes em viés vermelho. Ela estava linda e para completar, seus cabelos estavam soltos e nem parecia que tinha acordado naquele minuto. Belíssima! Esta era a palavra ideal: Belíssima! E aquela visão o estava desconcentrando e, por pouco, quase queimou a mão, o bacon e uma panqueca.

— Kate, eu juro que estou te achando linda com este pijama, mas será que você podia trocar e vestir uma coisa menos provocante?

— Eu estou na minha casa, Castle... 

— Ah, maravilha! Gostei! Então, que tal ficarmos frente a frente aí mesmo no sofá ou na sua cama, para termos aquela conversa... – ele desligou todas as bocas do fogão e, fazendo uma expressão sedutora, foi na direção dela.

Isso foi o bastante para Kate enrubescer, se levantar e correr para o quarto – Eu já volto, Castle.

— Quer ajuda para tirar o pijama? – Ele perguntou alto. – Eu sou bom nisso.

— Não se atreva, Castle! Eu ando armada. – Ela respondeu do quarto e logo ouviu-se a porta do quarto batendo forte.

Ele sorriu diante da reação dela e voltou ao fogão.

Castle ligou novamente as bocas de fogo e retomou o preparo do desjejum.

— Covarde! – Ele sorriu, divertindo-se, ao descrever a atitude de Kate.

Em pouco menos de cinco minutos, Kate voltou descalça usando um short jeans justo com a barra desfiada que deixava à mostra suas longas pernas torneadas. Usava ainda uma camisa larga na cor cinza claro com a inscrição NYPD e os bicos dos seus seios intumescidos e perfeitos marcavam o desgastado tecido, indicando que Kate estava sem sutiã.

Castle sentiu-se excitado com aquela visão e não sabia se sua ideia de faze-la trocar de roupa foi tão boa assim, mas tentou se acalmar e se concentrar no que fazia.

Kate até tentou ajudar em algo, mas Castle a proibiu, até porque não queria ser flagrado com sua excitação visivelmente aparente na calça, parecendo um jovem na puberdade quando vê a primeira moça bonita.

— Kate, fique ali no sofá, sentadinha. Aceite o que eu estou fazendo de bom grado. – Ele falou em timbre de comando.

E logo tudo estava pronto e saboreavam o desjejum maravilhoso.

O aroma estava delicioso.

Aroma de família!

Mas logo o Castle voltou a provoca-la – Você está de parabéns, Kate. Eu encontrei ovos, bacon, queijo, farinha de trigo, leite, frutas, pó de café e tudo o que eu estava precisando... Se você não estivesse aqui na minha frente, eu jurava que eu tinha entrado em outro apartamento.

— Vou fingir que não escutei este seu comentário irritante, Castle.

— Ah, Kate... Quanta maldade! Outras vezes em que eu tentei preparar alguma refeição aqui no seu apartamento, não tinha nada que prestasse... A geladeira sempre estava cheia de potes abertos e o conteúdo estragado... Tudo velho. E as caixinhas, os potes e pacotes lacrados estavam com data de validade vencida... Você lembra daquela noite em que eu queria te proteger de um provável assassino e passei a noite aqui...

— ... No sofá... – Kate emendou e ele fez cara de desagrado.

— Eu lembro dessa parte... – Ele fez uma careta e ela riu – E na manhã seguinte eu tentei preparar um café da manhã e não tinha nada. Quase todos os ovos estavam podres... Havia uma pilha de embalagens de bacon na geladeira, mas todas estavam com validade vencida... Não tinha quase nada... Nem sei como consegui preparar algumas panquecas...

— Richard Castle,— Kate falou de modo ríspido – você deve também estar lembrado que eu não tinha te convidado, muito menos pedido sua ajuda... Você veio porque quis...

— Você, eihm, Kate... Sempre doce, né? – Ele a alfinetou.

— Aproveite: Cortesia da casa. – Ela riu.

— Ah, tá... Obrigada, mas eu passo! Pois, é, voltando para aquele dia das panquecas...

— Nem me lembre, Castle! Que raiva de você! Não sei como não te matei... E depois ainda tivemos que ouvir o Ryan e o Esposito zoando com a gente, pensando um monte de coisas que não aconteceram... O Ryan até disse que você fez panquecas para agradecer a noite que tivemos... Ai, que raiva de você, Castle... E, para piorar, ainda tinha a Agente Jordan Shaw. Lógico que assim que ela nos viu naquela hora da manhã, de pijamas e cabelos despenteados e com cara de sono, só fez confirmar o ponto de vista dela de que eu e você éramos namorados.

— Não foi intencional... – Ele fingiu se desculpar e deu um sorrisinho maroto.

— Ah, tá, Castle... Você adorou a confusão toda... E como se não bastasse, você ainda ficou todo interessado nos equipamentos da Agente Jordan Shaw...

— Mas, você, eihm, Kate... Não sabia que você continuava uma mulher tão ciumenta...

— Mas você ficou interessado nos equipamentos dela e ainda ficava teorizando com ela... Você tinha que valorizar os nossos recursos da 12ª delegacia e tinha que teorizar comigo.

— Você que é a minha musa, Kate... Eu nunca escrevi uma linha sobre a Agente Jordan Shaw... – ele amou saber que ela continuava com ciúmes da Agente Shaw.

Com o objetivo de provoca-la ainda mais, ele ralhou com ela – Kate, cala a boquinha e fica bem quietinha porque eu não quero ouvir mais reclamação... Isso já tem mais de um ano... Fala menos e come mais, ok? Seja boazinha e termine seu desjejum.

— Você está me tratando como se eu fosse uma criança, Castle... – Kate se queixou.

— É que você está se comportando como criança, Kate. Anda, termina logo porque eu quero falar um assunto muito importante com você.

Eles voltaram a comer até que Kate se recorda de algo – Ah, Castle... Eu até tinha me esquecido... Você não disse que tinha um capítulo do seu livro para entregar para a Gina? Aquela insuportável! – Kate revirou os olhos com raiva ao falar no nome da ex esposa do Castle – O que o fez vir até aqui no meu apartamento, bem no meio do seu prazo, eihm?

— Kate, termine de comer. – Ele a repreendeu.

— Sim, senhor! – Ela o provocou.

— Melhor assim. – Castle devolveu a provocação.

Continua...