O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 8
Capítulo 7 - Terceiro Dia


Notas iniciais do capítulo

Oláa. Mais um dia de viagem aimeudeus. Espero que apreciem. Boa leitura!



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Ele acordou atordoado e suado no meio da noite. Com a lembrança do sonho ainda viva em sua cabeça, Leonardo pulou da cama e antes de fazer qualquer outra coisa, acendeu uma vela, sentou-se à sua mesa e pegou os arquivos do prefeito da gaveta para finalmente lê-los. Ele quase caiu duro da cadeira quando terminou a primeira página. Ele não estava indo caçar simples animais. Se levantou e abriu seu baú desorganizado e puxou do fundo um caderno velho que ele havia enterrado no meio de suas tralhas com a promessa de nunca abri-lo. Julgava seu conteúdo como bobagem, a despeito da imprensa de Santo Ignáceo jurar de pés juntos que era por causa daquele caderno que seu pai havia sido assassinado.

Viu as anotações que o pai havia feito sobre uma espécie rara que cruzava pelas ilhas Ákilah a cada quinze anos. Seus dentes eram praticamente pedras preciosas. Qualquer mulher da alta sociedade mataria por um casaco com sua pele ou uma peruca com seus cabelos. Quando dessangradas, seu sangue podia curar praticamente qualquer doença.

Custou para acreditar na veracidade do que acabara de descobrir. Releu os arquivos do prefeito duas, três, quatro vezes. Parecia um louco correndo os olhos entre as anotações do pai e as cópias de documentos sigilosos do governo. Sua cabeça explodia com a quantidade insana de informações que corria por ela. Dividido ainda entre o crer e não crer no que estava acontecendo, Leonardo Leão quase desmaiou quando a realidade se abateu sobre ele. Ele estava indo caçar o que o pai havia morrido para proteger.

***

— Bom dia, Capitão! — foi acordado por Veronica em sua cabine.

Abriu os olhos lentamente sem nem se lembrar de ter dormido. A luz do sol que entrava pelo vidro de uma das escotilhas fazia o cabelo ruivo de Veronica brilhar.

— Já são quase onze horas, Leonardo. O que o senhor aprontou noite passada? — disse em tom de brincadeira.

Você nem imaginaria, pensou o capitão. A miríade de informações que descobriu durante a madrugada invadiu sua cabeça sem permissão e ele se sentiu atordoado.

— Bom dia — disse, ainda um pouco grogue, tentando não responder a pergunta dela.

A mulher depositou uma bandeja com pão e café em seu colo e se virou para abrir a escotilha e deixar o ar salgado invadir o gabinete.

— Notícias?

— O Escafandro nos encontrou.

Um misto de alívio e raiva tomou conta de Leonardo Leão. Agora era certo que achariam a colônia dada a precisão absurda dos equipamentos do navio de Marco Martins, porém a achariam acompanhados da tripulação do Escafandro e ele ainda não sabia o que fazer com tudo o que tinha descoberto na noite passada. O capitão comeu rapidamente enquanto Veronica empilhava livros e papeis de forma mais ordenada cantarolando uma música baixinho.

— Não mexa na pasta — alertou quando ela fez menção de pegar a pasta cinza. Ela levantou as mãos em sinal de rendição e se virou de costas para a mesinha, saindo do quarto. — Obrigado pelo café — gritou.

Leonardo jogou as cobertas para o lado e se levantou, estralando todos os ossos do corpo. Pegou calças limpas no baú, o par de botas engraxado que guardava para quando o outro estivesse muito sujo e colocou a primeira camisa que viu pelo caminho. Pegou seu chapéu jogado no chão e se encaminhou para a porta. Saiu da cabine e levaou a bandeja até a cozinha.

No convés, Juliano varria cacos de vidro de mais uma garrafa de Aluisio que se encontrava desmaiado com a cabeça pendendo da borda do caralho. Milton rosnou.

— Sem cochilos no caralho, Aluisio! — gritou Gregório saindo da cozinha carregando uma grande quantidade de carvão. — Bom dia, capitão.

Aluisio acordou assustado e voltou a mirar o horizonte. Leonardo estava dividido entre a felicidade de ver sua tripulação tão proativa assim e a tensão que o acompanhava desde a madrugada. Essa proatividade toda era em função do sucesso na missão, mas ele já não tinha certeza se ele queria sucesso na missão.

— Bom dia, Gregório. Quando eles nos alcançaram? — questionou.

— Faz pouco mais de uma hora, capitão — respondeu o rapaz que andava em direção à casa de máquinas. O capitão assumiu o timão.

Teófilo e Juliano conversavam sentados em bancos, cada qual com uma bacia cheia d'água entre os joelhos enquanto lavavam suas roupas. Leonardo como sempre não saiu de trás do timão, se torturando com questões sem resposta. O dia prosseguiu calmo até o almoço.

Veronica serviu o cozido sob um céu cinza e carrancudo. O mar abaixo estava ficando cada vez mais revolto, preocupando Leonardo Leão. A tempestade era mais que iminente e todos tinham noção disso, então o cozido foi degustado juntamente de um clima ansioso.

Após o almoço, Leonardo pediu que Juliano assumisse o timão e seguiu com Cristiano até a casa de máquinas. Eles eram próximos e Leonardo confiava em Cristiano.

— Está tudo bem, Cristiano? — perguntou o capitão.

— Na mais perfeita paz, capitão — respondeu o marujo enquanto mexia em algumas alavancas do motor do Salamandra.

— Você parecia estressado na noite passada — Leonardo tentou abordar o assunto de uma forma sutil pois sabia que o colega era volátil e fechado, muito parecido consigo mesmo.

— Capitão, é só sobre isso que o senhor desceu até aqui para falar? — Cristiano retrucou tentando não soar rude.

Leonardo deu de ombros e ergueu as mãos em um claro sinal de "não está mais aqui quem falou". Após alguns segundos de silêncio, o capitão prosseguiu.

— Cristiano, me diga — pediu. — O que você faria se estivesse em um dilema moral onde as opções são decepcionar todos ao seu redor ou decepcionar alguém que não está exatamente ao seu redor, mas você preza muito?

— Bem, isso depende, capitão — respondeu franzindo as sobrancelhas e coçando a barba cerrada. — O que exatamente está em jogo?

— Você é um bom homem. Um bom amigo. Consegue se manter leal a algo que já não está aqui?

— O senhor se refere ao seu pai? — indagou virando-se para Leonardo.

— Sim — assumiu Leonardo.

— Eriberto me tirou da sarjeta, capitão. Sou leal à ele e ao senhor até a minha morte.

— Você conseguiria guardar um segredo, Cristiano?

— Com a minha vida, senhor — Cristiano engoliu uma risada sarcástica.

Leonardo exalou com força. Era difícil confessar isso. Ele fora desatento. Deveria ter lido os arquivos antes de enfiar expectativas na cabeça de todos. Cevia ter confiado mais cegamente no seu pai. Devia ter se atentado à qualquer que fosse o instinto que se agarrou à suas entranhas naquela tarde na prefeitura.

— Peço, por favor que não me odeie.

— Eu jamais seria capaz de tal atrocidade, capitão.


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Notas finais do capítulo

E então, palpites sobre o conteúdo da pasta?? Vejo vocês no próximo capítulo xx



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