O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 7
Capítulo 6 - Segunda Noite


Notas iniciais do capítulo

Oláá, mais um capítulo maravigold para vocês aqui :3 Boa leitura



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Quando a noite caiu, o céu estava sem nuvem alguma, indicando que um dia quente estava por vir. Todas as estrelas brilhavam de forma intensa e o mar abaixo do navio parecia mais profundo que o de costume. As lanternas e velas lançavam suas formas tremeluzentes na água, tornando o oceano uma obra de arte luminosa e efêmera, o que a tornava mais especial ainda. O Salamandra do Mar continuava avançando em sua missão, ainda sem sinal algum do S. S. Escafandro.

Os marinheiros formavam um círculo ao redor de Veronica que lhes cantava uma canção acompanhada dos toques suaves do banjo de Cristiano, que estava particularmente elegante naquela noite, com seus cabelos loiros bem penteados e a camisa mais aberta que o necessário. Todos os marujos em um silêncio solene ouviam a canção de Veronica que contava uma história sobre o céu, o mar, a lua e a necessidade de deixar ir.

O capitão observava tudo de um ponto mais afastado para conseguir capturar a cena toda de uma vez. As vezes, Leonardo gostaria de ter dons artísticos. Ele daria tudo para conseguir pintar e eternizar aquela cena que se desenrolava na frente de seus olhos que somada as estrelas e às luzes tremeluzentes, daria uma verdadeira obra prima.

Gregório e Teófilo bocejavam ao lado da mãe que acariciava seus cabelos escuros herdados do pai. Milton estava aos pés deles. De volta ao caralho, Aluísio estava com a cabeça para fora, limpando ocasionais lágrimas e tomando esporádicos goles de sua aguardente. Quando a música acabou, todos os dez homens aplaudiram e soltaram exclamações de aprovação. Veronica sorria envergonhada e agradecia. Seus olhos encontraram os de Leonardo por alguns segundos a mais do que seria aceitável para um encontro despretensioso de olhares. Estavam marejados.

Quando as palmas cessaram, Cristiano embarcou em um ritmo acelerado que fez alguns marujos levantarem para buscar mais algumas cervejas. Veronica caminhou na direção de Leonardo.

— Por que você está chorando? — perguntou o capitão alarmado quando a mulher parou ao seu lado.

— Essa música — disse, limpando as lágrimas. — Não consigo não chorar ouvindo ela.

A frase morreu no ar e o silêncio durou alguns segundos.

— Se ela te deixa triste, por que você ainda a canta? — indagou o capitão.

— Essa é a intenção da arte, não é? Te fazer sentir alguma coisa.

— Talvez. Eu não entendo de arte.

O silêncio retornou. Agora, um marujo sapateava ao som ritmado do banjo e das batidas de outros três marujos em cadeiras. Todos estavam felizes e animados, deslumbrados com a possibilidade de uma carreira marinha séria e respeitada, honrosa. Veronica se sentou no chão com a cabeça apoiada no mastro.

— No que você tem pensado? — quis saber, levantando seus olhos para mirar a figura altiva do capitão.

— Nessa incursão — respondeu Leonardo cruzando os braços, mirando o horizonte. — Não sei o que esperar. Ando me sentindo muito...

A confissão a pegou de surpresa.

— Preocupado?

— Também eu acho. Ou ansioso.

— Vai acabar dando tudo certo — disse de forma genérica com um suspiro e olhando para o mar. Um vento gélido fez os braços de Veroncia se arrepiarem. Seu vestido era longo porém de mangas curtas.

— Está com frio? — perguntou o capitão, agora a olhando. Ela deu de ombros e se virou para frente de novo. O capitão retirou seu pesado sobretudo e a camisa branca que usava sobre uma camiseta também branca e esticou-a para Veronica.

— Obrigada — agradeceu um pouco surpresa. Ela estava enlouquecendo ou o capitão Leonardo Leão estava flertando com ela?

Ele colocou o sobretudo novamente e enfiou as mãos no bolso. Longos minutos se passaram, sendo preenchidos pelo banjo alegre de Cristiano. Saindo do meio da multidão na direção dos dois, Gregório puxou a manga da camisa da mãe a fazendo se inclinar um pouco e disse algo que a fez dar um leve sorriso, ao que ela assentiu e se levantou.

— Boa noite, capitão — desejou, sendo guiada pelos filhos até sua cabine, esquecendo-se intencionalmente de devolver a camisa do capitão.

— Boa noite, Veronica — respondeu para o nada.

Cristiano ainda tocava seu banjo enquanto alguns dos outros marujos se recolhiam também, porém a maioria permaneceu. A música agora tomava um tom agitado. O capitão viu Juliano saindo da cozinha com três cervejas em cada mão, as quais distribuiu entre alguns marujos e ficou com uma para si. Essa cena fez Leonardo franzir as sobrancelhas e se questionar sobre a quantidade de bebia alcóolica que os marinheiros haviam colocado na embarcação antes de partirem.

Caminhou entre a multidão até Juliano e disse:

— Não se empolgue muito, essa madrugada é sua.

Juliano assentiu e terminou sua cerveja em um único gole, se levantando do meio dos marujos e indo se postar atrás do timão para guiar a embarcação madrugada afora, com a atenção dividida entre o mar e o homem com o banjo. Ele era uma das poucas pessoas em que Leonardo confiaria para reger a embarcação além de si próprio. Uma vez que o navio era tudo o que lhe havia restado, cuidava dele como sua própria vida, pois de certa forma, ele era. Desde cedo crescera com seu pai no navio, após sua mãe os abandonar. Aprendeu tudo o que sabia com seu pai e alguns de seus amigos conforme ia crescendo. Não conhecia outra vida.

Enquanto o capitão ia para sua cabine tomar um banho, Juliano ainda dividia seus olhares entre o mar e a massa dispersiva de marujos que se dividia entre assumir seus postos de vigia e ir deitar. Cristiano destacava-se na multidão com seus cabelos bem alinhados e o sorriso contido enquanto recebia elogios dos outros marinheiros. Quando percebeu-se como alvo do olhar de Juliano, um sorriso presunçoso lhe tomou a face. O marujo apertou a mão de Mariano mais uma vez antes de se encaminhar para o cockpit.

— Vai parar de graça? — perguntou, se referindo à noite anterior.

— Parar de graça? — indagou Juliano, prometendo que Cristiano não o tiraria do sério dessa vez.

— É, Juliano — respondeu Cristiano irritado. — Não assinei um contrato de exclusividade contigo, tá?

Juliano engoliu em seco e trincou o maxilar, mirando o horizonte.

— Você está mais que certo — retrucou com ironia. — Eu esqueci que eu só sirvo quando você está preso em um navio com outros dez homens e um cachorro.

— Você sabe que não é assim — disse Cristiano, perdido e chateado pela conclusão que Juliano havia chegado.

— Não é? Mesmo? — Juliano prosseguiu com seu tom irônico.

Cristiano respirou fundo algumas vezes e tomou um gole longo da cerveja que tinha em mãos, jogando com força a garrafa vazia que se estilhaçou em um dos mastros.

— Achei que você fosse ser menos infantil com isso — falou Cristiano.

— Eu estou sendo infantil? — Juliano agora travou o timão e encarou o outro marujo. — Eu tenho consciência do que eu quero, do que eu sou, Cristiano. Por favor, só fale comigo de novo quando você tiver alguma certeza para me dar, ok?

Cristiano permaneceu estático ao lado do timão enquanto Juliano virava de costas e caminhava até a borda da embarcação para se apoiar e ver o mar sendo deixado para trás, com algumas gotículas salgadas respingando em seu rosto.

— Você deveria ir dormir — falou com rispidez, olhando por cima do ombro e vendo o marujo se afastar a passos largos para seu quarto.

Enquanto isso após sair do banho, Leonardo caminhou até a cozinha e pegou uma cerveja para si na geladeira, afinal o dia fora longo e ele merecia.

— Foram ótimas músicas — o capitão cumprimentou Cristiano ao encontrá-lo no caminho para seu quarto.

Cristiano apenas assentiu com a cabeça e não se interrompeu para dar uma palavra com o capitão. Leonardo franziu as sobrancelhas perante a reação do amigo e caminhou até sua cabine tendo a garrafa na mão e, como sempre, não adormeceu de pronto. Terminou sua bebida olhando para mapas e coordenadas sob a luz trêmula de velas e não se lembrava da hora em que havia pegado no sono, se lembrava apenas de um sonho muito estranho, onde sua cabine pegava fogo e a única coisa que havia sobrado era a pasta cinza que o prefeito havia lhe dado.


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Notas finais do capítulo

E então? O que dizer dessa relação complicada do Cristiano e do Juliano? Asahdishdiuahsduas, vejo vocês no próximo capítulo! ♥



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