O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 17
Epílogo - A Última Viagem do Salamandra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760177/chapter/17

 

Era cedo ainda. Tão cedo que o Sol não obscurecia a Lua e ambos coexistiam no céu. As copas das árvores mais altas eram premiadas com raios do astro rei, adquirindo assim uma cor tão bela que, por alguns minutos, Leonardo desejou viver naquele momento para sempre. O ar cheirava a maresia e estava gelado. Era uma cena incrivelmente bonita e dolorosa ao mesmo tempo. Era sua despedida de Ákilah.

Após mais uma volta pela ilha, toda a tripulação restante do Salamandra do Mar embarcou no navio e não olhou para trás, para a ilha que lhes havia tomado tanto. O navio então partiu. Não poderiam voltar para Santo Ignáceo pois acabariam em exílio pela traição. Não tinham outra casa que não o navio por enquanto.

De seu lugar no cockpit, Leonardo observava o livro grosso que Narissa havia lhe dado. Ele não o abriria. Sem pensar duas vezes, o jogou no mar. Este livro foi seguido pela pasta cinza do prefeito, e após pelo caderno de seu pai que ainda guardava. Jogou fora a xícara de café que Veronica lhe trazia todas as manhãs. Ele não suportaria mais navegar sem a sua âncora Veronica, que mantinha sua cabeça no lugar nos momentos em que ela mais parecia que ia explodir.

Sentia-se amaldiçoado: perdera cedo sua amada mãe, seu pai no ápice da adolescência e agora a mulher mais importante de sua vida. Ele apoiou os cotovelos na borda do navio enquanto admirava o horizonte e a lua que ela lentamente esmaecida pelo sol conforme as horas avançavam em uma direção que ele não sabia mais reconhecer.

Juliano recostou-se ao lado do capitão e lhe entregou uma garrafa de cerveja. Os dois permaneceram em silêncio. Não sabiam exatamente para onde iam, porém eles eram uma família. Desde que permanecessem juntos, não importava.

— E então, como vamos aproveitar essa última viagem do Salamandra do Mar? — questionou Gregório ao sair da cozinha.

Leonardo sorriu fraco.

— Cristiano foi buscar o banjo.

O capitão jamais saberia, porém dentro do primeiro livro que havia jogado fora havia uma carta que dizia o seguinte:

As sereias são seres muito belos, porém sua natureza encantada e encantadora é também egoísta. Elas levam embora o que enxergam de mais precioso na vida de quem ousar adentrar seus domínios: roubaram o meu anel de casamento, mas eu não liguei, afinal é um preço pequeno a se pagar por uma experiência como essa. São impiedosas e possessivas, mas concordaram em nos deixar ir. Deixaremos a ilha quando o sol raiar, ou foi isso que elas me disseram. Ainda tenho um pouco de medo, pois não sei se cobrarão alguma coisa pela nossa liberdade, mas eu ganhei um lindo colar de conchas, então provavelmente é pra valer. Eriberto não está tão animado para sair, porém sei que ele vai se vangloriar durante uma semana inteira deste achado naquele maldito boteco Pérola Negra, afinal não é todos os dias que um casal de pescadores se prova setenta por cento corretos e se depara com uma colonia itinerante de sereias! Eu só quero voltar logo para a cidade e ver meu pequeno que deve estar sentindo saudades assim como eu sinto dele. Não sei ao certo se Eriberto vai querer levar este livro, uma vez que ele tem algumas informações bem contraditórias com relação ao outro que escrevemos, mas este aqui é meu favorito. Ele mostra o lado mais real das sereias e como elas podem ser inescrupulosas. Hoje vejo que tudo o que descobrimos e estudamos nos ultimos anos era bastante fantasioso, mas não estou exatamente decepcionada, só surpresa eu acho. Não tenho tanta certeza se eu me orgulho de ter talhado aquela sereiazinha no topo do mastro principal. Agora acho que preciso dormir, estou me sentindo um pouco zonza de sono.

— Miriam Leão


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

... um spin off quem sabe?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Preço da Glória" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.