O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 16
Capítulo 15 - Coberta de Flores


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo ♥ ai mds to emocionada. Muito obrigada a quem comentou e obrigada aos fantasminhas também dkhdkjshda. Boa leitura ♥ (não pulem as notas finais)



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Muitos minutos em silêncio se passaram. E foi também em silêncio que Gregório pegou o remo e os tirou daquele belo lugar que parecia perder a vida aos poucos. O barquinho sacolejou pelo riozinho que ligava a queda d'água à praia de Ákilah. Foi um trajeto lento e doloroso, onde as lágrimas salgadas se misturavam à água na qual eles navegavam. Com uma mão, Leonardo segurava a mão já sem vida de Veronica e com a outra ele apertava o livro de seu pai.

Quando eles chegaram na costa da ilha, viram que o S. S. Salamandra do Mar estava ancorado bem próximo da areia e que Aluisio estava ao lado de Mariano e Milton, os ultimos tripulantes do navio dos Leão. Ambos desceram correndo na direção do grupo quando os avistaram. Aluisio parou de pronto ao observar o corpo sem vida de Veronica Monjardim dentro do pequeno barco. Milton chegou antes dos outros dois e pareceu não compreender de pronto o que estava acontecendo. Ele cheirou o barco, cheirou Leonardo e cheirou o barco novamente. Ele proferiu algo similar a um lamento antes de se encolher ao lado do barco, deitando-se.

Leonardo estava inconsolável. Ele sentou-se na areia e afundou o rosto nas mãos, entregando-se ao luto. O silêncio pesado os oprimiu por horas, mantendo cada um fechado na sua própria bolha de sentimentos. Gregório e Teófilo recostaram-se no barco e ali permaneceram conforme a madrugada avançava. Juliano estava sentado ao lado de Leonardo sem dizer uma palavra, apenas mirava o horizonte e deixava algumas lágrimas escaparem. Cristiano havia entrado no navio e saíra com algumas garrafas de aguardente, que compartilhou em silêncio com Mariano e Aluisio. A lua estava enorme e iluminava toda a praia, mas não parecia levar embora a sombra escura que pairava sobre o que havia sobrado da tripulação do Salamandra do Mar. Até Milton estava calado e retraído.

A primeira palavra foi dita algumas horas antes do céu começar a clarear.

— Precisamos... — a frase de Gregório morreu. — Quer dizer, o que vamos fazer?

Leonardo pela primeira vez levantou a cabeça e ergueu seus olhos inchados de choro para a lua, sem saber o que dizer.

— É... — o capitão travou. Sua voz estava rouca — É a mãe de vocês. O que vocês querem fazer?

Ao invés de falarem qualquer coisa, os dois se levantaram e se puseram a recolher flores dos mais diversos tipos. Sem que precisassem pedir, todos os outros se precipitaram para ajudá-los. Eles se embrenharam na mata para recolher várias e várias flores diferentes sem proferir palavra. O esforço distanciava a mente deles da dor da perda que haviam acabado de sofrer. Logo, o corpo de Veronica estava completamente coberto por flores coloridas que quase transbordavam o barco. Gregório e Teófilo empurraram-no até a orla. A tripulação em silêncio fez um semi círculo ao redor do barquinho coberto de flores, em um pedido silencioso de desculpas.

— Acho que todos nós temos uma parcela de culpa — começou Juliano, porque ninguém mais se pronunciou. — Espero que ela possa nos perdoar, onde quer que ela esteja.

— Era uma mulher muito forte — acrescentou Cristiano. — Meu banjo vai sentir falta de acompanhar essa voz de soprano.

— Ela foi uma mãe exemplar — disse Gregório. Teófilo, que chorava novamente, apenas concordou com a cabeça. — Sinto orgulho de ter o mesmo sangue que ela.

Aluísio e Mariano apenas derrubaram um pouco de aguardente dentro do barco para homenageá-la. Leonardo ficou calado.

— Só Deus sabe como essa mulher era importante para mim — foi tudo o que disse. — Desculpe por não poder salvá-la.

E então, após mais alguns minutos de silêncio, os gêmeos empurraram o barco da mãe para a água, que a levou para o horizonte lentamente.

***

Algumas horas depois, o sol já despontava no céu e o estado de choque e torpor no qualtodos se encontravam  já havia passado.

— E então? — indagou Gregório.

— Eu não piso em Santo Ignáceo novamente — declarou Leonardo.

— É prudente — concordou Cristiano. — Para onde vamos?

— Vocês não precisam me seguir.

— Somos uma tripulação ainda, capitão — rebateu Juliano.

— Nós não sabemos fazer muita coisa além disso, capitão — avisou Teófilo.

Leonardo ponderou por alguns minutos. Correu para o navio, tentando evitar olhar para dentro da porta entreaberta do antigo quarto de Veronica, entrou no seu prórpio quarto e procurou por um mapa em meio a suas tralhas. Enquanto voltava novamente para a praia, tentou tirar da cabeça que nunca mais iria brigar com Veronica porque ela vivia tentando marteu seu quarto em ordem.

O mapa foi estendido na areia e algumas horas se passaram enquanto toda a tripulação restante do Salamandra do Mar tentava decidir qual seria o destino da última viagem do navio.

Uma vez que o destino havia sido decidido, eles se puseram a organizar a viagem, separar suprimentos e recolher galhos e troncos para o caso de precisarem de mais combustível.

****

Após um dia inteiro carregando o navio e se preparando para a viagem, eles se reuniram no convés, com o típico banjo rasgando o silêncio, acompanhado do típico cheiro de cerveja. Observando sua tripulação, Leonardo conseguiu se sentir grato pelo que ainda tinha apesar da dor incomensurável da sua perda.

— Partiremos amanhã antes do sol raiar, marujos! 


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Notas finais do capítulo

Amanhã teremos a publicação do epílogo e do posfácio, não percam! Aí depois disso, a história está oficialmente encerrada o/ até mais.



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