O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 15
Capítulo 14 - Um Dia Sem Fim


Notas iniciais do capítulo

Eiiiita que estamos chegando na reta final dessa história ♥ Boa leitura



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O dia parecia não acabar nunca. Ou sua percepção de tempo estava bagunçada. Ele não sabia dizer. Veronica se aproximou do capitão olhando para os lados.

— Que colar bonito — comentou o capitão. — Seu cabelo está bonito também.

A mulher revirou os olhos e acertou um forte tapa no rosto do capitão.

— Leonardo, acorde! — ela pediu em desespero.

— Eu estou acordado, mulher — falou, pousando a mão sobre o lugar que Veronica havia acertado. — Por que você me bateu?

— Tem alguma coisa muito errada! — a mulher disse um pouco mais alto que um sussurro, prendendo os cabelos em um rabo de cavalo.

Leonardo sorriu e depositou um beijo na testa de Veronica.

— Não tem nada errado, olha só esse paraíso!

— Leonardo, nós temos que voltar, elas precisam sair daqui. O Escafandro pode chegar a qualquer minuto — Veronica disse com pressa.

— O Escafandro? — disse Leonardo confuso, sentindo um pouco da leveza abandonar sua cabeça. — Elas têm de ir embora, certo?

— Sim! — Veronica exclamou, grata que algum juízo houvesse finalmente penetrado na mente do capitão.

"Capitão Leão", Narissa disse se aproximando dos dois para o total desespero de Veronica. "Você é tão bom quanto seu pai. Fiquei muito triste ao saber que ele faleceu. Aliás, eu acho que antes de ele ir embora da ultima vez, ele deixou aqui um livro de anotações, se quiser pode levar. Venha cá e me conte mais sobre você".

Ao se afastar com Narissa, Leonardo deu um sorriso que Veronica normalmente classificaria como tímido, mas o capitão nunca sorria assim e isso só serviu para afundar Veronica em desespero uma vez mais. Ela viu ao longe as sereias carregando pesadas cestas na cabeça. Elas estavam sim se preparando para sair. Mas planejavam deixá-los ali?

Veronica quis chorar de frustração e raiva. Ninguém a compreendia, todos pareciam entorpecidos com algum tipo de magia que não a afetava. Ela nadou até a pedra de Juliano e Cristiano para colocar suas roupas de volta. Assim que ela pisou fora da água, sentiu um peso enorme se abater sobre seu corpo, mas lutou contra aquilo que dizia para que ela voltasse à água e vestiu-se.

— Eu não sei o que está acontecendo, mas nós precisamos ir! Fizemos o que tinhamos pra fazer que era avisar sobre o Escafandro, agora vamos! — implorou para Juliano, que desconsiderou sua sugestão.

— Ninguém quer sair desse oásis, Veronica. Se está tão incomodada assim, porque você não vai embora? — respondeu Cristiano com rispidez.

Veronica engoliu suas lágrimas e andou de forma lenta até o barquinho que a levaria de volta para o Salamandra do Mar, mas ela não sabia o que faria. Ou ninguém acreditaria nela, ou todos iriam até lá e acabariam presos também.

Essa foi uma decisão que ela não precisou tomar, pois no momento que ela sentou no barco os barulhos da aproximação de um navio grande a fizeram desviar sua atenção da pilha de roupas que estavam jogadas no barco. Torceu intimamente para que fosse o Salamandra do Mar, para que muito tempo tivesse passado e os marujos houvessem decidido procurar por eles, mas sabia que a probabilidade de ser o Escafandro era maior.

Ela começava a se sentir tonta e remou o mais rápido que pôde até alcançar Gregório e Teófilo.

— Se vistam — ordenou, estendendo as peças de roupas para eles.

— Ta tudo bem, mãe? — perguntou Gregório, colocando à contra gosto a roupa de volta.

— O Escafandro pode estar chegando — disse em voz baixa?

— Escafandro, mãe? — indagou Teófilo genuinamente confuso.

Veronica desferiu um tapa forte em cada um dos seus filhos.

— Acordem! — implorou enquanto continuava se movendo na direção de Juliano e Cristiano.

— Lá vem a estraga prazeres — resmungou Cristiano.

Veronica jogou suas roupas sobre eles.

— Se vistam. O Escafandro se aproxima.

Juliano pareceu acordar de um transe ao ser lembrado do navio que se aproximava para completar a missão da qual eles haviam desistido para acabarem naquela situação. No momento que o Escafandro irrompeu pelo riacho, arrebentado os galhos, cipós e terra ao redor, o pânico foi imediato. O que quer que estivesse prendendo a consciência da tripulação pareceu se quebrar. Leonardo olhou em desespero para seus marujos e nadou com rapidez até o barco de Veronica para buscar suas roupas. Ele jogou o pesado livro no barco.

Toda a magia do local pareceu se esvair, pois de repente a tarde agradável havia se tornado uma noite muito iluminada pela lua cheia e pelas luzes do Escafandro, de onde incontáveis marinheiros desciam com harpões, lanças, bestas e redes para capturar as sereias, que já se encontravam prontas para partir.

— Me perdoe — foi tudo que Leonardo conseguiu dizer após colocar suas roupas de volta. — Veronica, você está bem?

Quando Leonardo mirou a mulher, se assustou. Ela estava muito pálida e sua pele estava arroxeada ao redor dos olhos.

— Leão, seu maldito! — Marco Martins gritou. O capitão do Escafandro estava péssimo: mancando, com o braço esquerdo apoiado em uma tipóia e um tapa olho improvisado no olho direito. — Você as deixou escapar!

Leonardo reconheceu alguns rostos da sua própria tripulação entre os homens de Martins que, armados, nadavam na direção das sereias. Entretanto eles jamais conseguiriam alcançá-las.

— Não levante — sugeriu Leonardo antes de abandonar o barquinho com Veronica. Ela tentou dizer algo, mas se sentia fraca. Seu peito ardia e ela sentia sua pele se fundindo com o maldito colar de conchas.

— O que você fez? — indagou Marco, frente a frente com Leão. — Você traiu a sua própria cidade em prol desses monstros?

Leonardo não sabia o que dizer. Três dos homens de Martins retornaram carregando Narissa dentro de uma rede. Quando o capitão bateu os olhos na criatura presa, sentiu-se leve novamente. Ele puxou uma faca de seu cinto e a apontou para o pescoço de Marco.

— Liberte-a — ordenou. Marco riu na sua cara. — Meu pai morreu tentando defendê-la e eu não só faria como farei o mesmo.

— Capitão! — Gregório gritou em desespero. — A minha mãe!

Nesse momento Leonardo hesitou. Foi o suficiente para que Marco lhe acertasse um soco com a mão boa. O capitão do Salamandra do Mar cambaleou e caiu na água enquanto Narissa gritava ao longe, sendo levada para dentro do Escafandro, que partiu logo em seguida.

Assim que Leonardo emergiu da água, nadou na direção do pequeno barco onde Veronica estava deitada com a cabeça no colo do filho, que chorava em desespero e lhe acariciava os cabelos. O arroxeado dos olhos se espalhava pelo rosto todo conforme o colar de conchas apertava seu pescoço, lhe tomando pouco a pouco o ar, fazendo a mulher respirar com dificuldade em arquejos horríveis. Leonardo buscou uma faca no barquinho, uma coisa cortante qualquer, mas tudo havia sido jogado na água às pressas para que Veronica pudesse ser repousada.

— Capitão — ela conseguiu pronunciar entre arquejos, com o corpo todo tremendo, implorando por oxigênio.

— Shh, não fala, não fala — Leonardo disse transtornado, sem saber o que fazer. Precisava arrancar aquele colar para ontem! Em meio ao seu desespero, ele se lembrou da faca que a mulher sempre guardava na bota.

Ele puxou a bota esquerda em vão, então puxou a direita e a pequena faca de metal caiu. Com as mãos tremendo ele se aproximou do colar no pescoço, mas não sabia como cortar o colar maldito sem machucar ou até mesmo matar Veronica pois o acessório havia se fundido com a pele.

— Capitão — ela disse mais uma vez com a voz muito baixa e estrangulada. — Os meninos. Cuide.

— Claro que sim, claro que sim — ele repetia, com uma cascata de lágrimas descendo pelo seu rosto sem pausas. — Me deculpa, eu falhei. Falhei, falhei, falhei, falhei.

A mão trêmula de Veronica tocou a barba cerrada de Leonardo e os olhos muito azuis foram perfurados pelo acalento dos olhos castanhos da mulher. Um soluço alto escapou dos lábios do capitão.

— Eu te amo — ela conseguiu sussurrar antes do calor das suas íris irem embora de vez.


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Notas finais do capítulo

Me abstenho de comentários. Espero que tenham gostado, vejo vocês no próximo capítulo o/



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