O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 12
Capítulo 11 - Quinta Noite


Notas iniciais do capítulo

atrasou um pouco mas saiu kkkk espero que gostem ♥



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O dia foi calmo. Uma boa parte da tripulação dormia, a outra parte ouvia Cristiano que pegara seu velho banjo e passou a tarde tocando músicas para a tripulação enquanto o navio cortava o mar em direção a Ákilah. Veronica inventava histórias que se misturavam com a realidade um dia já vivida pelo Salamandra do Mar enquanto Gregório brincava com Milton e Teófilo limpava facas. O sol já estava se pondo e eles estavam cada vez mais próximos de seu destino.

— O Salamandra enfrentou uma noite daquelas durante a expedição para Gataca — falava a mulher. — Chuva sem freio, o convés encharcado, os onze marujos deslizando enquanto tentavam reparar a vela que havia se quebrado, Aluisio bêbado como sempre no caralho — e nesse ponto todos riram. — Achamos que tudo estava perdido porque com uma vela quebrada, tudo molhado, pouco carvão e uma tempestade interminável no meio da madrugada não tinha como tudo estar bem!

"Eu estava totalmente desesperada tentando fazer vocês dormirem e pensando que as coisas não podiam piorar ainda mais. Só que podiam. Uns dez piratas pularam para dentro do navio. Eles haviam se aproximado com pequenos barcos, então só os vimos quando eles estavam com as armas na nossa cara. Leonardo logo puxou a espada e foi nos defender. Mais de nove homens não puderam lutar porque estavam impedindo que a vela caísse, matasse todo mundo e ainda destruísse o Salamandra de brinde. Na época, o Juliano era uns três anos mais novo que vocês são agora e sozinho, arrebentou com uns sete piratas"

Os meninos olharam admirados para Juliano, que só balançou a cabeça e voltou a olhar para o horizonte. Veronica continuou com seu jeito típico e exagerado de contadora de histórias.

— Vocês não paravam de chorar. Eu precisei sair para buscar comida e tentar calar a boca de vocês e me deparei com três homens no corredor. Quando eles me viram, já sacaram suas espadas mas eles não esperavam o que aconteceu depois.

— O que aconteceu? — perguntou Teófilo, preso na narrativa da mãe.

— Leonardo apareceu com uma besta. Três tiros, três homens no chão — descreveu. Os meninos olharam para o capitão com admiração.

Este, mirava o horizonte ainda preocupado.

— Por que você não usou uma pistola, capitão?

— Eu nunca gostei de armas de fogo, Teófilo.

Após esse comentário, Leonardo atravessou o convés a passos largos e se trancou no quarto. Não sabia como seus marujos reagiriam quando ele contasse que não pretendia capturar os ditos animais para o prefeito. Não sabia se deveria lutar contra Marco para que houvesse tempo para uma fuga. Isso seria no mínimo recompensado com o exílio. Não sabia se deveria debandar da missão, se devia abandonar o navio, se pediria mais uma opinião. Ele estava fundo em um turbilhão de pensamentos.

Resolveu tomar um banho para clarear as ideias, porém ele mal submergiu na água da banheira, ouviu duas batidinhas na porta. Secou-se às pressas, enrolando uma toalha na cintura e foi atender a porta, receoso de ser Juliano com alguma notícia ruim. Ao abrir a porta, se surpreendeu ao ver Veronica parada ali. Ela o encarou de cima a baixo.

— Só acontece no caminho para Ákilah — disse risonha, revirando os olhos. — Vim ver se estava tudo bem.

— Está sim — respondeu Leonardo levemente desconfortável. — Só estou... você sabe. Perdido.

— Você é o capitão — falou entrando no quarto sem convite. — Para qual direção sua bússola aponta?

— Eu não quero decepcionar ninguém. Ou ser exilado.

— É uma decisão complicada — suspirou a mulher.

Veronica sentou-se à sua mesa e Leonardo sentou-se na beirada da cama. Ela mirava o capitão como se esperasse alguma coisa dele.

— Achei que tínhamos combinado que isso não ia mais acontecer — ironizou Leonardo.

— O que está acontecendo, Leonardo? — provocou Veronica.

Leonardo soltou uma risada sem graça e foi acompanhado por Veronica.

— Eu preciso me trocar — anunciou o capitão.

Ele pegou algumas peças de roupa e se trancou no banheiro por alguns minutos para se trocar. Ao sair, encontrou Veronica ainda à mesa, observando os papéis que Leonardo havia deixado jogados, entre eles as anotações de seu pai e a pasta cinza do prefeito.

— Você sabe que independente do que você decidir — falou a mulher fechando a pasta e se levantando. — Você pode contar comigo, certo?

Leonardo sorriu e assentiu com a cabeça, sentindo-se sem palavras. Ele não era bom reagindo à demonstrações de afeto, ainda mais as de Veronica que eram tão delicadas e sempre o atingiam como uma facada diretamente no coração, porém não de um jeito ruim: elas amoleciam o rígido capitão Leão que havia em si. Antes de deixar o quarto, Veronica tocou a bochecha do capitão com a ponta dos dedos e sorriu, perfurando a grossa camada de gelo dos seus olhos azuis com um olhar castanho acolhedor. Assim que a porta bateu, Leonardo suspirou e se sentou na cama, totalmente sem rumo.

Tinha o apoio de Veronica e de Cristiano. Não tinha dúvidas de que Juliano o apoiaria, porém não tinha certeza sobre o resto da tripulação. Eram, de fato, como uma família, porém como em qualquer família, havia aquele primo fofoqueiro ou o tio que se acha melhor que todos. Confiaria cegamente em sua tripulação para qualquer coisa, porém algo nessa expedição o travava, o deixava inquieto, o perturbava.

Leonardo sabia o que o pai faria e se sentia mal por cogitar contrariar o desejo de seu velho, porém havia muito em jogo nessa missão além de honra e glória: vidas que se esvaíam como água de uma torneira aberta por causa da Febre que acometia as cidades vizinhas de Santo Ignáceo e que podia chegar na sua terra natal a qualquer instante. Valeria a pena matar seres inocentes em troca de outras vidas? Não acabaria tudo do mesmo jeito?

Com a cabeça girando nesses questionamentos, Leonardo deitou-se, tentando focar seus pensamentos em uma só linha de raciocínio. Como de costume, não adormeceu de pronto e quando dormiu, ainda não tinha certeza sobre o que faria.


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Notas finais do capítulo

vejo vocês no próximo capítulo ♥



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