O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 11
Capítulo 10 - Quinto Dia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :3



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Pouco antes do sol raiar, uma chuva fraca e constante assolava o navio que se mantinha vários quilômetros atrás do Escafandro. Aluisio esbravejava palavrões de seu lugar no caralho que podiam ser ouvidos por toda a tripulação. Veronica estava sentada na parte coberta do convés afiando algumas facas com Milton dormindo ao seu lado. Leonardo como sempre estava atrás do timão e Juliano não deixou o lado de Leonardo em momento algum desde que o capitão assumira o controle do navio logo após a chuvinha começar. O convés estava vazio por causa da chuva, mas ainda assim as atividades não pararam nos bastidores.

Juliano viu Cristiano saindo da cozinha com uma xícara fumegante em uma mão e seu típico charuto na outra. Recostou-se à borda para tragar seu narcótico que mal se mantinha aceso devido à chuva. Seu olhar de soslaio cruzou com o de Juliano, mas rapidamente foi desviado. Ao seu lado, o capitão comentava alguma coisa sobre como os ventos estavam bom, mas talvez bons demais para o improviso que fizeram com a estai partida.

Desistindo do fumo difícil, Cristiano atirou o charuto no cesto de lixo e desceu as escadas tomando um gole de seu café. Juliano sentiu como se algo o puxasse para seguir Cristiano e lhe agradecer por ter o ajudado na noite da tempestade.

— Capitão, eu volto em um minuto — avisou antes de tomar o caminho para a salas inferiores.

Observou pela porta a sala de máquinas e a encontrou vazia. Isso significava que Cristiano estaria na sala de armas. Juliano respirou fundo duas vezes antes de passar pela porta já aberta, como se o outro estivese lhe esperando.

— Dia — cumprimentou Cristiano ainda de costas, limpando uma espingarda.

— Oi — respondeu Juliano.

O marujo olhou ao redor e viu vários tipos de facas, adagas, bestas e armas de fogo. Sem falar das quatro gaiútas de onde os quatro velhos canhões se projetavam na direção do inimigo, sendo dois de cada lado. Juliano interrompeu sua análise para dizer logo o que precisava dizer.

— Eu só vim agradecer — falou. — Por ter simplesmente largado a estai e corrido pra me ajudar na noite da tempestade.

— Heitor é quem está puto com você. A estai acertou o rosto dele bonitinho — Cristiano riu de leve para tentar quebrar a tensão, mas não havia se virado ainda.

— Enfim, muito obrigada — frisou Juliano. — E me desculpe.

— Por? — provocou Cristiano, endireitando o tronco para colocar a espingarda no lugar.

Juliano revirou os olhos perante a teimosia de Cristiano.

— Por te pressionar — respondeu com os dentes cerrados. Esse era um tópico que ainda o incomodava bastante.

— Está tudo bem — Cristiano se virou e sorriu de leve, tranquilizando Juliano. — Desculpe por te chamar de infantil. E também por ser tão... inconsistente.

Com três passos longos, Cristiano alcançou Juliano parando bem à sua frente.

— Não é que eu não gosto de você, entede? — tentou explicar, cravando seus olhos nos dele. — Eu só...

A frase morreu na metade, mas nada além precisava ser dito.

— Tudo bem. Eu entendo — suspirou Juliano, ainda levemente contrariado porém ciente de que não precisavam de uma briga agora. — Seu tempo.

Agora Cristiano sorria abertamente e envolvia Juliano em um abraço apertado. Juliano não pôde evitar de sorrir e corresponder o caloroso abraço do marujo. Se separaram prontamente ao ouvirem os passos agitados descendo as escadas. Com um último olhar trocado, Juliano deixou a sala e subiu as escadas na direção do convés.

Conforme o dia foi clareando, a chuva foi sendo reduzida. Já próximo da dez da manhã, o céu estava claro e o sol brilhando forte. Teófilo carregava carvão para sala do motor, Veronica preparava o café, Aluisio xingava todos do caralho e Juliano havia finalmente conseguido assumir o timão por algum tempo enquanto Leonardo descansava o corpo logo ao lado.

Tudo havia estado muito calmo. Os poucos marujos que circulavam pelo convés ou limpavam uma coisinha ou outra, ou brincava com Milton, ou fumavam seus cigarros. Aluisio gritou algo ininteligível do cesto, mas pensando que era apenas mais uma de suas besteiras de bêbado, ninguém deu atenção.

— Ele disse Renata? — perguntou Veronica, com um risinho preso no fundo da garganta. Juliano olhou para a mulher confuso mas Leonardo se levantou e pegou seu telescópio, alarmado.

— Ele disse pirata — avisou o capitão, colocando todos em estado de alerta. — Veronica, desça para a sala de armas, avise Cristiano e não saia de lá.

— Mas... — ela tentou protestar.

— É só precaução, Veronica. Vai logo!

A mulher cedeu e rapidamente seus cabelos ruivos desapareceram pelos degraus que levavam à sala de armas. Milton, esperto como sempre, a seguiu.

— Acorde os marinheiros — o capitão se dirigiu à Juliano, que deixou o timão, onde Leonardo encaixou a alavanca e se aproximou da borda do barcom com seu telescópio.

Os marinheiros que estavam adormecidos começaram a surgir aos poucos no convés, em estado de alerta, olhando para todos os lados, aguardando um ataque a qualquer minuto.

— Piratas! — gritou Aluisio com a cabeça barbada e ruiva para fora do caralho, olhando para baixo e derrubando a garrafa de aguardente cheia pela metade no convés, fazendo o capitão o olhar com raiva. — Vishe — grunhiu e voltou a se esconder no caralho.

Agora o navio com bandeira preta era visível sem o telescópio. A tripulação pirata pulava para dentro do S. S. Escafandro para um saqueamento. Leonardo viu nisso a oportunidade de tomar a frente na empreitada até Ákilah, seja para fazer o que quer que ele precisasse. Arrancou a alavanca do timão ao mesmo tempo que Juliano, Teófilo e Gregório irrompiam pela porta do quarto no convés.

— Quais as ordens, capitão? — perguntou Gregório.

— Preciso de força manual para os motores irem mais rápido. É a nossa chance de tomar a frente do Escafandro — avisou.

Os gêmeos seguiram com mais outros cinco marujos para a sala de máquinas. Juliano estava alerta e assustado, olhando de um lado para o outro como se esperasse um pirata pular ali a qualquer segundo. O navio começou a se movimentar cada vez com mais velocidade, então Leonardo girou o timão para a direita, se afastando da confusão que acontecia com o Escafandro. Quase sorriu ao pensar na vantagem que conseguiria. Continuou avançado rapidamente pelo oceano e uma hora depois já não conseguia mais ver o Escafandro.

Agradecendo aos deuses por sua sorte, o capitão Leonardo consultou a bússola em frente ao timão indicava que eles estavam seguindo muito para leste, então Leonardo tratou de corrigir o curso do navio.

— É seguro trazer todos de volta, Juliano — avisou o capitão.

— Vocês arrebentaram todos eles? — perguntou Veronica ao retornar.

— Estavam tão ocupados brincando com o Escafandro que nos ignoraram — respondeu Leonardo com um sorriso de lado.

Veronica abaixou a cabeça. Leonardo coçou sua barba clara e fincou a alavanca novamente no timão torcendo para que os piratas se satisfizessem com o Escafandro e não os seguisse.

— Que sorte danada — comentou Veronica.

— Agora nós temos uma boa vantagem sobre eles. Se mantivermos esse ritmo, chegamos lá antes deles e....

Leonardo deixou a frase morrer simplesmente por não saber o que fariam quando chegassem em Ákilah.

— Ei chefe! — gritou Aluisio do caralho. — Bom trabalho, hã?

Leonardo riu e apenas fez um sinal de positivo com o dedo para o homem. O sol castigava a tripulação do Salamandra do Mar que aos poucos retornou da sala de máquinas e retomou seu lugar. Perto das duas da tarde, Mariano serviu uma refeição de tirar o fôlego. Leonardo foi o que menos comeu e assim que terminou, voltou para seu posto atrás do timão.

— O que ele tem? — perguntou Gregório com a boca cheia de purê.

— Engole antes de falar — a mãe deu um tapa na cabeça do menino. — Ele só está preocupado.

Cristiano bufou e Veronica lhe lançou um olhar atravessado. No cockpit, Leonardo passava um creme em sua cicatriz para que não ficasse pior do que já era por conta do sol quando Gregório sentou do seu lado.

— Então, capitão? Como estamos? — perguntou.

— Infelizmente um pouco perdidos — admitiu Leonardo. — Mas vou corrigir o curso já já.

— Me conta: o que exatamente estamos indo fazer? — indagou o jovem.

Leonardo se pegou sem saber exatamente o que responder. Gregório pareceu perceber seu olhar perdido e se sentiu inseguro. Se nem o capitão sabia ao certo o que eles estavam indo fazer, quem saberia?

— Estamos indo fazer uma busca — disse evasivo.

Talvez passasse mais aquela noite em claro lendo os cadernos de seu pai.


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