O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 10
Capítulo 9 - Quarto Dia




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O dia que se seguiu à noite tempestuosa foi assustadoramente calmo. Leonardo quase sentiu satisfação em ver uma vela do Escafandro quebrada.

— Essa foi uma punição da natureza pela nossa lança da proa — resmungou Cristiano soltando a fumaça de seu charuto.

Leonardo sorriu perante o típico mau humor do amigo. O céu se abria lentamente e o mar estava bastante calmo. Os marinheiros estavam todos cansados dos esforços para que o navio não afundasse na noite anterior. O único com alguma disposição era Milton, que corria pelo convés pedindo carinho.

— Você vai precisar de alguma coisa? — quis saber Cristiano. — Eu vou voltar para a sala de máquinas.

— Pode ir em paz.

Cristiano se afastou a passos lentos. Veronica passou junto com Heitor, que ostentava um vergão feio em sua face graças a estai descontrolada. Eles carregavam caixas com carvão para cozer o almoço do dia que seria preparado por Mariano para a alegria geral.

Após entregar o carvão, Veronica tomou seu lugar de costume no embaixo da dog-house, próxima ao capitão. Leonardo se lembrou do que havia prometido a si mesmo. Conversaria com Veronica pois os dias estavam passando e a ilha Ákilah estava cada vez mais próxima e ele não sabia o que fazer.

O capitão pigarreou para chamar sua atenção enquanto fincava a alavanca para manter o curso do navio.

— Sim? — ela indagou desviando os olhos do livro que lia para encarar o capitão, que parecia tenso.

Leonardo olhou para os lados, confirmando que estavam distantes de qualquer um da tripulação. Se abaixou para ficar na mesma altura da mulher sentada no chão e a olhou nos olhos.

— Você consegue guardar um segredo, Veronica? — perguntou.

— Depende do tipo do segredo, capitão

— Eu acho que descobri que não estou indo para essa missão capturar animal algum.

— Como assim? — Veronica franziu as sobrancelhas e pousou o livro no chão ao seu lado, totalmente atenta.

Leonardo olhou ao redor para garantir que ainda estavam sozinhos.

— Meu pai morreu tentando proteger a localização dessa colônia de homens como Marco e o prefeito. Eu estou indo protegê-la, mas ninguém pode saber.

— Eu achei que você não acreditava nisso, Leonardo — comentou Veronica surpresa.

O capitão sempre fora cético com relação ao que os pescadores e a imprensa falavam sobre o pai, porém na atual conjuntura ele se sentia completamente perdido. Não sabia se em sua busca por alguma honra na cidade valia a pena passar por cima de algo que talvez seu pai jamais aprovaria, porém por outro lado ele nao tinha mais certeza de nada..

— Eu não acreditava até duas noites atrás — confessou, agora se sentando de frente para a mulher. — Eu li os documentos do prefeito e um caderno antigo do meu pai.

— E por que você está me contando isso?

— Porque eu confio em você, Veronica. Sei que não vai me desacreditar ou tentar me impedir. Sei que vai me ajudar.

Veronica se sentiu um pouco atordoada com a confissão do capitão. Ele dificilmente era aberto assim com qualquer um que fosse. Ela abriu a boca e desistiu no meio do caminho algumas vezes antes que as palavras viajassem do seu cérebro até sua boca. Por fim, disse:

— Você coloca muita confiança em mim, capitão.

— Você jamais me inspiraria o contrário, Veronica.

Agora ela foi obrigada a desviar o olhar para qualquer lugar no navio que não fossem os olhos perdidamente azuis do capitão.

— Me diga, por que ninguém pode saber? — indagou após alguns minutos de silêncio.

— Homens são ambiciosos.

— Me contou porque sou mulher? — um sorriso pairou nos lábios da mulher numa tentativa de trazer um pouco de humor para aquele diálogo excessivamente sério, porém o capitão permaneceu solícito.

— Já disse, te contei porque eu confio em você. — e acrescentou: — Eu contei para o Cristiano também.

Eles se encararam em silêncio por alguns minutos. Veronica não se sentia mais tão especial assim, porém achou tal pensamento muito infantil. Logo abandonou essa linha de raciocínio.

— E o que você pretende fazer? – indagou Veronica.

— Eu não tenho a menor ideia. Estou desesperado, Veronica — disse. — Chegaremos em Ákilah dentro de um ou dois e eu ainda não sei o que fazer.

— Cacete, Leonardo — suspirou Veronica. — Que problemão.

— Eu sei — ele falou, agora mirando o horizonte, com um quê de sorriso pairando nos lábios. — O velho causa até na morte, é impressionante.

Veronica soltou uma risada perante o bom humor do capitão. Entendia agora suas respostas curtas e secas nos dias anteriores. O peso que o homem devia estar carregando com essas questões todas na cabeça enlouqueceriam qualquer um. Leonardo era muito centrado.

— Você acha mesmo? — indagou o capitão sorrindo.

Veronica arregalou os olhos e o encarou. Estava tão distraída que devia ter soltado as palavras em voz alta. Ela revirou os olhos.

— Acho — respondeu simples. — É um ótimo homem e capitão.

Leonardo olhou para o chão, para suas mãos que brincavam com uma pedrinha qualquer que havia achado, tentando ignorar o peso de sua decisão e aproveitar aquele momento agradável. Não era hora para aquilo, ele sabia, mas não conseguiu se conter e encarou Veronica com intensidade.

— Achei que tínhamos combinado que isso não ia mais acontecer — disse Veronica, um pouco desconcertada com os olhos azuis perfurando sua alma.

— O que está acontecendo, Veronica? — provocou o capitão em um tom irônico.

— Você sempre... — a frase morreu nos lábios de Veronica.

— Eu sempre o que, Veronica?

— Toda vez que... — as palavras sumiram novamente.

Uma expressão dividida entre a diversão e a curiosidade estampava a face de Leonardo enquanto as lembranças de longas e loucas noites em incursões no passado invadiam sua cabeça.

— Ákilah, Leonardo — sorriu Veronica. — Você fica todo... assim quando a gente vai pra Ákilah.

Leonardo franziu o cenho e se recordou do destino da incursão quando todas as longas e loucas noites haviam acontecido e se pegou curioso sobre o que realmente acontecia na ilha e qual a relação disso com o que ele estava indo capturar. Ou proteger.

— Bem, se meu pai estiver certo, Ákilah é um lugar que...

Antes que o capitão pudesse concluir um pensamento que acabava de fazer sentido na sua cabeça, foi gritado por Juliano. Com um suspiro pesado, ele se levantou.

— Terminamos essa conversa depois — avisou com um olhar por cima do ombro enquanto se afastava na direção de seu imediato.

— Estarei esperando, capitão.

Veronica tentou retomar a leitura de seu livro, mas a conexão que havia feito entre seus momentos com Leonardo e a ilha Ákilah a deixara intrigada. O capitão era sim um homem muito charmoso e todas as moças de Santo Ignáceo pensavam assim, apesar de o achar excêntrico e controverso como o pai. Veronica sempre lidara muito bem com o capitão, porém parecia que eles se sentiam muito inclinados um para o outro quando seu destino era a ilha Ákilah.

Seja já o que fosse essa bizarrice, era bom que acabasse logo. Por mais que Veronica adorasse seus momentos com o capitão, eles dificilmente acabavam bem.  


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Notas finais do capítulo

EEEITA O QUE DIZER DESSES "MOMENTOS" ENTRE A VERONICA E O CAPITÃO EIN EIN EINN
uhsdhda vejo vocês no próximo capítulo ♥



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