A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 7
Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor(a)!
Antes de começar a ler, gstaria que lesse aqui.

Primeiramente quero pedir desculpas pela demora em atualizar a fanfic. Não era a minha intenção atrasar dessa forma. Mas o último mês foi extremamente corrido por aqui e precisei focar em outros projetos. Quem me acompanha no Face sabe, principalmente com relação aos projetos de novos cosplays que acabavam tomando a maior parte do meu tempo livre (devido á eventos seguidos e ensaios).
Fora isso, precisei redirecionar a criatividade literária para mniha outra fanfic (The Cruel Beauty) cuja atualização já estava mega atrasada.
Este capítulo da fanfic de Pokémon também me foi um pouco complicado para escrever, talvez por conta do esgotamento criativo e isso ocorreu justamente na primeira cena que era uma que eu queriam uito fazer (sim, isso não faz sentido).

Quero agradecer imensamente ao apoio que todos estão me dando nesta história e espero que continuem acompanhando-a mesmo que eu, de repente, acabe atrasando um pouco um ou outro capítulo. al do mundo pokémon e também ao Alê, pelo interesse e aprovação que ele sempre dá á história.
Fico também surpresa e feliz pela recepção positiva dos leitores para com a personagem Alice e avidso que nesse capítulo saberemos um pouco mais sobre ela (penso se irão ter alguma surpresa, ainda que seja algo discreto).

Por enquanto é isso.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760077/chapter/7

~*~

   Alice se via em uma mescla de sentimentos conflitantes enquanto encarava o homem á sua frente. Ao mesmo tempo em que sua mente começava a formular respostas acerca das dúvidas que tinha, seu corpo reagia com batimentos cardíacos acelerados. Seu corpo sempre reagia assim quando seus olhos se encontravam.

— Boa noite, Alice.
   A voz de Lawrence III soava calma e macia, sempre tão típico dele. Ele parecia confortável na poltrona do delegado, as pontas dos dedos tocando umas as outras, permitindo o vislumbre do caríssimo relógio que levava ao pulso.

— Quanto tempo que não nos vemos...três meses para ser mais exato.
— Eu... – ela começou, falhando a voz. – Eu tentei ligar hoje para o senhor!
— Só hoje. Durante três meses não me ligou, sequer mandou mensagem uma única vez. Então, por quê especificamente hoje, Alice? Aconteceu alguma coisa?
   Havia um certo cinismo em sua voz na última frase.
— Não me diga que...você sabia que eu tinha sido presa e não me atendeu de propósito?!
  Um pequeno sorriso tremeu nos lábios do empresário.

— COMO PÔDE FAZER UMA COISA DESSAS?! Eu...eu fiquei desesperada achando que não iria conseguir falar com você, que ficaria presa e iria me ferrar!
— Então pelo seu ponto de vista só é válido entrar em contato comigo agora quando está metida em algum tipo de problema que não pode resolver sozinha?
  Alice se calou, irritada e constrangida.
— Desde que você simplesmente decidiu embarcar nessa  “aventurazinha”  sem se preocupar em dar notícias ou avisar onde está e para onde vai...
— Não é uma aventurazinha! Eu tenho o direito de fazer o  que eu quero da minha vida, de viajar pelo mundo! E eu não sumi! Minhas redes sociais estão todas ativas, sempre estou postando fotos e trocando mensagens com as pessoas que conheço! Foi o senhor que não entrou em contato comigo uma única vez para saber como eu estava!
— ...como você acabou de dizer, mantém suas redes sociais ativas. E eu, assim como seus amigos, tenho acesso á isso.
— Então não tem motivos para achar ruim que eu não estivesse lhe dando satisfações de forma exclusiva!
— Há motivos á partir do momento  em que, após três meses  você entra em contato comigo para que eu te livre de um problema que você mesma criou. É para isso que eu sirvo agora, Alice?
— Do jeito que fala, parece que eu sempre estou me metendo em problemas e que preciso da sua ajuda para resolver!

   Lawrence recostou-se na poltrona, encarando a garota e fez uma pausa antes de retrucar.
— Cogitemos  a possibilidade que você não houvesse conseguido me contatar e  não fosse eu quem estivesse aqui. O que você faria para se livrar de um falso mandato de prisão sendo que já estaria presa? Como pôde ver, quando autoridades querem, o civil não consegue chances para exigir seus direitos. Uma única ligação sem sucesso, Pokémons e documentação confiscadas, acusações sobre delitos supostamente registradas na delegacia...e você, detida e incapaz de exigir direitos. O que acha que poderia fazer se eu não estivesse aqui?

— O senhor ARMOU tudo isso?! Chegou ao ponto de comprar a polícia para ficarem me perseguindo?!
— Perseguindo não. Monitorando.
— É a mesma coisa! Daqui á pouco vai querer que coloquem uma tornozeleira eletrônica na minha canela como se eu fosse uma criminosa em condicional!
— Não chegarei a extremos assim. A única coisa que fiz foi informar a polícia de Goldenrod para me notificarem caso você aparecesse.
    Alice arregalou os olhos, indignada.

— A  polícia me abordando, me prendendo, me acusando..TUDO ISSO FOI ARMADO PRA MIM?!
—  Alice, você está se alterando. Acalme-se.
  Ele indicou a cadeira á sua frente e bufando, a garota se sentou.
— Eu entendo que você queira viajar e conhecer o mundo, tem esse direito mas... acho que está na hora de você voltar para nossa casa.

  “Nossa casa.”
  Alice sentiu o próprio coração tornar a se agitar .

— Viajar a esmo pelo mundo é arriscado para você.
— É arriscado para qualquer pessoa! Sei que sendo mulher do jeito que estão as coisas é um pouco mais arriscado mas não posso me privar de fazer o que eu quero por conta disso e além do mais meus Pokémon são fortes, eu sei tomar cuidado e me defender sozinha!
— Ás vezes eu penso que você finge esquecer quem você é. – ele continuou. -  Alice...por mais que você queira ignorar, o fato é que você não é uma civil comum. Você é herdeira de uma grande fortuna e eu , além de ser uma pessoa digamos, influente no mundo, também sou o seu tutor. Ainda que agora você seja de maior, a nossa ligação é conhecida. 
— Mas eu não fico espalhando isso para todo mundo!
— ...”você sabe com quem está falando?”  foi algo que eu ouvi assim que você entrou aqui e acredito que tenha utilizado esse argumento muitas vezes. Estou errado?
  Ela não respondeu.
— Essa revelação pode lhe tirar de qualquer problema, isso é fato. E não nego que eu tenho minha parcela de culpa nisso por lhe ter mostrado como pessoas  que desfrutam de privilégios como nós, podemos obter as coisas. Mas Alice, é preciso fazer uso disso de forma sábia e sem excessos. Caso contrário, poderá acarretar problemas e até mesmo riscos.

  Ele sempre explicava tudo de forma calma, as palavras bem escolhidas. Alice tinha certeza que, se quisesse, Lawrence poderia ser um influente palestrante.

— Eu sou um homem extremamente poderoso social e economicamente. E isso significa que eu tenho inimigos e indivíduos que não pensariam duas vezes em fazer uso de algo que pudesse me atingir. Você sabe disso. Saindo a esmo pelo mundo, sem proteção eficaz além de seus Pokémon e sozinha...você está se colocando em risco constante.
— Eu tomo cuidado!
— Se realmente tomasse cuidado, não estaria se arriscando como faz. Alice, muitas pessoas conhecem você  e quando digo conhecem não me refiro á sua popularidade na internet mas sim acerca de quem você realmente é e o quanto você vale.
— ...está dizendo que eu sou um tipo de mercadoria?!
— Não deturpe minhas palavras. Estou dizendo que você é uma pessoa valiosa para quem deseja cometer algum crime. Já parou para pensar se você caísse nas mãos de sequestradores, o quanto eles pediriam de resgate? E o que poderiam fazer com você nesse tempo? Só de imaginar a ínfima possibilidade eu já tenho vontade contratar uma escolta particular para acompanhá-la aonde quisesse ir.
— E eu não tenho a ínfima possibilidade de querer algo do tipo!  - Alice cruzou as pernas e os braços, irredutível. - Eu ficar visivelmente mega protegida, chamaria muito mais atenção de possíveis criminosos.
— Você não é uma completa desconhecida. Muitas pessoas já a viram do meu lado, você já foi fotografada pela grande mídia.As informações vazam. Quem garante que não tenham colocado alguém para persegui-la ,esperando o momento certo de capturá-la?
— Eu não sou um Pokémon para ser  capturada!
— Não se faça de inocente. Você tem consciência dos riscos, já conversamos sobre isso no passado. Entrar em negação sobre o assunto não vai diminuir a possibilidade de alguém tentar lhe fazer mal.
— Mas eu não fico dando bandeira! Eu não fico pegando os melhores quartos de hotel, as passagens mais caras, nem gastando loucamente!  Tudo bem que vira e mexe fico com uma vontade louca de sair comprando um monte de coisa mas tenho me controlado o máximo possível! - ela se levantou e mostrou a si mesma. – Veja, eu nem estou usando roupas de grife, joias ou um traje chamativo!  Não estou chamando atenção.

   Ele a encarou com o típico olhar calmo.
— Você naturalmente chama a atenção, não importa o que esteja vestindo. Isso é algo admirável mas entenda que eu me preocupo com você, Alice.
— ...o quanto o senhor se preocupa?
— O suficiente para fazer uso de minha influência para mobilizar a polícia de Goldenrod. E se quisesse eu poderia estender isso para outras cidades e continentes. Não faço isso apenas por respeitar sua liberdade e direito de ir e vir já que é maior de idade. Mas não há um dia que eu não me preocupo com o que pode acontecer com você.  Para de se arriscar, Alice. Você sempre pode ir para onde quiser contanto que esteja com algum segurança ou...
— Mas eu não quero viver assim! Quero poder andar por minha conta, sem estar sendo monitorada. É sufocante isso! - ela se levantou da cadeira. - Já estou há três meses andando por aí, nunca fui atacada, perseguida ou algo do tipo. A única vez que tive um real problema foi hoje e olha só...unicamente porque o senhor quis fazer todo esse teatro de muito mau-gosto!  
— Eu só quis lhe mostrar que algo ruim pode acontecer.

— Aconteceu agora porque o senhor inventou esse golpe! Caso contrário eu já estaria de boas em Olivine!
— “De boas” até o momento que algo real acontecesse.E se acontecesse e eu não pudesse chegar a tempo? – ele a observou por alguns segundos. – Eu a olho e imagino o mal que poderiam tentar fazer com você.
— ...porque tanta preocupação agora? Eu sempre sai com meus amigos, andei por vários lugares e o senhor nunca agiu assim....o senhor se meteu em alguma coisa arriscada?
— Do que está falando? Acha que sou um criminoso?
— Não...mas você é um empresário milionário muito influente e um colecionador meio obcecado. Tenho noção de que ás vezes isso pode ser uma mistura capaz de criar um certo risco com certas ilegalidades...
— Esse é um assunto que não é o foco no momento. A questão aqui é você e os riscos que se coloca perambulando sozinha pelo mundo achando que nada ira acontecer justamente por eu ser o seu tutor. E mesmo que talvez não queira mais que eu o seja, ainda assim eu me preocupo com o fato de você estar se colocando em risco por causa de tudo o que você sabe muito bem.

   Alice pensou um pouco antes de falar, apertando as próprias mãos.
— ...então se eu não viajar sozinha, não teria problema... não é?
— Você realmente quer continuar viajando pelo mundo como uma treinadora normal se expondo...
— Se eu pudesse viajar o tempo todo na companhia de alguém em que eu confiasse e tivesse amizade, seria mais seguro e resolveria o problema, certo?

  Lawrence encarou a garota e ao ver o olhar travesso e decidido dela, suspirou.
— Você não vai mesmo mudar de ideia quanto a essa jornada.
   Ele se levantou de súbito e Alice recuou, vendo-o ir até o armário, pegando dali uma mochila e um cinto com pokébolas.
— Aqui estão suas coisas. Fique tranquila que dei ordens expressas para que não revistassem nada.
   A garota se apressou em prender o cinto com as pokébolas, alisando rapidamente cada uma.
— Estava com saudades!
— ... poucas horas longe de seus Pokémon e já ficou com saudades?

  Ela ergueu os olhos para o empresário. Ele era realmente alto, de modo que Alice só chegava até o peito dele.
  Três meses.
  De súbito, ela suprimiu a distância que os separava e o abraçou, afundando o rosto no terno que ele usava, podendo sentir seu perfume. Lawrence por um momento pareceu não reagir, mas logo envolveu os braços em torno do corpo da garota, retribuindo o gesto. Ele acariciou os cabelos macios dela e logo Alice afastou o rosto alguns centímetros, cabisbaixa. Lawrence traçou com a ponta dos dedos, a lateral do rosto delicado e ao chegar ao queixo, o ergueu com o cuidado que desprenderia a um cristal frágil. Alice piscou devagar sentindo o toque e inclinou um pouco o rosto de forma sugestiva, de modo que seus lábios roçassem nas pontas dos dedos dele.
  Lawrence abaixou a mão e se afastou.

—  É mais prudente que volte para casa, Alice. Chega de se arriscar por aí.
— Se eu voltar...como nossa situação irá ficar?

  Pela primeira vez, Lawrence deixou de encará-la.
— Como sempre foi. Não haverá nenhuma mudança.
— ...Então, é assim que vai ser mesmo...?
— Isso já ficou bem claro quando conversamos.
— Então eu prefiro continuar minha viagem!

  Lawrence franziu as sobrancelhas, soltando um suspiro.
— Esse tipo de comportamento não faz sentido.
— O seu comportamento também não faz! Como quer que não se tenha nenhuma mudança?
— Porque não terá! Eu falei isso na primeira vez e falarei de novo. Você também tem que enxergar dessa forma!
— Mas... – ela tentou, quando percebeu que o tom de voz dele se alterara pela primeira vez.
— Foi um erro  que não deverá se repetir. Um... erro.  – ele disse as duas palavras de forma bem pausada e clara. – E não viemos aqui para falar desse assunto.
— E quando iremos falar desse assunto?
— Não há mais nada para ser dito sobre!
— A mim parece que sim!
— Á mim, não.

    Alice abriu a boca para retrucar ou pelo menos reunir coragem para dar aquele pulo e fazer o que deveria ser feito quando um estrondo ecoou, seguido pelo som do alarme da delegacia e a eficaz movimentação dos policiais.
— Mas o que está acontecendo?

~*~

O Mt. Mortar era uma grande caverna localizada ao norte de Johto, entre diversas outras montanhas. O local era famoso como um caminho para treinadores que buscavam desafios e Pokémon raros.  Mas também era um lugar de difícil acesso, fosse para escalar as montanhas e seus caminhos tortuosos, fosse em querer se aventurar pelo interior da grande caverna, que além e escura e perigosa, era um verdadeiro labirinto. Muitas lendas cercavam o local e muitos treinadores que haviam adentrado nas profundezas de Mortar, jamais haviam retornado, na certa perecendo devido á queda em algum caminho sem saída.
   Lugia sobrevoou o local até achar um lugar no qual pudesse pousar. Entre as fendas no solo que expeliam vapor quente, ele desceu. Soltou os panos que trazia em seu bico e lentamente seu corpanzil foi diminuindo e a fera deu lugar ao homem. Aquele processo ainda era doloroso mas cada vez parecia mais rápido.

  Esperou um pouco até que as dores da transformação diminuíssem e pegou os tecidos que trouxera, vestindo a calça e o casaco. O calor dos vapores o faziam transpirar e ele olhou ao redor, como se procurasse por algo.
   Foi então que ele ouviu um grito profundo e animalesco, que pareceu surgir de dentro da caverna mais á frente e ecoou por toda parte. Era um grito diferente de qualquer criatura. Era rouco e doloroso, como um pranto que continha a dor de um animal e o sofrimento de um humano.

  Quando o grito ecoou pela segunda vez e o vapor que saia interruptamente das fissuras do solo e das rochas se intensificou, Lugia decidiu procurar um caminho que não fosse adentrar no interior da caverna. Aquele lugar pouco mudara ao longo dos séculos pelo visto.
   Em seus pés descalços, sentiu o calor no cascalho e na terra seca. O cascalho parecia brasa e sentiu as solas de seus pés queimarem. Mas, por mais que aquilo doesse, era uma dor boa. Poder sentir aquela dor era como um lembrete de que voltara a ser humano.

   O terceiro grito o fes se afastar dos próprios pensamentos e se apressar na direção de onde vinha o som. Á cada passo, os pés latejavam e p cascalho parecia chilrear pela alta temperatura. Subiu as encostas íngremes com uma certa facilidade graças á sua força de fera, não se preocupando com cortes em suas mãos, pés e joelhos ao se segurar  nas rochas. Quando percebeu o aumento da fumaça e a atmosfera mais cinzenta e sufocante a ponto de fazê-lo tossir e ter o corpo coberto por fulgem, soube que estava no caminho certo.
  Foi após subir um declive relativamente difícil e olhar para baixo do lado oposto ao que subira, que ele a encontrou.
   Um a grande ave amarela com asas e crista flamejantes jazia caída ali, com escoriações por todo o corpo. Ela movia o pescoço fino molengamente, soltando um pranto enquanto seu corpo sofria espasmos dolorosos. Lugia desceu até ela que, ao ouvir o barulho de algo deslizando no cascalho, empertigou-se da forma que pôde, voltando-se para a provável ameaça.

  Moltres gritou contra o invasor e as chamas de duas penugens aumentaram. Apesar da dor que atingia seu corpo e estar sendo incapaz de voar, ainda acreditava ser capaz de se defender. Quando aquele homem surgira, Moltres sentiu-se ameaçada: não era primeira vez que algum humano tentava atacá-la e prendê-la. Urrou ameaçadora e tentou se erguer, mas não conseguiu e apenas se empertigou, como que reunindo alguma força dentro de si.

— Acalme-se... – começou Lugia se aproximando. – Não vou te machucar.
   Moltres abriu mais o bico, o grito de ameaça se misturou ao de dor e ela agitou as asas, ameaçadora.
— Moltres, sou eu! Lugia! – ele falou, as mãos estendidas para frente. – Sei o que está sentindo mas precisa se acalmar!

     Ele estava há poucos metros de distância da ave que remexeu-se assustada , urrando. Chocou-se contra a rocha atrás de si e engasgou com as chamas que tentavam sair de sua garganta. Tombou no chão, o corpo sendo dominado por terríveis espasmos. E a medida que sua sanidade se perdia em meio a dor, mais o local em que se encontrava esquentava ao ponto de começar a ficar difícil de respirar.
  Lugia se afligiu pelo que via. Sabia como era torturante a dor da primeira vez em que voltara a ser humano após séculos como fera. Os ossos diminuindo de tamanho, os músculos sendo repuxados, a pele se rasgando, os órgãos se comprimindo. Tudo em um rápido e doloroso processo de transformação.

    Ver sua irmã sofrer daquela forma era algo que ele não suportava. Tentou se aproximar e em meio a dor e medo, Moltres reuniu  o pouco de força que lhe restava e soltou um ataque de fogo contra Lugia. Ele fechou os olhos, as mãos estendidas para frente, sendo envolto pelas chamas.
  As chamas despejadas por Moltres não duraram muito tempo pois logo ela engasgou-se novamente, tombando o pescoço no chão e agoniando, sem mais forças diante de toda aquela dor enquanto seu corpo começava a diminuir e se transformar.

  Quando percebeu que não havia mais chamas sobre si, Lugia percebeu que sua telecinese havia impedido que o fogo o queimasse e apenas suas roupas estavam chamuscadas e seu corpo repleto de suor. Olhou para Moltres, que agonizava e tentou novamente se aproximar, mas por pouco não feriu a própria mão diante de uma bicada dela. Porém, logo Moltres cansou de relutar e apenas rendeu-se a dor, exausta e ferida.
  Por mais que o processo de transformação fosse relativamente rápido, assistir aquilo e principalmente passar por tal processo era tão torturante que parecia nunca terminar. Lugia sofria ao ver a irmã agoniar sem nada poder fazer exceto esperar. A fumaça o fez cobrir nariz e boca com a mão, sufocando uma tosse.

  Aos poucos a grande forma da ave de fogo foi diminuindo e se transformando. As chamas que desprendia de suas asas envolveu-lhe o corpo enquanto ela gritava pela última vez, o calor ali se tornando sufocante. E o corpo coberto de penas amarelas deu lugar a um corpo humano pequeno, de curvas femininas e pele escura. As feridas começaram a fechar  e as chamas se extinguiram, deixando que o único vermelho fosse de seus longos cabelos.
  Lugia sentiu seu coração palpitar ao observar a jovem mulher  caída. Ela estava igual a última vez que haviam se visto, como se o tempo em seu corpo houvesse parado de envelhecer desde o momento daquela transformação. Tirou o casaco e se aproximou, ajoelhando-se ao lado dela. Moltres arfava, os olhos ainda fechados.

   Com cuidado, Lugia cobriu o corpo de Moltres com o casaco, tocando de leve seu rosto. Ela ainda estava quente.
— Moltres, acorde.
  A voz gentil de Lugia enquanto erguia com cuidado a cabeça de Moltres, a fez se remexer e abrir lentamente os olhos verdes. Sua visão  estava embaçada e seu corpo ainda sentia  entorpecimento após a dor da transformação.
— Vai ficar tudo bem agora. Você voltou a ser o que era.

  Ela apenas tentou fixar o olhar no rosto dele mas embora movesse os lábios, não emitiu som algum e novamente seus olhos se fecharam.
  Lugia aninhou-a melhor em seus braços. A primeira transformação exauria todas as forças mas assim como ele, ela ficaria bem. Ouviu um som grave e ergueu os olhos para o céu, avistando um helicóptero que sobrevoava. Por um momento pensou que deveria se preparar para um possível ataque, mas logo discerniu um discreto R vermelho na lataria do helicóptero e se tranquilizou. 

Pelo visto Igni já enviara auxílio e assim seria mais fácil e seguro de transportar Moltres de que se tentasse levá-la em sua forma de fera.
  Com cuidado, Lugia pegou Moltres nos braços; o segundo despertar se concluira, agora bastava ir para o próximo.

~*~

Alice e Lawrence saíram da sala do delegado, notando a movimentação dos policiais em direção ao corredor que levava ás celas. Um dos seguranças particulares do empresário apareceu.

— O que está acontecendo?
— Parece que invadiram a delegacia usando um Pokémon, está um pouco tumultuado ali, recomendo que fiquem na sala enquanto...
— Alice, onde pensa que está indo?

  Mas a garota já seguia para a entrada da delegacia. Tinha uma estranha sensação de quem poderia ser. Dobrou o corredor e avistou, á frente do grupo de policiais que estavam de costas, três policiais caídos no chão aparentemente adormecidos,  uma Beautifly e uma Nidoqueen que pareciam prestes a atacar ao mesmo tempo que protegiam  uma figura pequena mais  atrás.
— PARADA! – era a oficial Jenny. – Mais um movimento e iremos atacar!

   Quando avistou alguns policiais posicionados de forma ameaçadora na direção das celas, armados com cassetetes e pokébolas (dois já haviam liberado Growlithe e um Arcanine) ela reconheceu a voz desesperada.
— Esperem, eu não quero fazer nenhum mal! Eu...eu só quero saber onde ela está!
  Alice tentou furar o bloqueio policial, mas um oficial a deteve.
— Para trás!
— Espera, eu quero falar com ela! Crystal!
— Alice!

  Com agilidade, Alice conseguiu se desviar do policial e correr na direção da amiga, segurando-a pelas mãos, sentindo o quanto a outra estava trêmula. Ao ver a garota, Crystal sentiu um pequeno alívio diante do medo que estava sentindo: alívio por saber que Alice estava bem e por ter alguém ali que tentaria defendê-la.
   Onde estivera com a cabeça de ter feito a tremenda burrice de achar que poderia invadir uma delegacia e tentar fazer um resgate sem despertar suspeitas?
  Agira por impulso e agora, além de estar fatalmente encrencada sem qualquer chance de defesa. O que seus tios pensariam quando fossem notificados que ela havia sido presa por ter invadido e depredado parte de uma delegacia?!

— Crystal, Crystal!
— A...Alice...que bom que você está bem!
— O que aconteceu, o que faz aqui e porque está nessa situação?!
— Eu...eu..eu só queria saber se você estava bem! Você me salvou uma vez, eu não poderia abandonar você ! Tudo o que aconteceu foi muito estranho, tinha alguma coisa errada porque me liberaram e não você aí a polícia simplesmente me mandou embora e eu fiquei pensando o que poderia acontecer com você sozinha aqui...sei que eu não deveria desconfiar da polícia mas a oficial já não tinha ido com a sua cara e eu já ouvi relatos de pessoas alegando dos abusos de autoridade que a polícia pode cometer e...e ai eu não pensei direito! Lembrei que a parte da cela era menos vigiada, dei a volta por trás da delegacia, pedi que a Beautifly entrasse pela janela, jogasse  Sleep Powder nos policiais que estavam ali, aí a Nidoqueen abriu um buraco na parede e eu entrei já para pedir te procurar mas o alarme disparou! Eu sou muito burra, devia lembrar que  delegacia tem alarme, tem câmeras...

  Alice notou a parede arrebentada ao lado da cela mas logo voltou a atenção para Crystal, que falava interruptamente.
—  Eu não deveria ter feito isso, agi sem pensar! Mas é que na entrada da delegacia estava os policiais que tinham me liberado e se eu entrasse de novo eles iriam me questionar então eu cometi um ato ilegal e impensado que nunca pensei em fazer mas é porque realmente fiquei preocupada e...e você se arriscou pra me salvar, era o mínimo que eu poderia fazer e eu já nem sei mais o que estou falando para tentar me justificar!

  Alice não pôde deixar de sorrir com carinho e alívio. Apertou as mãos de Crystal entre as suas.
— Eu estou bem, obrigada por se preocupar assim comigo. Realmente não esperava que você fosse fazer algo assim...
— Nem eu! Mas quando vi já estava fazendo! Eles...eles estavam te prendendo, te interrogando?
  Alice suspirou balançando a cabeça.

— Olha no final das contas tudo foi...
 - Muito bonitinho essa demonstração de amizade entre vocês mas já chega de toda essa palhaçada na delegacia!
  A oficial Jenny se aproximou, ostentando uma postura deveras agressiva e irritada.
— Guarde imediatamente esses Pokémon! AGORA!

  Trêmula, Crystal obedeceu e logo seus dois Pokémon haviam voltado para suas respectivas pokébolas. Alguns policiais ajudavam os oficiais que haviam sido desacordados e a policial Jenny parecia estar fazendo um tremendo esforço para não aplicar um corretivo nas duas garotas naquele momento.

— Estão achando que podem ficar afrontando e depredando uma instituição policial e achando que ficarão imunes?!  É um disparate, não vou mais tolerar esse tipo de coisa!
— ..de..desculpa eu sei que errei e...
— CALADA! Vou agora mesmo detê-la aqui, entrar em contato com seus responsáveis e fazer com que sua licença de Treinadora Pokémon seja cassada e você mandada para um reformatório!
  Crystal sentiu todo o calor sumir de seu corpo ao ouvir aquilo.

— Espera um pouco, acho que podemos entrar em um...
— JÁ CHEGA! – ralhou a oficial para Alice. – Estou FARTA de ter que tolerar você, de olhar para essa sua cara mimada!  Você é um imã de problemas e agora traz mais alguém para compactuar com suas atitudes!
   Alice começou a retrucar no momento que a oficial Jenny se movimentou para segurá-la pelo braço.
— Talvez esteja na hora de você aprender algumas coisas!
— Ouse tocar nela e garanto que sua situação irá se complicar.

  Ouve um silêncio entre todos os presentes diante da frase dita de forma calma. Lawrence III abriu caminho por entre os policiais e, enquanto a oficial Jenny desfazia a expressão de ameaça, a sombra de um sorriso pairou nos lábios de Alice. Já Crystal precisou piscar algumas vezes e esperar alguns segundos para processar que aquele homem era realmente quem ela estava pensando.
  O empresário encarou a oficial, que baixou os olhos e deu um passo para o lado.

— Crystal, quero te apresentar ao meu tutor.– começou Alice e alto e bom tom para que a oficial Jenny ouvisse.
  Crystal arregalou os olhos, estática. Aquele era um dos homens mais poderosos do mundo, sabia disso por já ter visto uma matéria sobre ele.
— Tu..tutor...é...é...ele?! Ele?!
  Diante do olhar surpreso de Crystal a outra só assentiu com um riso constrangido.
— Senhor Lawrence. – Alice começou de um jeito meigo. – Tinhámos conversado há pouco que diante de eu viajar sozinha ser perigoso, se eu viajasse acompanhada com alguém confiável e de caráter não haveria problemas então.. .eu decidi que vou viajar junto com a Crystal!
— ...quê?!

  Crystal olhou surpresa para garota que a abraçava, enquanto o empresário apenas franziu as sobrancelhas e Alice sorria decidida.

~*~

 Quando Basho e Buson chegaram á base da Equipe Rocket, foram prontamente recebidos por um agente jovem, franzino e de cabelos curtos. Ao ver os dois, o garoto estremeceu e curvou-se respeitosamente. Ele sabia que os dois eram agentes da mais alta elite Rocket e estar diante deles era como estar diante de pessoas as quais deveriam obedecer. Era a primeira vez que os via pessoalmente de perto e realmente eles parecia
  Basho reconheceu o garoto: era Mondo, um jovem agente praticamente um estagiário, que servia de secretário auxiliar para aquele que estava no topo do comando da Equipe Rocket nos últimos tempos.

— Se...sejam bem-vindos! Fui designado pelo meu superior  para lhes informar sobre...
— Eu já sei para onde devo ir. – cortou Buson. – É a ala de treinamento, né? Tô indo nessa, hora de supervisionar a baixa patente.

  Ele passou por Mondo que o observou com surpresa e receio e se encaminhou para um dos elevadores. Mondo ficou observando Buson até que a porta do elevador se fechasse e ao se virar, se deparou com os olhos gélidos de Basho sobre si.
  O garoto engoliu em seco diante, especificamente, daquele seu superior.
— Hãn...o senhor Igni me ordenou que eu o acompanhasse. P-por favor, siga-me.

   Basho nada falou. Entraram em um elevador e desceram até o nível mais baixo e. após caminharem por um extenso corredor, chegaram á uma porta e, ao entrar, Basho se deparou com uma sala lúgubre e fria, com uma mesa comprida e retangular no centro e nela estavam sentados membros da elite da Equipe Rocket, os agentes e cientistas do mais alto nível, que compunham o Alto Conselho da organização.
   Enquanto Mondo fechava a porta, todos os presentes observaram Basho mas foi Igni -  o único que se mantinha em pé, que falou, ostentando seu típico olhar dissimulado.

— Olá Basho. Seja bem-vindo a fazer parte de nossa reunião a partir de agora.

~*~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E termino aqui este capítulo indicando que agora os personagens começam a seguir os rumos que a história irá traçar para eles. E virá tanta coisa! Mas tanta coisa mesmo...
Recentemente estou terminando dem ontar o "elenco" da fanfic. A maioria são personagens da própria obra mas para a forma humana dos lendários amaldiçoados pesquisei alguns personagens de anime que representariam eles bem, na minha modesta opinião. Em breve, mais informações. ;)
Por favor, deixem seus comentários, críticas, sugestões e opiniões, isso é muito importante e motivador!