A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 6
Capítulo 05


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitor(a)!
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Após uma pequena demora em atualizar a fanfic, eis aqui novo capítulo. Agradeço ao apoio de todos e também o incentivo que me dão para continuar com o projeto. Era para este capítulo ter sido publicado mais cedo entretanto os dias transcorreram rápido e também tive evento e algumas coisas de cosplay para fazer, acabou ficando tudo atribulado.
No fim, esse capítulo foi saindo aos poucos ao longo de uma semana e meia. Inclusive, a fim de tentar aproveitar o tempo e não deixar de perder ideias, voltei a escrever um pouco no papel e acredito que isso tem me ajudado.

Esse capítulo foi um pouco complicado de escrever porque me vi em um ponto que era (e ainda é) preciso explicar algumas coisas para o entendimento acerca de certos acontecimentos. Diálogos são um pouco trabalhosos de serem feitos ainda mais quando precisam ser informativos acerca dos acontecimentos, para tentar ir juntando os inúmeros fios da trama.Procurei fazer o melhor que pude, espero que tenha ficado bom.

Quero aproveitar e agradecer aqui á minha amiga Criska por ouvir meu desabafo acerca da dúvida que estava sobre o que e como fazer este capítulo e também ao Raven por me ouvir falando a mesma coisa e pedindo ajuda sem ter que dar spoiler (acho que isso sempre te confunde rs).
Não posso esquecer de agradecer também á Tenshi Kazehana que tem feito propaganda da minha fanfic nos grupos relacionados. Obrigada!

Por enquanto é isso.
Boa leitura!



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~*~

  
— Eu exijo fazer uma ligação! Tenho esse direito!
     Alice fizera questão de falar em um tom alto assim que chegara escoltada pela policial Jenny na delegacia que ficava nas proximidades da estação Goldenrod. As pessoas presentes ali, tanto policiais quanto civis olharam com interesse e logo a garota sentiu um puxão em seu braço, com a oficial se aproximando.

— Se a senhorita está pensando em criar caso aqui, saiba que isso pode piorar sua situação.
— ...pela lei, eu tenho o direito de fazer uma ligação e isso não pode me ser negado!

   A oficial Jenny estreitou os olhos mas ainda segurando a garota  pelos pulsos, a guiou por um dos corredores, acompanhada dois policiais que escoltava uma assustada Crystal.
    Na metade do corredor, havia uma pequena sala com uma mesa meio bagunçada com papéis e um computador ; uma poltrona atrás dela e duas cadeiras á frente. De ambos lados havia armários de ferro e em cima deles, caixas com grossas pastas de papéis. Se aquilo fosse realmente a sala do delegado, como parecia ser, a situação da delegacia de polícia estava bem decadente.

— Se deseja tanto fazer a ligação, aqui está. – a oficial lhe estendeu um telefone sem fio sobre a mesa.
— Prefiro ligar diretamente do meu celular!
   A oficial Jenny não gostou da resposta, mas  acatou ao pedido.
— Uma única ligação.
— ...é só do que eu preciso. Você vai ver e se arrepender quando eu  falar com meu contato!

    Crystal notou a troca de olhar fuzilador que Alice lançou a oficial, que respondeu com a mesma intensidade. Ela pegou o telefone, discou um número e aguardou. O telefone chamou uma, duas, três vezes....Alice começou a achar estranho, afinal, Ele sempre atendia nos primeiros toques. Principalmente por ser o número dela. A ligação caiu na Caixa Postal.

—  Só...mais uma vez.
    Alice não esperou resposta e já reiniciara a chamada. Um toque, dois toques...

“Atende, caramba! Sou eu, você sempre atende!”

Após sete toques, a ligação foi encaminhada para a Caixa Postal.
— Só mais...
— Já é o suficiente, não podemos ficar o dia todo aqui! Guardas!
  Os dois oficiais que as haviam acompanhado entraram na sala.
— Devem entregar todos os seus pertences. – anunciou a oficial Jenny para as garotas. – Mochila, documentos, celular e seus Pokémon.
— QUÊ?!
— Mas por quê isso?
— Vocês estão detidas.  E chega de perguntas!

~*~

  
    Oculto por florestas e montanhas, em uma região selvagem e inóspita nos confins de Johto, entre as grandes cadeias montanhosas Mt. Mortar, Dark Cave e Mt Silver,  uma grande e sombria construção se erguia, silenciosa entre montanhas e vales eternamente coberta pela névoa que vinha dos cumes gelados.
   O pequeno jato pousou no heliporto da construção e dele desceu o rapaz loiro acompanhado por Lugia, que vestia botas e um conjunto preto composto por calça e um longo sobretudo fechado até o pescoço.

— Tivemos sorte de chegarmos aqui com um tempo relativamente bom. É normal a neblina ser tão espessa que se torna impossível voar e pousar. Fora os ventos que ás vezes atingem alta velocidade.
— Eu poderia ter vindo por mim mesmo.
— Ora, majestade. -  falou o loiro. – Não deve se esquecer de que Lugia é há muito tempo, um Pokémon considerado lendári , de  modo que não é recomendado que fique voando por aí correndo o risco de ser visto pelas pessoas.  Além do mais, é importante que se acostume com as vantagens dos dias atuais. Há muito que o senhor precisa conhecer e...experimentar.
— Onde estamos?
— Nas montanhas ao norte de Johto. Esse local, décadas atrás, foi uma base militar secreta utilizada pelo exército de Johto na época da Guerra Territorial em que Kanto e Johto guerrearam para reivindicar os territórios que cada uma teria. No fim, essas montanhas que delimitaram o que era Kanto e o que era Johto.

    Ele abotoou o próprio casaco e seguiu na direção do que seria a entrada para a base.

  - Essa base militar foi desativada e abandonada logo após o fim da guerra. Ela não consta nos registros históricos militares oficiais, reforçando a ideia de que servia para fins de espionagem e experiências secretas.
— Esse continente deveria ter permanecido único após toda aquela destruição...e sacrifício.
— Kanto e Johto permaneceram um só durante muitos séculos mas com a expansão de outros reinos que se tornaram regiões, bem como o avanço tecnológico, mudança de visões políticas e sociais, atritos foram inevitáveis. A paz, Lugia, é algo que os humanos não aguentam por muito tempo.
— Acha graça nisso, Igni?

  O rapaz loiro piscou seus olhos bicolores antes de falar.
— Tudo é uma questão de perspectiva. O lado positivo disso é que essa base militar abandonada se tornou a sede da Equipe Rocket e nela temos a possibilidade de realizar o que queremos e precisamos fazer.
   Um agente Rocket vestido em um uniforme branco se aproximou do loiro, segurando um tablet na mão, parecendo ansioso.

— Se-senhor Igni! Que bom que o senhor chegou! Seja bem-vindo! Devo lhe reportar todas as informações que...
— Há algo grave ou que exija minha avaliação imediata?
— N-não, é só...
— Então me informe depois, estou ocupado agora. 

     Lugia observou o agente acatar a ordem e voltar a atenção para o objeto em mãos. Era visível o nervosismo dele em se provar eficiente para um superior. O tal agente era praticamente um garoto recém-saído da adolescência, franzino, de cabelos castanhos com fios que lhe caíam sobre os olhos e pele morena.
  Igni fez um sinal para que Lugia o acompanhasse e quando este passou próximo ao garoto, sentiu o corpo dele retesar e seus olhos o medirem com receio.

    O loiro de nome Igni chegou até uma porta, passando um cartão magnético no leitor da mesma, que emitiu uma luz verde e após um silvo, a pesada porta de aço deslizou para o lado, revelando um corredor com um elevador no final. Mas antes que  entrasse, Igni estalou os dedos e o agente se aproximou com passos rápidos.

— Mondo,  melhor me entregar esse tablet. Vou conferir essas informações.
— Cla-claro, senhor!
— Agora volte para o seu trabalho. Quando eu precisar de alguma coisa, entro em contato.
   Dito isso, Igni entrou com Lugia no elevador e a porta se fechou.

— Quem é ele?
— Apenas um serviçal. Meio inútil mas esforçado. Não se preocupe. O que ele tem de tapado, ele tem de fiel. E isso  é bastante coisa.

  Lugia não apreciou a forma como Igni se referia ao empregado mas nada disse.  Quando a porta do elevador se fechou, Lugia inspirou, olhando ao redor.
— Estamos em um elevador. – explicou Igni. – Muitos acabam tendo uma sensação claustrofóbica mas relaxe que logo estaremos no subsolo.

  Um pequeno tranco e Lugia sentiu que descia, o chão tremendo levemente sobre seus pés. Igni se mantinha calmo, verificando as anotações no tablet e Lugia optou por prestar atenção no pequeno painel que indicava os andares. Três, dois, um...zero. 1B, 2B, 3B, 4B...o elevador parou e com um tranco, a porta se abriu.
— Chegamos.
— E este lugar, o que é?
— Este, majestade, é o lugar onde os descobrimos e os trazemos de volta á humanidade.

    Atravessaram o corredor de paredes sólidas e após Igni passar pelo identificador de retina, as única porta ali se abriu, revelando uma grande sala mergulhada na penumbra. Tudo ali era preto: paredes, chão, teto, móveis. A iluminação vinha somente dos diversos monitores, luzes de mesa, geradores que piscavam e principalmente do enorme telão na parede principal, que mostrava um mapa detalhado do mundo. Linhas traçavam cidades e rotas; aqui e ali pontinhos sinalizavam algo específico e alguns piscavam. O mapa ainda mostrava  informações constantemente atualizadas acerca de situações climáticas.
   Havia uma notável quantidade de computadores e processadores e agentes Rockets, usando jalecos brancos ou uniformes cinzas, todos com o R bordado, trabalhavam assiduamente, concentrados em seus computadores a verificar códigos e frequências. Alguns preenchiam formulários e Lugia contou cerca de treze pessoas ali antes de voltar a atenção para o  telão.

— Este é um retrato da forma do mundo atual.
— Eu sei o que é um mapa. Vi e estudei muitos na época que governei. – rosnou Lugia observando o telão. – O que desejo saber é o que significa tudo isso.

     Igni suspirou e o guiou até uma porta ao final da sala ao abri-la, a forte luz que vinha dela, em contraste com a penumbra da sala em que estavam fez Lugia ter de acostumar os olhos por alguns segundos. Tudo nessa sala era em tons claros, com paredes brancas. Aquela sala era bem menor que a outra, e em uma grande mesa, estava um homem oriental de meia-idade de cabelos e barba grisalhos, óculos e  usando um longo jaleco branco. Ao ver que alguém entrara em sua sala particular, ele desviou a atenção do computador.

— Olá, doutor Shiranui. Trouxe uma visita para você.
  Igni nem precisava ter falado pois o homem já percebera. A presença de Lugia, com seus quase 1,90 de altura, inteiramente trajado de preto na sala branca, dispensava apresentações.
   O homem atrás da mesa se endireitou em sua poltrona, os olhos surpresos. Levantou, se aproximando devagar, como se estivesse em dúvida de que o que via era real.

— Gostaria de lhe apresentar Shiranui Ishi nosso cientista-médico chefe. – falou Igni com um sorriso tedioso. – Doutor, lhe apresento Sua majestade, o lendário Lugia.
— ...fantasticamente inacreditável. – o homem murmurou, sua voz era mansa e ele mantinha os olhos fixos em Lugia. – Jamais poderia imaginar que fosse realmente possível. Confesso que...mesmo com todo meu conhecimento, não consigo encontrar palavras para dizer o quanto honrado estou, majestade.
—  Não precisa me chamar de majestade. – falou o moreno  lançando um olhar para Igni. – Apenas senhor é o suficiente. Deixei de ser rei há muitos séculos.
— Vocês terão tempo para  ter longas conversas e Shiranui, terá muito tempo para conhecer Lugia. No momento temos um assunto urgente a tratar!

   Igni tirou do bolso o cristal que reluzia em tons de dourado, vermelho e amarelo.
— Certo. – Shiranui a contragosto desviou os olhos de Lugia para o artefato. – Venham comigo.

    Ele os guiou até uma porta no final de sua sala e ao abri-la, uma pequena sala contendo apenas um estranho equipamento. Mostrando que já tinha conhecimento do aparelho, ele encaixou cuidadosamente  o cristal em uma parte específica, fechando-o no que parecia uma pequena cabine de vidro.
— O que pretende fazer com isso?
— Esta máquina foi desenvolvida pelos melhores inventores da Equipe Rocket para destruir qualquer tipo de  coisa. Ela trabalha com pressurização e radiação. Tem capacidade de destruir até mesmo um diamante então é capaz de destruir esse cristal, por mais que ele tenha propriedades “mágicas”. – explicou Igni. – Fiz isso com o cristal que lhe pertencia.

    Lugia sentiu algo atrás de si e virou-se com brusquidão. O cientista Shiranui estava há poucos centímetros dele, em uma proximidade um pouco invasiva e, diante da reação do outro, ele se deteve.
— O que está pensando em fazer? – sussurrou Lugia.
— ...nada, senhor.
— Controle-se. Shiranui. Lugia não é como eu.

  Lugia encarou o loiro e então o cientista e novamente o loiro.  Mas logo voltou a atenção para a estranha máquina quando o cientista se afastou para mexer algo nela.
— Mas se libertar agora, como saberemos onde está?
— É para isso que os agentes da outra sala servem. – explicou Igni. -  Um dos principais trabalhos deles é localizar e monitorar os Pokémon lendários. Assim que me trouxe este cristal, eu contatei a base e passei as informações necessárias para darmos prosseguimento ás buscas.

    Shiranui tornou a se aproximar, lhe entregando um tablet. Igni tocou a tela e acessou alguns arquivos específicos, mostrando-o a Lugia.
— Veja. – ele deslizou o dedo na tela. – Com imagens do cristal e cruzando com informações que já tínhamos, foi possível determinar onde Eles costumam ficar. Claro, não é preciso todas ás vezes, pois eles se movem constantemente mas  já delimita bem as áreas para que não tenhamos que procurar a esmo.
—  E onde Ele está?
— Deixe-me ver... ao que tudo indica, desde a última atualização e isso faz... – Igni olhou no relógio em seu pulso – Cerca de sete horas. O local é o Mt. Mortar.

     A máquina da sala começou a emitir um ruído denso e continuamente, como se um grande motor fosse iniciado. Lugia notou, através do vidro, que o cristal dentro dele era submetido há raios laser e em seguida  o ruído aumentou. Ao lado do vidro, no painel eletrônico, dados eram exibidos com nomes que ele não entendia ao lado de números que se alteravam cada vez mais rápido. Então, um dispositivo de metal fechou-se sobre a caixa de vidro e uma luz sobre ele se acendeu, primeiro fraca e aos poucos foi se tornando mais forte.

— Estamos submetendo o cristal á radiação agora. – Igni se adiantou. – Foi extremamente complicado descobrir a forma mais eficaz de conseguir destruir esses cristais. Durante muito tempo tentei sem sucesso mas somente com a tecnologia atual foi possível.  Descobri que o dito nas lendas era real. Os cristais são feitos de um minério que não existe em nosso planeta.
— O que  essa máquina fará com o cristal?
— Vai destruí-lo. E o destruindo, a alma humana de quem estava aprisionado será libertada.
— Senhor Igni, a equipe acabou de me enviar isso.

    Shiranui mostrou, em seu próprio tablet, algo que atraiu a atenção total de Igni. Segundos depois, o equipamento emitiu um apito e de uma forma engenhosa finalizou o procedimento ao qual fora programado e a parte de metal recolheu, surgindo novamente a caixa de vidro, mas dessa vez, sem qualquer vestígio do cristal. A ausência de tal joia provocou uma sensação incômoda em Lugia, ainda que Igni o avisara da necessidade do procedimento.

— Está terminado?
— Oh? Sim. – Igni se aproximou com aquela expressão dissimulada de sempre. – Agora o processo de transformação começa e como você mesmo sentiu, é algo súbito, um pouco demorado e doloroso. Pelo menos na primeira transformação. E preciso lhe contar um pequeno detalhe que acabei de ser informado. O Ele, a que me referi na verdade é...Ela.
— O quê?!
—  Como o cristal possuía algo que denotava chamas e no fato de estar em um templo no meio do oceano protegido por Kyogre logo imaginei que seria um deles, mas ao final me equivoquei e obtive agora a informação de que é uma de suas... irmãs.

  O rosto impassível de Lugia tornou-se lívido. E ele permaneceu em silêncio por alguns segundos.
— Vou buscá-la.
— Ei, espere! Precisamos organizar uma equipe, transporte, equipamento...
— Não preciso de nada disso! Eu sei onde se localiza o Monte Mortar. Eu irei encontrá-la.

~*~


   O resto das horas se passaram em completo silêncio na cela. Alice olhava vez ou outra de soslaio para Crystal, que mantinha-se emburrada, o rosto virado na direção da pequena janela gradeada no alto da cela, onde poderia ver os raios de sol do fim de tarde. Ela mexia nervosamente na correntinha que matinha no pescoço, um item que Alice não percebera até o momento por conta da blusa que a outra usava.

— É...bonito esse seu pingente.
   Crystal apenas suspirou, encostando-se mais á parede da cela. Alice sabia que a outra ainda estava irritada com ela e não podia culpá-la.
   Mas que diabos, porque Ele não atendera o telefone? Ligara do seu celular para o  celular particular dele, ele SEMPRE atendia, ainda mais se fosse ela.
  Alice encostou a cabeça na parede, sentindo todos os sintomas da crise de nervoso que se abatia sobre si. O estômago embrulhado, o coração acelerado, as mãos suadas e a necessidade de que tudo aquilo fosse apenas um ataque Nightmare de algum Pokémon fantasma.  Precisava se distrair e para isso ela tornou a observar Crystal.

— ...Que coisa, não é... – ela forçou um sorriso. – Que aventura de ontem pra hoje...
— Qual é, hein?! – ralhou Crystal finalmente se virando. – Como você consegue ficar calma e querer puxar papo aleatório sendo que estamos presas?!
 - Bom, é porque logo isso será resol...
— Resolvido?! Você viu o que fizeram com a gente! Nos trancaram em uma cela e confiscaram tudo o que tínhamos como se fôssemos criminosas!
— ...calma, Crystal.
— Não me peça para ter calma! – ela pôs-se de pé. – Em menos de um dia, o que era para ser o recomeço normal da minha jornada se tornou uma situação bizarra! Eu estou prestes á ser julgada e levada para alguma penitenciária!
— Acho que você está sofrendo por antecipação. Apenas fomos detidas, eu já fui algumas vezes por conta das baladinhas, mas tá tudo bem!

— Só detidas?! SÓ?! Para você pode ser algo comum já que pelo visto sua ficha está bem extensa  mas eu não! Eu sou uma garota simplória que nunca fez nada para desrespeitar a lei e muito menos cometer crimes! Eu nunca agredi ninguém mesmo que merecesse, nunca  adulterei documentos, invadi propriedade privada, depredei patrimônio público, provoquei incêndios ou mesmo furtei qualquer coisa!
— O único incêndio que provoquei foi pra te salvar e não sei como eles descobriram que era eu!
— No caso do incêndio eu até posso depor a seu favor por ter me salvado pois sou grata por isso, mas com suas outras infrações...eu realmente estou chocada! Não sei nem o que pensar!
— São acusações falsas e exageradas! Okay, eu admito que já provoquei  um ou outro delito...

   Crystal a encarou com os braços cruzados.
— Tá, alguns...vários delitos...mas nada grave do jeito que trataram! O que fiz não é nada perto do que a Equipe Rocket e políticos ladrões fazem!
— Sério mesmo que você quer justificar suas infrações dizendo que são menores que as infrações de criminosos?! Podem até ser mas o que é errado continua sendo errado!  E nisso, eu também estou presa porque estava com você,então fui presa como cúmplice! Minha vida já era!
 - Calma, não exagere.

— Não estou exagerando, estou sendo realista! Eles pegaram todos os meus documentos, minhas coisas, meus Pokémon! Eu sou uma treinadora! Se for fichada o comitê da Liga Pokémon pode me proibir de competir por tempo indefinido! No pior dos casos, minha licença de treinadora será cassada e até meus Pokémon correm o risco de serem confiscados! Meu sonho de ser uma grande treinadora vai ser perdido pra sempre! E depois que eu for presa e cumprir a pena em regime fechado, nenhum lugar vai querer me contratar! Não quero chegar ao fundo do poço dos Slowpokes e ser obrigada a entrar na Equipe Rocket para sobreviver!
— Crystal, você é de menor e perante a lei da maioridade penal, não vai para o presídio.
— Mas vou para a Fundação Lar que é praticamente a mesma coisa! O que será dos meus tios quando descobrirem, depois de todo o trabalho que tiveram para poder me dar uma vida digna?! Não vou ser capaz de olhar para eles, que vergonha!

  Crystal tornou a se sentar no banco de pedra, trêmula.
— Ah, já chega! – ralhou Alice. -  Pare de sofrer por conta dessas neuras, porque nada disso vai acontecer! Eu estou muito puta por estar aqui também!  Aquela Jenny  está de picuinha comigo mas ela não faz ideia dos problemas que vai arranjar! Se eu tivesse conseguido fazer aquela ligação, tudo isso já teria sido resolvido!
— ...se você comete infrações, não é com uma ligação para quem quer que seja que irá...
— Comigo sim! – Alice encarou a outra. – O meu tutor pode resolver isso em questão de minutos se quer saber! Eu não entendo como ele não pôde ter me atendido! Ele sempre atende, ele não deixaria de me atender...
— ...de repente ele poderia estar ocupado no momento em que você ligou.
— Mesmo que estivesse ocupado, naquele número, ele sempre atende porque... – Alice quase completou a frase mas não o fez.  – Mas isso será resolvido! Confia em mim!
— ...eu...eu não sei se consigo confiar em vo..
— Ei, ei, ei! – Alice arriscou se aproximar se agachando perto da jovem. - Crystal olhe pra mim.  Você realmente acha que eu não sou uma pessoa confiável?  
— Eu...
— Caramba, acredita em mim! Eu não mentiria sobre meu caráter para você! Depois de eu ter te salvado, depois de falarmos sobre nossas famílias, depois de te acompanhar pela cidade e até de termos passado a noite no hotel juntas, você prefere acreditar nessas acusações deturpadas da polícia?
— Quando você fala sobre o hotel, soa com um sentido muito estranho!

  Silêncio. As duas então riram.
— ...você é realmente fora de série! – resmungou Crystal. – Mas não consigo não acreditar em você. E olha que estou presa por sua causa!
— De repente criamos uma ligação de vidas passadas, sei lá!
— Vocês são realmente barulhentas. 

   A oficial Jenny surgiu do outro lado da cela como se fosse um Diglet emergindo da terra. As duas garotas a encararam com mau humor tanto pelo susto do cassetete batendo na grade quanto pela presença da oficial.

— Eu exijo explicações sobre essa necessidade sem sentido de nos manter dentro de uma cela!
— Não sou obrigada a dar explicações acerca disso.
— Como não?! Isso é abuso de autoridade!
— Tive acesso á sua ficha e pelo que vi é a senhorita quem deveria dar explicações.
— Me tira daqui e eu explico! Melhor, eu faço isso tudo acabar rapidinho!
— Sua petulância ainda irá colocá-la em grandes problemas. – falou a oficial. – Talvez seja bom que passe alguns dias isolada em uma cela para refletir sobre os próprios atos e atitudes.
— Eu vou refletir o ato que será meu punho na sua...
 - Alice, vamos nos acalmar!

    Crystal se aproximou, segurando o braço da outra com força. A oficial Jenny fez um sinal e um policial se aproximou com as chaves da cela.

— Você pode acompanhar os policiais. – falou Jenny para Crystal.
— Para onde...onde vão me levar? E porque Alice não pode vir junto?
— Vai querer sair ou prefere ficar presa?

  Crystal arregalou os olhos diante da pergunta .
— ...vai lá, Crystal.
— Mas...mas!
— Não se preocupe. – a outra deu um sorriso terno. – Vai ficar tudo bem comigo, te garanto!

  Sem conseguir reagir, Crystal aceitou a escolta dos dois policiais e, assim que ela desapareceu em uma curva no corredor, a oficial Jenny voltou-se para Alice.
— Agora, a senhorita vem comigo.

~*~

  
   Crystal foi escoltada até a área principal da delegacia e através da porta, pôde ver que acabara de anoitecer. Um dos policiais foi até o balcão e voltou trazendo sua mochila, bolsa, documentos e o cinto com 6 pokébolas.
— Aqui estão suas coisas. Pode pegá-las.

  Crystal não retrucou, prendendo o cinto no corpo e colocando a mochila nas costas. Verificou rapidamente os documentos, colocando-os na carteira, ao lado da pokégear.

— Pode ficar tranquila que a senhorita não foi fichada nem nada do tipo.
— ...eu...eu estou liberada mesmo? Assim, de boas?
— Sim. Pode ir embora e desculpe-nos pelo transtorno.

   Crystal encarou os policiais, intrigada. Definitivamente aquilo não era uma conduta que a polícia deveria ter. Um dos policiais suspirou.
— Sabemos o que está pensando mas não temos autorização para falar, ordens são ordens. Se tem tanto interesse, pergunte para sua amiga depois. Boa noite e tenha cuidado em sua jornada Pokémon. Ou prefere continuar  aqui na delegacia?
— Eu...eu...eu já estou indo! Tchau!

   Crystal saiu da delegacia, atravessando a rua até a praça que ficava a frente.  A noite já surgira e os postes de luz estavam começando a ligar. Sentou-se em um banco e olhou para a fachada da delegacia.
     Por um lado estava tremendamente aliviada por sair daquela cela, sem ser fichada, sem ter a Licença de Treinadora bloqueada e até mesmo que sua tia tivesse conhecimento. Ainda que a atitude daqueles policiais – em especial da oficial Jenny – fosse deveras suspeito. Mas estava livre e o melhor era não se intrometer para não abusar da sorte.

     Mas...e quanto á Alice? Não conseguia ficar em paz sem saber o que a outra pudesse estar passando. Ainda que ela houvesse garantido que ficaria tudo bem e pela forma que falara sobre o poder do seu tutor, estava convicta disso, Crystal ainda não se sentia bem. Alice a havia salvado daqueles Rockets, havia lhe oferecido um ombro amigo para desabafar e também espairecer. Mesmo que ela tenha cometido delitos não era motivo para a tratarem daquela forma. Havia algo de muito suspeito nisso tudo, principalmente porque a polícia havia liberado ela, detido Alice e sequer dado qualquer justificativa. Bom, pensado assim, eles também não deram nenhuma justificativa por tê-las detido durante horas em uma cela.
   E se Alice fosse realmente presa e julgada? E aquela oficial Jenny...por mais absurdo que fosse, talvez Alice não exagerara sobre o fato da oficial estar de implicância com ela. Para onde a teria levado? E se a machucassem para que ela confessasse até mesmo crimes que ela não havia cometido? E se alguém tivesse influenciado a polícia para que culpassem Alice e agora o mandante iria lhe infligir algum mal, sendo acobertado pela polícia porque de alguma forma conseguiu subornar ou usar de influência para isso?

    Crystal balançou a cabeça. Não, a polícia não faria isso. Era uma organização íntegra, tinha de parar de ficar pensando absurdos, como se estivesse em uma história fictícia de conspiração.
     Tornou a olhar para a fachada da delegacia. Não conseguia parar de pensar e ficar ali de mãos atadas.
        Ainda que fosse arriscado, sentia que precisava fazer alguma coisa.

~*~


     Fora da base militar, Lugia ergueu os olhos para o céu, inspirando o ar frio. Atrás dele, Igni e Shiranui se aproximavam, surpreendendo-se quando o outro começou a despir-se, colocando a calça e o casaco aos seus pés. Por sorte, não havia ninguém do lado de fora da base naquele momento e enquanto Shiranui arregalava os olhos, Igni apenas suspirou. Lugia fechou os olhos, tombando a cabeça para trás, relaxando mente e corpo.

   Se pedissem para Shiranui Ishi que descrevesse o que acontecia diante de si, ela não saberia explicar, mesmo com todo seu conhecimento.
  A transformação literal do homem em fera era algo que sempre julgara ser uma metáfora e possível somente em histórias de ficção. Mas á sua frente, era real.
   Do homem de olhos dourados cujo corpo transformava e expandia, surgiu a fera. E daquela densa névoa, emergira o longo pescoço e o corpanzil branco de extensas asas.

  Lugia soltou um silvo e tomou impulso, batendo as asas e levantando voo. Shiranui  assistiu, estupefato, Lugia subir aos céus e atravessar as nuvens até sumir de vista.

~*~

  Alice foi levada pela oficial Jenny para o segundo andar da delegacia. Caminhavam em silêncio, com a policial segurando ambos pulsos da garota atrás das costas.

— ...está apertando meus pulsos com medo de eu tentar te atacar?
— Eu te imobilizaria e te colocaria algemas antes que você conseguisse levantar a mão pra mim.
— Aposto que a senhorita está muito excitada ante a possibilidade de me algemar! – provocou Alice. – Mas sinto informar que a senhora não faz o meu tipo.

   A oficial Jenny não respondeu á provocação e Alice só teve tempo de ver a placa escrito Delegado na porta antes da policial abrir a mesma e empurrá-la com brusquidão para dentro, não sem antes lhe torcer os pulsos com força.
— Ora sua filha da puta...!

  A oficial Jenny bateu a porta com violência na frente de Alice. A garota bufou, massageando os pulsos enquanto olhava ao redor, notando a sala grande e organizada pertencente ao delegado. Ele seria capaz de perceber a tamanha afronta que estava cometendo tratando-a daquela forma no momento que mencionasse o nome de seu tutor.  E aproveitaria para induzir pelo menos uma advertência á oficial Jenny.

— Definitivamente, essas últimas horas foram um verdadeiro absurdo! – Alice começou a falar para o homem sentado na poltrona atrás da mesa, de costas para ela. – E aquela sua oficial Jenny fez uso de abuso de autoridade! Mas antes de entrar em detalhes vou lhe perguntar se você sabe com quem está falando?
— ...sei perfeitamente.

   Toda a fúria de Alice se dissipou ao ouvir aquela voz. O homem virou-se na cadeira e ao vê-lo um turbilhão de pensamentos diferentes rodopiaram em sua mente, em uma mescla de surpresa, indignação e principalmente, alívio. Mas ela apenas conseguiu murmurar:
— O que...o que você está fazendo aqui?!

~*~


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Notas finais do capítulo

E termino o capítulo aqui, sempre com aquele gancho para instigar o seu retorno a fim de conferir o que vai acontecer no capítulo seguinte. Lhe garanto: muita coisa está começando a dar indícios do que vai acontecer entretanto é MUITA coisa que está por vir. E acredito que há coisas que irão surpreender.

Agradeço novamente por cada um que lê, comenta, acompanha e incentiva a fanfic. É isso que mantém o meu foco e aguça a vontade de continuar.

E por fim, estou começando a montar uma lista de músicas para a fanfic. Quando completar, irei divulgar.

Até breve!