A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 4
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente leitor(a)!
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Quero agradecer imensa e sinceramente á todos aqueles que estão acompanhando essa história. Posso ter demorado um pouco para atualizar, mas nela estou procurando fazer o melhor possível a fim de proporcionar uma leitura envolvente. Espero estar conseguindo.

Quero, inclusive agradecer em especial há uma pessoa que me ajudaram muito para que eu pudesse desenvolver não apenas esse capítulo, mas aos demais capítulos que virão.
Ao meu primoso Raven, que me auxiliou com a escolha de pokémon para os personagens, bem como montar o time principal de alguns deles. Além de sempre apoiar a fanfic.

Caso tenham alguma dúvida sobre determinado pokémon ou cidade, lhes aconselho os sites:
ALL POKEMON LIST (que possui lista completa e bem informativa sobre cada pokémon) e o site nacional POKÉMON MITHOLOGY, que conta com um acervo bem legal sobre pokémon.

Uma boa leitura!!



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~*~

   Já passava das onze da noite quando Crystal e Alice saíram do Bulba’s Burguer. A cidade continuava agitada, com pessoas e veículos passando para lá e para cá. Alguns comércios estavam fechados mas, na avenida em que estavam, repleta de bares e lanchonetes, o movimento era grande.  Seriam todos eles com funcionamento 24 horas? O Bulba’s Burguer era. Crystal esperou que Alice terminasse de ver algo no celular, o guardasse na bolsinha que levava á tiracolo e parasse a seu lado.

— Bom, tudo foi muito legal mas, preciso ir agora. – Crystal começou, ajeitando a mochila nas costas. – Vem muitos treinadores para cá e é bom que eu consiga uma cama em um dos quartos compartilhados do Centro Pokémon que fomos.

   Devido a jornada Pokémon que inúmeros treinadores realizavam, todos os Centros Pokémon, ao serem construídos, eram obrigados a terem no mínimo duas salas montadas para servirem de quartos compartilhados para que treinadores pudessem se abrigar e pernoitar enquanto seguiam em jornada. Os quartos eram pequenos, contando com duas beliches em cada sala. Eram quartos a serem utilizados unicamente por um período de no máximo 10 horas por dia. A qualidade e conforto variavam de Centro para Centro, mas eram a melhor opção para treinadores, principalmente por conta do baixo valor cobrado em comparação com hotéis das cidades. Além do que, alguns locais mais afastados nos quais os treinadores optavam por seguir rotas em busca de pokémons raros e desafios, era a única opção de pernoite que existia, caso não quisessem acampar.  E para treinadores jovens cuja renda se mantinha pelo sucesso que tinham nas batalhas e uma mesada dos familiares, o gasto do pernoite nos centros Pokémon possibilitava uma economia para ser investida em compra de itens para os Pokémon, alimentação e necessidades diárias.

— ...você vai passar a noite  em um Centro Pokémon?!
— Sim...durante minha jornada, sempre passava a noite nos Centros Pokémon. 
—  Dizem que são super desconfortáveis, apertados e até sujos!
—  Não é bem assim. Depende muito de cada Centro. – corrigiu Crystal. – Já passei a noite em alguns bem legais, outros nem tanto. Normalmente os das cidades maiores acabam tendo camas mais confortáveis, mas também são mais lotados. Os de regiões mais afastadas costumam ser limpinhos e sossegados. Já tive de dormir em alguns bem ruins, com cama rachada, colchão velho, cobertas empoeiradas... mas foram poucos , parando para pensar agora.
— Mas e quanto ao banheiro?
— Bom...os Centro Pokémon possuem banheiro comunitário para os treinadores utilizarem caso durmam por lá. Dá pra tomar banho e fazer as necessidades.

  Alice fez uma cara de nojo ao ouvir  “banheiro comunitário”.
— Bom...eu nunca dormi em um desses, prefiro  ficar em  hotel. Deveria fazer o mesmo!
— ...é...eu até gosto dos Centros Pokémon...qualquer coisa se me der vontade, posso ir na Pokébox de madrugada...bom, preciso ir para conseguir uma vaga no Centro Pokémon. Se não tiver naquele que fomos, vou ter que procurar outro pela cidade e não conheço aqui muito bem para ficar procurando um Centro Pokémon á noite.
— Ah, a senhorita não vai, não!
— ...o quê?
— Eu já reservei pelo celular um quarto em um hotel á cinco quadras daqui. É da rede de hotéis Swanna e vou usar cupons de desconto que tenho. Chegando lá, posso pegar um quarto com duas camas e você passa a noite em uma cama realmente confortável!
— Mas...
—  Vamos lá, porque não vejo a hora de tomar um banho quente e relaxar! E você ficou de me mostrar seu time principal e seus pokémon! E em troca mostro os meus! Embora não acho que os meus sejam surpreendentes.
— O seu Charizard é incrível e...espera! – Crystal a chamou. – Acho que é melhor eu ir mesmo para o Centro Pokémon, podemos marcar amanhã e...
— Acho que depois do dia de hoje, você está precisando ficar em um lugar confortável para relaxar. Vamos.

  Alice então notou o desânimo da garota e tornou a se aproximar, esperando. Crystal percebeu que não tinha outra opção senão contar a verdade.

—  Olha eu adoraria ficar em um quarto confortável de hotel, tomar um banho quentinho e dormir em um colchão macio mas...a verdade é que não tenho dinheiro. Sai com pouco dinheiro de casa, não tenho muito no meu cartão e aqueles Rockets levaram o pouco dinheiro que eu tinha...amanhã vou ao banco mas por hora tenho de economizar.

  Ela abraçou a si mesma em um gesto involuntário e Alice percebeu a perturbação nas palavras da jovem.

— Não se preocupa. – disse. – O  hotel fica por minha conta.
— Quê?! Não, de modo algum! Não posso aceitar que gasta comigo! Você já me salvou e...
— Relaxa! Eu tenho dinheiro!
 “Até mais do que você sequer pode imaginar”.

  - Mesmo assim, não posso aceitar e...
— Ora, pare com isso e vamos logo para o hotel! – Alice parou. – É, o que eu falei soou um pouco estranho mas enfim, não se preocupe. Deixe as despesas do hotel por minha conta! Aí aproveitamos para ficar mais tempo conversando sobre pokémon e sobre a vida!

~*~

  No fim das contas, Crystal acabara aceitando o convite de Alice e se via agora no quarto de hotel, sentada em uma das duas camas e olhando as luzes da metrópole de Goldenrod pela janela envidraçada. Alice permitira que ela tomasse um banho primeiro e enquanto secava os cabelos, Crystal  sentia o cansaço dominar seu corpo.

“ ...A gente podia se divertir um pouco com ela.”

  Crystal apertou os olhos com força, balançando a cabeça  para afastar as lembranças que não queria ter. Sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos e tentou inutilmente contê-las.  Soluçou e então deixou que o choro viesse, procurando abafá-lo com a toalha.
  Alice saiu do banheiro e, ao ver Crystal em lágrimas, correu até ela, sentando-se ao seu lado e colocando um dos braços em volta de seus ombros, compreensiva.

— M-me...desc-desculpe..eu...
— Não tem que se desculpar. – falou Alice. – Pode chorar, chore á vontade. Você passou uma situação e tanto!  Fiquei até surpresa que se manteve forte todo o tempo! Confesso que estava preocupada de você não querer falar sobre o assunto  mas...
— Obrigada... – murmurou Crystal. -  Eu...
— Shhh...! – Alice afagou a cabeça dela. – Chore primeiro, fale depois. Coloque tudo pra fora. Mas ó... – ela fez Crystal encará-la. – Já passou e o mais importante: não aconteceu o pior. Mantenha o foco nisso! Não pense no que poderia ter acontecido, não aconteceu, aqueles desgraçados se mandaram na certa com o cú chamuscado e você está bem, certo?! Certo!

  Mesmo em meio ao choro, Crystal não pôde deixar de rir. Aos poucos, seu coração foi acalmando e Alice só tirou o braço dos ombros da garota quando percebeu que ela havia parado de tremer.
   Crystal enxugou o rosto com a toalha da melhor forma que pôde, respirou profundamente, vendo o próprio reflexo obscurecido no vidro da janela. Mesmo com pouca luz, percebia que seu rosto estava vermelho e certamente os olhos ficariam inchados pelo choro. Suspirou.

— Como se sente?
— ...melhor. – ela levou uma mão ao peito.  – Melhor, sim.
— Como se tirasse um peso de dentro do peito? – a outra confirmou.- É, eu sei. Por isso é bom chorar.  Alivia e acalma, é o que minha mãe sempre dizia.
— Sua mãe tinha razão.
— É...
— Eu acho que não te agradeci apropriadamente. – Crystal se virou, para ficar de frente para a outra. – Obrigada por me salvar. Se você não tivesse aparecido naquele momento eu...eu acho que não estaria conseguindo parar de chorar.
— Digamos que você teve sorte. Eu estava indo para Goldenrod e então notei a Equipe Rocket. Não poderia deixar pra lá, sabendo que você poderia correr risco. Nenhuma pessoa merece passar por uma violência dessas.
— Esse tipo de coisa nunca me aconteceu. E olha que viajei muito por Houenn!  Viajei sempre sozinha...eu tomava cuidado mas quando via notícias sempre parecia algo distante, entende? Que não iria me acontecer. Quando aconteceu...fiquei apavorada. Não sei, não consegui me mexer.
— Não fique pensando mais nisso, não faz bem. Eu já estive em Hoenn e lá os índices de criminalidade são menores. A segurança é mais eficaz e tem também as organizações...É,como elas chamam...

— Acqua e Magma.
— Sim! Não que isso seja uma coisa boa, acaba sendo uma quadrilha elitizada de qualquer forma embora eles se definam de formas mais polidas e ainda meio que tem acordos com o governo. Mas pelo menos eles acabam adotando um código de conduta de um não interferir no território do outro, essas coisas todas. Mas aqui em Johto é diferente, ainda mais em Goldenrod. Se acompanhar o noticiário, vai ver de tudo.
— Minha tia que tem o hábito de ver esses noticiários, ela ás vezes fica paranoica mas..depois do que passei, não tiro mais razão de tanta preocupação dela.
— E sua mãe? Ela não ficou preocupada de você ter saído em uma Jornada Pokémon?
— Eu...eu não conheci minha mãe.

    Crystal olhou para os prédios  do lado de fora, repletos de luzinhas em cada janela. Mesmo estando no quarto, podia ouvir o som dos carros lá embaixo, com avenidas e luzes a perder de vista. Aquilo era muito bonito.

— Ela morreu pouco tempo depois que eu nasci...e fui criada pelos meus tios. Eles não podiam ter filhos, então me criaram praticamente como filha deles.
— E seu pai?
— Nunca o conheci.
— Ahn...desculpe...
— Não tem que se desculpar. – Crystal endireitou as costas, os olhos ainda nas luzes da cidade. – Eu realmente não conheci meus pais, meus tios nunca quiseram falar muito sobre eles e também não vou ficar perguntando. Meus tios sempre cuidaram de mim, mesmo quando passavam por dificuldades...
— Eles certamente são boas pessoas.
— É, acho que sim. E falando em bom... – Crystal optou por cortar o assunto. – Bom mesmo foi seu Charizard. Sério, ele é incrível!!! Depois tenho de agradecer á ele pela carona!
— Ah, não querendo me gabar, mas já me gabando...meu Charizard é bom mesmo! Ele foi meu primeiro Pokémon. E sempre o mantive ao meu lado. Estamos juntos há onze anos. O ganhei quando ainda era um bebê Charmander super fofinho!
— ...você começou sua jornada Pokémon em Kanto? – Crystal perguntou, lembrando-se que nesse continente, Charmander era um dos Pokémon iniciais.
— Eu não sou treinadora oficial. O Charmander eu ganhei dos meus pais, no meu aniversário de oito anos.
— ...oh, que legal!

   Crystal não soube como continuar. Sabia que muitas pessoas compravam e vendiam Pokémon, isso era uma prática comum, popular e legalizada. Ideal para quem queria ter Pokémon mas não tinha vontade ou mesmo condições para sair em jornada Pokémon. Entretanto, alguns Pokémon possuíam custos elevados de venda, principalmente os que pertenciam á classe de “iniciais” para treinadores escolherem ao começarem suas jornadas.

— Seus pais... – ela recomeçou. – Devem ter ficado muito surpresos quando seu Charizard ficou super forte assim.
— ...meus pais sempre gostaram de Pokémon, se tivessem visto meu Charizard certamente iam gostar mesmo. Charizard e eu criamos uma conexão bem forte.

  Alice percebeu que a outra parecia um pouco confusa com a resposta e agora foi a vez dela olhar para as luzes da cidade através da janela envidraçada enquanto dizia.

— Você não é a única que não tem a companhia dos pais. Os meus...morreram em um acidente um pouco depois do meu aniversário de onze anos. Nunca tive contato com parentes de nenhum deles, parece que não se davam bem com as famílias.
— E como você...
— Meus pais deixaram um testamento, no qual em caso de algo acontecer, a única filha ficaria aos cuidados de um tutor escolhido por eles. E essa vontade foi cumprida. – ela colocou as pernas na cama, sentando-se de um jeito mais confortável. – Minha herança e bens ficaram nas mãos de meu tutor que administrou tudo até eu atingir a maioridade.
— ...nossa...
— No começo foi um choque mas eu tive um resto de infância e uma adolescência nas quais eu não tinha qualquer motivo para achar ruim.
— E o seu..tutor...ele ...é uma boa pessoa?

   Alice ficou em silêncio um pouco antes de responder. Olhou para além dos prédios, para o longo caminho de luzes brilhantes da cidade que se estendia até perder de vista. Em tons azuis, rosas e alaranjados.

— Ele é uma pessoa...sem igual.  Se precisar escolher uma palavra para defini-lo, incrível seria pouco.
  Crystal notou o olhar terno que a garota parecia ter. Mas logo Alice tornou a olhar para ela.

— Acabamos de descobrir que temos mais uma coisa em comum.  
— Hum? “Temos algo em comum?”
— Somos duas jovens órfãs criadas por outras pessoas.
— É, verdade. Mas...eu perdi meus pais mas não os conheci...acho que nunca chorei ou realmente senti falta deles. Então...acho que deve ser muito doloroso quando a gente conhece os pais e perde eles.
— Mas deve ser bem triste também não conhecer os pais.

  As duas ficaram em silêncio por um tempo, olhando as luzes da cidade.
— Acho que chega de conversa deprê por hoje! – falou Alice decidida. – Vamos falar de algo bom!
— ...do que gostaria de falar?
— Eu tenho Pokémon, você é uma treinadora repleta de pokémon...vamos falar de Pokémon! Você ficou de me mostrar seu time, lembra?
— Ah, verdade!

   Crystal sorriu, satisfeita por poder falar de um assunto do qual gostava e entendia. Foi até a mochila, pegando sua pokédex. Quando voltou á cama, Alice já estava com sua  própria pokédex e a pokégear do lado.

— Quando estávamos no centro Pokémon, trouxe meu time principal comigo. Só troquei um deles pois quero treinar e evoluir meu Aron. Eu sempre procuro colocar um ou dois Pokémon de baixo nível no meu time principal, para poder treiná-los, aumentar seu nível e coisas do tipo. Acho importante manter todos os Pokémon mais ou menos no mesmo patamar, pois sempre podemos nos deparar com diversos tipos de treinadores e líderes de ginásio. Fora que na Liga Pokémon é tantos treinadores de alto nível que é bom sempre mudar o time á cada batalha, para evitar que os adversários comecem a compreender suas estratégias, modos de luta e Pokémon que mais usa.

  Crystal se calou, procurando não parecer tagarela demais. Não tinha o hábito de fazer amizades e diante da possibilidade de fazer uma, não sabia bem como agir. Observou Alice verificar sua pokédex passando o dedo na tela e vendo Pokémon por Pokémon.

— Como te disse, eu não sou uma treinadora Pokémon, não conquisto insígnias e coisas do tipo mas eu entendo de Pokémon. E pelo que posso ver aqui, você tem pokémons legais, a maioria em níveis bons e está bem diversificado. Há quanto tempo é treinadora ?
— É...um ano e meio, mais ou menos. 
— Pensei que todos os treinadores costumavam começar suas jornadas  com dez ou doze anos.
— No passado sim. Mas há alguns anos criaram uma lei proibindo que pessoas menores de treze anos se tornassem treinadores, por causa da violência.
— Ah sim, me lembro disso. Começaram a expor na mídia diversos casos de crianças que foram vítimas de criminosos durante suas jornadas.
— Minha tia ficou apavorada e me proibiu de querer ser treinadora até que eu fizesse quinze anos.  Então, quando fiz, decidi ir para Hoenn porque os índices de violência lá são menores.
—  Lembro que na época que esses caos vieram a público, meu tutor também ficou muito preocupado e não tiro a razão dele, ainda mais no meu caso...mas voltando ao assunto. Para alguém que é treinadora há pouco tempo, você já tem bons Pokémon. Seu time principal está bem equilibrado...eu  acho que teria dificuldade de te enfrentar em uma batalha.
— Hãn...eu..obrigada. Eu ainda preciso treinar muito, aprender muito e me aperfeiçoar.

— Hum, ao todo, você tem cerca de quinze pokémon...
— Sim, são bem poucos.
— Pensei que os treinadores oficiais capturavam vários pokémons,  mantendo o lema de “Temos que pegar todos!”. 
— Vontade de sair capturando Pokémon eu tenho mas...ser treinador não é só capturar e treinar Pokémon. Pokémon são seres vivos e necessitam de carinho, cuidados veterinários, alimentação...não é fácil criar Pokémon e quanto mais se tem, mais difícil e mais gastos surgem.
— Mas e o programa Bolsa Treinador? Ele foi criado para ajudar os treinadores a manterem seus Pokémon, não?
— Há, ajuda muito pouco. O valor mensal que disponibilizam é uma miséria, se você tiver muitos Pokémon ou se o seu Pokémon precisar de medicamentos ou cuidados que o plano público dos Centros Pokémon não podem cobrir, já era o dinheiro. E comprar itens específicos nem pensar! Fora que vira e mexe eles fazem reajuste do valor, mas isso é em centavos! Então acaba não sendo algo que motive as capturar mais Pokémon. Existe treinadores que gostam de ficar capturando Pokémon só que depois eles não tem condições de criar e deixam os Pokémon fracos ou os abandonam.

— Entendo... – Alice repassou na tela da pokédex os Pokémon da treinadora. -  Mas seu time principal é bom, bem  equilibrado.  Misdreavus, Gardevoir, Ampharos, que legal! Dewgong, Aron – esse é tão fofo! – e Blaziken. Eu também tenho um desses!
— Eu comecei minha jornada com um Torchic, então sempre mantenho o Blaziken no meu time.
— Embora você tenha começado em Hoenn tem Pokémon de Kanto e Johto.
—  O Luxio eu encontrei quando viajei rapidamente pra Sinnoh...dei muita sorte! O encontrei quando ele ainda era um Shinx filhotinho.
—  Estou sentindo que você tem um imenso carinho por cada um de seus Pokémon.
— Sim. Eles são meus amigos, sei que sempre posso contar com eles!
— Beautifly, Wigllytuff ...Caramba, você tem um Gyarados! Esse Pokémon é excelente! Porque não o coloca no seu time principal?
— É que... – Crystal coçou a cabeça. – Ele tem...uma índole bem difícil de lidar... E seus Pokémon? Eu...posso dar uma olhada neles?
— Mas é claro! Que cabeça a minha! – Alice pegou a própria pokédex e entregou para a garota. – Fique á vontade. Mas acredito que não vai se surpreender muito.

  Crystal pegou a pokédex, notando que era a Kalos Dex 1.0, considerada como uma das melhores (e mais caras) pokédex. Ela fazia sua Hoenn Dex 2.0 parecer obsoleta, ainda mais pela sua estar lascada em algumas partes e amassada em um dos cantos devido a vez que a derrubara sobre pedras em uma caverna.

— Deixa eu destravar aqui porque está com senha.
  Alice deslizou a tela e digitou alguns números, liberando o dekstop da pokégear. Crystal começou a verificar os Pokémon da garota, surpreendendo-se.

— Nossa, você é uma treinadora especializada em Pokémon de Fogo!
— Bom, digamos que eu seja um pouco. – ela respondeu, constrangida. – Mas escolhi esse tipo de Pokémon por preferência pessoal mesmo, por conta dos Pokémon. E meu tutor sempre diz que sou muito esquentada então, faz um pouco de sentido.

    Crystal notou que os Pokémon de Alice possuíam um alto nível e mesmo ela sendo treinadora de um só tipo de Pokémon, possuía mais da metade da quantidade de Pokémon que ela tinha. Inclusive eram Pokémon de fogo de todos os continentes.

— Caramba, que time principal foda! Você é um verdadeiro tanque de guerra em combate!
— Ah, acha mesmo? Já vi muita gente reclamando que treinadores que se especializam em um só tipo de Pokémon acabam sendo previsíveis  e focar em um tipo só não é recomendado.
— Mas no seu caso, os Pokémon não são unicamente de fogo...tem alguns, claro, mas no seu time principal, todos eles possuem mais de um tipo além de fogo. Então se há fraqueza contra um tipo, você repõe isso usando o Pokémon de fogo que tem também um elemento forte contra o tipo de Pokémon do adversário que teria vantagem.

   Crystal continuou a examinar os Pokémon da outra, surpreendendo-se com os níveis e golpes dos Pokémon. Havia ali Pokémon que ela nunca vira pessoalmente mas não comentou isso, pois acreditou que seria invasivo demais de sua parte.

— Minha vontade era poder ter um exemplar de cada Pokémon de fogo existente. – falou Alice. – Mas alguns Pokémon são lendários ou sagrados...ou seja, impossíveis de se obter por serem únicos.
— Verdade...uma pena. Se bem que, mesmo se fosse possível capturar, treinadores como eu nunca conseguiriam criar um Pokémon desses! Eles são na maioria enormes, dariam um custo absurdo em comida e veterinário! E devem ser bem difíceis de domar. Mas que seria legal...seria.
— Vamos supor que fosse possível capturar esses Pokémon... – Alice  foi mais para o meio da cama, sentando-se com as pernas dobradas e Crystal decidiu fazer o mesmo. -  Quais você gostaria de ter?
— Nossa, essa pergunta é bem difícil. Porque gosto de muitos!
— Eu como apaixonada por Pokémon de Fogo, certamente gostaria de ter  os que fossem desse tipo. Um Volcanion seria demais!
— Heh, você ia tocar o terror total com esse.
— Por isso mesmo! E você?
— Hum... – Crystal olhou novamente para as luzes da cidade. – Desde que eu era pequena, sempre gostei muito dos Pokémon lendários de Kanto e Johto. Acho que foi porque eu cresci ouvindo as lendas, histórias...tinha até um livro onde havia contos sobre eles. Os contos mais conhecidos, aqueles que praticamente todo mundo conhece e já fizeram até filme, sabe? Então mesmo depois que conheci os outros...esses sempre foram meus preferidos. Gosto muito do Suicune mas, se fosse para eu ter um dos lendários...acho que eu escolheria Lugia. Acho ele tão incrível, majestoso...é, acho que seria ele.

— Lugia é um Pokémon muito legal. Você já ouviu sobre a lenda perdida sobre ele?
— A lenda do guardião do mar onde, se um dia a harmonia das três aves lendárias for quebrada ele vai se erguer do oceano e restaurar a paz evitando a destruição do mundo?
— Não! Essa lenda é a mais conhecida. - Alice encarou a outra, fazendo Crystal notar que ela parecia bem menos intimidadora sem maquiagem. –  Eu falo de uma lenda muito antiga e esquecida, que quase ninguém tem conhecimento. Mas não é uma história falsa, é um conto que está registrado em tabuletas de pedra e pergaminhos escritos em um idioma perdido. Eu tive conhecimento dela por conta de meu tutor, que dentre muitas coisas é...um estudioso de lendas antigas.
— E sobre o que fala essa lenda?
— Como ela é totalmente, ninguém sabe de verdade. O idioma no qual foi escrito foi muito pouco traduzido. Mas os historiadores conseguiram traduzir algumas partes e outras eles utilizaram um pouco de interpretação e até mesmo registros históricos que poderiam fazer referência.

   O tom de Alice tornou-se sério enquanto ela falava e Crystal debruçou-se também, atenta. Se tinha algo que ela gostava, era de ouvir histórias misteriosas sobre Pokémon.

 – Nessa lenda, diziam que Lugia era humano e tornou-se a fera por conta de uma maldição lançada pela pessoa que ele amava.

~*~


      A grande forma branca e animalesca atravessava as águas do oceano com silêncio e velocidade. Seu corpo, com mais de cinco metros de comprimento parecia uma mistura de ave e dragão mas não era nenhum deles. A despeito do tamanho, movia-se com suavidade pelas águas profundas. Os grandes membros superiores eram como barbatanas no mar e asas no ar. A cauda comprida funcionava como um leme, fornecendo força e equilíbrio, tal qual um tubarão. O pescoço longo e fino se mantinha esticado, fixo no caminho. O formato aerodinâmico da criatura o tornavam inteiramente adaptado ao habitat, fazendo jus a sua alcunha de Fera do Mar.

   Lugia era, sem dúvidas, um dos Pokémon mais incríveis e majestosos existentes. Sua aparência exótica, na cor branca com algumas escamas azul-escuro, a aparência jurássica e draconiana, feição feroz e imenso poder, sobre os oceanos, o tornavam o Pokémon mais louvado de Kanto e Johto.
   Considerado um Pokémon lendário, Lugia era muito mais do que isso. Único em seu destino e maldição.

    Os primeiros resquícios da manhã começavam a surgir no céu quando ele soube que se aproximava da costa. Foi diminuindo a velocidade e submergindo vagarosamente.
   Seu longo corpo então começou a diminuir como que por encanto, nas ondulações da água. As ondas do mar passavam por si, indo morrer nas areias da praia cada vez mais perto. E á cada onda parecia diminuir e alterar seu corpanzil.
   Quando chegou em uma profundidade na qual uma pessoa comum pudesse ficar em pé, Lugia já não tinha mais seu prodigioso tamanho e aparência de fera.

     Das águas, ele se ergueu como um homem, Alto e robusto, no que seria o auge da forma física, os braços e pernas fortes e peito musculoso, sua pele outrora branca como neve, era agora de um belo tom bronzeado. Os cabelos pretos e curtos, rentes na nuca e com fios que lhe caíam na testa, realçavam o rosto de traços proporcionais e com um resquício de início de barba por fazer.
   Da Fera do Mar, nada lhe restava, exceto os olhos. Olhos profundos e misteriosos como o oceano, mas de uma coloração âmbar que transmitiam poder, realeza e perigo.

     Ele caminhou pela água, cortando as ondas á cada passo. Mantinha em uma das mãos um manto branco, com o qual cobriu o corpo nu ao chegar a praia.
     E na praia, sentado na areia observando o mar e a criatura que dele surgira, estava um jovem rapaz, de rosto apático e curtos cabelos louros esbranquiçados. Ele pareceu esboçar um sorriso quando Lugia caminhava em sua direção, se levantando e limpando um pouco com as mãos a areia do terno que vestia.

— Fez uma viagem proveitosa? – indagou quando o outro parou á sua frente.
— Como saberia que eu chegaria neste momento?
— Digamos que...em vista da sua luta, eu cogitei a hipótese. Devo dizer que fez um grande estrago em Sootópolis mas por sorte ninguém irá deduzir que o tsunami não foi algo natural e sim uma consequência gerada pela batalha entre dois lendários titãs.  – ele piscou os olhos.- E vendo-o aqui, incólume, deduzo que a Fera do Mar saiu vitoriosa.

     O tom de voz do rapaz era tranquilo e ele mantinha um semblante calmo e educado no rosto, diferente da expressão séria e inexpressiva de Lugia.
— Se pudesse, teria preferido não lutar.
— Mas existe ocasiões em que o confronto é inevitável e necessário para se cumprir o objetivo. Matou Kyogre?
— Eu não precisava matá-lo para obter o que precisava. Ele me confrontou, eu o enfrentei e o derrotei. Não sou arauto da morte para tirar a vida de um ser sagrado.

      O rapaz piscou lentamente e o esboço de um sorriso surgiu em seus lábios.
— Isso é algo que eu...aprecio em Sua majestade. Tão...nobre de sua parte a distinção entre o valor de uma vida especial perante outras.

   A forma como ele falava e aqueles olhos bicolores sempre pareciam a Lugia, extremamente dissimulados.
   Lugia levou uma das mãos ao pescoço, retirando o pequenino saco de pano preso como um pingente e o entregou ao rapaz. Este tirou a peça dentro dele e colocou-a na palma da mão. O cristal em formato perpendicular reluziu e oscilou fracamente, como se houvesse fogo e lava dentro dele. Levou a pedra a altura de seus olhos lilás e âmbar, estudando-os com os lábios entreabertos.

— Pode ver a quem aprisiona?
— ...sim. A inteligência e sabedoria dele nos serão muito úteis para encontrarmos os demais.
— Onde está?
— Precisaremos de mapas e coordenadas. – falou o rapaz guardando o cristal no saco de pano. – E você, de roupas e uma atualizada sobre o mundo atual. Viajaremos para um local bem movimentado. Vamos, tenho um carro esperando  por nós fora desta praia.

   Ele seguiu pelo caminho de onde viera, demarcado por suas próprias pegadas na areia. Lugia não o seguiu de imediato, voltando os olhos para o oceano. O som do mar e as ondas quebrando-se na areia era algo que sempre amava ver. Tantas vezes na forma de fera, que erguia-se nos céus para observar, mas olhar isso como homem, era muito melhor. A luz do amanhecer começou a irradiar e logo o sol foi surgindo no horizonte, como se erguesse do oceano. Os raios de sol iluminaram o mar, a areia, e quando sentiu-os em si, Lugia fechou os olhos. O calor daquela luz em volta de si, as gotas do mar em sua pele, a brisa fresca do mar em seu rosto, a areia sob seus pés...sentir tudo aquilo com seu corpo lhe provocavam uma plenitude e satisfação que pensara nunca mais tornar a sentir.
  E ao olhar novamente para o oceano e o sol que nascia ao longe, prometeu a si mesmo que faria com que os outros sentissem o mesmo. Eles mereciam e deveriam.

  Estava livre e vivo outra vez.  
  E  não permitiria que nada nem ninguém tirasse isso de si novamente. Iria destruir a maldição, eliminar quem ficasse em seus caminhos, punir como fora punido, encontrar as respostas, tê-la novamente em seus braços e  criar um novo início.
  Esse seria sua missão e seu destino.

~*~


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Notas finais do capítulo

Quero novamente agradecer também há todos que elogiaram, deram sugestões, se mostraram interessados na história e conversaram comigo por inbox no face. É com o apoio de vocês que essa fanfic está dando os passos dela e estou cada vez com mais e mais ideias! Posso lhes garantir: está vindo muita coisa boa e surpreendente por aí!

Faço o convite e o pedido para que comentem na história, deixem seu parecer, sugestões, críticas construtivas, opiniões e etc. Isso é extremamente importante para a escritora aqui e só lhe tomará poucos minutinhos do dia.

Até breve!