A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitor(a)!
Antes de ler a história, gostaria de dar uma palavrinha. o/

Primeiro, quero agradecer á todos que leram a fanfic. Sério, muito obrigada! Confesso que não imaginava o retorno tão grande nos primeiros dias em que postei a fanfic! Só no primeiro capítulo ela foi capaz de ate mesmo atrair a atenção de fãs e não-fãs de pokémon!

Segundo, quero aproveitar para agradecer principalmente á estas pessoinhas:
Renan - meu primoso, por me incentivar desde o começo com a fanfic, realmente ter se interessado por ela e que aguardou ansioso pelo novo capítulo.
Bruno - por adorar a fanfic logo de início e me incentivar (até mesmo obrigando) para eu não procrastinar e escrever logo o capítulo.

E terceiro, embora eu possa demorar um pouco para atualizar, lhes garanto que a demora é para entregar sempre um bom capítulo. Muita coisa irá acontecer nessa história, vocês sequer imaginam!
Boa leitura!



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~*~

   Crystal abriu os olhos com um sobressalto e instintivamente  apertou as mãos em torno da cintura da garota á sua frente.

—  Está tudo bem aí? – indagou Alice por cima do ombro, elevando a voz por conta do bater de asas do Charizard.
— Si-sim...
— Imagino que fique com sono pois viajar assim pode ser meio monótono mas é melhor não cochilar ou pode acabar escorregando. Ainda falta um pouco para chegarmos á cidade.  Mas, se quiser, podemos ir um pouco mais rápido.
— Não tem problema?
— De modo algum! Charizard... – ela se inclinou perto do rosto do Pokémon. -  Hora de voar como se fôssemos para a guerra.
  O grande Pokémon urrou com satisfação.
— Segure-se bem firma em mim, Crystal!
— Está ....AAAAh!!!

   Crystal agarrou a cintura da garota com força, colando seu rosto nas costas dela quando o Charizard aumentou a velocidade do bater de asas, cruzando o céu estrelado. O vento cortante fez Crystal estremecer, arrependendo-se de não ter colocado a jaqueta ao iniciar aquela viagem. Apertou os lábios, sentindo toda sua pele arrepiar pelo frio do vento e também pela adrenalina. Manteve os olhos fechados por boa parte do tempo, a fim de evitar a tontura devido á velocidade e também porque seus olhos não conseguiam se manter muito abertos por conta do vento.
  Só os abriu quando sentiu que o Charizard diminuía a velocidade e então pôde ver, metros á frente, a infinidade de luzes e prédios que sinalizavam a cidade de Goldenrod, uma das maiores metrópoles do mundo e maior cidade de Kanto/Johto.

  Crystal nunca vira Goldenrod de cima, exceto por fotos na internet.  Achara  lindo, mas ver ao vivo era maravilhoso. “ A cidade das luzes brilhantes” como era popularmente conhecida, Goldenrod é a terceira maior cidade de todo o mundo. Uma metrópole famosa por seu extenso e variado centro comercial,  prédios gigantescos que quase parecem tocar o céu, sede de diversas empresas ligadas á Pokémon, o sonho de todos aqueles que buscam sucesso e fama profissional. Goldenrod é também famosa pelas tendências de moda que surgem nela e conquistam todos os cantos do mundo.
  E a cidade continuava em expansão, tanto na questão territorial quanto na econômica. Estudiosos diziam que, se o ritmo de crescimento continuasse, não levaria muitos anos para que a metrópole começasse a rivalizar com a toda poderosa metrópole de Castellia, localizada em Unova.

  Poucos metros antes de chegar á entrada da cidade, Alice pediu que o Charizard pousasse e assim ele o fez, procurando uma boa área de campo aberto para realizar o pouso. Cristal conhecia bem aquelas áreas, todas as entradas e saídas principais das cidades possuíam tais áreas desenvolvidas exclusivamente para treinadores Pokémon. Eram utilizadas principalmente para os treinadores “desembarcarem” caso viessem do céu montados em seus Pokémon e também um bom local para se realizar batalhas Pokémon (já que os locais dentro da cidade eram limitados).
  Ao chegarem, o local estava quase vazio, com exceção de dois treinadores que terminavam uma batalha e mais dois que se preparavam para ir embora reiniciando suas jornadas, além de um que parecia compenetrado demais em procurar algo em sua mochila. Mais ao longe, um treinador pousava, montado em seu Staraptor.

  Alice saltou do Charizard, indo acariciar o focinho do animal. Crystal desceu em seguida, sentindo o chão de terra batida sob seus pés. Levou um mão ao estômago, constatando que a viagem havia realmente a deixado enjoada.
  Apesar de já ser noite, o campo possuía postes com luzes que iluminavam bem o local. Mais á frente, ela pôde ver uma rua asfaltada que levava para a cidade e, próximo á ela, um pequeno posto policial com uma cancela para impedir que tanto veículos quanto pedestres passassem sem antes se identificarem.

— Droga... – resmungou Alice olhando na mesma direção que Crystal olhava. – Pensei que nessa entrada não haveria isso!
— Mas é só um posto de identificação, só precisamos mostrar nossa identificação de treinador ou civil.
— Sim. – sussurrou. – Não é esse o problema...
— Disse algo?
— Nem! Bom... – ela ajeitou a mochila nas costas, jogando os cabelos negros sobre a mesma e guardando o Charizard na pokébola. – Vamos lá.
— Ei... – um treinador se aproximou correndo. – Acabei de ver o seu Charizard. Muito maneiro!
— ...valeu.
— Espera! É... – ele  mostrou  o cinto com cinco pokébolas. – Aceita uma batalha Pokémon?

  Alice arqueou uma  sobrancelha diante do sorriso do treinador. Era impressão sua ou ele estava  mostrando as pokébolas mas querendo exibir o volume na calça apertada? Ele parecia bem satisfeito com o que tinha ali.

— Eu...não estou interessada. Vamos, Crystal.
— Credo, que grossa! Eu só fiz uma pergunta e já vai agindo assim toda metida! Você não é tudo isso, não!
— ...você também não é.
— Sua mal-educada! Vadia metida! Aposto que essa outra é sua namorada, né?
— ...ela é mesmo! – falou  Alice, puxando Crystal pela mão. – E não estamos nem um pouco á fim de  nos divertimos com uma terceira pessoa.

  Crystal se deixou levar para longe dali, ainda chocada pela súbita mudança de abordagem do treinador. Por sorte ele não as seguiu, embora estivesse praguejando alguma coisa em voz baixa. Ambas saíram do campo e caminharam pela estrada asfaltada.

— Que cara mais...
— Imbecil? – Alice terminou. -  Vira e mexe aparece treinadores desse tipo. O cara que mexe comigo é muito alto nível e não esses treinadorezinhos babacas!  Você como treinadora deve se deparar com esses tipos vira e mexe durante a jornada, não é?
— Hum...

  Crystal não quis dizer que nunca nenhum treinador viera lhe abordar de forma descarada ou até mesmo claramente evidente. Por um lado isso era bom porque a livrou de passar por uma situação como aquela e temia que talvez não soubesse como agir devidamente. Mas por outro havia aquela pontinha incômoda como se ela não fosse interessante aos olhos de ninguém.
  As duas se aproximaram  da guarita de identificação, onde um homem  terminava de guardar seus documentos e era guiado a passar por uma catraca (a cancela era liberada quando veículos precisavam passar).

  Ali havia cerca de 8 policiais, um número um pouco alto para  um posto policial de fronteira como aquele. Ainda que Goldenrod fosse uma metrópole, possuía muitas entradas criadas por conta de treinadores, uma quantidade dessas em um posto pequeno não fazia sentido.
  As duas passaram por um policial impassível com um Growlithe igualmente impassível parado a seu lado e se aproximaram  do vidro da guarita. Ali,  uma policial Jenny digitava algumas coisas no computador e mais no interior da guarita, um outro policial acompanhava atentamente os monitores de algumas câmeras de segurança espalhadas pelas proximidades.

— Boa...
— Identificação, por favor.

  Crystal e Alice trocaram um olhar e enquanto Crystal ativava sua pokégear para acessar seu perfil, Alice abria a carteira.
   A policial pegou ambas documentações, inserindo a pokégear em um leitor próprio para tal. A verificação eletrônica com  a pokégear era rápida e logo o objeto foi entregue á treinadora junto com um pequeno crachá.

—  Passe no leitor e entregue ao policial que fará a revista ao lado da catraca.
— Revista? Desde quan...
— PRÓXIMO!

   A impaciência da policial estava evidente e Crystal achou mais prudente não perguntar nada. Enquanto esperava Alice ser liberada, observou um policial abordar  um veículo que se aproximava da catraca. O motorista foi obrigado a entregar seus documentos e em seguida acatou a ordem do policial para estacionar e descer do veículo.
  Um pouco á frente, um treinador tinha sua mochila revistada  por um terceiro policial e parecia bem insatisfeito com aquilo.

— Como assim não vai poder me liberar?!
  Crystal voltou-se para Alice, que parecia indignada com a policial Jenny.
— ...há algo de errado com esse seu documento.
— Não há nada de errado com ele!
—  Me apresente uma identificação eletrônica.
— Embora eu tenha Pokémon, não sou uma treinadora oficial! Sou civil e esse é meu documento!

  A policial Jenny pegou o documento de identificação, olhando-o demoradamente. Digitou o nome e o número de registro de Alice no computador e a encarou com um olhar entediado, mas acusador.

— Consta como documentação vencida. Não poderei liberá-la.
— O QUÊ?! Mas isso é um absurdo! Um disparate! Moça, eu uso esse documento há muito tempo, mesmo que seja o modelo antigo, sempre me garantiram que é válido!
— Sua documentação está vencida. Não possui uma pokégear ou o cartão de identificação eletrônica?
— Se eu tivesse um desses não estaria entregando a minha identidade! Sempre usei a mesma e nunca tive problema!
— São as novas normas da receita federal. Poderá atualizar sua documentação  em qualquer unidade Tempo Poupado.
— Está bem, Farei isso amanhã. Só me deixe passar.
— Não posso liberá-la.
— Por quê não?!
— As medidas de segurança requerem que todos os que estiverem entrando em Goldenrod apresentem seus documentos...
— Eu apresentei!
— Atualizados.
— Eu não tenho como atualizar minha documentação agora!
— Sinto muito. PRÓXIMO!
— Espera aí, se não me liberar o que eu vou fazer?
   A policial Jenny  encarou a garota, visivelmente impaciente.
— Poderá aguardar aqui, entrar em contato com algum familiar para que venha lhe buscar ou voltar de onde veio.

  Aquilo já era demais. Alice arrancou a identidade das mãos da policial, despeitada.

— A senhora  sabe com quem está falando?!
— ....muito bem. Com quem?

   Houve um segundo de silêncio no momento que o olhar entediado da policial deu lugar á um olhar acusador. E Alice percebeu que se excedera demais, colocando a própria identidade que tentava ocultar, em risco.
— O que está acontecendo aqui?

  Um policial de meia-idade, com bigode e quepe, que até então estivera dentro do banheiro da guarita, se aproximou.
— Tenente. É essa garota que está querendo passar mas a documentação dela está vencida.
— Deixe-me ver.

  Alice não gostara nem um pouco do tom que a policial se referira á ela mas entregou o documento para o tenente, que sentou-se diante do computador.
— Eu inseri os dados no sistema e eles constam como documentação inválida. Veja.

  O tenente observou a informação na tela e se levantou, indo até o computador de sua própria mesa, digitando alguma coisa. Crystal se aproximou de Alice, percebendo que a garota tentava disfarçar um nervosismo crescente. Embora para qualquer um, Alice parecesse  tranquila, Crystal sabia quando alguém tentava controlar o nervosismo ou ansiedade. Isso era resultado de sua jornada Pokémon, batalhando com os mais diversos tipos de treinadores.
  Quando o homem retornou, Alice retesou o corpo e pegou o documento que ele lhe estendia.

— Tudo certo, está liberada.
— Ah, obrigada!
— Mas tenente.... – começou a policial Jenny.
— O documento vencido não é algo que possa impedir a pessoa de entrar na cidade. Ainda mais porque essa revista aqui começou por esses dias e ainda não temos o cronograma de procedimento oficial. Fora que não é recomendado para uma garota ficar detida nesse lugar á noite toda ou ter que viajar por trilhas tarde da noite, ainda mais nos arredores. – ele se virou para Alice com um sorriso simpático. – Mas por favor, providencie sua documentação eletrônica o mais breve possível, sim?
— Cla-claro, com certeza! Eu até tinha mas acabou que ela quebrou e com a correria não tive tempo de pedir para emitirem outra!
— Tudo bem. Mas não deixe de fazer. É bem provável que as cidades grandes passem a exigir isso quando for entrar nelas seja por via terrestre, marítima ou aérea.

  Alice agradeceu novamente ao tenente e lançou um olhar soberbo para a policial Jenny, indo para perto de Crystal. Ela não percebeu que, ao sair, o tenente desfez o sorriso e foi até sua mesa, pegando o celular e digitando um número.

— Podem vir. – acenou um policial perto da catraca, para as duas garotas. – Coloquem suas mochilas em cima da mesa para a revista, por favor.
  Elas assim o fizeram. Percebendo que o policial que revistava as mochilas parecia mais simpático do que a policial Jenny, Crystal decidiu obter informações.

— Com licença, mas...por quê tudo isso para entrar na cidade? Aconteceu alguma coisa?
— Bom, como vocês devem estar vindo de uma jornada Pokémon, não devem estar cientes do ocorrido. Ontem aconteceu um grande assalto na Radio Tower.
— Minha nossa!
— ...de novo?
— Como assim? – indagou Crystal diante da pergunta de Alice.
— Ora, vira e mexe acontece algum assalto, atentado, sequestro ou algo do tipo na Radio Tower! Nem chega a surpreender mais...
— De fato ocorre com certa frequência. – o policial concordou em  voz baixa. – Mas dessa vez parece que a situação ficou um pouco complicada.
— O que aconteceu?
—  ...eu deveria manter isso confidencial mas...sei que já estão comentando na internet.

  Elas riram e o policial abaixou a voz, terminando de revistar a mochila de Crystal e indo para a de Alice.
— Mas ao que parece foi um ataque da Equipe Rocket.
  Crystal estremeceu ao ouvir o nome da organização criminosa.
— ...a Equipe Rocket anda meio ativa ultimamente.
— Sim e isso é um problema.  
— O que eles levaram?
— Eu não sei, não é minha jurisdição. Houve uma vandalização dentro e fora da Rádio Tower, com paredes pichadas e salas destruídas. A polícia está esperando a informação dos responsáveis da Radio Tower. Mas por terem destacado tantos policiais para guardarem todas as entradas e saídas da cidade, podemos imaginar. Por isso todo esse procedimento aqui.
— O presidente da Radio Tower já deu um parecer? Porque normalmente quando acontece algo grave na empresa, ele sempre dá o parecer para  tranquilizar e tentar acabar com fake news que ficam rolando.
— Até o momento ele não se pronunciou e parece que não conseguiram localizá-lo.
— Caramba! Imagino o choque dele quando souber...ah, isso está fora da necessárie!
  Alice retirou das mãos do policial uma calcinha minúscula preta com rendas roxas.
— Hã, bem...Pronto, está tudo certo com a bagagem de vocês. Pedimos desculpas pelo transtorno mas ordens são ordens.
— Ah tudo bem. – Crystal já começava a colocar a mochila nas costas. – Obrigada pelas informações. A policial da guarita não parecia muito disposta a dizer o motivo de tudo isso.
— Para chegar á cidade, só seguir reto pela estrada. Evitem de sair do caminho á noite ou perambular por lugares ermos da cidade. Ultimamente a Equipe Rocket está agindo de forma  mais agressiva e violenta.

  Alice e Crystal não comentaram, mas haviam tido uma primeira experiência que confirmava muito bem isso.
— Boa noite, senhor policial e obrigada!
— Boa noite meninas e tenham cuidado!

~*~

   Cristal e Alice caminharam por alguns segundos em silêncio até a segunda puxar o assunto.

— Cristal, desculpa mas...posso te fazer uma pergunta?
— ...depois de você ter salvo minha vida, pode fazer quantas perguntas quiser!
  As duas riram.
— Então, não quero ser indelicada mas...quando aqueles Rockets começaram a batalhar com você....eu estava voando com o Charizard e pude notar  mais ou menos seus pokémon. E... – ela parecia estar procurando as melhores palavras. - Seus Pokémon pareciam...fracos. Eram Pokémon em estágio inicial e foi tecnicamente fácil para os Pokémon daqueles Rockets te derrotarem. Não estou te julgando! É que você me disse que iniciou sua jornada em Hoenn, conquistou insígnias lá e...desculpa se estou sendo indelicada.
— Nah, tudo bem! Eu sei que qualquer pessoa realmente poderia pensar sobre isso. – Crystal segurou as alças da mochila em suas costas. – E te garanto que meu time principal de jornada é de um nível realmente bom! Eu conquistei as oito insígnias de Hoenn e competi na Liga Pokémon de lá. Tenho vários Pokémon relativamente bons, posso garantir.  É que como eu tinha saído de New Bark e indo para Cherrygroove, aproveitei para colocar um time inicial a fim de treinar eles durante o caminho, para aumentar os níveis deles, sabe? E locais de campo como esses são muito bons para isso.
— Mas não seria mais fácil você utilizar Centros de Criação? Sai um pouco caro mas economiza um bom tempo de ficar treinando a esmo para ganhar levels aos poucos.
— Eu não curto muito a ideia dos Centros de Criação. Nada contra quem usa mas eu não acho que o método deles de aumentar o nível dos Pokémon em pouco tempo e através de máquinas. Fora que mesmo que digam que não há mal algum, não acredito muito que submeter os Pokémon á ganhar nível de forma meio que “artificial” seja algo bom para a saúde deles futuramente.
— ...eu já deixei alguns Pokémon meus em Centros de Criação e nenhum deles apresentou problemas.
— Não estou dizendo que os Centros de Criação são ruins. Mas é que ultimamente muitos treinadores estão focando apenas neles para aumentar os níveis de seus Pokémon rapidamente. Eles acabam deixando de treinar seus Pokémon na natureza e batalhar com treinadores ao longo das jornadas e focando unicamente em aumentar os níveis dos seus pokémon para extorquir dinheiro de treinadores mais fracos. Não se preocupam em criar estratégias de batalha, partindo só pra força bruta.  É como se a única coisa que importasse para eles fossem aparecer! O pior é que com esses “hack” que eles colocam nos próprios Pokémon, acabam conseguindo entrar para competir na Liga Pokémon!   Como se não bastasse, muitas pessoas conseguem entrar na Liga usando insígnias falsas ou adulteradas! Aí  os treinadores e treinadoras que se esforçam para treinar seus Pokémon, viajam por meses, passam por vários perrengues climáticos, financeiros e até de saúde, para no fim correrem risco de perder a chance de competir na Liga no ano por conta desses treinadores que viajam apenas com meios de transporte entre as cidades, compram  insígnias e aumentam o nível de seus Pokémon em centros de criação sem darem treinamento e nem carinho para eles!

  Crystal percebeu que Alice a encarava com certa surpresa e diante disso, corou.

—  Ah... desculpa, acho que estou falando demais....
— Tudo bem. Você ainda não me viu quando começo a falar de algo que gosto! E você é uma treinadora pokémon oficial...imagino que essa ilegalidade de alguns treinadores revolte mesmo.
— Quando comecei minha jornada Pokémon, acreditei que as regras para os treinadores fosse realmente como diziam. Que os líderes de ginásio fossem responsáveis e realmente se esforçassem para tudo o que foi estabelecido pelo comitê das Elite 4 do mundo inteiro se cumprissem.  Mas depois que me tornei treinadora, comecei a perceber que muita coisa que está presente na teoria, não é assim na prática.
— Realmente,  as coisas não estão mais como eram.

  Elas caminharam um pouco em silêncio e enquanto olhava para os próprios pés, Crystal sentiu que sua mente lembrava a violência que quase lhe acontecera.

— Ei, você está legal?
— ....claro! Claro, claro! Estou bem, sim! – ela ajeitou a mochila nas costas. – É, eu me lembrei de uma coisa e queria te perguntar. Quando você...apareceu pra me salvar...

  Alice abriu a boca para falar. Queria muito falar sobre o ocorrido mas acreditou ser prudente esperar que Crystal tocasse no assunto.
— ...sim?
— É...você pediu que seu Charizard usasse um golpe de fogo. Mas você utilizou um nome que eu nunca ouvi falar mas pelo tipo de ataque, me pareceu Lança-Chamas.
— Ah, isso! – Alice riu. – Todo mundo sempre me faz essa pergunta. De fato o ataque é o lança-chamas mas eu ensinei o meu Charizard a usar ele quando eu dissesse outra palavra: Dracarys.
— Sim! Eu não sou expert em Pokémon de fogo mas nunca ouvi esse golpe.
— Ele não existe na vida real. É o golpe de fogo que existe em uma história fictícia de um livro. A personagem tem um dragão e esse golpe é o comando dela para ele atacar. Eu gostei e achei que ficaria legal em usar no meu Pokémon..
— Muito criativo isso.
— Crystal, sobre o que aconteceu...
— Uaaau!  A cidade fica tão linda com essas luzes!

  Alice não pôde deixar de sorrir ao se ver diante da entrada de Goldenrod e seu mar de luzes artificiais tão lindas e brilhantes. Crystal estava realmente empolgada e Alice achou melhor não tentar tocar no assunto anterior.

— Nunca  tinha visto Goldenrod á noite?
— As poucas vezes que vim  foi durante o dia. Havia visto a cidade á noite por vídeos e fotos...mas ao vivo é muito mais bonito!
  Prontamente ela tirou o pokégear do bolso, batendo uma foto da entrada da cidade.

— Então... já que chegou em Goldenrod... – falou Alice colocando um braço em volta dos ombros de Crystal. –  O que gostaria de fazer primeiro? Modéstia á parte, sou uma boa guia para grandes metrópoles!
— Bom...acho que o mais importante no momento é ir a um Centro Pokémon. Meus pokémon precisam ser tratados e também seria uma boa eu colocar um time melhor para batalhas!
— Então, partiu! Tem um Centro aqui por perto!

~*~


— Nossa, como eu estava precisando disso!

     Alice deu uma abocanhada generosa no  hambúrguer, fechando os olhos de satisfação.
     As duas garotas estavam em uma mesa no interior da Bulba’s Burguer, a mais famosa rede de lanchonetes do mundo. O ambiente padronizado e descontraído, aliado aos saborosos lanches e salgados fast-food bem como os combos promocionais, tornavam a marca com o desenho de um Bulbassaur segurando um hambúrguer,  presente em todos os continentes.

    Enquanto Alice pedira o combo tradicional composto por um hambúrguer generoso, uma porção de fritas com cheddar e refrigerante, Cristal optou pelo Hot-Herdier com porção de batatas fritas e suco de abacaxi.

— Estou aliviada de poder ter levado meus Pokémon no Centro e também voltar com o meu time de batalha atual! Não passarei apuros com esse meu time.
— E em um Centro Pokémon de qualidade! Aquilo sim eram Pokébox decentes com conexões dignas! O que eu levei uma hora pra tentar fazer naquele centro Pokémon mequetrefe que nos conhecemos, eu fiz em dez minutos aqui e de graça!
— Realmente. Nunca mais quero ter que voltar naquele centro de Cherrygroove! Fora que a atendente daqui foi super atenciosa ao contrário da outra.
— Já percebeu o quanto os Centros Pokémon diferem de uma cidade para outra?
— Sim. Não sei o que acontece. Era para todo Centro Pokémon receber quase que a mesma quantidade de valores para investir e cuidar para que esteja sempre em boas condições. Afinal tanto treinadores como líderes de ginásio, pagam um valor de imposto mensalmente ...
— Desvio de verba. -  respondeu Alice passando uma batata no cheddar. -  Isso acontece em tudo que é comércio e instituição, não seria diferente com os Centros Pokémon.
— Mas a Elite 4 deveria  manter investigação constante sobre isso. Tem Centros Pokémon que não estão preparados para cuidar de casos mais graves de Pokémon feridos.
— A Elite não tem como monitorar tudo. Fora que eles também tiram uma parte das verbas, evidentemente.

  Cristal não respondeu, mas não concordara com o comentário.
—  Então...o que acha de depois desse lanche pegarmos um sundae?  Os daqui são tão bons!
— Não faça essa pergunta para uma louca por sorvete como eu! Uma vez eu mordi um Vanillite achando que era um sorvete de baunilha!

    Alice quase engasgou com o refrigerante que tomava ao ouvir aquela revelação. Vanillite era um Pokémon tipo gelo, natural de Unova e que possuía uma das formas mais curiosas que um Pokémon poderia ter: ele se assemelhava (e muito) a um sorvete de casquinha. Suas evoluções seguiam o mesmo padrão.

— Como você conseguiu fazer isso?!
— Ai, não sei! Eu estava com tanta fome e com tanto calor...estava andando na praia e então vi um vendedor de sorvete e obviamente fui lá comprar. O cara tinha um Vanillite que ajudava a promover o negócio porque né...Vanillite é um Pokémon bem diferente, ainda mais em Hoenn...o caso é que eu não havia visto ele. Fui pedindo o sorvete, ele disse que eu poderia pegar qual eu queria,  dei o dinheiro e peguei a primeira casquinha de baunilha que estava em cima do carrinho e já fui de boca!
— Gulosa!
— Quando eu abocanhei, o Pokémon soltou um berro, eu berrei, o vendedor berrou e foi uma vergonha enorme! Sorte que o Pokémon não me atacou! Mas ficou assustado e babado, tadinho...
 As duas riram e voltaram a comer, continuando a contar sobre casos engraçados que haviam vivenciado ao lado de Pokémons.

~*~

Canalave City – Sinnoh

  O vento do começo de madrugada, levando até a cidade o ar salgado e frio. Canalave City estava silenciosa, como sempre ficava naquele horário. A temperatura baixa incentivava os moradores a permanecerem em suas casas e com a agitação do vento e do mar, a vinda de uma tempestade era quase certa.
  As únicas luzes da cidade adormecida provinham dos postes nas ruas, do farol próximo ao porto e de uma ou outra casa que mantinha alguma luz acesa.

  A noroeste da cidade portuária, se localizava a biblioteca de Canalave, famosa por ser uma das bibliotecas com maior acervo  de livros e documentos históricos. Ela possuía cerca de três andares abertos ao público. O quarto andar era permitido apenas para pessoas autorizadas pois continham  material para fins acadêmicos.
  O subsolo era reservado para material não exposto, obtido em escavações ou doado por colecionadores – diziam até que alguns haviam sido obtidos em leilões. Somente funcionários da biblioteca, doadores e pessoas que pudessem dispor  de meios de acesso, poderiam ter contato com o material guardado ali.
  Mas havia um último andar, abaixo do subsolo e que quase ninguém tinha conhecimento nem mesmo o prefeito da cidade. Era o andar destinado a conservar e proteger os livros e documentos altamente valiosos. Material este que não apenas possuíam um valor histórico inestimável, mas também continham informações e declarações  assustadoras, polêmicas e misteriosas.

— AAH!
  O vigia noturno foi jogado com violência contra a parede, caindo desacordado no chão.  Próximo á ele, um Mightyena encontrava-se derrotado. Um corpo grande se aproximou, usando uma corda para prender o policial e em seguida amordaçou sua boca com mais força do que o necessário. Ele então pegou a pokébola no chão e colocou o Pokémon desmaiado dentro dela, colocando-a no bolso do casaco.

— Um bônus por ter ferrado meu punho.
  Vestido inteiramente de preto, o grande homem caminhou em direção  á luz mais á frente. Ele tirou a máscara que lhe cobria a cabeça, revelando um rosto largo e agressivo, de cabelos loiros despenteados, olhos pretos e pele morena.
Se aproximou  de uma segunda pessoa, que digitava freneticamente em um painel fixado á parede.

— Oe, Basho. – falou. – Vai demorar muito aí?
— ...por que tirou a máscara, Buson?
— Essa porcaria coça minha cabeça. Além do mais, você já desligou todas as câmeras de vigilância.
— Se cair um fio de cabelo seu aqui e encontrarem, a polícia poderá usar na investigação.
— Somos da Equipe Rocket, vão acabar dizendo que é coisa nossa de qualquer jeito! Mas não tem como pegar ninguém. Você anda muito paranoico ultimamente. Isso só pode ser falta de mulher!

     O outro apenas  lhe lançou um olhar reprovador e continuou a digitar no painel. Vestia-se todo de preto como o outro, mas era menor e muito mais esbelto. Usava máscara que lhe cobria toda a cabeça e parte inferior do rosto, deixando somente os olhos visíveis. Olhos de um azul gélido e ofuscante.

  Buson examinou a própria mão enluvada, abrindo-a e fechando.
— Droga, acho que dei mau-jeito.
— ...você socou o focinho de um Mightyena. Já era de se esperar.
—  Como você consegue entender essas coisas? – indagou, olhando para a tela na qual se estendia códigos infindáveis. – Para mim parece um amontoado de coisa sem sentido algum!
— Eu consigo da mesma forma que você consegue espancar humanos e pokémon como se fossem a mesma coisa. – respondeu o outro calmamente. – ...pronto.

  Ouviram um som agudo, como um apito e uma porta de metal do lado esquerdo deslizou, revelando uma passagem oculta.

— Aê, Basho! Arrasou, mermão! A gente é imbatível!
— “ A gente “ , não. “Nós”. Use a colocação gramatical correta.
— ...nerd. Por isso que o pessoal não vai com a tua cara.
— Nunca quis que ninguém fosse.

     Eles entraram na pequena sala. Do tamanho de um quarto, possuía alguns artefatos colocados em caixas, mas Basho os ignorou, indo diretamente ao pequeno púlpito que ostentava uma pequena caixa de vidro. Após uma avaliação rápida, concluiu que não havia alarme ali. Fitou  o pedaço do que parecia ser um antigo pergaminho escrito em um idioma  há muito esquecido mas que ele era capaz de entender.

— ...tanto trabalho para esse pedaço de papel velho?
— Deixe de agir como um ignorante!
— Pô, Basho. Foi só uma brincadeira! Meu, tu leva as coisas muito á sério, precisa relaxar!
— Pegue a mala, precisamos levar isso daqui.

     Buson  saiu da sala e voltou com uma mala de metal. Cuidadosamente Basho retirou a caixa de vidro contendo o artefato e a colocou dentro da mala, ativando as trancas e o segredo. Com o trabalho feito, ambos saíram do local (não sem antes Basho fechar a sala digitando algo no computador), sem se importar com o segurança amordaçado.
  Do lado de fora, após assegurarem que não havia ninguém nas proximidades,  Buson foi até o veículo que deixara estacionado e, enquanto ele colocava cuidadosamente a mala em um compartimento próprio, Basho caminhou até próximo ao píer. Retirou a máscara, permitindo que o vento  vindo do mar atingisse seu rosto fino e simétrico. Os longos cabelos platinados esvoaçaram  no frio, como se fizessem parte dele.

    Em sua mente, ele repetira o que lera no manuscrito. As ondas do mar pareciam mover-se cada vez com mais força, como um prenúncio. Afastou os pensamentos quando ouviu Buson ligar o carro,  entrando também no veículo, que logo seguiu pela estrada.


Resistindo ao profundo oceano
Repousa o amante sacrificado
Lugia, guerreiro de duas faces
Desperte uma última vez
Para desfazer o que Ela fez.

 

~*~


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Notas finais do capítulo

Com o capítulo terminando aqui, quero agradecer por lê-lo. E pedir também que deixe um comentário seja por aqui, ou no meu face. Pode dizer o que achou, sugestões, críticas construtivas e etc. São semprem uito importantes!
E aguarde: próximo capítulo virá com muita coisa boa e interessante!