A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 35
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Olá caro leitor (a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Esses últimos meses foram tão corridos que quando vi, estava mega atrasada para atualizar. Em minha defesa, além das desculpas, posso confessar que voltei a fazer meus ensaios e projetos cosplay e eles tendem a ser meu hobby prioritário.
Mas pelo menos, consegui cumprir a meta que estabeleci de terminar esse capítulo antes do final do ano (terminei as vésperas dele, literalmente). Mas só o postei agora porque preferi passar os primeiros dias pós festas.
Esse capítulo foi muito difícil mesmo para mim escrever, principalmente a última cena. Quem lê pode achar que fazer os diálogos é simples mas posso garantir que diálogos importantes, com explicações ou informações subtendidas mas importantes que revelam sem revelar demais são extremamente difíceis de se fazer e eu quase rasguei as folhas de rascunho mais de uma vez.

Quero agradecer imensamente a todos que continuam apoiando esta fanfic. Ao meu primoso Raven por sempre me auxiliar na parte das batalhas, ao Leon, Strauss Silver, OrochedaPaz, Cassie e com um agradecimento especial a CanasOminous pelas conversas no chat sobre nossas idéias literárias, nostalgia e tantas outras coisas.

IMPORTANTE: (devido a diretriz politicamente puritana do site) que este capítulo possui cenas sexuais impróprias para menores. É isso aí, aviso dado.
Boa leitura!



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~*~

  
   Crystal controlou a vontade de vibrar diante da eficácia do golpe de sua Misdreavus contra o Haunter, mas o olhar maléfico que Agatha lhe encarou a fez desistir.

“Agatha já foi um membro da Elite4, porém não uma mestra de Elite como Lance. Só que ela é uma oponente bem poderosa. Mas estamos em uma batalha oficial de ginásio, os nossos pokémon precisam estar mais ou menos no mesmo nível. Então, mesmo sendo difícil, eu tenho chances!”

  
   Mas havia algo errado. Enquanto Haunter perseguia Misdreavus pelo ar como se ambos pokémon realizassem uma estranha dança, ora lançando Shadows Balls um contra o outro, Crystal notou que a potência dos golpes e a velocidade do Haunter eram claramente superiores a de sua pokémon.
— Mas que lenga-lenga é essa?! – ralhou Agatha olhando para cima. – Haunter, deixa de moleza e abata essa Misdreavus!
   Haunter avançou gritando e então teve seu movimento limitado pelas teias viscosas do String Shot disparado por Beautifly minutos atrás e que ainda permaneciam presos á vigas e atravessando o ar. Embora as teias já não causassem mais um efeito de choque estático, ainda assim seu efeito pegajoso conseguiu limitar o Haunter e aqueles poucos segundos se mostraram a Crystal cruciais para uma última ofensiva.

— Mis, é agora! Ataque com o seu máximo!
   Misdreavus obedeceu e reuniu suas últimas energias para um golpe efetivo. O jato de Shadow Balls foi certeiro, mas há poucos centímetros de atingir o Haunter, este foi recolhido para a pokébola.
— O quê?!
  Crystal viu Agatha guardar a pokébola no bolso do vestido e pegar outra.
— Ei, isso que a senhora acabou de fazer... Não vai contra as regras?
— O que está insinuando, menina estúpida?
Crystal retesou diante da agressividade da velha.
— Eu só acho...
— Acha que estou roubando?! Eu sou Agatha, a temida e lendária ex-membro da Elite4 de Kanto! Uma das maiores treinadoras de pokémon Fantasma. Sou uma verdadeira lenda! Até parece que eu me sujeitaria a trapacear durante uma batalha! Ainda mais contra uma treinadorazinha qualquer que reuniu o mínimo de decência para pedir outra chance após sair fugindo de medo! Se tem alguém capaz de trapacear aqui é você!
— Eu nunca faria uma coisa dessas!
— Então cale a sua boca!

   Crystal apertou os punhos com tanta força que sentiu a unha machucar a pele. Havia apenas questionado porque, pelo que sabia (e essa informação tinha certeza que era correta) entre as regras oficiais de batalhas de ginásio emitidas pelo Comitê Oficial da Liga durante uma batalha valendo insígnia, o líder do ginásio e treinador deveriam ter pokémon com mais ou menos o mesmo nível, permitindo assim que o combate fosse justo e balanceado.
  Afinal, era natural que os líderes, devido a sua grande experiência e trabalho por manter um ginásio legalizado, tivessem pokémon dos mais variados níveis, com os de nível mais alto usados  para suas missões particulares e batalhas nos torneios de Líderes e combates na Liga Mundial. Mas usar pokémon de nível alto contra treinadores mais jovens era injusto. Por isso que antes de se iniciar uma batalha, era obrigatório que o líder soubesse o nível dos pokémon do desafiante para então escolher seus pokémon que estivessem no mesmo nível.
  E justamente por estar ciente disso que Crystal achava que aquele Haunter estava uns bons níveis acima, pois a potência do golpe Shadow Ball dele era visivelmente maior do que o mesmo golpe disparado por sua Misdreavus.

—  Está querendo vir com esse papinho para que eu pegue leve com você? Caiu do Mudbray! Quero ver como você vai lidar com este aqui.

  Crystal abriu a boca para retrucar, mas o que saiu de seus lábios foi uma exclamação de espanto e indignação diante do pokémon de Agatha que se materializou no meio da arena.
   Gengar era um pokémon Fantasma muito conhecido, temido e apreciado em Kanto, também possuindo grande popularidade no resto do mundo devido a seu grande poder em batalha. Mas aquele não era um Gengar comum.
Era um MegaGengar.
   As mega evoluções eram evoluções temporárias induzidas artificialmente que visavam tornar os pokémon mais poderosos para combates. Para isso acontecer, era utilizado um recurso denominado Mega Energia. Como era um experimento criado há poucas décadas, ainda não era muito utilizado, tanto pelo seu alto custo quanto pelos estudos dos efeitos que poderiam causar nos pokémon a longo prazo.

— Mas esse pokémon...é um Mega!
— Oh, não diga! – ironizou a velha. – Se não fosse uma treinadora tão experiente como você dizer isso, eu não perceberia!
  Crystal estava furiosa demais para dar ouvidos a aquela ironia barata.
— Usar um pokémon Mega é contra as regras do Comitê da Liga, principalmente no que se refere a batalhas de ginásio! Um líder não pode usar pokémon de nível muito mais alto do que os do treinador desafiante! E um MegaGengar vai contra todas as regras permitidas!
— Eu dou as regras aqui! – ralhou Agatha batendo a pontada bengala no chão. – Esse ginásio É MEU! E eu sou membro da Elite4, tenho essa autoridade!
— Você está sendo abusada e trapaceira!
— Se está com medo de perder, pode sair correndo e chorando de novo! Aí depois vai fazer o quê? Me expor na internet se vitimizando?
— Eu não sou assim! – Crystal pegou uma pokébola. – Mas não vou sujeitar a minha Misdreavus em uma batalha desigual e totalmente fora das normas!  Mis, pode voltar!
Mean Look!

   Crystal tentou recolher sua Misdreavus, mas o golpe disparado pelo MegaGengar pela ordem da mestra impediu, impossibilitando que Misdreavus fosse retirada da arena.
— Por que a senhora está fazendo isso?!
— Vocês treinadores atuais acham que as batalhas pokémon precisam ser tudo dentro de regrinhas para que fiquem confortáveis e não machuque o emocional fraquinho que possuem. Aí é só verem um desafio maior do que podem suportar que já querem fugir da responsabilidade por solicitarem o desafio! Então vou te ensinar uma lição do que é uma batalha de verdade!
   Aquela velha estava louca. Mas era uma velha louca experiente e com um MegaGengar. Pokémon este que avançou contra a pequena e exausta Misdreavus que, devido a luta anterior, flutuava próximo ao chão.
Shadow Ball!

  Crystal gritou um “não!” enquanto via sua Misdreavus tentar fracamente se manter firme para bloquear o ataque, mas a treinadora sabia que a pokémon não suportaria o estrago que a potência daquele golpe faria nela, podendo até ter consequências irreversíveis.
   Tomada por instinto, Crystal correu para a arena, envolvendo a Misdreavus em seus braços para protegê-la, fechando os olhos com força, ciente da dor que o golpe do MegaGengar a atingiria.
  Mas então algo colocou-se na sua frente: um corpo grande e escuro e ele não apenas bloqueou o golpe, mas o repeliu. E ela sentiu mãos fortes lhe puxarem para o lado com rapidez. Sendo praticamente arrastada, Crystal tropeçou nos próprios pés e acabou caindo desajeitadamente no chão. O dono das mãos que lhe seguravam se ajoelhou ao seu lado e, ao abrir os olhos, ela se surpreendeu.

—Gary?! Mas o que...
  Não terminou a frase pois, ainda mantendo a Misdreavus em seus braços, ela olhou para a arena, vendo que, após a fumaça arroxeada de Shadow Balls se dispersarem, o MegaGengar e um Gengar se rodeavam, as bocarras sorridentes rosnando uma para a outra. E no lugar que ela estivera antes, agora estava Morty.

— O que você tava fazendo, vó?! Endoidou?
— Não me chame de doida, seu vagabundo! Você some e eu que tenho de batalhar com treinadores aqui no ginásio!
— Eu avisei que ia ensaiar de manhã, mas que voltava para o almoço! – vociferou o rapaz. - E não era para abrir o ginásio hoje e ainda por cima obrigar a Neide a vir trabalhar! Vamos ter que pagar hora extra pra ela!
— O ginásio precisa ficar aberto! Isso aqui não é uma casa de shows embora você queira transformar nisso!
— Eu só sugeri aquela vez gravar um clipe aqui para a banda...
— Não interessa! Um ginásio é apenas para treinamento e batalhas! E deve ser assim todos os dias!
— Mas hoje é domingo! – exclamou Morty. – E além do mais, que tipo de batalha era essa?!
— Uma batalha de verdade! Algo que você tem se mostrado incapaz de fazer, se vendendo a essas regras para fracotes decididas pelo Comitê da Liga!
— Essa batalha estava completamente desleal! Totalmente contra as regras!
— Vai começar com esses argumentos de treinador frouxo também?
— Vó!  Em uma luta oficial de um treinador por uma insígnia, o ginásio precisa respeitar as regras!
— Não me diga como funcionam as batalhas, moleque! Eu já lutava em batalhas com meus pokémon, enfrentava oponentes realmente bons e deixava meu nome registrado na história muito antes de você sequer ser um feto!
— Se a senhora sabe tanto das regras e é tão experiente, tá ligada que usar a porra do seu MegaGengar é apelação e viola as regras para o ginásio. Podemos levar uma multa! E não estamos com dinheiro pra ficar esbanjando!
— Porra é o que você faz quando bate uma vendo vídeo de putaria! – o rapaz encarou a avó, horrorizado. -  E não meu pokémon que possui troféus! O MegaGengar é meu e eu uso ele em batalha quando, onde e como eu quiser! E esse ginásio é meu, eu faço as regras porque eu sou membro da Elite4!
— Você foi membro da Elite4! Foi dispensada dela!

  O rosto da velha mulher pareceu se transfigurar em uma máscara de raiva mais horrenda do que a cara do seu MegaGengar.
— Eu fui deposta do meu cargo por causa daquele bando de mestres pokémon que estão mais preocupados com likes e visibilidade na mídia! Me tiraram do cargo para colocar aquela piriguete da Karen! Só para saírem nos tabloides como a Elite4 mais jovem do mundo! É isso que eles querem, porque uma pessoa com a minha idade não fica “bonito” nas fotos promocionais e não sou atraente para os surrubões das Elites! Ignoram tudo o que eu fiz e tudo o que eu represento para a Liga Pokémon, que é o que realmente deveria importar!
  Morty ignorou a reclamação da avó e foi até o púlpito onde ficava o computador, abrindo a gaveta nele com uma chave e retirando algo de dentro.
— Hey, Crystal. Pode vir aqui, rapidinho?

  Ela apenas acenou a cabeça, meio confusa e se levantou. A Misdreavus soltou-se de seus braços, preferindo flutuar próximo aos seus ombros.
— Você foi claramente submetida a uma batalha injusta imposta pela minha avó. Além dela não ter autoridade como líder de ginásio de Ecruteak, pois o líder de ginásio sou eu, ela ainda fez uso de pokémon com um nível muito acima dos seus o que, como a gente sabe, vai totalmente contra as regras do Comitê da Liga. – Morty falou,decidido. - Entretanto, você lutou de forma íntegra e justa, conseguindo manter seus pokémon em batalha mesmo contra oponentes muito mais fortes. Isso prova que é uma excelente treinadora e, portanto, merece receber isto aqui.
  Morty pegou a mão de Crystal e depositou um pingente.

— Crystal, por favor, aceite essa insígnia como prova do seu esforço nesta batalha.
— O quê?! –Agatha se indignou. – Como ousa entregar uma insígnia de mão beijada assim e ainda pedindo “por favor”?! Onde está seu orgulho e noção?
  Crystal sentia-se desconfortável no meio daquela discussão familiar. Queria muito a insígnia e até se sentia de certa forma merecedora dela após descobrir que Agatha não estava cumprindo as regras porém...era visível que a entrega da insígnia por Morty envolvia algo além dela.
— Vamos, Crystal. Pegue a insígnia, ela é sua.
— E-eu...
— Acho melhor aceitar.

   Gary sussurrou de modo que só ela pudesse ouvir, lhe tocando o meio das costas com uma leve pressão. Ambos trocaram um rápido olhar e a treinadora compreendeu.
— Es-está bem. Obrigada...
— Morty, eu vou com a Crystal ate o Centro Pokémon. Depois a gente se fala.
   O rapaz loiro apenas concordou com um gesto e prontamente Gary induziu Crystal a segui-lo para fora da arena, o que ela obedeceu, mantendo a insígnia bem segura em sua mão e Misdreavus flutuava ao seu lado. Antes de sair, Crystal ouviu Agatha esbravejar com o neto e lançar imprecações contra ela, mas se controlou para não retrucar. Afinal, aquela situação era algo de cunho familiar e obviamente Morty desejava resolver, pois ia muito além de algo apenas sobre legalidades de uma batalha pokémon.

~*~

  
    Aquilo era insano, arriscado e comprometedor. Mas talvez, exatamente por isso, era tão excitante.
   Poder novamente tocar e sentir Alice era algo que desejava repetir desde aquela vez. Tudo nela o inebriava: o cheiro de seus cabelos, a suavidade de sua pele, o sabor de sua boca, a maciez de seus seios, bunda e coxas, e sentir o calor e excitação dela enquanto tocava sua intimidade com os dedos.

  Lawrence suspirou de prazer quando uma das mãos dela começou a acariciá-lo. Sabia que deveria parar, mas apenas a estimulou com mais intensidade. Alice saboreou o prazer e sentia também o desejo de Lawrence pela forma como o tocava, pelos beijos que trocavam e a forma como ele apertava sua pele, mas principalmente pela rigidez por debaixo da calça. E quando o calor e a sensação de prazer fizeram Alice se contrair de desejo diante dos estímulos dele em sua intimidade, Lawrence parou.
  Ela o observou atônita, enquanto o empresário ia até a porta, girando a chave na mesma para trancá-la.

­- Assim, ninguém irá atrapalhar. – ele falou, tornando a se aproximar e tirando o cinto. – E não há câmeras aqui.
  Alice sentiu um arrepio percorrer seu corpo devido as palavras e a intenção real que havia nelas. Além do mais, ver Lawrence desabotoar a própria camisa e dobrar as mangas da mesma até metade do braço era muito atraente. Ele avançou sobre ela, envolvendo-a nos braços em beijos intensos, mas a voracidade foi tal, que Alice bateu o quadril na quina da mesa, soltando um gritinho.
— ...desculpe.
— Tudo bem. É que... – ela apertou seu corpo contra o empresário. – Acho que mesas não são muito boas para esse tipo de coisa.
— Elas podem ser.  – ele a devorou com os olhos. – Se debruce na mesa...de costas para mim.

  Como ele conseguia manter a voz calma mesmo estando excitado daquele jeito? Alice deu um sorriso travesso e obedeceu. Lawrence explorou com as mãos o corpo da garota, aproveitando o quanto tê-la naquela posição era a realização de uma devassa fantasia e Alice gemeu ao receber beijos em seus ombros e pescoço. Ele desceu um pouco as próprias calças e segurou com cuidado os cabelos da garota em uma das mãos.
— Sentiu minha falta, Alice? – deixou escapar em um sussurro.
— Você...sentiu a minha?
  Ousada. Lawrence deu uma risada curta de satisfação. Virou o rosto da garota para beijá-la nos lábios enquanto se encaixava a ela. Ambos suspiraram, saboreando a sensação de prazer.

— Mas quem trancou essa porta?!
   Lawrence e Alice pararam subitamente. A pessoa bateu novamente na porta, dessa vez falando mais alto.
— Tem alguém aí? Abra essa porta!  Ei, funcionário! É, você mesmo! Esta sala não pode ficar trancada para pessoal autorizado!
—Sim, são as normas.
— Se são as normas porque ela está? Veja! – a maçaneta mexeu freneticamente. – Viu? Trancada!
— B-bom... – continuou a segunda voz. – Talvez tenha alguém na sala, essa porta só tem trava por dentro.
— Quê?! Ora... – a pessoa bateu novamente. – Quem está aí? Não pode trancar esta sala! Está pensando que é quem?
  Lawrence reconheceu a voz e aquilo o irritou.
— Cai fora, Eusine!
“Merda.”

— Lawrence?! – a voz se calou por alguns segundos antes de continuar. – Abra essa porta, esta sala, o museu e os artefatos que estão em todas as partes dele não são exclusividades suas!
  O colecionador sentiu o sangue ferver e dessa vez não era de desejo. Se afastou de Alice, ajeitando as próprias roupas.
— Vista-se, depressa! – sussurrou.
   Ele nem precisava pedir. Alice rapidamente tratou de recolocar o shorts e fechar o zíper da blusa.
   Lawrence respirou profundamente, tentando se recompor antes de abrir a porta. Mas sentiu as mãos de Alice em seus braços.
— É melhor você se sentar atrás da mesa. Eu abro a porta.
  Sim, era o melhor mesmo. Acatou o pedido enquanto a garota ajeitava rapidamente os cabelos.

   O braço de Eusine atravessou o ar quando ele estava começando a bater novamente na porta que se abria. E, para disfarçar, ele já foi entrando no recinto.
— Até que enfim! – resmungou.
— O que você quer, Eusine?
  Lawrence mantinha -se sentado com a pinça em mãos e uma folha de pergaminho sobre a mesa. Alice tinha que admitir que ele havia disfarçado bem.
— Ora, se não é a tutelada de Lawrence. Você não estava foragida? – falou Eusine, reconhecendo a garota. -Imagino que ter que conviver com Lawrence há tanto tempo seja realmente extenuante! Ainda mais para uma jovem bonita como você.
— Eu...nunca estive foragida.
— Não? Então como ficam os boatos? Até porque todo boato tem um fundo de verdade, de um jeito ou de outro.
  Alice o encarou confusa. Seria possível que alguém tinha conhecimento de que ela e Lawrence...Não, nunca havia contado a ninguém e tinha certeza que ele também não. Mas que boatos seriam esses, então? E onde estariam sendo espalhados?

— O que você quer aqui? - Lawrence se levantou, tratando de cortar o assunto. - Não temos tempo para ficar perdendo com mexericos inventados.
— Inventados...será mesmo?
— Se não tem nada realmente importante para fazer aqui, queira se retirar.
— Nossa, por que tão rude? Acaso vocês estavam fazendo algo importante e eu os interrompi?
  Eusine encarou o empresário com o semblante mais pleno que tinha. Percebendo a situação, Alice tratou de se adiantar.
— O senhor Lawrence estava me dando uma aula sobre o culto dos antigos deuses.
— Oh, é mesmo? – a sombra de um sorriso passou em seus lábios. - Se você estava apenas tendo uma aula sobre esse tema com Lawrence, eu posso assistir e, claro, se permitirem, também expor meus conhecimentos sobre o assunto.
— Só queríamos um pouco de privacidade por se tratar de artefatos preciosos.
— Privacidade...entendo...
— Bom...eu acho que vou indo. Preciso ir encontrar com minha amiga de jornada e já estou atrasada! – Alice comentou, colocando a bolsa sobre os ombros e fingindo olhar as horas no celular. – Prazer em revê-lo, senhor Eusine!
— O prazer é todo meu, Alice. Saiba que, se precisar de algo ou mesmo de algumas aulas sobre antigas lendas, pode entrar em contato comigo.
— Hãn, okay! – ela deu um sorriso forçadamente simpático. - Senhor Lawrence, depois nos falamos, tudo bem?

  Lawrence apenas assentiu um pouco consternado. Trocou um último olhar com Alice e a garota gesticulou movendo a mão que segurava o celular em um gesto de “até logo”, mas que ele entendeu o significado.
  Assim que ela saiu pela porta, Eusine se aproximou da mesa, observando não apenas os antigos manuscritos ali colocados, como também o fato da mesa estar um pouco torta, como se tivesse sido movida.
— Alice está...agradável como sempre, não é? Mas enfim,que conteúdo e material eram esses que precisavam ser ministrados a portas trancadas?
  Lawrence percebeu a provocação sutil no tom de voz de Eusine e apenas desejou enfiar nos olhos dele, a pinça que segurava.

~*~


Snowpoint – Sinnoh

  
   A cidade de Snowpoint ficava em um dos locais mais afastados ao norte de Sinnoh. Uma cidade antiga e tradicional, rodeada por uma vasta cadeia montanhosa com picos cobertos de neve. Uma cidade que, durante muito tempo, sobreviveu com uma pequena quantidade de habitantes e quase que praticamente isolada.
 Dotada de um clima frio durante quase todo o ano (dada a sua localização, Snowpoint possuía um verão muito mais curto do que a média e mesmo assim sua temperatura continuava fria) e invernos mais longos.

  E ali estava ela, novamente naquele lugar que já estivera certa vez, há muito tempo. Tempo esse que parecia ser de uma outra vida e de certa forma, era mesmo. Já fazia quanto tempo que partira de Sinnoh? Dez, quinze anos? Não tinha certeza.
   Mas não tinha por que ficar se lembrando disso agora. Não podia, precisava se focar no trabalho e na investigação que deveria fazer. Então procurou deixar que as lembranças que tencionavam retornar a sua mente fossem sopradas pelo vento.
   Aquele pico que indicava o início da cidade de Snowpoint era um dos pontos turísticos mais tradicionais da região, pois dali era possível ver toda a cidade e as montanhas que a circundavam. Uma mureta fora erguida ao redor do espaço para evitar possíveis acidentes e á cada quatro metros havia lunetas de ferro nas quais o turista poderia utilizar para observar melhor a paisagem através das lentes. Mas, embora aquele ponto fosse bem conhecido, ele parecia ter deixado de ser tão frequentado atualmente. Afinal, lá embaixo, na cidade, havia dezenas de bares bem frequentados, pousadas com fontes termais, comércios aquecidos com a chegada da alta temporada turística, casas noturnas e demais lugares com coisas consideradas mais interessantes para se ver e fazer do que ir até o pico no início da cidade apenas olhar a paisagem.

   Dômino espirrou, coçando o nariz em seguida e fechando mais a jaqueta que usava.
— Está se sentindo nostálgica de estar aqui depois de tanto tempo?
  A jovem viu Mondo se aproximar. Ela deu um sorriso emburrado e aceitou um biscoito amanteigado do saquinho que ele lhe oferecia.
— Não.  – ela respondeu. - Eu nunca morei aqui. Vim apenas uma vez em férias de família.
— Sente falta do que tinha?
— Do que tive. Já não tenho mais. E você me conhece. Não sou de ficar presa ao passado que eu mesma escolhi abandonar.

  A conversa morreu ali. Ambos comeram mais alguns biscoitos amanteigados enquanto observavam as montanhas e a cidade.
— Eu gostaria de poder ter boas lembranças de infância como você teve. – Mondo falou. – Mas, se pensa desse modo, não significa que sua decisão seja errada. Nossas decisões e escolhas são exclusivamente nossas e, se elas nos fazem bem ou nos ajudam a seguir em frente, então tudo bem.
— Ainda bem que você veio. – a loira comentou, encostando a cabeça no ombro dele. – Assim tenho a única pessoa com quem posso conversar de boas. – ela olhou de soslaio para trás. – E a família real, onde está?
— Ainda estão lá na padaria. Se bobear vão comprar um pouco de tudo que tem lá, o que significa muita coisa. Acho que vamos ter um verdadeiro banquete de gulodices esta noite! – Mondo deu uma risadinha. – Acho que até voltarmos dessa missão, o senhor Igni vai ter uma certa surpresa com a fatura do cartão!
— A realeza precisa ser tratada como tal, não é? Ele que arque com os gastos usando os fundos da Equipe Rocket.
— E falando no Igni, como vocês estão?
— Como sempre. – Dômino suspirou. – O que eu e ele temos não é algo que se encaixe em parâmetro algum. Apenas é do jeito que é e do jeito que tem de ser.

  Mondo a observou enquanto ela olhava a cidade e mordiscava mais um biscoito. Dômino era sua melhor (e única) amiga, e os anos de convivência o fizeram conhecê-la bem através de tantas conversas e confissões sobre tudo e mais um pouco. Ela tinha segredos, claro, afinal todos tinham. Mas Mondo a conhecia melhor do que a maioria. Sabia que Dômino era forte e admirava muito isso nela. Mas...
— E você...ainda pensa nele?
— Hum? Em quem? – ela o olhou e percebeu. – Ah...ás vezes acontece. Mas já foi há tempos. Passado e vida que segue.
— Será mesmo, amiga? Vindo de você, eu até acredito. Mas mesmo assim, eu acho...
— Em vez de ficarmos falando do meu passado, acho muito melhor falarmos do seu presente! – ela cortou e em seguida de um sorrisinho de deboche. – Como está indo esse “date” na missão entre você e o Buson?
  Mondo engoliu o biscoito que havia colocado na boca e um rubor lhe cobriu a face.
Da-date?! Ficou doida?! Não t-tem nada disso, não! – ele tossiu, procurando empurrar o biscoito para baixo da garganta. - Estamos em uma missão! Uma missão muito importante e que não há espaço para distrações pessoais!

   O rapaz falou de forma decidida, tentando manter uma postura profissional e Dômino deu uma risadinha. Mondo era mesmo fofo e divertido e sua presença ali era um bom alívio para a ansiedade que ela secretamente sentia desde que Igni a havia escalado para aquela missão.
—Mas já que estamos falando do Buson... – ela continuou. - Depois diga a ele que precisamos conversar antes que o tal plano de Lugia comece a ser colocado em prática.
— Por quê? Já não ficou tudo decidido na reunião que tivemos no QG?
— Decidido o que era preciso na presença de todos, incluindo da realeza. Mas acho bom que tenhamos uma conversa só nós três.
— Igni te informou de mais alguma coisa?
— Espero não estar os interrompendo.
   Os dois agentes viraram-se  rapidamente para trás ao ouvirem a voz tão próxima.
— Ma-majestade! – Mondo se curvou respeitosamente. – Em que posso ajudá-lo?

“ Como eu não percebi ele se aproximando?!”

   Dômino observou Lugia, desconfiada. Teria ele ouvido a conversa? Não que tivesse algo comprometedor, mas o fato de ter dito que desejava conversar com Mondo e Buson sem conhecimento Dele, poderia causar desconfiança.
— Apenas “senhor” está bom. – Lugia falou, indicando a padaria metros á frente. – Minhas irmãs estão querendo um auxílio nas compras.
— Oh, claro majes...digo, senhor. Já estou indo lá!
  Mondo se curvou uma vez mais em respeito e foi com passos apressados para a padaria. Dômino se afastou da mureta e tencionou segui-lo, mas a voz de Lugia a deteve.
— Fique. Quero conversar com você.
  Aquilo parecia uma ordem, embora o tom de voz dele fosse calmo.

— Se o senhor deseja saber a respeito da missão, posso lhe assegurar que tudo está sendo encaminhado. Ainda que não tenhamos uma base fixa nesta cidade, alugamos um pequeno galpão para montarmos uma base temporária. Já despachei os recrutas para deixarem tudo preparado até a noite. E o senhor poderá dar início a segunda etapa da missão quando desejar.
— Fico satisfeito em saber. Mas não é sobre isso que quero conversar.
— Sobre o quê, então?
— Após sermos apresentados na reunião, Igni me falou bastante sobre você. Tanto sobre suas habilidades como agente, principalmente ao fato de ser uma ótima espiã, quanto a...aspectos de sua vida pessoal e conduta com determinados “alvos” de certas missões.
  Dômino possuía segredos. Muitos deles. E todos Igni tinha conhecimento. A maioria confessados por ela, outros descobertos por ele.

“Aonde ele está querendo chegar?”


— Desculpe, senhor. – Dômino achou melhor tomar a frente naquela conversa. – O fato de possuir informações sobre mim fornecidas diretamente por Igni e dizer isso claramente para mim parece que...soa como uma intimidação.
— Conhecer as pessoas ao meu redor é algo crucial para não apenas atingir os objetivos que almejo, como também sobreviver. – Lugia continuou, observando a cidade á frente. - Obter informações de outras pessoas e saber quais poderão lhe ser úteis, conquistar aquelas pessoas que você realmente acredita no valor que possuem ou até mesmo que poderão oferecer uma troca mútua...durante toda a minha vida, eu precisei aprender como jogar, de inúmeras formas até conquistar o que me pertencia. E mesmo depois tive de continuar jogando para manter o que conquistei.
— E acha que eu posso ser um problema?
  A forma como Lugia a encarou com o canto dos olhos fez Dômino sentir que talvez devesse recuar um pouco.

— Estou aqui conversando com você porque acredito que tenha um grande potencial. Eu sei o que realmente é a Equipe Rocket e os agentes que nela estão. Ainda que eu não compactue com muitas condutas, eu aceitei a proposta de ajuda fornecida por Igni acerca do que a organização pode me oferecer. Estamos em uma aliança que aos poucos se caminha para algo sólido e simbiótico, pois compartilhamos de objetivos...semelhantes.
— Encontrar e trazer seus parentes de volta a forma humana e procurar um meio de livrá-los da maldição não deve ser o único objetivo, estou certa?
   Dômino o encarou, cruzando os braços. Se tinha uma coisa que não gostava era de ser confrontada e ameaçada, por quem quer que fosse. E se Lugia tinha informações sobre ela, ela também tinha informações sobre ele.
— Isso a interessa e a preocupa.
— Um pouco de ambos.
— Eu não tenho intenção de fazer ameaças ou chantagens. – Lugia continuou, seus olhos fixos para além da cidade. – O que eu quero é poder ter pessoas nas quais eu sei que posso contar não porque se sintam obrigadas ou temerosas por isso, mas sim porque realmente compartilhem e busquem objetivos como os meus, que estejam ao meu lado porque queiram estar. E espero que você possa ser uma dessas pessoas.
— Bom... eu estou do lado de Igni e ele está ao lado do senhor. Acho que isso responde.

   Lugia apenas observou Dômino por alguns segundos e ela manteve  o semblante calmo, ainda que se sentisse incomodada. Mas ele apenas assentiu e se afastou da mureta, indo na direção da padaria.
— Senhor, se me permite uma pergunta... – Dômino falou antes que Lugia se afastasse mais. – O que o senhor pretende afinal?
— Eu já fui um rei, Dominique. E pretendo tornar a ser.

~*~


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...

Bom, eu não sei muito o que dizer, então vou deixar para os leitores dizerem haha.
Esse capítulo teve uns cortes de cena que alguns poderão achar meio abruptos, mas foi necessário para poder ter 3 cenas distintas e ainda manter as informações a serem inseridas dentro do limite de caracteres padrão por capítulo na história. Se eu nao tivesse esse limite, esse capítulo facilmente se estenderia para o dobro de caracteres.

Tivemos a conclusão da batalha da Crystal e ela obteve a insígnia de uma forma um pouco..inusitada. Mas como será que ela vai ficar por isso? Bom, acho que ela e Gary poderão ter uma boa conversa.
Tivemos também uma cena de sexo..ou melhor quase sexo...Eusine empata foda. Olha, eu acho que qualquer um no lugar do Lawrence iria querer agredir o outro colecionador rs.
Faz um bom tempo que não escrevo uma cena erótica para postar, os testes que tenho acabam ficando só no papel. Então não sei se estou meio enferrujada, mas procurei fazer o meu melhor, de forma a ficar algo agradável de ler e não vulgar. Mas, o que será que vai acontecer agora? Será que eles vão deixar pra lá ou tentar retomar de onde pararam?

Por fim, estava na hora de trazer novamente Lugia aqui. Essa parte começou com Domino (na qual pincelei um pouco sobre o que a personagem esconde em seu passado e que será trabalhado aos poucos a partir de agora e garanto, acho que vai surpreender e espero, até cativar) mas evoluiu até uma conversa entre ela e Lugia. E devo dizer que essa parte, por arceus, como deu trabalho! Eu não poderia me estender demais nela senão passaria do limite de caracteres, mas não poderia deixar para o próximo capítulo pois queria colocar uma mudança de cena já que os capítulos anteriores acabaram se centrando mais em Crystal e Alice.

Enfim...ele é um diálogo importante que mostra que o Lugia está ciente de muitas coisas e que tem objetivos bem fixos. Estaria ele, porém, se ousando e arriscando demais ou ele é alguém que sabe jogar?
Façam suas apostas.

É isso. Nos vemos em breve!



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