A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Ao todo o mundo pokémon conta, no momento, com cerca de 708 pokémon.
É impossível se lembrar de todos então, caso precise, acesse essa lista oficial:
https://pokemondb.net/pokedex/national .

Comentários e avalizações são muito importantes para incentivar a continuidade da história. Só vai lhe tomar alguns segundinhos ou minutinhos então...deixe seu comentário, elogios, críticas construtivas ou sugestões!
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~*~

Tão silencioso e vazio.

Era assim que aquele lugar era. Ele refletia sua alma.
Observou o vasto lago rodeado por montanhas que se estendia por todo o desfiladeiro. Ergueu os olhos para o céu cinzento , sentindo o vento frio rodear seu corpo, envolto em finos trajes de seda branco.
Tão só.
Não havia mais nada agora. Nada pelo qual sentisse vontade de retornar, vontade de continuar. Todos os sacrifícios haviam sido em vão e o preço a ser pago fora alto demais. Insuportável demais.
Fechou os olhos sentindo  um fio de lágrima descer por suas bochechas, gelado como tudo o mais agora, o vento tornando-se mais frio á medida que sentia seu corpo leve, tão leve que era como se estivesse se desfazendo aos poucos.
Naquela vastidão, sentia-se sozinha e perdida na melancólica paz... E soube que nada mais lhe importava.

~*~

Crystal sentiu os raios de sol em seu rosto e lentamente abriu os olhos. Remexeu-se na cama, lembrando-se que estava em seu quarto.

“ Que sonho mais estranho...”

   
   Ultimamente seu sono era pontuado por estranhos sonhos que pareciam extremamente reais, como se estivesse imersa neles de forma onipresente em sonhos e memórias que não eram dela. Era como se aqueles sonhos fizessem parte de uma história importante e há muito esquecida.
    O que mais lhe incomodava é que, ao acordar, por mais que tentasse reter as lembranças do sonho, não conseguia e á cada segundo ele ia esvaindo de sua mente. Mas sempre alguma parte ficava, alguma imagem, palavras e principalmente a sensação que lhe provocava. Era sempre uma sensação de melancolia, ora mais suave, ora mais intensa.
  Sentou-se na cama, puxando a cortina para que o sol não atrapalhasse seus olhos. Olhou no relógio de cabeceira, sabendo que precisava se levantar. Caminhou até o espelho, notando o quanto seu cabelo parecia péssimo.  
    Sua PokéGear começou a tocar e ela a desligou.
             
 - Sim, eu já sei que tenho de levantar e me arrumar. – resmungou para o aparelho.

~*~

  
   Após sair do banho, Crystal vestiu uma roupa confortável para retomar sua longa jornada, olhando se a Poké Gear estava devidamente carregada. Aproveitou para dar uma última verificada em sua mochila de viagem, para ter certeza de que colocara não tudo que deveria (caso contrário estaria levando três malas de viagem) mas o que era estritamente necessário. Colocou documentos, cartão e um pouco de dinheiro na bolsinha que levava á tiracolo e após prender os cabelos, colocou o cinto com suas seis Pokébolas.

   Crystal acabara de fazer dezesseis anos e partiria para sua segunda jornada pelo mundo Pokémon. Nascida em New Bark, no continente de Johto, Crystal começou sua jornada mais tarde do que a maioria dos treinadores. Não iniciara em sua terra natal e sim no continente de Hoenn.  Essa jornada em um lugar novo, com novos Pokémon ajudaram muito em seu crescimento não apenas como treinadora, mas também como pessoa.
    Após conquistar as oito insígnias de Hoenn e participar da Liga Pokémon de lá (não  ficou entre as 10 primeiras, mas para uma primeira vez  viajando sozinha em uma região na qual não conhecia muito sobre os Pokémon, a  13ª foi uma boa posição), Crystal voltou á pequena cidade de New Bark a fim de rever seus tios, amigos e parentes próximos.

As férias de um mês em casa foram suficiente para revigorar suas energias e agora estava pronta para partir em uma nova jornada, ainda que não tivesse decidido 100% para onde ir. Talvez Sinnoh fosse uma boa opção, ouvira falar muito bem de lá e poderia se aperfeiçoar para ter coragem de enfrentar a Liga Pokémon e a Elite 4 de Kanto/Johto.
     Só a possibilidade de vir a enfrentar a Elite 4 de Kanto já fazia seu coração palpitar, ainda mais pela possibilidade de ficar frente á frente com Ele.

     Olhou-se no espelho, avaliando a si mesma e soltou um muxoxo. Crystal era pequena e magra. Os longos cabelos tingidos de azul eram amarrados metade de cada lado do corpo e tinham tendência a armar nas pontas. Pontas essas que para sua frustração, estavam ressecadas e quebradiças, por mais que trocasse de creme reparador.
   Virou-se de lado, observando as pernas e coxas. Pelo menos elas eram grossas graças á sua vida de treinadora Pokémon, caminhando pelos mais diversos tipos de terrenos. Uma das vantagens de ser treinador era que não precisava frequentar academia para ter um físico saudável, ainda que a alimentação deixasse muito a desejar.
   Apertou a própria barriga. Talvez nesse mês em casa, comendo diariamente as refeições feita pela tia, ganhara um pouco de massa. Mas tudo bem, não era incômodo. Só tinha uma coisa que a incomodava. Levou ambas mãos a seus seios, apertando-os e observando o tamanho por baixo da blusa que usava. Pequenos. Porque tinham de ser pequenos? Da sua tia eram grandes e a maioria das meninas da sua idade possuem seios fartos. Só ela parecia ter dois limões no peito.
    Tirou a blusa, substituindo o sutiã simples por um de bojo. Colocou uma camisa mais justa e se avaliou novamente no espelho. É, estava um pouco melhor. Desceu as escadas, já com a mochila á tiracolo, encontrando sua tia no sofá, assistindo a algo na TV.

— Bom dia.
— ...bom dia....
— O que foi, tia?
— Aconteceu uma coisa estranha em Hoenn.
     Ela aumentou o volume da TV, e Crystal acompanhou a manchete.
“ Maremoto atinge Sootopolis City.”

— Estamos aqui com imagens ao vivo após o grande tsunami que atingiu a cidade. – a repórter narrava enquanto um helicóptero mostrava imagens da cidade destruída. - O incidente ocorreu durante a madrugada, de forma imprevisível e violenta.  Como podem ver, mais da metade da cidade foi destruída. Autoridades já se mobilizaram para resgatar sobreviventes. A quantidade de mortos e desaparecidos ainda não foi divulgada. Sinnoh já enviou ajuda militar e a Elite 4 de Hoenn está no local prestando auxílio na busca por feridos.

      A câmera mostrou a cidade, antes bela, totalmente devastada pelo maremoto. Prédios caídos, construções destruídas, escombros em toda parte. A desolação era de dar pena e só de imaginar o quanto de pessoas e Pokémon que pudessem estar mortos fez o coração de Crystal apertar. Odiava que essas tragédias acontecessem.

— Continuaremos acompanhando a situação em Sootópolis e aguardamos novas informações. – anunciou a apresentadora do telejornal. – Realmente é uma manhã muito triste e trágica para todos.
— Ao que parece, a central de monitoramento do oceano não havia detectado nenhuma anomalia que pudesse prever um tsunami desses. – comentou o outro apresentador. – Terrível, infelizmente. 
— Graças aos deuses você está aqui. – a voz da tia a retirou de seus pensamentos. - Se estivessem em Hoenn eu estaria desesperada!
—  Bom...eu estou aqui.  Mas...eu preciso ir hoje.
— Tem certeza de que não quer ficar mais um pouco?
— Não posso.  Já fiquei tempo demais, preciso voltar a treinar meus Pokémon, conquistar mais insígnias e...
— Eu sei, eu sei! Mas não custa tentar te convencer a ficar. Tenho de exercer meu papel de tia-Noctowl, não é? Mas venha, antes de ir é bom que tome um café da manhã reforçado.

~*~

   Após se despedir da tia (não sem antes ouvir inúmeras recomendações para que tomasse cuidado, não acreditasse em estranhos, não se envolvesse em situações de risco nem andasse por locais muito perigosos) Crystal  reiniciou sua jornada. Pensara que faria um dia de sol, mas o tempo estava nublado . Bom, havia algo positivo nesse clima: era mais fresco para andar e sem um sol escaldante na cabeça.
   Enquanto caminhava pela estrada vazia, Crystal verificou as notificações de seu Pokébook (a rede social mais popular entre os treinadores e amantes por Pokémon), respondendo há algumas mensagens e curtindo algumas postagens.

— Ah! – exclamou. – Kenta capturou um Pidove...poxa, preciso me apressar. Ainda que seja um Pokémon comum em Unova, não posso perder tempo!

    Kenta era amigo de infância de Crystal e por causa dela, ele adiara sua jornada Pokémon para que ambos começassem juntos. Isso aconteceu ano passado mas Crystal decidira que iria viajar sozinha e incentivou o amigo a fazer o mesmo. Assim ambos combinaram de  explorarem Hoenn mas cada um em uma direção.  E iriam acompanhar seus progressos através da internet.
   Kenta era seu melhor amigo e uma das únicas pessoas com quem ela mantinha contato, desde os tempos de colégio. Não tinha boas lembranças e tampouco pessoas de que gostava para manter contato. Preferia muito mais as amizades que fizera ao longo de sua jornada Pokémon.  Pois eram amizades com as quais não tinha contato físico diário ou constante, ocorrendo mais em troca de mensagens e áudios pela internet. Era melhor assim.

Crystal afastou da mente pensamentos e lembranças de sua época escolar e se concentrou no caminho que precisava seguir. Chegando a Cherrygrove, poderia pegar um ônibus fretado até Goldenrod e de lá havia opção de navio ou avião para Sinnoh. O dinheiro para pagar o passaporte? Daria um jeito, tinha uma reserva e poderia conseguir mais um pouco em batalhas Pokémon.
     Tirou seu Aron da Pokébola e o pequeno Pokémon se alegrou ao estar livre. Crystal colocou os fones no ouvido e seguiu pela estrada, acompanhada de seu Pokémon. Aron era um Pokémon típico de Hoenn e não existia em Johto. Crystal sempre achava uma graça como aquele Pokémon era.

— Aron, só não vá muito na frente. Não estou com pressa.
  Crystal colocou os fones de ouvido e envolta pela sua playlist, seguiu caminho.

~*~

— Aaaah eu vou me atrasar eu vou me atrasar!!!

   Crystal correu o mais rápido que podia com o Aron em seus braços. Acabara andando devagar demais e agora corria o risco de perder o fretado para Goldenrod. Se perdesse esse, só haveria outro no dia seguinte.
— NÃO!!!
   Mesmo gritando, não teve como  alcançar o ônibus que já passada do outro lado da avenida. Ainda abraçada ao Aron, Crystal suspirou, derrotada.

   Todo seu dinheiro estava contado  e ter que gastar pernoite de hotel logo no primeiro dia de viagem, não era algo que estava nos planos. Como de Cherrygrove para Goldenrod dava praticamente uma noite de viagem, aproveitaria para dormir no ônibus.
   Sem outra opção e resmungando consigo mesma, foi até o pequeno Centro Pokémon da cidade. O local estava vazio e na recepção estava uma enfermeira Joy entretida em pintar suas unhas de rosa-choque.

— Boa tarde.
  A enfermeira olhou entediada para a treinadora.
— Eu...- Crystal começou. – Gostaria de ter acesso aos Pokébox.
— Cinco PokéDollars a hora.
— QUÊ?! Mas, em Hoenn nenhum centro Pokémon cobra isso, nem em Sinnoh...e ano passado eu utilizei em Olivine quando cheguei de Hoenn e também não tive de pagar nenhum valor.
— Você não está em Hoenn e muito menos em Sinnoh. – a enfermeira fechou o frasco de esmalte. – Recentemente foi aprovado um decreto que permite que Centros Pokémon localizados em áreas afastadas dos grandes centros urbanos ou que se localizem em pequenas cidades, cobrem dos treinadores pelo uso de Pokébox. Você é uma treinadora, não é? Deveria saber dessas coisas.
— Até onde sei, esse decreto foi aprovado, mas ainda não estava em vigor.
— Mas já é permitido que os Centros Pokémon registrados começarem a cobrar. Depois do prazo estipulado para essa mudança terminar, todos os Centros estarão cobrando. Se quiser saber quais centros entrarão nessas normas, tem um aviso fixado na sala das Pokébox.
— ...É um absurdo! Centro Pokémon é uma obra do governo do Estado! Pagamos impostos para isso!
— O centro é, mas as Pokébox não. Todas elas são compradas de uma empresa privada e precisam de constante manutenção. Para uma Treinadora Pokémon me parece que você está bem desatualizada sobre as coisas...

  Crystal lançou um olhar irritado para a enfermeira Joy, que se recostou na cadeira com um certo deboche. Sem outra opção, Crystal pagou o valor para o acesso.
— ...A sala é ao final do corredor. Tem uma hora. – quando Crystal já se afastava, ele lembrou. – E não são permitidos Pokémon andando pelo Centro. Por favor, coloque-o na pokébola.

    Crystal colocou o Aron na pokébola e atravessou o corredor, indignada com a situação.
   O que diabos estava acontecendo com os Centro Pokémon e as Joy ultimamente? Se bobeasse logo haveria uma greve organizada pelo sindicato das Joy.
— MAS QUE PORRA DE COISA LENTA!
   Crystal parou na porta da sala ao ouvir a exclamação. Na pequena sala, havia apenas três Pokébox, um com um papel pregado dizendo que estava em manutenção. No Pokébox do lado da janela havia uma garota.

    Ela parecia realmente irritada com o que via na tela. Crystal não pôde deixar de notar as roupas que ela usava. Um vestido regato curto preto e justo ao corpo, coturnos que iam quase até o joelho, luvas que cobriam os braços mas deixavam as mãos livres. Essas repletas de anéis prateados e pulseiras. Ela usava uma coleira no pescoço e algumas gargantilhas. Seus cabelos eram tão pretos que brilhavam, longos e com algumas mechas vermelhas. Ela usava uma maquiagem escura um pouco forte para o dia e Crystal percebeu o tamanho dos seios dela realçados pelo decote. Nunca que os seus ficariam daquele jeito.
    Se aproximou da Pokébox ao lado da desconhecida, colocando a mochila ao lado (percebeu que a outra tinha uma mochila preta com estampa de Gastlys, Hunters e Gengars) e começou a acessar a Pokébox.

— Essa máquina está pior do que a que estou usando. – falou a outra. – Se tiver com pressa, vai se estressar.
— ...Tudo bem. Perdi o meu ônibus mesmo.
  Passaram-se alguns minutos até que Crystal sentiu o sangue ferver.
— Mas que droga! Essa porcaria tá muito lerda!
— ...Eu avisei. Estou aqui há quase meia hora tentando transferir dois Pokémon.
— Eu não tenho dinheiro para ficar gastando em horas porque essa máquina tá com defeito!
— Como se não bastasse termos que pagar, ainda temos que usar essas máquinas podres! Não tá valendo o dinheiro gasto!
— ...É um absurdo cobrarem. – continuou Crystal colocando cinco pokébolas sobre a bandeja de transferência. – Em Hoenn não tem nada disso!
— Veio de lá?

     Pela primeira vez a garota olhou para Crystal. Ela era um pouco mais alta e tinha olhos verdes. Crystal notou o delineado bem feito dela.
— Eu...na verdade sou de Johto, mas iniciei minha jornada Pokémon em Hoenn. Comecei ano passado.
— Hum...quis ser diferente então.
— É, pode-se dizer que sim.
  Ficaram um tempo em silêncio e Crystal pensou se deveria ou não continuar a conversa. Nunca fora muito apta a fazer novas amizades e aquela garota era bem diferente. Mesmo assim, tentou arriscar.
— ...E você é de Johto?
— ...Ilhas Chamoutti.
— Oh...
— É... – ela sorriu. – Eu sou pálida demais para ser alguém que vive em uma área litorânea, não é? Mas eu nunca gostei de pegar muito sol. Ficava em... Casa... A maior parte do tempo. Ou saía á noite.
— É treinadora também?
— Participo de batalhas de vez em quando mas não sou treinadora do tipo conquistar insígnias, participar da Liga e tal. Digamos que sou uma...pessoa que gosta andar por aí.  Ah, mas que inferno! Desisto de trocar de Pokémon! Essa bosta deslogou de novo! Vou ficar com os que tenho aqui mesmo e faço isso em outra cidade!

      Ela pegou as pokébolas no transferidor e as prendeu no cinto de couro com correntinhas que usava.
— Já era de se esperar que qualquer coisa nesse centro Pokémon seria uma droga. Ele tá decadente. Olha essa sala! Parece que era um quartinho de tranqueiras que esvaziaram pra colocar as Pokébox!

     Crystal teve que concordar. A sala era pequena, como se fosse uma espécie de quarto. A parede mal pintada, já descascando em diversas partes e inclusive atrás de uma das Pokébox, havia claro sinal de infiltração na parede. O chão era de taco antigo e a janela de madeira tinha algumas ripas quebradas.
— Poderiam arrumar direito esse lugar, quando passei na recepção, o balcão estava todo manchado e o chão imundo. Isso é algo que tem que ficar limpando o tempo todo os treinadores não tem culpa se estão com os sapatos sujos mas é responsabilidade da Joy manter o centro apresentável!
— Acho que a enfermeira Joy estava mais ocupada em  manter as unhas dela impecáveis do que manter o Centro Pokémon limpo.
— Definitivamente o sindicato precisa rever as normas de empregar Joys...Bom, eu vou embora.  - falou a moça colocando a mochila sobre os ombros.-  Boa sorte aí.
   Ela caminhou em direção á porta mas parou, olhando para Crystal, lhe piscando de forma sexy.
— Gostei do tom azul do seu cabelo, combina com você.

  Crystal arregalou os olhos e murmurou um “valeu”, mas a garota já tinha ido embora. Voltou a atenção para a Pokébox, torcendo para conseguir transferir e pegar os Pokémon antes do tempo disponível terminar.

~*~


    Crystal saíra do centro Pokémon frustrada. Perdera uma hora e cinco PokéDollars apenas para conseguir trocar um único Pokémon A vontade de chegar até a Joy e exigir compensação foi grande mas ela sabia que de nada adiantaria. Ainda mais com a disposição formidável (insira ironia aqui) da Joy para fazer qualquer coisa que não fosse cuidar de si mesma. Sorte que seus Pokémon estavam em boas condições e não precisavam ser tratados.
   Foi até o mercadinho nos limites da pequenina cidade e comprou um lanche natural, um suco e uma barrinha de chocolate. Pelo visto seria o seu jantar daquela noite. Não queria gastar o dinheiro que sua tia lhe dera pra viagem, melhor poupá-lo enquanto podia. Talvez devesse procurar alguns treinadores para batalhar. Ainda que por ali só tivesse treinadores não-oficiais, era melhor do que nada e poderia ganhar alguns trocados vencendo-os. Havia ainda algumas horas antes do anoitecer então seguiu por uma das rotas disponíveis.

   As horas seguintes foram tediosas e não muito produtivas. Não tinha interesse em capturar nenhum dos Pokémon ali. Aproveitou para treinar os seus quando um Pokémon selvagem apareceria. O resultado era pequeno mas melhor que nada Treinadores para batalhar? Achara apenas um e o dinheiro ganho era pouco. Já havia escurecido quando decidiu que precisaria procurar um lugar para dormir, mas não havia nenhuma pousada ou algo do tipo em Cherrygrove, até porque ninguém pernoitava naquela cidade que de nada turístico tinha.

   E a perspectiva de ter que passar a noite naquele Centro Pokémon a desanimava. O dormitório deveria ser péssimo como o restante do lugar e na certa a enfermeira Joy iria cobrar o pernoite alegando que era alguma nova lei ou coisa do tipo. Nessa situação, o que fazer?

— A treinadora está sozinha?
   Crystal se virou de sobressalto para trás, se deparando com dois homens vestidos de preto. Já estava escuro naquela rota rodeada por mato em ambos lados e apurando a visão que ela pôde notar o discreto R vermelho bordado no lado esquerdo do peito deles.
   Equipe Rocket.
 
— Eu não tenho tempo para conversar, boa noite.
  Mal se virou, deparou com outros dois agentes há poucos metros de si.
— Por que tanta pressa?
   Crystal percebeu que estava entrando em uma enrascada. Os Agentes Rockets já a estavam cercando, como um bando de Mightyenas cercando um Stantler. E á noite, em uma rota deserta e escura, com a cidade há quilômetros de distância e nenhum morador ou estrada nas proximidades, a situação se tornava perigosa. Instintivamente levou uma das mãos ao cinto onde ficavam as Pokébolas. O problema era que estava com um time Pokémon fraco e quatro deles estavam cansados de lutar contra Pokémon selvagens para ganharem um pouco de experiência. Precisava pensar em um plano.

— Ora, calma, calma. – um dos Rockets ergueu ambas mãos. – Não estamos querendo brigar. Podemos...conversar.
— Não estou muito á fim de conversar.
   Lançou a Pokébola soltando seu Aron. O Pokémon se posicionou em modo de ataque, á despeito do pequeno tamanho. Dois Rockets colocaram ambas mãos na cintura enquanto um fizera um sinal em direção á uma árvore, sinal que Crystal não percebeu, tampouco o quinto Rocket que se aproximava.
— Olha só, pelo visto a gracinha não é daqui...Pokémon curioso esse o seu.
— É um Aron! E não venha com papinhos pra cima de mim!
— Bravinha ela, hein? Muito bem, se quer tanto batalhar, a gente aceita o desafio.
— ...Desafio? Mesmo tentando me colocarem claramente em desvantagem?
— Todas as treinadoras de Hoenn são ousadas assim?
— Pra começo de conversa eu sou de Johto!
  Os Rockets riram e sacaram cada um suas Pokébolas. Crystal se preparou para lançar mais um de seus Pokémon, torcendo para que os Pokémons daqueles Rockets fossem fracos. Caso contrário, estaria encrencada.

~*~

   Embora aquele resultado já fosse esperado, Crystal não imaginava que terminaria daquele jeito. Seus Pokémons haviam sido facilmente derrotados e virado motivo de provocação por serem tão fracos, mas eles não estariam rindo se ela estivesse com seu time principal. Maldita hora que optara por montar um time fraco só para treinar pela região! Sem Pokémon e em clara desvantagem, Crystal foi facilmente rendida pelos Rockets. Enquanto o maior deles a segurava, os outros verificavam sua mochila atrás do que lhes pudesse interessar.
— Dinheiro ela não tem. O cartão necessita de senha. – falou um Rocket magrelo. -  Pra conseguir extrair algo vamos ter que levar ela.
— Trabalhoso demais. Pega os Pokémon e vamos dar o fora!
— E o que fazemos com a garota?
— Dá uma apagada e deixa ela ali.
— ...A gente podia se divertir um pouco com ela.

    Houve segundos de silêncio e todo o calor no corpo de Crystal desapareceu. Nunca ouvira relatos de que membros da Equipe Rocket pudessem fazer algo que não roubos. Seus pensamentos foram cortados quando se viu jogada na grama.
— Quem quer ser o primeiro?
— Eu tive ideia de abordar ela então..
— ...Vocês são nojentos. – falou o que parecia ser o líder dando as costas aos demais.
  
     Crystal se desesperou.  Era isso que lhe aconteceria?

Mas que droga de destino! Oh-Oh, me proteja!

   Então ela ouviu um urro. Um urro profundo, bestial. Abriu os olhos no momento que uma imensa sombra obscurecia a lua, com suas grandes asas. Os Rockets ergueram-se para olhar enquanto a criatura rodeava o local e se direcionava á eles. Crystal conseguiu ver que era um Charizard. Um Charizard enorme.
   O Pokémon ameaçador ergueu-se, as asas batendo no ar com um ruído como se fosse lona, fumaça saindo de suas ventas. Os Rockets demoraram alguns segundos mas rapidamente se afastaram da garota e se preparam para sacar suas pokébolas. Ainda que o Charizard estivesse bem no alto, Crystal pôde perceber que havia alguém montado nele. Algo sedoso ondulava ás costas da pessoa sob o Charizard e o primeiro pensamento de Crystal foi que pudesse ser o grande mestre de Kanto.
 - Dracarys.

“Mas que raios de golpe é esse?!”

    O Charizard abriu a bocarra enquanto avançava e um gigantesco jorro de fogo atingiu em cheio os Rockets. O campo se iluminou com as chamas, enquanto o Charizard voava sobre o local, cuspindo fogo contra os homens. Eles gritaram, o fogo crepitou e os Rockets correram desesperados, dois deles arrancando as roupas em chamas pelo caminho, outro se jogando no chão de terra batida á fim de se livrar do fogo. O que parecia o líder correu até o jipe parcialmente escondido sobre folhagens metros á frente enquanto o Charizard pousava no chão, rugindo ameaçadoramente e soltando mais um jato de fogo.
   Os Rockets fugiram em disparada, pulando no jipe e sumindo na estrada de terra. O ataque os pegara desprevenidos. A pessoa que montava o Charizard desceu do mesmo e se aproximou de Crystal, que procurava  sentar-se, ainda em choque pelo que quase lhe acontecera.

— Ei, como você está? Droga, que pergunta idiota que fiz. Vem cá, tá tudo bem agora. Eles foram embora.
    Crystal ergueu os olhos, e as chamas que se espalhavam pelo campo iluminaram o rosto da garota que vira no centro Pokémon.
— ...Você...?!
— Parece que cheguei á tempo, que bom! – ela segurou a mão de Crystal. – Eles te machucaram?
— ...Ti...Tirando meu orgulho...eu tô bem.
— Heh... Você é forte. – a garota olhou ao redor. – Parece que não deu tempo de eles levarem suas coisas. Aqui está o cinto com suas Pokébolas.
— ..Obrigada...
— Consegue se levantar?
— ...Acho que sim...como soube que eu estava aqui?
— Eu não sabia. Eu estava fugin...digo, estava dando uma volta. Ainda bem que vim nessa direção!

    Com a ajuda da moça, Crystal se levantou e sem precisar pedir, ela a estava ajudando a recolher suas coisas e colocar na mochila. Enquanto isso o grande Charizard se mantinha atento á qualquer possível aproximação.
— ...Qual é o seu nome?
— Hum? Sou Alice.
— ...Crystal.
— Que nome legal! Até que combina com você.
— ... Eita! O fogo...
— O que tem o fogo?
— Está se alastrando por todo o campo.
— Ai, caramba! – Alice gritou, olhando para o campo em chamas. – Eu ataquei sem perceber, agora não tenho nenhum Pokémon de água para apagar isso!
—  ...o meu único Pokémon de água foi nocauteado...
  Nisso ouviram sons de sirene e do outro lado do campo as sirenes de viatura.
— A polícia!
— ...Tenho de me mandar....vamos!
— Quê?! Mas por quê?!
— Eu não posso explicar agora mas mesmo assim, se a polícia ver que fui eu que coloquei fogo nesse campo, nós duas vamos estar ferradas!
— Só que... A Equipe Rocket...
— Eles já deram no pé! Confia em mim, se a polícia te abordar, vão só pedir pra você abrir um boletim de ocorrência e fim! E ainda vão te obrigar a compensar o  estrago desse campo com serviço voluntário ou pagamento de cesta básica!
— Mas foi o seu Charizard que queimou.
— Só que eu não vou ficar aqui para eles saberem disso!
  Ela foi até o Charizard, montando no grande Pokémon.
— Seguinte... – Alice lhe estendeu a mão. – Vem comigo.
— Quê?
— Estou indo para Goldenrod e meu Charizard é forte e cheio de energia o bastante para levar nós duas. Se vier comigo,  você não será abordada pela polícia e fica tudo bem.
— Mas o campo está queimando!
— A polícia sempre tem um bom Pokémon de água para conter isso de boas. Você vem ou não?

   Crystal ponderou. Sua cabeça estava á mil, ainda aturdida com o que lhe acontecera mas também temendo a represália que pudesse sofrer.
— Decide logo, eles estão vindo!
— ...Ah que se dane!
  Ela aceitou a mão que Alice lhe oferecia  e o Charizard soltou um rosnado,  alçando voo através da noite.


~*~

 Caminhou com pés descalços pelo piso encharcado do grande templo. As primeiras luzes do sol iluminavam aquele lugar que por tantas eras permaneceu oculto pelas águas. Muitas partes do templo haviam sido destruídas pela ação da água mas sua base ainda se mantinha.
  Caído  no centro do templo encharcado, estava Kyogre. O imenso Pokémon aquático arfava exausto, com ferimentos por todo o corpo.  O lado esquerdo de seu corpo estava em carne viva e fumegando, com resquícios de eletricidade passando por seu corpo, lhe causando uma dor lancinante.  Seus olhos observaram o homem que o derrotara caminhar em uma direção específica do templo mas não lhe restava mais nenhuma força para detê-lo. Fizera tudo que fora capaz e falhara.

  O homem alto e robusto,  coberto por um grande e pesado manto branco ignorou completamente o altar principal do templo, no qual raios de sol refletiam a beleza do diamante posto ali. Aquilo não o interessara. O que realmente queria estava em outro lugar.
Tateou determinado ponto da parede úmida e então pressionou de leve um dos blocos de pedra.

    Um ruído de algo pesado deslizando ecoou pelo templo e Kyogre tentou se erguer em uma última tentativa de detê-lo, mas apenas soltou um lamento doloroso.
  O homem se agachou para observar a pequena abertura que surgira e pegou a única coisa que havia ali. Com satisfação, se ergueu observando a pequena caixa de metal. Com os dedos tirou o pó que a cobria observando os  símbolos rústicos que lembravam Unows cravados no objeto.
  Um receptáculo tão simples  e que guardava algo tão precioso. Abriu a caixa que, de tão antiga, sequer possuía trava e contemplou por alguns segundos a pequenina pedra alojada ali. Pegou a pedra, colocando-a em um pequeno recipiente preso á um cordão em seu pescoço e jogou a caixa ao chão.

  Passou novamente por Kyogre que  estava inerte e caminhou para fora do templo. O sol iluminou seu rosto e ele fechou os olhos, sentindo o calor sobre a pele e o gosto salgado  do vento marinho em seu rosto.
  Bem ao longe, pôde discernir coisas que sobrevoavam a cidade que  destruíra durante sua luta com Kyogre.

  Um mal causado para um bem maior obtido. Repetiria isso quantas vezes fossem necessárias para reaver o que fora perdido.

~*~


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Notas finais do capítulo

Espero que essa fanfic, ao longo dos capítulos, se torne um enrendo que lhe interesse e cative.
Assim como fez comigo há anos atrás de modo que não consegui abandoná-la e estarei tentando escrevê-la.
Até o próximo capítulo!