A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 28
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leitor(a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.
Eu demorei para atualizar a história mas é que essas últimas semanas foi bem aceleradas e até o momento ainda estou conseguindo me organizar aqui. Devo dizer que eu fiquei bem atribulada de outras coisas que tinha e tenho pra fazer. Pelo menos sinto que consegui começar o ano mais engajada e conseguindo fazer as coisas que quero, pretendo e preciso. Não com a quantidade e dedicação que eu queria e deveria, mas já estou conseguindo. E como quem me acompanha nas demais redes sociais sabe, além da fic, eu me encho de outros hobbys...enfim.
Quando eu estou escrevendo um capítulo da fic ou quando estou escrevendo uma parte do meu original, eu me foco totalmente até concluí-lo. Não gosto de trabalhar com partes de uma mesma história ao mesmo tempo por mais que as ideias fiquem pipocando nam inha cabeça, prefiro na hora de escritar, fazer um por vez. Por isso que eu acabo demorando um pouco (ou talvez bastante haha). Os capítulos da fic de pokémon costumam levar duas semanas para serem escritos e isso porque não tenho como me dedicar unicamente na produção dele mesmo nesse tempo, sempre intercalo com outras coisas que tenho de fazer.
Quero agradecer imensamente por todo o carinho dos leitores que acompanham a história. Dessa vez, em especial, quero agradecer a Nightmare pelos comentários nos capítulos que me enchem de motivação e ao Lauro também, por acompanhar e comentar. Muito obrigada meus queridos! Além de acompanharem a minha fic, eles também escrevem ótimas fics! ♥
Enfi, não quero me estender muito aqui porque sei que estão curiosos para o novo capítulo então deixarei para comentar sobre ele nas notas finais.
Boa leitura!



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~*~


   Crystal inspirou profundamente, sentindo o aroma perfumado que pairava em todo o ambiente. Eram aromas diversos, alguns mais fortes, outros mais leves mais cítricos ou mais adocicados. Toda a natureza ali era muito bonita e colorida. E, na tarde ensolarada, caminhar ou mesmo apenas ficar sentado apreciando o ambiente, era uma excelente opção de passeio. Havia tantas espécies de plantas e flores nos canteiros, em suportes nas árvores e em bases e vasos de pedra que chegavam a atordoar um pouco a vista. Era uma profusão de cores, formatos e aromas diferentes que faziam Crystal sorrir.

   O Parque Botânico de Ecruteak era na verdade um grande jardim que outrora fizera parte de um antigo palácio de uma nobre e antiga família. Poucas informações havia sobre a quem inicialmente pertencera a propriedade (muito provavelmente tais registros haviam se perdido para sempre no incêndio histórico ocorrido na Burning Tower), pois ela tivera muitos proprietários ao longo dos séculos até se tornar um patrimônio histórico e propriedade da prefeitura, que não apenas tornou o local de acesso público como também o reformou para transformar a residência em um museu e o grande jardim em um parque botânico. Assim, o local passou a ser um ponto turístico calmo e belo, onde funcionários e jardineiros procuravam deixar cada canto bem cuidado e as plantas exalavam vida, desabrochando e se desenvolvendo. O local ali era calmo e diversidade e profusão de cores fazia quase parecer estar em um jardim mágico dos livros infantis que costumava ler. De onde Crystal estava, podia contemplar um belo cenário florido e verdejante, uma pequena lagoa na qual havia plantas aquáticas e, mais a frente, uma pequena ponte vermelha em estilo japonês.

   Sentada em um graciosos banco de madeira embaixo de uma grande e frondosa árvore  de folhas verde-escuras repletas de pequenas flores amarelas, Crystal observava no canteiro florido á sua frente, rodeado por uma pequena cerca viva repleta de pequenas flores rosa choque. No meio do jardim, três de seus pokémon aproveitavam o passeio. Brellon cochilava deitado na grama aproveitando o sol, Beautifly praticamente voava de flor em flor aspirando o aroma e sorvendo o néctar de algumas, como se estivesse em uma espécie de feira de degustação e Bulbasaur explorava o canteiro com a curiosidade de um filhote mesmo já sendo um pokémon quase adulto.

   Crystal o observou, pensando que mais cedo ou mais tarde deveria começar a tentar treiná-lo para batalhas. O Bulbasaur tinha se mostrado, logo de início, um pokémon muito amigável e carinhoso e não deveria ser difícil fazê-lo aceitar ser treinado. Porém, vendo o pokémon ali parecendo tão pacífico e feliz, Crystal pensou se, talvez, fosse certo colocá-lo para combate.
   Era fato que, tradicionalmente, um treinador ter um pokémon significava colocá-lo para batalhas contra outro pokémon. Mas havia muitas pessoas que tinham pokémon apenas como mascotes, para companhia mesmo.

   "Eu sou uma treinadora que segue jornada, entra em batalhas e compete em Ligas. Todos os meus pokémon são usados em lutas: alguns mais outros menos. Mas se eu tivesse um pokémon e decidisse criá-lo em um modo sem batalhas, como os outros que utilizo em batalhas reagiriam? Eu gosto de todos os meus pokémon igualmente, não quero que eles pensem que eu tenho preferência por algum!”


   Interrompeu seus pensamentos quando avistou Alice se aproximando acompanhada por Gary Carvalho.
   Crystal suspeitava que havia algo “rolando” entre aqueles dois no primeiro momento em que viu a forma como eles interagiam entre si. E a suspeita se confirmou quando ontem, ao olhar para uma das janelas da recepção do hotel para saber o por quê de Alice estar demorando para entrar,  e a viu aos beijos com Gary no jardim lateral do hotel.

   Depois, quando Alice se despediu do rapaz e as duas amigas subiram juntas para o quarto, Crystal não falou nada, embora tivesse curiosidade em saber como a amizade deles havia se tornado mais íntima. Mas como Alice não comentara nada, Crystal decidiu não perguntar para não correr o risco de parecer interesseira.
   Queria muito que sua amizade com Alice se tornasse o nível de “best friends forever” que via diversas meninas tendo, no qual compartilhavam segredos e confissões, mas  sabia que isso era algo que se levava tempo em uma amizade e mesmo assim poderia nunca acontecer. Sua vida meio escassa de amizades era um exemplo disso.

   E olhando os dois se aproximarem, Crystal achou que Alice e Gary combinavam juntos. Eles tinham o mesmo estilo e, embora estivessem com roupas pretas simples, eles destoavam totalmente do cenário do parque e chamavam a atenção.

“Gente estilosa fica estilosa em qualquer lugar.”

— Desculpa a demora, Crys. – Alice falou, sentando-se ao lado dela. – O Gary não estava no ponto de encontro certo.
— Eu? Você que não estava me achando! Eu estava te esperando na fonte da entrada. Não tenho culpa se esse parque tem duas entradas com duas fontes perto delas!

   Crystal achou que aquilo era só uma desculpa para os dois não admitirem que deveriam ter estado trocando uns beijos, mas não comentou nada.

— Não tem problema, aqui está bem gostoso e relaxante de ficar. – ela falou. – Ficar admirando os jardins traz até uma certa tranquilidade.
— Esse jardim botânico é muito bonito mesmo e todo o aroma das flores deixa a gente assim. Seus pokémon parecem estar gostando. – Gary comentou.
— Eu pensei que não permitiam que pokémon pudessem andar por aqui.
— Eu li em uma placa de que era permitido. – disse Crystal diante do comentário de Alice. – Contanto que cumprissem certas normas – ela enumerou. – Pokémon que tivessem um dos tipos Planta ou Inseto, que fossem treinados e que tivessem pequeno porte.
— Quanto ao tamanho do pokémon eu entendo. – Alice comentou. – O parque aqui não é muito grande e tem caminhos estreitos, jardins com plantas delicadas. Imagine alguém soltar um Onix por aqui!
— Nossa, se soltar um Onix aqui seria uma atitude muito sem noção! Até mesmo um pokémon do porte de Nidorina, por exemplo, já seria meio complicado.
— Não subestime a falta de noção de treinadores pokémon. – Gary falou com certo deboche. – Eu já vi cada um enfiar e andar com pokémon pra tudo que é lado e lugar que falta de noção é pouco pra definir. Conheci um que vivia pra cima e pra baixo com um Pikachu no ombro, parecia uma extensão do corpo dele. Capaz de quando ele ia cagar, o pokémon ia junto e ficava vendo!

   Ele deu uma risada curta de deboche, sentando-se numa grande pedra lisa na frente do banco em que as garotas estavam e tirando um isqueiro e um cigarro do bolso do colete que usava.

— Você não tinha dito que ia parar de fumar? – Alice perguntou.
— Eu disse que estava pensando em parar, não que ia fazer. – ele acendeu um cigarro e deu uma tragada. – Mas dei uma boa diminuída.
— Cuidado para nenhum funcionário te ver fumando aqui. – Alice falou. – Senão vai levar esporro sobre o risco de botar fogo no parque. Já não permitem que soltem pokémon de Fogo por aqui por considerarem arriscado.
— Bom,  essa proibição até que faz sentido.  – disse Crystal olhando ao redor. – Aqui tem tantas plantas e flores que o risco de um pokémon cuspir fogo e as chamas estragarem algo e se espalharem é bem grande. Talvez por isso que Arceus nunca criou um pokémon do tipo Fogo e Planta.
— Ainda. – Alice resmungou. – Talvez exista algum pokémon com esses dois tipos que ainda não foi descoberto.
— Você é religiosa?

  A pergunta de Gary fez Crystal sentir-se um pouco em dúvida antes de responder.
— Mais ou menos. Meus tios tem religião em Arceus, mas não são do tipo que cultuam e tal. Acho que nunca parei para pensar muito sobre esse negócio de religião e fé, na verdade. E vocês? Seguem alguma?
— Bom, eu não acredito em nenhuma. – Gary foi categórico.
— Eu? – Alice deu de ombros. – Depois que você convive com uma pessoa com Lawrence e aprende sobre história das civilizações e todo aquele negócio político, artístico e histórico, não consegue crer em nenhuma religião.
— Enfim, eu não vou botar fogo em nada. – Gary falou. – Não sou de ficar botando fogo nas coisas. – Alice abriu a boca para falar, mas o rapaz se adiantou. - Aquela vez na fazenda do meu avô no natal, foi uma exceção!  Aqueles parentes eram insuportáveis.  Eu só me excedi porque eles que começaram!

   Crystal ficou curiosa em saber mais sobre aquela história, mas Beautifly se aproximou, segurando uma flor amarela em suas patinhas.
— Oh, Beautifly, é pra mim? – a pokémon assentiu, batendo as asas para se manter no ar e Crystal pegou a flor, notando que era uma Frésia. – Muito obrigada, é linda! Vou colocá-la na nossa caixinha, junto com as outras!

   A pokémon ficou contente em ouvir aquilo e voou novamente para o canteiro, a fim de continuar explorando as flores. Crystal tratou de guardar a flor com cuidado em uma das divisões da bolsinha que levava á tiracolo e, notando o interesse de Alice, explicou.
— Beautifly sempre teve esse hábito de colher flores quando a deixo solta. Ela sempre escolhe uma flor e me entrega, como um presente. É assim desde que a capturei, quando era apenas uma pequena Wurmple. Então, passei a guardar cada flor que ela me deu, aplicando um produto para conservá-las dentro de uma caixa que deixo em casa.
— Que fofo! – exclamou Alice. – Sua Beautifly gosta mesmo muito de você.
— Ela foi o primeiro pokémon que capturei. E muitos costumam dizer que o primeiro pokémon que capturamos acaba tendo um vínculo meio que único. Com vocês foi assim também?
— Bom, o primeiro pokémon que capturei foi um Litleo. – Alice pensou um pouco, como que lembrando. – Mas apesar da aparência fofa, ele nunca foi um pokémon muito amoroso, sempre foi meio arredio com carinhos, embora muito obediente para batalhas. Quando evoluiu para Pyroar, ele ficou mais, digamos, “na dele”.
— Péra. – Gary cortou. – Se me lembro bem, você não tinha ganhado esse pokémon do seu tutor?

   Havia um sutil tom de deboche no fala da última palavra.

— O meu Litleo era da ninhada de um Pyroar do senhor Lawrence. O pokémon havia dado cria e ele disse que eu poderia escolher um dos filhotes.
— Então você ganhou ele, não capturou.
— Eu joguei uma pokébola nele depois de uma batalha contra meu Charmander. Então o capturei!
— Independente de você ter batalhado ou não e jogado a pokébola, o seu tutor ia te dar o pokémon, você sabe disso. Só não foi dentro da pokébola embrulhado no papel de presente. – Gary deu uma tragada no cigarro e expeliu a fumaça. - Isso é algo bem típico dele.
— Você sempre tem que arranjar alguma provocação sobre ele, não é Gary?
— E desde quando é provocação se é uma verdade?

   Crystal percebeu que a conversa iria se alterar pelo tom de voz que ambos começavam a adotar e tratou rapidamente de tentar mudar de assunto.

— Alice, eu gostei muito desse lugar. Realmente, é bem gostoso passear por aqui, meus pokémon estão adorando! Mas eu pensei que íamos visitar a Bell Tower ou algum outro ponto turístico histórico mais famoso da cidade...
— E nós ainda vamos! – a morena a encarou. – Mas para ir nesses lugares, é melhor irmos com tempo, para aproveitar melhor. E depois da noite meio difícil, é bom tentar distrair para a batalha no ginásio mais tarde.

   Crystal sabia que Alice se referia ao sonho (ou melhor, pesadelo) que tivera durante a madrugada. Realmente, sentia-se cansada hoje, mas pelo menos estando no parque, conseguiu se distrair e não pensar nas imagens e sensações que aqueles acontecimentos haviam lhe causado. A bem da verdade, já não se lembrava direito mais e talvez fosse melhor assim. Mas agora com o horário de desafiar o líder de ginásio se aproximando, sentia o estômago agitar-se.

— Ah, sim. A batalha...espero que a estratégia que bolei dê certo.
— O ideal é não ficar muito bitolado com esse negócio de estratégia de batalha, ainda mais quando é batalha por insígnia. – Gary deu mais uma tragada no cigarro. – Escolhe seus pokémon, traça um plano básico e pronto!  Batalhas pokémon tendem a ser meio imprevisíveis, então é melhor não encucar demais antes. Porque, se algo der errado na sua estratégia, você vai ter mais dificuldade em pensar rápido para improvisar.
— Ouça o Gary. – Alice tocou no ombro da amiga. – Se tem alguém que sempre se sai bem em quase todas as batalhas, é ele. Apesar de muitas vezes ser um chato!
— Chato que você não vive sem.

   Ambos se encararam com risinho de deboche e logo Gary voltou a atenção para o Bulbasaur que se aproximou, curioso pela fumacinha que saía do cigarro entre os dedos do rapaz.

— Ei, garoto. Isso aqui não é pra você, não! – ele riu, trocando o cigarro de mão e acariciando a cabeça do pokémon. – Ele é seu?
— Sim. O Capturei em Ilex. – falou Crystal, mas logo se corrigiu. – Na verdade, ele quis vir comigo.
— É um bom pokémon. – Gary deixou que o pokémon brincasse com a corrente que ele mantinha pendurada no cinto da calça. – Se treiná-lo bem, pode se tornar um ótimo pokémon para batalhas, ainda mais se evoluir até um Venusaur.
   Crystal estava para dizer que pensava se realmente treinaria o Bulbasaur para batalhas quando Alice exclamou.

— Crysal, você tinha marcado lá no ginásio com o Morty ás quatro hora? – ela afirmou. – Já são três e meia!
— Nossa, já?! Caramba, acho que é bom irmos então. Não gosto de chegar atrasada! – ela se levantou. – Bulbasaur, Beautilfy, Faurinho! – ela chamou os pokémon. – Está na hora de irmos!
— Em se tratando do Morty, não precisa se preocupar quanto a se atrasar. – Gary apagou a bituca do cigarro na pedra. – É mais possível ele se atrasar para chegar no ginásio do que você chegar lá e dizer que está atrasada.
— Mesmo assim, eu prefiro chegar no horário! – Crystal reiterou. – Ei, Faurinho. Fez uma boa fotossíntese?

   O Breloom que se aproximava fez um gesto positivo com a cabeça, espreguiçando-se em seguida e parecendo satisfeito. Crystal lhe fez um carinho e o enviou de volta para a pokébola, fazendo o mesmo com Beautifly e Bulbasaur.

  Alice notou que a amiga estava com um semblante mais leve e, embora fosse perceptível que ela estivesse ansiosa para a batalha, conseguia ficar mais tranquila e bem disposta. E achou isso bom,ficando  satisfeita por ter podido ajudar de alguma forma até porque, a forma como acordou e viu Crystal aos prantos, acometida pelo pesadelo, lhe deixara assustada.  Assim, pensou que o melhor até o horário de ir para o ginásio fosse levar Crystal  no parque.
  Se bem que, embora não fosse dizer, o motivo principal de ter escolhido o parque para o rápido passeio era porque tinha um  motivo particular para isso. Olhou para a tela do próprio celular, relendo a mensagem que havia recebido no PokéZap logo pela manhã.

“ Estarei em Ecruteak para resolver alguns negócios. Como me disse que estaria na cidade, podemos nos encontrar em algum lugar e se quiser. Mas não poderei ficar muito tempo em Ecruteak, somente este final de semana.”


    O recebimento da mensagem a havia pego de surpresa. Não esperava que Lawrence entraria em contato, ainda mais propondo que se encontrassem.  O último encontro havia terminado de uma forma um pouco complicada, embora bem menos complicada do que da última vez em que haviam se falado antes dela ter decidido viajar pelo mundo.
   Mas a chance de poder encontrar o empresário provocou em Alice uma agitação dentro de seu corpo. Queria encontrá-lo, porém, já havia combinado antes mesmo de receber a mensagem, de acompanhar Crystal na batalha no ginásio e provavelmente após a batalha, a galeria iria sugerir que saíssem para fazer alguma coisa. E ainda tinha Gary.

   Sabia que, se Lawrence e Gary se encontrassem, poderia haver tanto uma situação de desconforto quanto de aporrinhação (de ambas partes) para o seu lado depois. Por conta disso que havia sugerido a Crystal que fossem passar um pouco da tarde no parque. Claro, o fator principal era realmente ajudar a amiga a relaxar.Mas o jardim botânico era um lugar que Lawrence não frequentava (porque não precisava) então era mais tranquilo de se ficar sem correr o risco de ele e Gary se trombarem. Ou pior...de Lawrence vê-la com Gary.

— Alice, ei, Alice!!
— Hãn, o quê? – a garota saiu de seus próprios pensamentos, levantando os olhos da tela do celular.
— Vamos para o ginásio! – pediu Crystal. – Eu estou um pouco ansiosa...
— O que você está vendo de tão interessante?
— Quê? Ora, nada! – Alice guardou o celular antes que Gary olhasse. – Estava só vendo a quantidade de curtidas na última foto que postei no Pokebook! Bom, vamos para o ginásio!

  Ela se aproximou de Crystal, envolvendo os ombros da amiga com um dos braços. Pensaria sobre seu encontro com Lawrence depois, o melhor era focar no que precisava fazer no momento: ajudar Crystal a vencer mais uma batalha.
— Vamos lá, Crys! Tenho certeza de que você vai dar uma surra nos pokémon do Morty!
— O Morty ai ficar putaço se ouvir isso...
— Vai nada! – ela riu diante do comentário de Gary. - Capaz dele fazer quase nada pra batalha terminar logo. Quando a avó dele não está lá, o Morty fica bem relaxado.
— Isso é verdade. – Gary olhou para Crystal. – Pode ter certeza que essa vai ser a batalha de ginásio mais fácil que você vai ter.
  Crystal deu um sorriso amarelo.
— Tomara...

~*~


   Ela contemplou as florestas e montanhas que se estendiam a sua frente. Toda aquela natureza antiga e silenciosa causavam uma agradável sensação de paz. Uma paz falsa, mas ainda assim, uma paz. Podia sentir o vento em seus cabelos e os raios de sol em sua pele e isso era um alívio.
   Articuno olhou para as próprias mãos, notando sua pele escura, os dedos finos e as unhas bem aparadas. Gostava de suas mãos, muito melhor ter elas do que asas ou garras.

  Voltou os olhos para o lado Leste, onde poderia ver parte do complexo central da base Rocket. Todo aquela lugar pertencia a tal organização, com seu campo de treinamento, depósitos de armas e pokémon, laboratórios, alojamentos, heliporto e tudo o mais que fosse necessário. Ainda não fora até o local, permanecendo no estranho forte instalado entre a montanha que ficava na parte mais afastada. Mas pelo que já pudera saber, a Equipe Rocket tinha toda uma infraestrutura digna de um grande exército.

“ Exércitos são essenciais. Mas seriam esses Rockets um exército ideal?”

  
   Articuno ouviu ruídos de luta e olhou para baixo. Um gramado se estendia por alguns metros, terminando em um declive no qual se podia ter uma noção da altura pela copa das árvores que estavam embaixo.
   Ali perto, Moltres e Lugia trocavam golpes que variavam entre socos e chutes. Na verdade, Moltres atacava e Lugia defendia. Quem visse, poderia pensar que aquela era uma briga séria pela forma feroz e precisa com que Moltres atacava o homem visando acertar pontos específicos do corpo dele e Lugia mantinha-se atento e rápido em aparar e bloquear os golpes. Mas Articuno sabia que aquilo era um treinamento e uma brincadeira entre seus dois irmãos, uma forma de exercitarem suas habilidades de combate corpo a corpo.

   Articuno jamais pensou que veria novamente uma cena assim. Na verdade, sequer se lembrava dela até vê-la. Tanto tempo havia passado presa na forma de pokémon que, percebia agora, que todo aquele tempo era nebuloso e pouco se lembrava.
  Como se percebesse que era observado, Lugia bloqueou um chute aéreo de Moltres e olhou para cima. E, percebendo, Moltres fez o mesmo. A irmã caçula sorriu, acenando animada para Articuno, que retribuiu o gesto com um aceno discreto da não e um aceno da cabeça, também discreto, para Lugia.

  Os dois logo retomaram seu treino e Articuno saiu da varanda. Treinamentos de combate não eram coisas que ela praticava. Saiu da varanda e, dentro do quarto, ela abaixou temperatura do ar condicionado. Após o “choque térmico” que lhe disseram que havia tido na caverna logo que voltou para a forma humana, agora tornava a apreciar temperaturas mais frias.
   Sentou-se na cadeira em frente a penteadeira e olhou para o próprio reflexo no espelho, pegando uma escova e começando a pentear os longos e fartos cabelos pretos.

   Batidas na porta. Articuno murmurou um “entre” e a porta deslizou para o lado. O jovem Mondo surgiu receoso, segurando uma grande bolsa a tiracolo e puxando uma grande mala de rodinhas.
— C-com licença, lady Artie. Trouxe o que me pediu.

  Articuno achou inusitado o título e apelido que Mondo lhe chamava, mas aceitou, indicando ao garoto que colocasse as coisas sobre a cama. Quando ela se levantou, Mondo percebeu o quanto a mulher era mais alta do que ele.

“ O que não é algo incomum, já que é bem capaz de eu ser um dos agentes Rockets mais mirradinhos como já ouvi muitos falando pelos cantos...”

Mondo deixou os próprios pensamentos de lado e tratou de colocar as malas sobre a cama, as abrindo e começando a tirar delas, peças de roupa.
— Trouxe diversas peças de roupas e looks que eu montei e achei que poderiam ficar bons! – ele começou a falar de forma rápida. - A moda nos dias de hoje é bem diversificada então eu procurei trazer as peças mais bonitas que pude encontrar! Mas como a cidade mais perto daqui não é muito grande, tem poucas lojas de roupa. Mas se gostar de alguma peça e quiser outras parecidas, posso providenciar encomendando pela internet ou...

   Enquanto o garoto falava, ia estendendo sobre a cama diversos trajes. Havia blusas, saias, calças vestidos, sapatos e peças íntimas. Articuno pegou um vestido regato em tons de azul degradê.
— Percebi que a maior parte das peças que trouxe possuem tons azuis. Algum motivo específico?
  Mondo corou.

— Hã...é que..b-bom...A-azul é uma cor muito bonita, eu pelo menos acho! E como a senhora é Articuno eu pensei que talvez gostasse. Mas se não gostar dessa cor, eu peço perdão porque não queria ofender! Eu posso trocar as peças, substituir pelas cores que a senhora mais gostar!
— Eu gosto de azul.
— Hãn...que bom! Eu separei algumas peças aqui que podem combinar com...

   Enquanto Mondo se focava em explicar e mostrar cada peça, ele não notou a forma sutil como Articuno o analisava. O pouco que ela sabia sobre o rapaz era que ele havia sido designado por Igni para auxiliar a ela e seus irmãos no que eles precisassem acerca de necessidades e informações sobre o “mundo atual”. Igni garantira que o garoto era confiável, deixando bem claro (na frente deles) que Mondo fosse o mais prestativo e dedicado possível. Desde então, Mondo vinha se mostrando exatamente desse jeito, de modo que talvez ele pudesse ser útil para outras coisas...
  Articuno decidiu que, sendo aquela a primeira vez em que ficava a sós com o garoto, tratou de iniciar sua abordagem.

— Então...Mondo, não é? Você está há muito tempo na Equipe Rocket?
— S-sim, lady Artie. Já sou Rocket há dez anos.
— Tudo isso? Você parece bem jovem...qual sua idade?
— Tenho vinte e dois, lady Artie.

“Treze anos quando entrou nesse lugar, praticamente uma criança. Se fosse em tempos antigos, seria algo comum, mas nos dias atuais...”


— Entrou aqui bem jovem mesmo. Você teve algum motivo específico que o fez querer ser um membro dessa organização e permanecer aqui?
— Motivo? – Mondo sorriu, tirando um par de sapatos da caixa. – Era entrar para a Equipe Rocket ou viver nas ruas.
— ... e sua família? Sapatos bonitos.
— Né? Achei eles super fashion! Eu sou órfão.
   Articuno murmurou um “oh” e colocou o vestido que tinha em mãos, na frente do próprio corpo, olhando-se no espelho.

— Qual sua real função aqui, Mondo?
— C-como assim?
— Você está aqui há muitos anos. - Articuno colocou o vestido sobre a poltrona, para experimentá-lo mais tarde. – Me disseram que a Equipe Rocket possui agentes de diversos níveis, algo como patentes militares. Você está aqui há dez anos, assessorando agora a mim e meus irmãos, deve ter um dos níveis mais altos entre os demais membros.
— Eu?! Oh, não! - Mondo deu um sorriso servil - Eu sou apenas um agente C, nível mais alto só do que um recruta.
— Sério? Por quê? – Articuno examinou uma saia e a deixou separada.
— Eu não sou habilidoso, forte, grande treinador pokémon, eficiente ou inteligente.  Eu não me destaco em nada, então não tenho motivo para ser promovido.
— Mas você está aqui e é, como se chama mesmo, secretário de Igni. E Igni é o comandante de todo desse lugar. Ser secretário do líder é uma posição que demanda responsabilidade e confiança.

  Mondo corou, constrangido e sentindo-se desconfortável.
— Eu tento apenas fazer o meu trabalho da melhor e mais honesta forma que consigo! Embora eu não seja muito inteligente, sou esforçado e útil, é o que o senhor Igni mesmo diz.
— Ele diz isso para você?
— Não apenas eles, mas muitos outros agentes...m-mas eu não estou reclamando, claro que não! Sou muito grato ao senhor Igni por me dar esse cargo mesmo eu não achando que sou o melhor para tal! Mas eu tô sempre me esforçando!

   Articuno percebeu o nervosismo do rapaz. Era visível que ele tinha, além de ansiedade, um complexo de inferioridade e subserviência.

— Eu tenho consciência de que, mesmo me esforçando, posso não ser de nível suficiente para servir adequadamente sua família então... Sei que é errado pedir algo para pessoas tão nobres como vocês, mas eu peço que, se eu estiver fazendo algo errado por favor me digam e eu irei consertar e melhorar! Mas me digam antes de falarem para o senhor Igni!

   Mondo parou de falar quando percebeu que havia se excedido, pois Articuno o encarava de forma inexpressiva. O garoto mordeu os lábios, aguardando uma fala de desprezo. Mas se surpreendeu quando a bela mulher se aproximou e segurou uma de suas mãos.

— Você está sendo um bom ajudante para nós aqui, Mondo. – ela falou de forma gentil. – E sua sinceridade e esforço em querer fazer um bom trabalho é algo que eu e meus irmãos apreciamos muito nas pessoas que nos servem. Espero que continue assim.
— Cla-claro, lady Artie! Farei o meu melhor! – ele corou, se curvando em respeito. - Se precisar de algo, eu posso trazer outras peças de roupa, alguns livros e filmes, posso também providenciar algo para comer, posso...
— Algo pra comer seria bom. – ela soltou sua mão. – Como é mesmo o nome daquela comida redonda com recheios em cima?
— Pizza? Claro posso providenciar sim, imediatamente!
— Agradeço.
— E aproveitando um pouco de sua boa vontade...gostaria de fazer mais um pedido. – Diante das palavras dela, ele balançou a cabeça em afirmação, atento.- Você certamente conhece praticamente todos os empregados da Equipe Rocket, certo?
— B-Bom, conhecer todo mundo assim, eu não conheço. Mas conheço boa parte, os melhores agentes ...precisa de alguém em específico?
— Sim. Preciso de uma aia. – ela fez um “tsc” e corrigiu-se. – Preciso de alguém que possa auxiliar com afazeres básicos no dia á dia. No passado, sempre tive aias para me ajudarem e confesso que preciso de alguém para isso agora. Acha que poderia conseguir uma moça? Alguém que seja prestativa e prendada.
— C-claro, lady Artie! Posso sim!

— Então por favor, faça isso. O quanto antes, se possível. – ela pareceu pensar um pouco antes de dizer. – Mondo, ouça bem. Se você precisar de alguma coisa ou se te fizerem alguma coisa, saiba que pode vir falar comigo. Sei que não nos conhecemos direito ainda, mas sinto que você é uma boa pessoa e sempre acerto em minhas deduções. Então se alguém, qualquer pessoa, até mesmo Igni, lhe dizer algo ruim ou obrigá-lo a fazer algo ruim, não tenha medo e venha falar comigo. Quero poder te ajudar, como uma forma de agradecer pela ajuda diária que está me dando aqui.
— Fico li-lisonjeado, lady Artie!Mas é o meu trabalho ajudar e faço isso como dever, mas com gosto também! Pode deixar que eu vou encontrar alguém que possa lhe ajudar no que precisa! Vou selecionar algumas pelo banco de dados, verificar disponibilidade, creio que o senhor Igni não fará objeções por ser um pedido direto seu! Posso até fazer entrevistas com algumas ou...
— Faça o que achar melhor. Mas providencie uma para mim o quanto antes. Agora, pode se retirar. Quando precisar, o chamarei por aquele aparelho ali. – ela apontou para um painel próximo á porta. – Interfone, não é?

  O rapaz afirmou freneticamente com a cabeça. Agradeceu, se curvou em respeito algumas vezes diante do sorrido amigável de Articuno. Mondo se curvou em agradecimento e se retirou do local, disposto a mostrar um trabalho rápido e eficaz, sentindo que, a despeito de todo seu poder e altivez, Articuno era alguém muito gentil.

   Assim que ele saiu, Articuno desfez o sorriso.
  Mondo era realmente um garoto prestativo, dedicado e inocente. E isso poderia vir a ser uma fonte de informações interessante e aproveitável.  Sim, ele poderia ser muito útil para ela obter informações importantes sem despertar suspeitas de Igni. Afinal, tanto ela quanto Lugia sabiam que não se podia confiar completamente nas pessoas que estavam no comando daquele lugar.

“Posso não saber manejar armas físicas para lutar, mas isso não significa que eu não saiba lutar. Eu sei lutar. De uma forma diferente.”

~*~


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...
Ufa, esse eu demorei pra conseguir terminar! Muitas coisas para fazer muitas coisas na cabeça. Mas consegui!
O que posso dizer sobre ele? Bom, quis inserir um pouco de leveza já que o episódio anterior teve duas cenas um pouco mais intensas/reveladoras.
Eu gosto de me arriscar em trabalhar os pensamentos de Crystal mas acho que a parte mais dificil foi, sem dúvidas, a Articuno. Ela é uma personagem que ainda tenho dificuldades em conseguir trabalhar e mesmo os lanos futuros pra ela também me serão um pouco desafiadores. Mas espero ter conseguido mostrar um pouquinho dela nesse capítulo. O interessante é que, justamente enquanto planejava este capítulo é que me veio uma ideia para Articuno e eu vi que poderia remodelar parte do queeu havia pensado para ela, começando a desenvolver uma outra construção que eu acho que será melhor. Espero ter tomado a decisão certa!
Enfim, acho que por enquanto é isso. Quero agradecer imensamente por você continuar aqui acompanhando esta história e fique á vontade para comentar, adoro ler opiniões e sugestões!
Se cuidem, cuidado com o covid, espere pela vacina e até o próximo cappie!



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