A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 26
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leito(a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.
Começo agradecendo ao apoio que dão á esta história. Sei que atrasei uym pouco a atualização mas quando me dei conta disso, comecei a escrever (deixando de lado esses dias a escrita do meu original) e me surpreendi em como a escrita do capítulo fluiu bem e até que rápido. Acho que isso se deve porque escrevi todo o capítulo no papel e depois que passei para o pc. Realmente, sou escritora que funciona melhor do jeito antigo.Já fazia isso com meu original, vou fazer com a fic de pokémon também.

Recentemente, tive algumas ideias acerca de "plot" que irão acontecer ao decorrer aqui da história futuramente e como gostei delas, tenho pensado em como inserir e conduzir de forma a não comprometer ao que já foi colocado e indicado nos capítulos anteriores.
Esse tipo de coisa é algo natural de se acontecer em qualquer processo literário mas, enquanto na criação de um original/livro você tem a liberdade de alterar e refazer determinadas partes tendo em vista que só publicará quando estiver com a obra finalizada. O mesmo não é possível em uma história que você esteja publicando á medida em que escreve. Então a fic aqui me trás um novo desafio.
Enfim, informações do que aconteceu no capítulo eu comentarei nas notas finais.
Boa leitura!



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~*~

  
   Era finalzinho da tarde quando Crystal tornou a ver o céu e ouvir o silêncio apaziguador da estrada. Havia passado as últimas horas presa em um cubículo abafado com luzes piscantes, ar fumacento e um barulho alto e ininterrupto de batidas de bateria, cantos agressivos e arranjos de guitarra. Tudo ainda ecoava em sua cabeça e aliado á fome, lhe fazia se sentir um pouco tonta. Espreguiçou-se, alongando um pouco os braços enquanto olhava para o grupo que terminava de fechar a antiga capela. Na certa eles já haviam atingido a maioridade e isso a fez se lembrar da vez que lera sobre a Lei da Maioridade.

   De acordo com a lei das Regiões Unidas em aliança com o comitê da Liga Pokémon, a maioridade para os jovens era dividida em duas partes.
   A primeira compreendia do momento em que o adolescente atingia a idade para se tornar Treinador Pokémon e sair em jornada. Durante muitos anos, a maioridade para isso era de apenas 10 anos. Porem, após inúmeros problemas, vítimas e pressões de defensores da Criança e do Adolescente, a idade mínima para se tornar Treinador Pokémon passou a ser de 13 anos.
   A segunda maioridade, imposta pela lei, era a definitiva, que permitia ao jovem, a partir dos 16 anos ser inteiramente responsável pelos seus próprios atos. Além dos direitos já adquiridos pela Primeira Maioridade, a Segunda Maioridade permitia ao jovem responder pelos próprios atos. Só algumas poucas atividades haviam sido permitidas apenas aos maiores de 18 anos.

— Acho que assim já tá bom! – resmungou Morty enquanto Foress terminava de pregar as tábuas colocadas na porta. – Ninguém vai aparecer aqui, não! Eu tô morrendo de sede, preciso de um goró!
— Eu estou com fome. – reclamou Alice. – O que acham de comermos uma pizza?
  A aprovação foi unânime e logo o grupo seguia em direção á cidade. O pôr do sol em seus tons alaranjados atrás das montanhas que ficavam no limite da cidade oposto ao que eles estavam, emolduravam o último andar e o telhado em estilo feudal japonês da bela e sagrada Torre do Sino.

  
“Realmente, é uma visão que parece surgir diretamente de um passado distante.”

  
   Crystal complementaria sua análise muda mencionando o silêncio e a paz quase mítica que a cidade ostentava se não fosse o falatório e as risadas do grupo que acompanhava.
   Era a primeira vez que Crystal “andava junto” a um grupo de pessoas como eles. Eram punks estilosos, cada qual do seu jeito e também possuíam uma postura rebelde, salientada pela estética e atitude.
   Morty caminhava na frente fumando um cigarro, com Janine e Foress brincando de trocarem soquinhos e ofensas de brincadeira. Mais atrás, Gary e Alice conversavam próximos. Crystal olhou de soslaio para Gary. Era incrível que pudesse estar ao lado daquele que foi considerado um dos treinadores pokémon mais pródigos dos últimos anos. Antes mesmo de ser treinadora, Crystal soubera sobre ele, chegando a admirá-lo como uma espécie de sub-celebridade do tipo  “gostaria de ser uma treinadora pokémon tão habilidosa e popular quanto ele.” 
   
   Mas depois que Gary abandonara tudo ligado a treinamento e pesquisa pokémon, Crystal não soube mais sobre ele e, como ela mesma estava se preparando para tornar-se treinadora acabou encontrando outros treinadores para se espelhar.  Mas Gary era um treinador que mantinha em mente como exemplo.
   E agora ali estava ele, todo montado em uma indumentária punk, defendendo ideais de rebeldia e liberdade, á frente de uma banda de rock, sendo amigo (pelo que tinha ouvido) de longa data de sua companheira de jornada.

“ Talvez não apenas amigos.”

  
   Durante o ensaio, Crystal notou os olhares não muito discretos que Gary e Alice haviam trocado diversas vezes entre si e agora eles seguiam alguns passos á sua frente, com um braço dela em torno da cintura do rapaz e Gary com um braço a lhe envolver os ombros.
— Alice! Sua amiga é sempre quietinha assim mesmo?
  Crystal piscou confusa e percebeu que todos haviam parado e olhavam para ela. A pergunta viera de Janine, que continuou.
— Eu sei que a gente parece tudo meio doido, mas posso garantir que ninguém morde!
— Mentira! – provocou Foress. – Eu ainda tenho aquela marca na canela que você mordeu durante o jogo de twist em que...
— B-bom, eu não me acho uma pessoa quieta, só estou meio cansada. – Crystal murmurou, sentindo-se corar. – De manhã, fui em uma biblioteca fazer pesquisas para planejar algumas estratégias de batalha para lutar no ginásio, depois treinei meus pokémon em batalhas tanto no centro de treinamento da cidade quanto nessa rota . E então aconteceu o lance da minha Misdreavus, encontramos vocês, acompanhei o ensaio e...
— É um dia meio agitado mesmo. – Janine soltou um assovio.

   Morty, que até então parecia alheio á conversa, de uma última tragada no cigarro e se aproximou, com o semblante mais tranquilo do que o normal.
— Já que você quer lutar por uma insígnia, aparece amanhã lá por umas quatro horas da tarde no ginásio que eu batalho contigo.
   Crystal arregalou os olhos. Mas já? Não tivera sequer tempo para pensar em qualquer plano de batalha ou mesmo escolher quais pokémon usar.
   Estava prestes a comentar isso mesmo Morty já tendo voltado a caminhar, quando Gary se inclinou para perto dela.
— Aproveita que o Morty está com disposição em batalhar com treinadores. Isso tem ficado um pouco raro ultimamente.
— Por quê?
— Ele não deixa transparecer muito, mas o Morty anda meio farto dessa vida limitante de líder de ginásio e vida de treinador. Se ele te propôs um desafio de batalha, aceite. Melhor batalhar com ele do que com a avó dele. Sério.
— Concordo com ele, Crys. – Alice comentou. – E tenho certeza de que se sairá bem!

   Crystal olhou para Morty, que caminhava tranquilamente e com olhar apático para o horizonte enquanto Janine e Foress iniciavam uma conversa sobre discografia de alguma banda qualque.r
— E porque ele está farto desse tipo de vida? – Crystal fez a pergunta referente a Morty, mas indiretamente se aplicava a Gary também.
— As pessoas mudam. Mudam porque vão conhecendo o mundo. Ideais, opiniões, escolhas, preferências. O que era prioridade antes já não é mais e aí você tenta buscar outros focos de vida. – Gary filosofou. – É tudo mutável. Incluindo nossas escolhas.
— Ei, trio! – exclamou Janine já alguns metros á frente. – Vão continuar parados ai? Estamos com fome!
— Já estamos indo! – Alice falou. –Depois conversamos mais sobre isso porque ó, rende muito debate filosófico!

~*~

  
   Quando os três entraram na sala principal da fortaleza reservada para seus aposentos, foram recebidos por um alegre Migthyena, que se aproximou, saltitando e abanando freneticamente a cauda. Embora Lugia não tenha lhe dispensado atenção, Moltres envolveu o pokémon nos braços, que se colocou nas patas traseiras para que ela lhe afagasse as orelhas.

— O que é esse pokémon? – Articuno perguntou, as mãos cruzadas baixas na frente.
— É um Migthyena. – a outra respondeu. – É um pokémon nativo de Sinnoh. Ele precisava de alguém e eu o adotei! Ele tem uma pokébola, Artie. É bem legal!
— Mostre-me depois. – pediu a mulher que então se voltou para Lugia. – Acho que preciso lhe dizer que desaprovo essa aliança feita com estas pessoas. Elas, claramente, não possuem as boas intenções e boas condutas que dizem ter.
— Acha que não sei?
— E mesmo ciente disso, decidiu se aliar á eles? – Articuno franziu as sobrancelhas. – Essas pessoas, grupo, organização ou que nome atual carreguem, nutrem ideais, condutas e objetivos que vão contra o que compactuamos. Eles não me parecem realmente íntegros.
— Nisso eu concordo com a Artie. – Moltres parou de afagar o pokémon e se aproximou. – Os soldados da Equipe Rocket são uns brutos com os pokémon que usam! Eu cheguei a presenciar alguns treinos deles e esse Migthyena estava sendo maltratado por um solado de alto nível. O cara dizia que estava treinando o pokémon e fazia aquele “método”  sempre. Mas o método dele era agredir os pokémon com socos, chutes e chicotadas! É um absurdo! Na nossa época, ás vezes era necessários métodos mais agressivos para se tentar domesticar pokémon agressivos e selvagens, mas atualmente, eu li que existe métodos  que não exigem violência, principalmente por conta dos efeitos das pokébolas. O Migthyena,  aqui estava sendo maltratado injustamente, porque ele é muito dócil! O que aquele soldado Rocket fez foi maldade! Queria que ele recebesse uma punição, mas todos desconversaram, até o Igni! Me deram o Migthyena, mas obviamente vão continuar com esses métodos. Não dá pra confiar em quem maltrata pokémon!
— Temos diversos motivos para não confiarmos nesse exército. E as condutas e interesses reais deles em nos auxiliar, me parecem muito suspeitas.
— Estou completamente ciente disso. – falou Lugia diante das palavras de Articuno.

“Mais do que podem imaginar.”

— Não podemos desfazer a aliança com a Equipe Rocket comandada por Igni.
— Por quê? – indagou Moltres. – Você é o rei. Se não tiver o apoio deles, terá de outros!
— Eu fui um rei. Há muito tempo. E os tempos mudaram. O mundo hoje está diferente, muito diferente. O que sabemos desse novo mundo? O que sabemos sobre os avanços da ciência, sobre as mudanças sociais, políticas e religiosas? O que sabemos sobre a tecnologia que todos utilizam e que movimentam e direcionam este mundo? O que sabemos sobre o que aconteceu no tempo em que permanecemos presos á forma de feras? Não sabemos quase nada.
— Podemos aprender e conhecer. Iremos aprender e conhecer. – Lugia continuou antes que fosse interrompido. - E faremos isso, com o tempo. Não somos capazes de compreender e conhecer tudo de uma vez e não podemos simplesmente nos revelar e nos impor a essa sociedade atual. Não seríamos aceitos e acabaríamos por nos colocar em risco irreversível por não termos conhecimento de como as condutas, leis e pensamentos são regidos e direcionados agora. Ainda somos “obsoletos” diante de tantas coisas que são de uso comum para todas as pessoas atualmente.
— Mas estamos nos informando e aprendendo. – Moltres retrucou. – Eu tenho estudado todos os dias através dos livros e daquela coisa! – ela apontou para o aparelho de TV fixado na parede. – E aquela outra coisa também. O Mondo está me ensinando como mexer. – ela apontou para o notebook sobre a mesa.
— Sim, estamos. – Lugia assentiu. – Mas o que para nós ainda é algo surpreendente e intrigante acerca do que faz e como funciona, para as pessoas de hoje é algo normal e até desinteressante. – ele indicou a pokébola na mão de Moltres. – Esse é um exemplo. Todos ficamos surpresos com a capacidade de algo tão pequeno ser capaz de prender um pokémon e facilitar seu treinamento. E que hoje e já há séculos, os pokémon não são mais utilizados como eram em nosso tempo. Eles não precisam mais ser domesticados para ajudar os humanos na agricultura, locomoção ou na guerra. Os humanos desenvolveram máquinas para isso e para os pokémon, os humanos criaram uma nova “função” com o auxílio das pokébolas.
— Entretenimento.

  Lugia assentiu. Mas, a bem da verdade, ele cogitou outra palavra que poderia se utilizar junto da mencionada por Articuno.
— E isso é apenas uma das grandes mudanças deste novo mundo que estamos nos deparando. Não podemos nos impor a ele sem conhecê-lo bem. – Lugia continuou. – E não podemos aprender sozinhos. Além de mais difícil, seria arriscado.
— Mas nos aliarmos a um exército como essa tal Equipe Rocket pode ser perigoso. – Articuno rebateu. – Não podemos confiar muito neles.
— Sim. Mas precisamos deles. Sem eles, não teríamos recursos para nos mantermos enquanto compreendemos e nos adaptamos á essa sociedade. Sem eles, eu não teria encontrado formas de quebrar a maldição e localizar cada um de nós.

   Articuno pensou em dizer que a maldição não havia sido de todo quebrada, pois eles ainda poderiam se transformar em feras, mas preferiu se calar. Lugia parecia feliz por estar ali e assim como ele, ela e Moltres também estavam felizes. Então não havia motivos para conversar sobre aquilo, pelo menos não ainda. Até porque, falar sobre o assunto só traria dor e perturbação acerca da causa do que haviam se tornado.
  Sentiu Lugia tocar seu rosto, assim como tocou o de Moltres. Para olhá-las nos olhos.
— Sem a ajuda da Equipe Rocket, eu ainda estaria preso na forma de pokémon e não estaríamos juntos aqui.
— ...você disse que foi Igni quem o livrou da maldição.
— Sim. Mas ele tem os Rockets sob seu comando e os colocou a disposição de nossos objetivos. A reunião que acabamos de ter foi mais uma prova de que precisamos do poder de campo e tecnologia que eles podem nos oferecer. Eu consegui encontrar vocês duas e agora já temos a localização de Raikou, Entei e...Suicune. É questão de tempo para que localizem Zapdos e então estaremos juntos novamente. E então, reencontraremos Ela. E saberemos o por quê.
— ...e depois?

   A pergunta de Articuno saiu em um sussurro, mas que ecoou no silêncio da sala.  E o brilho que havia surgido nos olhos de Lugia pareceu diminuir um pouco.
— Depois...ainda está cedo demais para se pensar. Vamos nos concentrar em nosso objetivo: o de nos reunirmos, findar a maldição e saber as respostas. Temos esse direito. Por isso, precisamos ficar com a Equipe Rocket. Por enquanto.
— Mesmo não concordando e confiando neles?
— Ás vezes é preciso, Mol. – Articuno falou, compreensiva. – Alianças nos são necessárias no momento. Fizemos alianças assim no passado.
— Isso é verdade. Mas, o que eles querem em troca? – Moltres encarou ambos. – Porque dá pra sacar fácil na cara de muitos da alta patente aqui que estão nos ajudando não por estarem comovidos com nossa história!
— Tudo ao seu tempo. – Lugia pediu. – Se qualquer um deles acha que, por termos estado presos na forma de pokémon e termos vivido séculos atrás, somos inaptos e primitivos, mostraremos e provaremos o quanto estão enganados.

   Lugia percebeu que aquelas palavras haviam sido bem aceitas pelas irmãs. E continuou, com segurança na voz.
— No momento, devemos nos focar em nossos objetivos enquanto usufruímos dos recursos que nos são entregues. Vamos compreender nossa nova condição aqui, compreendendo e aprendendo sobre esse novo mundo. E vamos conseguir controlar e utilizar esse poder pokémon que recaiu sobre nós,  fazendo com que a maldição acabe por se tornar um dom.

~*~

 
   O grupo se acomodou em uma mesa do lado de fora de uma tradicional pizzaria da cidade de Ecruteak. Com seu design rústico, ela se localizava em uma rua repleta de outros restaurantes e lanchonetes que carregavam uma decoração semelhante, criando um ambiente acolhedor em meio a diversos aromas atrativos.
  Como aquele comecinho de noite estava com uma temperatura quente e agradável, a ideia de saborear quatro tipos diferentes de pizza entre algumas latas de MukColla foi muito apreciada. As conversas animadas do grupo intercalavam assuntos que variavam entre música pokémon e rolês passados. Crystal não conhecia bandas de rock e tampouco se intrometeria sobre os rolês que eles haviam feito, mas quando o assunto caía no tema pokémon, ela sentia-se um pouco mais á vontade para interagir. Mesmo assim, não falava muito. Eram amigos de Alice, que parecia bem alegre na companhia deles.
  Morty saiu de dentro da pizzaria e se aproximou da mesa, trazendo quatro garrafas de cerveja enquanto se sentava.

— Cês acreditam que o funcionário lá do bar pediu minha identidade para liberar as bebidas?! – comentou com aborrecimento. – Achou que eu era menor de idade, mesmo eu dizendo que sou o líder do ginásio daqui!
— É por causa dessa sua carinha de bebê! – Alice brincou, se debruçando para lhe apertar a bochecha.
— Só se for bebê maconhado.
  Gary riu do próprio comentário, pegando uma das garrafas pra si e a abrindo, sorvendo um gole antes de continuar.
— Sabe, eu acho totalmente sem sentido certos parâmetros que a Lei define para os jovens. A lei divide a maioridade em duas partes, mantendo certo parâmetro de definição relativamente ultrapassado. Vejam bem, o jovem pode sair por aí, pelo mundo, ir de uma região á outra, se embrenhar em florestas e montanhas, como treinador pokémon. Tem, praticamente, o total direito de ir e vir, de viajar, administrar parte do próprio dinheiro, enfrentar treinadores, competir em Ligas...– ele tomou outro gole da cerveja apreciando o fato de estar gelada. - E isso tudo com apenas treze anos! Treze anos é praticamente um pré-adolescente, sem experiência, repleto de hormônios e facilmente impressionável. Sem real noção alguma dos perigos que andam rolando mundo afora!
— E isso porque a Lei mudou há poucos anos. – Alice o lembrou. – Antes se podia tirar licença de treinador pokémon com apenas dez anos!
— Então! A lei permite que uma criança, agora pré-adolescente, tenha o direito de se arriscar andando por aí sozinha, sem supervisão de um responsável, possa ficar  viajando, comprando, dando e batalhando com pokémon. Mas a mesma Lei que permite essa liberdade toda para um pré-adolescente, impede que um jovem menor de dezesseis anos compre uma cerveja ou possa entrar em danceterias!
— Mas você...acha correto que jovens possam consumir e frequentar essas coisas? – Crystal perguntou, cautelosa.
— Assim, correto mesmo, eu não acho que é. Se bem que eu fazia isso antes dos meus dezesseis. Mas, se a Lei permite que o jovem, como treinador pokémon, se exponha e se coloque em riscos andando por aí sozinho, porque regular se um jovem, ainda por cima mais velho, não possa comprar uma cerveja, por exemplo? É nisso que o sistema dessa Lei tá falhando!
— Além do mais. – Alice completou. – Proibir que os jovens comprem bebidas ou entrem em uma danceteria, realmente não impede que eles consigam fazer isso por vias ilegais.
— Eu mesmo tinha uma carteirinha falsificada quando era menor. – Gary comentou. – Acho que quase todos os treinadores tinham, na minha época.
— Não que eu ache que se deva liberar tudo, porque né, tem coisas que um pré-adolescente não tem maturidade. E mesmo agora que somos de maior vemos isso mais claramente.  – Alice continuou, ignorando o comentário de Gary. – Mas concordamos que é hipocrisia da Lei dizer que liberar uma coisa e limitar outra e para o bem-estar da juventude. Muitos treinadores acabam se tornando vulneráveis diante de pessoas mal intencionadas e a taxa de crimes tem aumentado.
— Isso é verdade. – Crystal assentiu. – Meus tios mesmo deixaram que eu iniciasse jornada só quando fiz quinze anos porque alegavam que com treze seria muito arriscado pra mim.
— Hipocrisia do sistema! – Morty exclamou, pegando mais um pedaço da pizza de muçarella. – Colocam a virtude de jovens treinadores em risco permitindo que façam jornadas por aí e acabem muitas vezes adquirindo hábitos libidinosos em troca de vantagens em batalhas. Eu ainda to dentro da lei porque perdi minha virgindade depois dos dezesseis, mas cês tem noção que já teve treinadora de quatorze anos vindo pra cima de mim com segundas intenções?
— E tu aceitou?
— Tá maluco, Foress! – Morty lhe deu um cascudo. – Eu não pego chave de cadeia!
— Pior que esse tipo de coisa acontece mesmo. Treinadores jovens são muito sugestíveis e manipuláveis. – Alice bebeu um gole do seu refrigerante. – Não é á toa que tantos são ludibriados e entram para o crime ou pra Equipe Rocket. Que é quase a mesma coisa.
— Por isso que eu digo que esse sistema de Lei está equivocado! – Gary falou com certa indignação. – Tudo é feito pensando unicamente no lucro, por quem está lá no poder! Pra eles pouco importa a integridade do jovem ou se ele tá correndo risco ou não. Eles só querem lucrar, porque treinador pokémon dá muito dinheiro para os cofres públicos e o Comitê da Liga Pokémon é conivente com isso!
— Olha, o papo tá bom. – Morty anunciou, com um bocejo. – Mas eu vou vazar. Tô caindo de sono porque não me deixaram dormir hoje e comi demais. Cês vão pra casa comigo?
— Se tá fazendo o convite, nós vamos. – Janine levantou e Foress fez o mesmo. – Até porque, deixei minha mochila lá.
— Querem vir também? – o loiro perguntou, olhando para Crystal e Alice. – Tem espaço de sobra lá em casa e colchões também.
— Valeu pelo convite, mas eu e a Crystal já reservamos um quarto no hotel aqui perto.
—Burguesinha! – brincou Janine, recebendo um soquinho de Alice no braço.
— Beleza. – Morty bocejou novamente e olhou para Crystal. – Amanhã a gente se vê lá no ginásio...que horas eu marquei contigo mesmo?
— Hãn...ás quatro da tarde.
— Certo, ás quatro. Vambora, seus puto! Vem, Gary.
— Eu vou acompanhar Alice e Crystal até o hotel delas. Depois posso pernoitar na tua casa?
— Tu sabe que nem precisa perguntar. – Morty ironizou. – Como diz minha avó, você é o “neto do Samuquinha.”!
  Os dois riram em um entendimento particular. O grupo pagou a conta da pizzaria e se despediram, indo cada trio para um lado.

  O hotel era a poucas quadras dali e no caminho, Alice, Gary e Crystal conversaram um pouco sobre o aspecto quase mítico da cidade.
— Pronto, meninas, estão entregues em segurança. – Gary brincou quando chegaram á frente do hotel.
— Como se precisássemos de alguém para nos proteger. – Alice ironizou com um sorriso.
— Enquanto você tiver o seu Charizard, sei que estará em segurança.
  Os três ficaram em silêncio, até que Crystal percebeu que estava á mais ali.

— -B-bom, eu já vou entrando no hotel e aproveitar para perguntar se tem algum Centro Pokémon aqui perto. Amanhã já bem cedo, quero tratar meus pokémon e revisar a estratégia de batalha que planejei para enfrentar o Morty!
  Na verdade, não tivera tempo sequer para planejar nada, mas ninguém precisava saber.
— Foi um prazer te conhecer, Gary! – ela continuou. – E obrigada por me convidar para assistir a um ensaio da sua banda!
— Legal te conhecer também. Eu não me considero líder da banda, somos mais uma equipe, mas obrigado mesmo assim. Enfim, amanhã nos vemos lá no ginásio.
— Sim! Alice, eu estou indo na recepção...te espero lá.
— Tudo bem. Só vou me despedir do Gary e já te encontro!

   Crystal assentiu e entrou rapidamente no hotel. Alice e Gary foram, então, para o pequeno jardim que circundava a fachada do hotel, todo ornamentado em estilo tradicional japonês, inclusive com luminárias de chão feitas em pedra rústica. Ali, não atrapalhavam o caminho dos passantes que entravam ou saíam do hotel e poderiam apreciar mais um pouco a brisa da noite.
— A Crystal é mesmo uma fofa, não é?
— Ela parece ser mesmo uma boa pessoa. Um pouco ansiosa e tímida só. – Gary comentou. - Mas e você. Como está sendo essa sua viagem por aí, agora acompanhada?
— Eu gostei muito do tempo que viajei sozinha masm confesso que viajar em uma jornada pokémon com uma amiga é bem mais divertido! Eu e a Crystal temos jeitos diferentes, mas nos damos super bem!
— Sabe que eu também sou um ótimo amigo para viajar em jornada, ainda que não mais em uma jornada pokémon.
— Com ciúmes? – Alice brincou. – Você sabe que eu queria viajar um pouco por aí para, bem, me encontrar.

  A bem da verdade, o principal motivo de Alice para viajar havia sido outro mas esse era um segredo que ela não pretendia dividir. Não com Gary, era impossível.
— Eu sei. Já fiz isso tempos atrás e certamente vou fazer mais vezes durante minha vida, então te entendo bem.
— Fora que, viajando na companhia de uma amiga, o senhor Lawrence fica mais “de boas”, digamos assim.
   Gary conteve um resmungo e decidiu mudar de assunto.
— E vocês pretendem ficar aqui em Ecruteak por quanto tempo?
— Não sei, mas não muito tempo. A Crystal já fez jornada em Hoenn, mas esse ano está em jornada aqui e ela pretende participar da próxima Grande Liga. E você?
— Sei lá. Eu procuro evitar me planejar demais, simplesmente deixo as coisas fluírem e acontecerem. Assim, posso acabar tendo surpresas bem agradáveis.

   Ele afastou uma mecha do cabelo de Alice, como uma desculpa para lhe tocar o rosto com a ponta dos dedos.
  Olhos verdes sobre verdes.
  A iniciativa veio dele e ela permitiu. O beijo começou lento e não demorou para que as bocas se abrissem e suas línguas se tocassem em um beijo profundo e intenso.
— Eu preciso entrar, Gary. – murmurou Alice quando quebraram o beijo. – Hoje foi um dia longo e estou meio cansada.
— Cansada, você? – ele a trouxe para mais perto de si, uma mão em sua nuca. – Você aguenta virar a noite na balada e emendar um rolê no dia seguinte quando está á fim.
— É verdade. – ela riu. – Mas eu não quero deixar a Crystal plantada lá na recepção. Além do que, vamos nos ver amanhã.
— É, você está certa. Mas poderíamos nos encontrar antes ou depois, o que acha?
— Hum, é uma ideia interessante. Me manda mensagem no pokébook depois.
   Gary afirmou e ambos trocaram mais um beijo, tão longo quanto o anterior.

~*~


   Basho observou o grande monólito de pedra que estava aos fundos de uma das muitas alas do museu. A peça deveria medir por volta de uns 5 metros de altura por 2,5 de comprimento, com uma espessura de cerca de um palmo. Como toda relíquia, estava quebrada e lascada em diversas partes, corroída pelas intempéries e pela areia na qual ficou enterrada por tanto tempo. Pelo que constava na placa de identificação colocada em um púlpito na frente da corrente que deixava claro que era proibido se tocar na peça,  aquele monólito fora encontrado em escavações nas ruínas de Alph e estudos geológicos e de carbono 14 calculavam que o objeto fora esculpido há mais de mil anos.
   A imagem havia sido feita diretamente na superfície da rocha calcária, usando ferramentas rústicas da época e seguindo um estilo de mosaico cuneiforme e tribal que pertencia ao que os historiadores denominavam como Período Ilexiano. Era uma representação do pokémon Lugia em forma imponente, o pescoço erguido, com o rosto voltado para o Oeste e as asas estendidas para o Leste. Os historiadores não chegavam a uma conclusão do motivo desse tipo de representação do pokémon – sempre com as asas apontadas para uma direção e a cabeça para outra. E tais representações, erigidas em monumentos, eram quase sempre do mesmo jeito.

“ O que havia a Oeste para que você tanto olhasse?”

  
  Basho sabia, em vista de suas recentes pesquisas autodidatas, que a representação de pokémon lendários na região de Kanto e Johto no período Ilexiano, colocava os pokémon como seres divinos e aqueles humanos que faziam parte da realeza tendiam a aderir como nome próprio, o nome do pokémon que o Oráculo do Templo sagrado predizia no dia do nascimento da pessoa.
    Percebeu que não estava mais sozinho naquela ala quando escutou sons de passos, mas não se virou. E logo Lawrence estava parado ao seu lado, olhando para o monólito.
— Será que Ele pedirá que esse monumento feito em sua homenagem lhe seja entregue ou Ele ordenará que lhe façam um novo?
— ...não preciso perguntar se viu o que lhe mandei, pelo visto.

   Ficaram em silêncio. Lawrence observou o monólito que conhecia muito bem. O havia cedido para o museu anos atrás, assinado a autorização para tal, já que os responsáveis pela descoberta da peça não foram capazes de fazê-lo.
  Aquele monólito era uma riqueza magnífica, mas o peso que lhe representava era doloroso demais.
— E o que achou? – Basho perguntou ao fim de algum tempo.
— Inacreditavelmente fantástico. – a sombra de um sorriso passou nos lábios do colecionador. – Ouso dizer que estamos começando a vivenciar algo que pode ser o maior momento histórico deste século.
— Mostrou aos demais?
— Não.
  Basho franziu as sobrancelhas, mas nada disse.
— O que sabe das intenções de Lugia e Igni?
— Essa é uma pergunta um pouco perigosa para se fazer. Ainda mais em um local público.
— Não há ninguém aqui. – Lawrence falou. -  As câmeras não captam sons e estamos de costas para elas. Eu conheço tudo deste museu, sou o principal financiador.
  Basho ponderou.
— Eu não sei, com certeza, quais as reais intenções deles. Entrei recentemente para o Alto Conselho, mas o que me foi informado é que o objetivo principal é encontrar os demais artefatos para trazer os demais membros da família real dele de volta. Mas tenho convicção que não irá parar nesse objetivo. Igni não colocaria a Equipe Rocket  á disposição de Lugia dessa forma se não houvesse algo a mais em vista.
— Suposições?
— Sim, Mas não falarei. – Basho respondeu.- E as suas?
— Tenho algumas, mas não falarei. – Lawrence devolveu.

   Ficaram em silêncio, em um inusitado entendimento mútuo.  Ambos sabiam que, embora trocassem informações, não havia confiança. Lawrence era um empresário poderoso e influente, alguém que sabia “jogar” como poucos. Basho era um agente de elite que também agia como espião duplo. Ambos se aliavam a lados que lhes eram benéficos, mas tinham, cada qual, seus motivos e interesses particulares para fomentar as próprias escolhas.
— Irá passar as informações que lhe forneci para os seus aliados?
— Eu paguei por estas informações, posso fazer com elas o que bem entender. – Lawrence respondeu. - Eles até queriam conhecer o meu informante Rocket.
— Vão ficar querendo.
— Imaginei que diria isso. – Lawrence deu um risinho. –Diga-me uma coisa...Lugia realmente representa a oportunidade de algo?
— Surpreendentemente...sim.

  Em silêncio, cada qual com seus próprios pensamentos, ambos tornaram a olhar para a imagem de Lugia gravada no monólito antigo.

~*~

 

 


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...
Espero que a presença de Gary tenha surpreendido um pouco mais agora. Estou realmente curiosa a respeito do que achou dele e seu envolvimento com Alice. Toda a cena dos jovens fluiu até que bem enquanto eu a escrevia e ela ficou mais extensa do que pensei a princípio. Acabei inserindo um assunto e questionamento acerca da maturidade no Mundo Pokémon pois é algo que sempre quis e já cheguei a debater com amigos meus. Pretendo inserir novamente pautas desse assunto mais pra frente.
Quanto á Lugia e suas irmãs, eu procurei mostrar um pouco do posicionamento do rei acerca da situação com os Rockets. Mas tive que me controlar para não inserir muitas informações principalmente referente a novas ideias que tive e que vou inserir, manter um suspense e curiosidade é sempre bom haha. Fique á vontade para especular.
A cena de Basho e Lawrence, embora curta, é bem importante em cosias que ficaram no ar - o não dito pode levantar muitas teorias acerca não apenas das inenções de ambos mas do futuro da história como um todo.
Por fim, a capa da história foi trocada. Fiz essa montagem após uma ideia que me surgiu á mente. A aparência humana de Lugia difere da de suas irmãs no quesito etnia, mas isso será explicado na história no momento necessário. Eu baseei o Lugia fisicamente no ator Richard Armitage. Ao meu ver, ele tem a imponência, os traços, a beleza e até a voz que me fizeram crer, de imediato, que combinaria com o rei Lugia. O que acha?
É isso. Até o próximo capítulo.



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