A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Caro leitor (a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Como é evidente, levei dois meses e pouco para atualiar a ic. Peço desculpas por isso, mas desde que essa maldita pandemia se instaurou, toda a minha criatividade ficou compromeida por conta das oscilações emocionais.
Aos poucos as coisas estão começando a voltar aos eixos mas eu decidi que já não me colocarei mais tanto auto pressão para ser produtiva constantemente como eu fazia, o que estava me cansando e estressando. De modo que agora estou procurando produzir de forma mais "livre" sem tantas auto cobranças com prazos pré-definidos, até porque os dias dessa pandmeia anda passando rápido demais.
Quero agradecer o apoio de todos que estão acompanhando a história, em especial para meu primoso Raven, Hime, Strauss, Leo...sintam-se abraçados!
Eu levei quase três semanas para escrever esse capítulo, mas aí está. Ele teve apenas duas mudanças de cena (pensei que teria mais, mas isso tornaria o capítulo muito longo e quero manter o padrão) mas, embora eu tenha achado que inserir um certo personagem agora pudesse ser um pouco cedo, agora acredito que não foi apenas o omento, mas o cenário ideal para isso também.
Enfim, boa leitura.



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 ~*~

 
   O lado de dentro da antiga capela abandonada estava com um mato alto e pedaços de entulho espalhados por toda parte. Mas isso não preocupava Crystal. Só pensava no perigo em que sua Misdreavus poderia estar. Já ouvira e lera muitos relatos de treinadores que perdiam seus pokémon. Perdiam no quesito dos pokémon morrerem. E a mínima possibilidade de algo assim acontecer com um de seus, ainda mais por descuido dela, era algo que lhe causavam pavor.
   De modo que correu e saltou por entre os entulhos com facilidade, a mão indo até uma de suas pokébolas presas ao cinto, caso precisasse lutar. Alice vinha atrás, tendo um pouco mais de dificuldade em se locomover por ali, concluindo que Crystal corria e saltava com a agilidade de um Sentret.
  Já Crystal contornou parte da parede da capela á procura de alguma entrada. Sua Misdreavus, sendo um pokémon fantasma, poderia facilmente atravessar superfícies sólidas, mas Crystal precisava encontrar uma passagem.
  Se deparou com o que seria uma entrada fechada com tábuas velhas de madeira. Eram poucas e pareciam ter sido pregadas de qualquer jeito.

   “Se eu forçá-las um pouco, como estão podres devido ao tempo e umidade, posso quebrar e desprender os pregos...”

  
   Ouviu a voz de sua Misdreavus vindo de dentro do local e não pensou duas vezes: meteu o pé contra as tábuas, chutando-as com força. A madeira rachou e entortou nos dois primeiros chutes e no terceiro as tábuas começaram a quebrar e se soltar. Quando ouviu novamente sua Misdreavus, Crystal se desesperou, arrancando pedaços de tábua com as mãos até que tivesse uma passagem suficiente para entrar. Assim que adentrou, notou o local vazio, exceto por pedaços de entulho.
  Virou-se para a esquerda, vendo sua Misdreavus a flutuar poucos metros á frente. Aproximou-se com cuidado, entrando no que parecia ser uma ala e viu o que sua pokémon via, sentindo todo o calor sumir de seu corpo.
   Ali estava uma criatura assustadora que parecia ter saído de uma antiga tumba pertencente a alguma civilização perdida. Tinha a forma de um sarcófago egípcio envolto em sombras pretas, que se agitavam ao seu redor como se fossem mãos de imensos dedos prontos a se enrolarem em qualquer coisa que tivesse vida. Ele estava de pé, o que o deixava ainda mais assustador. No que seria a máscara mortuária, dois brilhos vermelhos irradiavam dos olhos.
   Aquilo parecida demoníaco, como um espírito amaldiçoado que vagava por lugares abandonados.

   A Misdreavus emitiu um uivo lamentoso, os olhos fixos no caixão e Crystal notou que sua pokémon parecia bem (ainda que se mantivesse atenta e na defensiva) e sua preocupação diminuiu um pouquinho.
   Se Misdreavus tentava se comunicar com aquilo, significava que não era um espírito e sim um pokémon. Com essa certeza, sacou a pokédex da pochete e a apontou para a criatura. O aparelho indicou que era um Cofragrius, pokémon do tipo Fantasma, evolução do pokémon Yamask. Era uma criatura poderosa e rodeada de lendas, sendo um pokémon raro e original da região de Unova.
  Crystal arregalou os olhos. Era a primeira vez que via um pokémon daqueles diante de si, ainda mais porque, sendo um pokémon de uma região bem distante, não fazia sentido que estivesse perambulando por um local abandonado na região de Johto.

  O Cofragrius parecia prestes a fazer algo e Crystal apertou a pokébola que mantinha nas mãos se perguntando se sua Nidoqueen junto com a Misdreavus poderiam dar conta dele. As chances eram poucas talvez, mas diante da possibilidade de capturar um pokémon daqueles, deveria tentar.
— Eu sugiro que você desista de capturar esse pokémon, já que não vai funcionar.
  Crystal se virou com um sobressalto para trás ao ouvir a voz, se deparando com um rapaz meio alto, usando roupas pretas e cabelos loiros compridos. Ao lado dele estava Alice.

— Esse Cofragrius já tem um treinador. – ele passou por Crystal e parou ao lado do pokémon. – Eu.
  A garota piscou confusa, enquanto Alice tomava a frente com uma voz animada.
— Deixem-me apresentá-los! Morty, essa é a  Crystal, minha amiga de jornada! Crystal, esse é o Morty, meu parsa de rolês e líder do ginásio de Ecruteak!
— Prazer em conhecer. Alice me falou de tu.
  Crystal não sabia o que dizer e apenas cumprimentou a mão que ele lhe estendia. Morty não se parecia com um líder de ginásio, ainda mais de um ginásio tão tradicional quanto o de Ecruteak. Com a calça rasgada nos joelhos de um preto desbotado, a camiseta regata larga com o logo da banda Houndoom’s Hell, as munhequeiras e a faixa de pano amarrada na testa, ele parecia mais um cantor de alguma banda de rock.

— Você tá legal, Crystal?
— Ah, estou sim! – respondeu á pergunta de Alice, mas olhando para o sinistro pokémon ao lado de Morty. – É que...acho que estou um pouco confusa com tudo aqui...
— É, eu sei. – Morty falou. – O Cofragrius é um pokémon bem dá hora mesmo, apavora geral! Mas fica tranquila que ele não vai atacar a sua pokémon.
— Como sabe que minha Misdreavus é fêmea?
  Pelo que Crystal havia lido nas suas pesquisas, era muito difícil saber o sexo de um pokémon fantasma sem tê-lo capturado. Na captura, a pokébola que informava ao registrar o pokémon na pokégear.
— Eu sou um treinador de pokémon fantasmas e convivo com eles desde que me entendo por gente. Lógico que eu saberia dessas coisas.
  Crystal corou, sentindo-se estúpida.

— Quando eu estava te seguindo, encontrei o Morty saindo pela outra entrada, do porão da capela. Tentei te chamar, mas você não me ouviu! Mal cumprimentei o Morty e viemos atrás de você. – Alice se voltou para o rapaz. – Então você continua usando esse lugar de esconderijo? Pensei que tinha optado por fazer tudo no ginásio!
— Ah, lá no ginásio é impossível, aporrinhação e gente demais! Sem chance.
— Esconderijo? – Crystal perguntou, confusa. – Esse lugar é propriedade sua? Me desculpa por ter invadido, é que minha Misdreavus entrou aqui e como ela gritou, fiquei com medo de que algo pudesse ter acontecido e nossa! Eu acabei quebrando as tábuas para entrar! Mas prometo que pago por elas e...
— Sua amiga é bem certinha e ansiosa como tu disse, Alice. – Morty falou, ambas mãos no próprio quadril magro. – Relaxa, guria. Não precisa pagar, nã!. Esse lugar não me pertence. E além do mais, aquelas tábuas estavam na pindaíba mesmo. Depois eu pego outras lá no ginásio, o que mais tem lá é tralha parada!
— Então esse lugar aqui não é seu?
— Não é meu e nem de ninguém, na real. É um dos muitos lugares históricos abandonados que tem pela cidade. Pouco importa pra prefeitura cuidar disso aqui e aparentemente nenhum arqueólogo considerou que aqui seja de alguma importância histórica relevante que valha restauração. Assim, ninguém se importa com quem usa o lugar.
— Os cracudos não apareceram mais?
— Nah! – Morty resmungou diante da pergunta de Alice. – Depois daquele susto que eu dei neles com o Cofragrius, nunca mais apareceram. Fora que andei conversando com uns camaradas e consegui convencer eles de que precisava desse lugar e ficou tudo de boas.

   Crystal estava achando aquela conversa um pouco estranha e acabou perguntando.
— Você usa este lugar para treinar?
— Ensaiar. – ele respondeu. – A acústica do porão é ótima e pelo local aqui ser um pouco isolado, ninguém vem aporrinhar se estamos fazendo muito barulho.
  Morty tocou no Cofragrius e o pokémon flutuou para o lado, permitindo que Crystal visse uma passagem atrás dele.
— Vamos lá, meninas! Cofragrius, continue guardando a passagem aqui e se aparecer alguém, pode assustar.
   O pokémon pareceu gostar da ordem. Crystal estava com receio de entrar naquela passagem, mas Alice já seguia o rapaz, de modo que ela não teve oura opção que não fazer o mesmo, mantendo a Misdreavus ao seu lado.

~*~

  
   No primeiro momento em que viu Lugia, percebeu que ele era diferente de qualquer outra pessoa.
  Não. Perceber não era bem a palavra e a sensação certa. Sentir talvez fosse um termo que se adequasse melhor. Havia algo de diferente nele, algo de especial. Um pouco parecido com a sensação que Igni lhe provocara quando o conhecera, mas mesmo assim, a sensação que ambos transmitiam eram bem diferentes.

  Dômino se manteve silenciosa enquanto os participantes da reunião se ajeitavam em torno da mesa. Sua posição de simples agente a assistir o que os “mais poderosos” decidiam não era algo que lhe agradava. Tivera de ficar parada ali em reuniões como uma espécie de segurança várias vezes quando ainda era Giovanni no comando da ER, vendo homens velhos e elitistas discutirem sobre coisas que ela tinha conhecimento, mas que não tinha permissão de participar. Apenas olhar.
  Pelo menos naquela reunião, havia duas mulheres na mesa e isso de alguma forma parecia menos incômodo do que as outras reuniões que assistira.
  Seu olhar foi para Igni, que terminava de colocar alguns quitutes do aparador em um pequeno prato o qual deixou do seu lado da mesa junto a uma taça de vinho.
— Podemos iniciar a reunião. – ele falou. – A equipe de cientistas...
  Lugia ergueu uma das mãos de forma discreta e Igni se calou. Dômino notou isso.
— Antes de mostrar ou decidirmos qualquer coisa, há alguém nesta sala que não conheço.

  Os olhos âmbares pousaram em Dômino e ela teve a certeza de que além de toda aquela “aura” de realeza que havia, Lugia ainda era bonito.
— Essa é a Dômino. – ouviu a voz de Igni. – A nossa Tulipa Negra. Uma das melhores e mais eficientes agentes que a Equipe Rocket já produziu.
— Produziu?
  A voz de Articuno era suave, mas firme.
— A Organização de vocês mais uma vez está me parecendo estruturada como um exército. Tem certeza mesmo de que não são uma instituição militar?
  Articuno perguntara de uma forma que até poderia soar sincera, mas Igni sabia que era irônica.
— A Equipe Rocket é uma organização. – Igni respondeu, com a voz macia de sempre. – Mas temos objetivos sólidos e grandiosos. E para alcançá-los e fazer a diferença no mundo, é preciso que nossos funcionários, agentes, cientistas,e  treinadores sejam pessoas altamente capacitadas. Não somos um exército no contexto de exército de épocas passadas cujos objetivos eram a guerra pura e simples. Somos um “exército contemporâneo”, flexível e mutável, como tudo na sociedade atual.
  Dômino tinha a certeza de que Igni estava sendo provocativo, mas Articuno apenas manteve a expressão passiva e nada disse.

— Esse não é o tipo de assunto que temos de conversar e decidir aqui. – falou Lugia. – Se a agente é de confiança, está aqui por ter alguma relevância ou participação nesta reunião. Mas desejo saber o por quê.
  O olhar de Lugia exigia resposta e Dômino sentiu o estômago revolver. Igni não lhe dissera nada e mesmo assim podia sentir o olhar dele sobre si, sem dúvidas daquele jeito apático que seus olhos bicolores causavam. Como se ele esperasse que ela mesma respondesse da forma correta.
  Babaca. Mas ela provaria que podia fazer isso com facilidade.
— Fui designada pessoalmente por Igni para a missão de busca relacionada aos cristais, vossa excelência. Porém, ainda não fui informada acerca dos detalhes do trabalho que irei realizar, por isso estou aqui.
  Lugia a observou por alguns segundos e então voltou-se para Igni.
— Dê início a reunião.

  Igni assentiu e lançou um olhar para Shiranui, que se levantou e foi até a TV fixada na parede, a ligando. Na tela surgiu uma espécie de mapa detalhado da região de Johto, com três pontos luminosos em lugares afastados entre si.
— Nossa equipe de rastreio conseguiu, finalmente, encontrar o que procurávamos.  – Shiranui falou. – Pedimos desculpas pela demora em trazer as informações, mas como eles se movem constantemente, estava difícil com que captássemos seus sinais. E não achei prudente informar a vossas excelências, antes de termos resultados concretos. Mas, como os esforços da equipe mostraram resultados, posso lhes trazer as informações com segurança.
  Ele indicou os três pontos luminosos.
— Identificamos e estamos rastreando-os. Com base no acompanhamento que estamos fazendo, por mais que elas circulem por toda a região, acabam sempre voltando para estes mesmo lugares. Um não invade o território do outro, aparentemente. Já o estamos acompanhando há um mês. Acreditamos que, com base nisso, podemos iniciar as missões de...  - por um segundo ele quase disse “captura”, mas conseguiu evitar. – Reencontro entre vossas excelências e eles.
— Eles? – Moltres indagou, uma sobrancelha erguida. – Quem?
— As três feras lendárias de Johto: Raikou (Shiranui indicou o ponto amarelo), Suicune (o ponto azul) e Entei (o ponto vermelho).
  Enquanto Moltres parecia um pouco desconfortável, Articuno foi certeira.
— E Zapdos? Onde ela está?
— Ainda não conseguimos rastreá-la, vossa excelência. Mas seguimos tentando e as expectativas são altas para que possamos encontrá-la logo.

  Quem falara fora um homem magro, de cabelos de um tom azulado cortados bem rentes, usando um terno branco, que revelava seu nível de alto executivo da ER. Tinha uma pele pálida e olhos pequenos naquele rosto fino, com os ossos da faca salientes.  Seu nome era Archer, e Dômino o detestava a ponto de se posicionar atrás dele, a fim de evitar encará-lo e ser encarada.
— Devemos nos atentar ao que conseguimos obter. – Igni comentou, as mãos cruzadas no colo. – Principalmente porque conseguimos a localização dos cristais que são os receptáculos deles.
  Antes que lhe perguntassem, Igni fez um gesto e Shiranui mudou o mapa que estava na tela.
— Como havia conversado em particular contigo, majestade. – o loiro continuou.  – Fortes indícios históricos indicavam que os cristais dos três lordes se encontravam guardados juntos. E bingo! Estavam mesmo.
— Por que estariam juntos? – Articuno indagou.
— Bom, isso é algo que não podemos ter certeza. – Shiranui olhou hesitante para Igni, como que procurando também uma explicação.
— Eu tenho uma hipótese. – Igni falou com seu semblante apático. – Mas posso falar sobre ela em uma reunião privativa entre nós.
  Encarou as duas mulheres e então seus olhos se encontraram com os de Lugia em um rápido entendimento mútuo.

— Certo, os três cristais estão juntos. Isso nos poupa tempo. – Moltres falou. – Mas onde?
— ...com base nas informações de nossa equipe de investigação e rastreamento. - Shiranui continuou. – As relíquias encontram-se no templo sagrado em Snowpoint, em Sinnoh.
   Houve um silêncio de segundos mas que pareceram durar minutos. Dômino percebeu que Sinnoh parecia causar uma sensação em Lugia e suas irmãs. Um tipo de sensação incômoda e profunda, que eles conseguiam disfarçar bem, mas que continuava lá.
— O fato é. – Igni recomeçou. – Precisamos definir como iremos agir. Não há certeza que os lordes ainda como pokémon, se mantenham no local em que estão por muito tempo. Se eles se deslocarem, teremos que ficar deslocando a equipe de busca e isso pode acabar atraindo atenção indesejada das autoridades.
— Começaremos com Sinnoh. – Lugia disse, os olhos fixos no mapa que aparecia na tela. – Irei até lá. Obviamente haverá algum pokémon guardando os cristais. Já te alguma informação sobre qual pode ser? Não gostaria de, novamente, descobrir apenas chegando ao local, como aconteceu com Groundon.
— Precisamos ter cautela ao irmos até Sinnoh. – Igni fez uma ressalva. – A situação política entre Sinnoh e Johto anda conflituosa nos últimos tempos e teve um agravante agora que Kanto se aliou a Johto acerca das pressões e acordos abusivos relacionados a trâmites comerciais e militares que Sinnoh anda tentando impor. E pelo que ocorreu em Sootópolis recentemente...bom, Sinnoh usou a o ocorrido para inflar a opinião pública e anda conseguindo um apoio de Hoenn.

   Todos ficaram em silêncio. Dômino sabia que se referiam ao fato da batalha entre Grondon e Lugia que ocorrera em uma Sootóplis já destruída por um tsunami recente. Isso acalorara os embates políticos: de um lado, Johto e Kanto e do outro, Hoenn apoiada por Sinnoh. 
   Mas nenhum ali queria afirmar diretamente que, por Lugia ter aparecido em Hoenn, feito Grondon despertar (como muitos especulavam – e que, de fato, era verdade) e uma batalha tendo acontecido ali que, por sorte não causara mais mortes e destruição em uma região já desolada pelo tsunami (Sinnoh e Hoenn não sabiam que Lugia tinha ligação com isso também, mas Dômino acreditava que seria apenas questão de tempo até que os políticos e conspiradores descobrissem ou mesmo criassem alguma ligação com o fato).
  Foi então que Lugia falou e todos os olhares recaíram sobre ele.

— Tenho total ciência do conflito político entre as regiões e que o ocorrido em Sootopolis foi um agravante, ainda que eu tenha tentado evitar da melhor forma que a batalha tomasse proporções que pudessem causar mais morte e destruição. Mas naquela situação, não havia outra forma que não enfrentá-lo. Grondon é uma besta pré-histórica, ela sairia dali e destruiria a cidade, avançando para a próxima até ser detido, provavelmente de uma forma violenta pelas autoridades. O bani novamente para as profundezas, mas sei que essa justificativa não me isenta da responsabilidade de ter causado um atrito maior entre Johto e Hoenn.
— Sabemos disso, majestade. – Archer murmurou. – O fato é que Sinnoh sempre irá procurar meios de criar atritos e justificativas para pressionar Johto e também Kanto. Nossa região possui muitas coisas que os interessam.

“ Sempre foi assim.— pensou Lugia. – Os poderosos em Sinnoh foram a causa de tudo.”

— Precisamos obter os cristais, essa é nossa prioridade no momento. – Igni continuou. – Para irmos ao encontro das feras digo, lordes, é mais fácil. Eles estão em Johto e somos jothonianos, Mas, ao pisarmos em Sinnoh precisaremos ter cuidado de não causar algo que maximize o atrito político. “Pelo menos por enquanto”. 
— Nosso rastreamento indica que os cristais estão no Templo Ancestral. – Shiranui disse. -  Provavelmente guardados em alguma câmara secreta no subsolo. Podemos obter as coordenadas pelo radar manual estando lá.
  Dômino crispou os lábios e percebeu que Igni fizera aquela típica e sutil careta de desagrado. Aquilo daria merda.
— Bom, se for no templo, não tem tanto problema. – Moltres ponderou. – Se me lembro bem,  fica em um local bem afastado, frequentado apenas por alguns poucos monges e sacerdotes.
— Na época em que vocês reinaram, sim. – Igni comentou. – Mas as coisas mudaram um pouquinho. Atualmente o Museu Ancestral se tornou um dos pontos turísticos mais visitados e populares da história, atraindo visitantes e turistas de todas as partes do mundo.  A devoção religiosa deu lugar á devoção turística.

  O silêncio que se seguiu foi desmotivador. Se acontecesse o despertar de algum pokémon guardião ali no templo e houvesse uma batalha contra Lugia no local, Sinnoh iria usar isso para inflar e convencer a população de que Johto teria interesses de guerra.
— Tenho conhecimento dos riscos ao irmos até Sinnoh. – a voz de Lugia atraiu a atenção de todos. – Mas eu sei como proceder.
— Algo em mente, majestade? – Igni parecia interessado.
— Sim. E garanto: eu terei os cristais.

~*~


     A passagem dava para uma escada estreita que descia em forma de caracol, e a única luz vinha de pequenas lâmpadas de uma fiação suspensa bem amadora. Não havia corrimão, de modo que Crystal mantinha uma das mãos na parede enquanto descia os degraus.
  Ao final da escadaria, havia outra passagem na qual uma luz irradiava e quando entrou, ela se viu em uma espécie de porão, mas diferente do resto da capela, ali até que estava arrumado. Bom, não muito, na verdade era bem bagunçado.  “Ajeitado” talvez fosse uma definição melhor. Mesmo com a luz que mais parecia luz de boate e o ar abafado (que os ventiladores no chão não ajudavam a refrescar muito), Crystal pôde notar que as paredes eram lotadas de pôsters e grafites, pilhas de caixas empilhadas a um canto, um velho sofá de três lugares no outro, um tapete puído e desbotado, equipamento que parecia ser de mixagem e edição de som, uma mesinha de ferro comum em botecos, empurrada a um canto junto com algumas cadeiras e mais algumas tralhas. Só o computador super equipado com uma grande tela e caixas de som potentes que destoava do resto do ambiente mais “underground”.
  Mas logo a atenção de Crystal focou-se no que havia no centro do aposento: em cima de um estrado havia uma bateria, um teclado, um suporte com microfone  e três pessoas. Uma delas segurava uma guitarra e estava de costas, falando com o rapaz sentado atrás da bateria.

— Cara não adianta tentar falar que foi sem querer de novo! O banheiro daqui é velho, é só pra usar em uma emergência...
— Ei, Gary! – chamou Morty. – Olha o que eu achei lá fora, algo que tu gosta!
— Se vier com a piadinha do carrapicho de novo eu...Alice?!
— Oi, Gary.
  O rapaz havia se virado e olhou surpreso para a garota. Era jovem e alto, com um penteado alto e repicado que parecia um grande moicano. Usava roupas pretas e coturnos, mas tais roupas pareciam muito mais novas e justas do que as de Morty. Ele deixou a guitarra em um suporte e rapidamente se aproximou, envolvendo Alice em um abraço e a erguendo do chão, fazendo-a soltar um gritinho de alegria e retribuir o abraço.

— Sua doida! – ralhou ele quando a colocou de volta no chão. – Por que não me avisou que estava aqui em Ecruteak?!
— E eu ia saber que você estava aqui?! – ela deu um soquinho leve no braço dele. – Cada vez que conversamos, você está em algum lugar fazendo alguma coisa diferente! E Morty! Por que não me avisou que o Gary estava aqui quando conversamos ontem?
— Por que eu não sabia! Esse maluco veio hoje pra cá, batendo na porta de casa logo cedo na companhia desses dois! – Morty abriu uma porta que havia ao fundo do porão. – Pô, o que aconteceu nesse banheiro?!
— O Forress entupiu o encanamento.
— De novo?!
— De novo uma pinóia! – o rapaz magro e careca que estava sem camisa sentado atrás da bateria retrucou. – O negócio já tava entupido!
— Mano eu falei várias vezes que esse banheiro não é pra...
— Mas eu nem caguei! Fui dar descarga e subiu a catinga!
— Parem com essa briga besta! Estamos na presença de visitas! E aí, Alice. Tudo beleza, delícia?
  Crystal viu uma garota de cabelos tingidos de roxo presos em um rabo de cavalo espetado se levantar de trás do teclado terminando de enrolar alguns cabos. Ela tinha uma expressão energética, e pela blusa regata que usava, era possível notar não apenas suas tatuagens, mas seus músculos bem delineados, na certa adquiridos com treinos de combate.

— Tô bem, Janine. – Alice respondeu. – Vi seu vídeo de treino mais recente que você postou no Pokébook. Tá conseguindo levantar peso pra carai! Ah! Gente, deixa eu apresentar minha nova amiga, com quem estou seguindo jornada pokémon por Johto!
   E logo Crystal se viu cercada por um grupo de punks que a cumprimentavam enquanto comentavam sobre o que Alice havia lhes contado, a foto que ambas tinham tirado e Alice postara em seu pokébook, elogios ao seu cabelo tingido de azul e se ela pretendia competir na Liga ainda esse ano.
   Mas foi entre conversas com assuntos que se alternavam, que ela contou um pouco de si e conheceu o inusitado e exótico grupo de amigos de Alice. Além de Morty, Janine também era treinadora, mas com especialidade em pokémon do tipo venenoso e Foress havia saído de sua casa na cidade de Pewter, em Kanto, onde vivia com mais oito irmãos. E por fim havia...
— E este é o Gary. – apresentou Alice com uma voz mais gentil. – Meu amigo e parceiro desde que tínhamos doze anos.

   O rapaz estendeu a mão e Crystal cumprimentou. Ele era bem bonito, vendo agora de perto, um tipo de beleza rebelde e agressiva. Seu físico era melhor do que o dos dois rapazes (notara que a camisa regata de Gary era mais justa ao corpo e seus braços eram fortes como os de Janine)  e era mais estiloso também, com  aqueke penteado exótico, e os piercings nas sobrancelhas, orelha e nariz. Crystal nunca havia conhecido um punk e também não se lembrava de já ter entrado em batalha pokémon com um, mas por alguma razão, o rosto daquele rapaz lhe era vagamente familiar.
— Hãn, na certa estou enganada mas...eu te conheço de algum lugar? E-eu não entendo do estilo e “cena” de vocês, talvez eu tenha visto uma foto sua no pokébook da Alice, mas é que eu tenho a impressão que já te vi.
— É bem possível. Meu legado passado não é facilmente esquecido. – ele suspirou. – Antigo Treinador Pokémon, quase aspirante a Pesquisador Pokémon...sou Gary, futuro ex Carvalho.
  Crystal franziu as sobrancelhas ao ouvir mas ao compreender, abriu a boca e arregalou os olhos feito um Magikarp.

— Você....você é Gary Carvalho?! O próprio Gary Carvalho?! Famoso e promissor treinador com altas expectativas de se tornar Mestre e Professor Pokémon?! Único neto de ninguém menos que o famoso Professor Samuel Carvalho?!
   Crystal havia falado em voz alta e em tom de surpresa e isso fez com que Janine, Morty e Foress segurassem o riso, Alice crispar os lábios e Gary adquirir uma feição ressentida.
— É, Gary...sua fama o precede. – Morty comentou com um sorriso, lhe tocando o ombro. – E você fez uma boa história na sua época de treinador...
— Mesmo que tenha deixado tudo para trás. – Janine completou.
— Uma vez Carvalho, sempre Carvalho. – filosofou Foress.
— Parem com isso, vocês três!
  Temendo que tivesse causado algum desconforto, Crystal procurou remediar.
— Desculpe se fui inconveniente! É que eu lembro de você, na época em que era um treinador pokémon famoso. Eu nem era uma treinadora ainda e uma vez, indo assistir a Liga Pokémon de Johto com meus tios, uma das lutas era sua e fiquei muito admirada com sua estratégia e a habilidade de seus pokémon! Seu Blastoise é incrível!
— Obrigado. É, eu tive a minha época de ouro anos atrás...
— Quando comecei minha jornada como treinadora, pesquisei sobre treinadores famosos e promissores e você era um deles...mas aí li que você havia desistido de ser um treinador e também um pesquisador. A comunidade de treinadores pokémon de Kanto e Johto especula...
— Bando de fofoqueiros recalcados! – Alice interveio. – Gary já derrotou todos os que o criticaram e os que o criticam sem nunca terem batalhado com ele, iriam perder mesmo agora se o enfrentassem. Gary só não faz mais questão dessas coisas de batalhas e o pessoal fica querendo inventar besteira!

  Crystal sabia que os boatos e até mesmo teorias que rolavam entre certos grupos de treinadores acerca de Gary Carvalho eram tudo especulativas e, em sua maioria, vexatórias. Quando Gary havia oficialmente desistido de seguir carreira de uma profissão relacionada a pokémon (que era tradição em sua família pelo que havia lido) fizera uma única postagem em suas redes sociais agradecendo ao apoio de todos que haviam acompanhado seu trabalho mas que desistia em definitivo de continuar naquele estilo de vida e que agora almejava buscar outros objetivos.
  Essa decisão e seu “sumiço” posterior haviam causado não apenas furor mas também indignação entre os treinadores, gerando as mais diversas teorias.

— Isso tudo já está no passado! – Gary falou, decidido a encerrar aquele tipo de assunto. – Não vamos perder tempo falando sobre isso quando podemos fazer algo melhor. Como ensaiar! Temos que desenferrujar e decidir o repertório para a nossa estreia no festival!
— Festival? – Alice perguntou, curiosa.
— O Gary conseguiu nos cadastrar no festival Ghost Vodoo daqui uns meses. – explicou Janine.
— Onde o Houndoom’s Hell vai fazer aquele mega show da turnê?
— Exato! Estaremos no palco das bandas alternativas no segundo dia do evento. – Gary pegou a guitarra.
— Quando Gary viu que tínhamos sido aprovados pra tocar, ele veio correndo pra cá junto com a Janine e o Foress, chegaram batendo na minha porta logo cedo. – Morty bocejou. – E eu tô meio pregado...
— Quem mandou não dormir á noite?
— Eu sou líder de um ginásio do tipo fantasma! – resmungou o loiro. – Minha avó me obriga a treinar os pokémon á noite porque diz que é mais eficaz para os tipo Fantasma. Mas na real isso é tudo balela!
— Fala isso pra ela, ué. Tu é de maior.
— Tenta você retrucar o conhecimento superior da minha avó sobre pokémon Fantasma então! Falar isso pra ela é como falar com um Slowpoke! A véia finge demência e depois parte pra agressão!
— Chega de papo e vamos ensaiar! Minhas damas...

  Gary fez uma mesura teatral para Alice e Crystal. – Irão assistir, em primeira mão, a nova música dos Bastardos Deserdados. Por favor, sentem-se. Umbreon, saí do sofá!
  Gary indicou o velho sofá colocado ao canto e Alice aceitou com um sorriso. Foi então que Crystal percebeu que a grande almofada preta que estava sobre ele na verdade era um pokémon. O Umbreon se desenrolou, bocejou e se espreguiçou, descendo devagar e lançando um olhar emburrado para seu treinador antes de sentar-se ao lado do sofá, lambendo as próprias patas.
  As duas amigas sentaram-se no sofá enquanto os integrantes da banda posicionavam com seus respectivos instrumentos musicais. Crystal nunca havia assistido a um ensaio de banda, ainda mais em uma banda de tal estilo naquele tipo de lugar. Sua Misdreavus ajeitou-se em seu colo e ela percebeu a forma como Gary e Alice se olharam por alguns segundos antes dele sorrir discretamente e dar o primeiro acorde na guitarra, aproximando-se do microfone.

  E, nos primeiros acordes e batidas, Crystal percebeu que seus ouvidos seriam postos a uma prova de resistência diante da banda Bastardos Deserdados .

~*~ 


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...
Espero que tenha apreciado este capítulo. Enquanto o escrevia, a cena das meninas e a inusitada 'banda punk de porão" surgia em minha mente como se eu pudesse estar lá com elas. Abordar pessoas e situações relacionados á determinadas cenas urbanas sempre me trazem nostalgia do que conheci nos meus tempos de rolê.
A escolha do grupo foi decidida enquanto eu desenvolvia a cena. Não queria apenas jogar personagens figurantes, queria que todos tivesse identidade factuais ou seja, que existissem mesmo no universo pokémon. Então temos Morty, Janine e Foress (que no anime, é um dos vários irmãos de Brock). Eles aparecerão mais vezes, mas não com a frequência e importância de Gary. Aliás, a estréia de Gary pode ter sido uma surpresa inesperada, mas posso lhe garantir que ele é uma figura interessante, ainda mais por conta de sua ligação com Alice. (hum...o que será que o Lawrence acha disso?).
Por fim, mas não menos importante, a reunião de Lugia. O que foi induzido já das direções para os próximos acontecimentos que serão interessantes. Adoro poder jám ontar as diretrizes.
Enfim, preometo continuar trabalhando constantemente para produzir minhas coisas 9sejam histórias, rabiscos, artesanatos, cosplays) mesmo nesse caos que estamos vivendo e espero poder continuar contando com seu apoio!
Até o próximo capítulo.



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