A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leitor (a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.
Sei que houve um visível atraso para a atualização. Confesso que eu, realmente, não esperava e tampouco tinhp lanejado isso mas a bem da verdade, eu não esperava muita coisa que aconteceu nos últimos tempos.
Com essa época de pandemia e quarentena, eu tinha em mente de que produziria bastante na parte das minhas histórias, mas não foi bem isso que aconteceu. Até produzi, mas menos do que eu queria e acho que deveria.
Não está sendo fácil.
Mas, mesmo com o atraso, consegui fazer este capítulo. Eu não sabia muito bem como iria desenvolvê-lo mesmo tendo algumas bases e cheguei até mesmo a temer entrar em um bloqueio criativo mas, á medida em que eu escrevia, as ideias e soluções foram surgindo de forma lenta (o que culminou em dias para que eu pudesse escrever e finalizar).
Decidi que a estadia de Alice e Crystal em Ecruteak poderá se estender um pouquinho, pois enxerguei nela opções de poder inserir informações, personagens e interações que serão úteis para o andamento e envolvimento da história. Eu acho.
Agradeço á todos os (eu sei que poucos, rs) leitores que estão acompanhando e desenvolvendo teorias sobre a história. Garanto que vou surpreendê-los com revelações (porque certas coisas já estão prontas antes mesmo de eu começar a trama). Isso me alegra e me motiva a continuar escrevendo, ainda que eu o faça um pouco devagar.
Boa leitura!



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~*~


   Ela encontrou a treinadora sentada em uma das mesas no jardim da biblioteca, entretida na leitura de um livro e fazendo anotações em um pequeno caderno (que, sabia, tinha a imagem de Pichus desenhados na capa).
   Sorriu, se aproximando sorrateiramente e, quando chegou ás costas da amiga, lhe beliscou, de leve, em ambos lados da cintura.

— HAAAH! – Crystal gritou, dando um pulinho da cadeira. – Mas o quê...Alice! Você me assustou!
— Desculpa! – a outra riu. – É que você estava tão concentrada que eu não resisti!
  Crystal se remexeu na cadeira. Não gostava de ser pega tão descuidada daquele jeito. Como treinadora Pokémon, precisava estar atenta constantemente para não ser pega desprevenida.
  Alice sentou-se na cadeira vaga, cruzando as pernas e, pela calça justa que ela usava, Crystal percebeu que a amiga tinha grandes coxas, diferente dela.

— O que você está lendo?
— B-bom, achei um livro sobre Pokémon Fantasmas, explicando sobre as técnicas, vantagens e desvantagens dos golpes que cada um desses Pokémon pode ter. Como vou enfrentar pokémon desse tipo no ginásio, tenho de me preparar, criar uma estratégia com base nos meus Pokémon e o nível deles para montar um time de combate!
— Faz bem. Principalmente de estar usando um livro para pesquisar sobre e não a internet. – Alice deu uma folheada no livro. - Aprendi que, embora a internet seja mais rápido e prático, possui tanta informação e achismo que é bem difícil separar o que é informação correta e o que é errada.
  Crystal confirmou, lembrando-se do que o rapaz que conhecera havia lhe dito algo semelhante.
— Mas existe muitos Pokémon do tipo Fantasma. – Alice continuou. -  Estudar sobre todos eles vai te tomar um baita tempo!
— Eu não vou estudar todos eles! Não agora, pelo menos. – Crystal se endireitou na cadeira. - Pela lei do Comitê da Liga Pokémon, os líderes de ginásio só podem utilizar, em batalhas oficiais com treinadores por insígnias, Pokémon do tipo ao qual o ginásio pertence E— ela frisou bem a letra. – Pokémon que sejam naturais da região em que o ginásio está sediado. E nisso eu tenho uma pequena vantagem, pois em Kanto e Johto, os Pokémon do tipo Fantasma são apenas quatro: Gastly, Haunter, Gengar e Misdreavus. A Mismagius, por ser evolução da Misdreavus, eu acho que entra, mas não tenho certeza.

   Alice achou bonitinha a forma como Crystal explicava as coisas e especulava sobre suas dúvidas e possíveis estratégias que deveria ter de elaborar para a batalha que enfrentaria. Ela era focada e esperta, mas sua insegurança a deixava um pouco metódica e preocupada demais.
   Ela notou, então, algo sobre a mesa ao lado do caderninho de anotações da treinadora.

— E o que é essa bolinha aí? Amuleto da sorte?
— N-não! Isso...isso não é nada!
  Crystal percebeu que não conseguiria mentir e na verdade, nem ela própria entendia por qual motivo havia pensado em querer omitir sobre aquilo.
— Eu...ganhei de um cara.
— Um cara? – Alice comentou interessada, mexendo a esfera nas mãos. – Conte-me mais.

   Crystal então contou, de forma resumida (porque não era muito boa em se lembrar de tudo nos mínimos detalhes), quando havia chego ao jardim para ler e encontrou o rapaz lendo um livro ao mesmo tempo em que movia a esfera em uma das mãos de uma forma que só conseguias definir como mágica. Também contou sobre a conversa que haviam tido tanto sobre o truque com a esfera quanto sobre as dicas que ele lhe dera sobre onde procurar informações que poderiam lhe ser úteis para criar uma estratégia de batalha.
— E depois. – finalizou Crystal. – Ele disse que eu poderia ficar com a bolinha para praticar a tal técnica, que pode ajudar na concentração!
— Entendi. – Alice olhou a esfera. – Acho que nunca vi esse truque, pelo menos que eu me lembre.
— É bem legal! A bolinha parece ter vida própria, é hipnotizante! Ele a movia com tanta facilidade e leveza, que parecia mágica mesmo! Era muito bonito de se ver.
— O truque ou o cara?
   Crystal pensou um pouco antes de responder.
— Os dois.
— Ora, ora... – Alice sorriu, faceira. – Parece que nosso amigo Kenta acabou de ganhar um rival.
— D-do que você tá falando?! – Crystal corou. – Isso não tem nexo! Eu não tenho nada com o Kenta e nem ao menos sei o nome do cara!
— Você não perguntou?
— Eu...nem me lembrei na hora. Quando pensei, ele já tinha ido embora.
— Ele era um Persian?
— Persian? Estava mais para um Ninetales de Alola, no mínimo!
  Ambas riram e a treinadora continuou.
— Ele era muito bonito, mas de um jeito meio exótico. Aquele tipo de cara de histórias de romance de fantasia, tipo inatingível.
— Sei. Esses são bem raros. Acho legal, mas eu prefiro os caras de história tipo empresário de terno. Mas você deveria ter perguntado o nome dele.
— É eu sei. Bobeei. – Crystal suspirou. – E você?
— Eu o quê?
— Você está bem?
— Sim. Eu chorei um pouco, mas agora estou bem! Obrigada por perguntar e ...por estar aqui comigo.
— Amiga é pra essas coisas!
  Trocaram um sorriso compreensivo.

— Então, ainda temos o dia todo para aproveitar a cidade. Onde gostaria de ir? – Alice falou, se animando. – Temos várias opções turísticas e como conheço bem aqui, garanto que sou uma ótima guia!
— Poderíamos deixar o passeio turístico para amanhã? – Crystal pediu. – É que, como eu quero enfrentar logo o líder de ginásio, quero começar a treinar e avaliar meus Pokémon o quanto antes. E fazendo isso logo, já vou traçando planos de batalha. Na última batalha de ginásio, percebi que cometi deslizes que não posso voltar a cometer. Teria problema?
— De modo algum! Eu estou em jornada Pokémon com você, não você estando em viagem turística comigo. E ficando aqui por alguns dias, teremos tempo de sobra para passear em vários lugares daqui depois! Podemos ir para a arena de treino ou então nas rotas que ficam nos limites da cidade.
— Podemos ir em ambos? – perguntou Crystal. – Quero treinar bastante para meus Pokémon ganharem um pouco mais de experiência e quem sabe subir alguns levels.
— De boas! Huum...acho que vou aproveitar e treinar meus Pokémon um pouco também.
— Legal! – Crystal se levantou da cadeira. – Eu vou devolver o livro e aí passo rapidinho no Centro Pokémon para selecionar os Pokémon para treinar e aí já podemos ir para o campo de treinamento!
— Você já leu tudo o que precisava?
— Ah, na verdade não, mas...eu me cadastrei hoje na biblioteca e a atendente disse que eu ainda não posso levar um livro comigo. Tenho de esperar o sistema validar, algo assim.
— Eu resolvo isso! – Alice lhe tomou o livro. - Eu tenho cadastro aqui há anos. Na verdade, tenho cadastro em todas as bibliotecas, museus e centros culturais de Ecruteak.
— Sério?! – Crystal se surpreendeu, porque Alice não fazia bem o tipo de pessoa que parecia adorar ficar enfurnada em bibliotecas e coisas do tipo.
— Eu passava muito tempo aqui na cidade anos atrás por causa do senhor Lawrence. Como ele tem como hobby ser colecionador e pesquisador histórico, costumava e costuma, vir muito aqui. E eu o acompanhava. Assim, enquanto ele ficava resolvendo as coisas dele, eu andava pela cidade.  Mas na maior parte das vezes, passávamos horas juntos nas bibliotecas, templos e museus.
— Entendo. Você e ele são...bem unidos, né?

  Alice não respondeu de imediato. Voltou a atenção para as flores no canteiro ao lado e Crystal notou como o olhar dela pareceu distante, como se lembrasse de momentos agradáveis.
— Em vários pontos sim. Outros nem tanto. E alguns ainda são enevoados e difíceis de definir. – ela balançou a cabeça e sorriu.  Mas vamos deixar isso pra lá e focar no nosso treino Pokémon porque o dia passa rápido! Vamos dar uma surra em uns treinadores Pokémon melebentos!
— Vamos!

~*~


   Igni olhou para o próprio reflexo no espelho. Os cabelos louros haviam crescido um pouco, de modo que penteou de uma forma que a ondulação natural se acentuasse por ajeitá-lo de lado. Moveu a cabeça para um lado e depois para o outro, tocando com a ponta dos dedos a pele das bochechas. Nenhuma deformidade na pele, mesmo após tanto tempo. Ajeitou a gravata e fechou o paletó cinza-chumbo.
   Os trajes considerados elegantes e formais para homens na época atual eram bem simples, ainda que nunca houvessem sido tão suntuosos quanto os das mulheres ao longo das eras. Mas alguns – principalmente os mais antigos dedicados á realeza, eram extremamente luxuosos e chamativos. Hoje, o simples terno era o suficiente. E eles lhe serviam muito bem.
  Particularmente, apreciava a quase total liberdade estética que as pessoas tinham nos dias atuais, independente do sexo.

    Saiu de seus aposentos particulares não pela porta principal, mas sim por um a lateral parcialmente escondida que ligava diretamente á sua sala. Aqueles aposentos haviam sido construídos na base militar para serem as acomodações do general principal em comando e, desde que a Equipe Rocket tomara posse do local, havia se tornado as acomodações dos líderes Rockets: primeiro de Madame Boss, e posteriormente, seu filho Giovanni. Era de se esperar que fossem pertencer ao primogênito de Giovanni.

“ Mas as coisas sofreram algumas alterações e agora pertence a mim.”

  
   Quando a porta lateral se abriu e Igni entrou no escritório, encontrou Dômino encostada á mesa, mexendo no celular. Ela usava uma calça preta de courino, sapatos de salto agulha e um corset overbust por cima de uma fina camisa preta de seda transparente. Soltara os cabelos, fazendo-os caírem em cachos ondulados pelos ombros.
— Onde a senhorita pretende ir com esse look discretamente sedutora?
  Dômino se virou diante da pergunta, encontrando Igni com seu típico sorriso apático. E com os cabelos loiros de uma suavidade e brilho que lhe davam inveja.

— Fui requerida pelo atual comandante da Equipe Rocket a estar presente na reunião particular com o Rei e suas nobres irmãs. – ela brincou com uma mecha de cabelo nos dedos. – Lógico que iria comparecer de forma apresentável! E você mesmo me disse que é melhor evitar uniformes Rockets para os agentes, como eu, designados a fazerem parte do que pretende fazer. – ela sorriu. – Serei nomeada membro do Alto Conselho?
— De modo algum.
  O sorriso dela se desfez.
— E posso saber o motivo? Não vá me colocar para ser dama de companhia das princesinhas! Eu sou uma das melhores agentes Rockets, tenho muito conhecimento e informações úteis, inclusive coisas do Alto Conselho, sei sobre os lendários amaldiçoados, me sujeito a certas missões por ser ótimas nelas e ainda transo com você!
— Nossa, então só está comigo para usufruir de regalias dentro da organização?
— Não se faça de bobo, coisa que você não é. – Dômino resmungou. – O que quero dizer é que eu deveria ter sido indicada para ocupar o cargo vago no Alto Conselho!
— Oh, parece que temos alguém enciumada aqui.
— Não é ciúmes, Igni! – ela observou o rapaz ir até o aparador e se servir de uma taça de vinho. – É apenas exigir uma explicação plausível para isso e lembrar que eu devo receber reconhecimento pelo meu trabalho e dedicação!
— Eu não tenho total autonomia no que é decidido pelo Alto Conselho. Ainda que a palavra final seja minha, não posso ir contra a decisão da maioria se ela estiver embasada por fatos irrefutáveis. – Igni bebeu um gole. – Quando finalmente a cadeira daquele morfético do Mamba ficou disponível, elaborei uma lista com os nomes dos membros Rockets que estariam aptos a ocupar o cargo.
— Eu sei. Vi quando você fazia.
— Então, se viu, lembra que o seu nome estavam entre os primeiros. Mas havia Basho. E a escolha foi praticamente unânime.

   Dômino conteve um suspiro. Realmente, não tinha como qualquer agente Rocket, nem mesmo ela, ser capaz de competir com Basho. O “gênio Basho”. Inteligente, habilidoso, agraciado com uma bela aparência, um estrategista nato. Com uma habilidade de aprendizado e memória acima da média, ele sempre era o melhor em tudo o que se propunha a fazer.
   Dômino o detestava, mas também o  admirava. E assim como ela, quase toda a Equipe Rocket sentia o mesmo com relação ao agente.

— Não fique enciumada. – Igni se aproximou, tocando-lhe o queixo com a ponta dos dedos. - Você possui muitas habilidades em diversas coisas e é altamente capaz em todas elas, além de gozar de uma confiança da minha parte e da parte de Giovanni. Mas isso também é algo que levanta muitas suspeitas. Não sem fundamentos, como sabemos muito bem. Mas não há qualquer boato com que possamos realmente nos preocupar.
  Igni pegou uma mecha dos cabelos dela e torceu levemente a ponta com o dedo, então sorrindo de forma suave e apática.

— Eu sempre soube que poderia tê-la ao meu lado no momento em que a vi, Dominique. Eu a ajudei e você...pode não fazer parte do Alto Conselho mas está ao meu lado, ciente e presente em tudo que será importante.
— Poderei estar presente em todas as reuniões? – ela perguntou.
— Só as que o Alto Conselho considerar necessários, pois certamente haverá missões de espionagem e você é a melhor nisso. Mas não se preocupe.  – Igni colocou a taça de vinho vazia no aparador junto á garrafa. – Não há reuniões no Alto Conselho que realmente tenham algo de extrema importância ultimamente. São mais suposições e burocracias de velhos acomodados.
— Não me venha com esse papo que eu sei que é mentira! – Dômino se aproximou e apertou um pouco o nó na gravata do rapaz. – Mas que seja. Posso não estar nas graças do Alto Conselho por conta da minha ligação com Giovanni no passado e agora com a aproximação que tenho com você mas...posso cair nas graças do rei.

  Igni a fitou com os lábios fechados, mas era possível notar um mínimo tremor neles.
— Não preciso lembrá-la, mas o farei mesmo assim. Lugia não é como as outras pessoas. – ele falou. – Não tente, com ele, qualquer coisa. Fui claro?
  Dômino o encarou. Aqueles olhos bicolores eram bonitos, mas conseguiam ser incômodos também.
— Certo. – ela respondeu, arqueando uma sobrancelha. – Não me diga que você pretende...
  Igni revirou os olhos e se afastou . Tal gesto fez Dômino continuar.

— Bom, não seria primeira vez que faria uso de suas outras qualidades! Sua fama o precede.
— Pare de falar bobagens e vamos logo. – Igni voltou a seu típico sorriso dissimulado. – Não é ideal que cheguemos atrasados em uma reunião particular com vossa majestade!

   Dômino se perguntou se as duas últimas palavras soavam como ironia ou sinceridade. Vindo de Igni, era sempre uma incógnita. Não era á toa que praticamente todos na Equipe Rocket tinham opiniões conflitantes acerca dele. Até ela ás vezes se pegava pensando nessa mescla de opiniões sobre o rapaz.  Até porque, sabia das coisas que Igni era capaz de fazer. Coisas que ela o vira fazer.

  “Assim como ele sabe de coisas que sou capaz de fazer e coisas que me convenceu a fazer.”

  Mas tanto faz o que Igni poderia ser ou fazer. Ele sempre fora uma incógnita e continuaria sendo. Sabia disso e havia aceitado, por necessidade e por interesse também. E, quando ele abriu a porta para que ambos saíssem, Dômino não pensou duas vezes em segui-lo. Segui-lo sempre, pelo tempo que fosse preciso e possível.
  E que esse tempo durasse bastante.

~*~


— É isso aí!
   Crystal exclamou exultante, a pokédex nas mãos enquanto via o Pidgeotto do treinador oponente cair derrotado e ser chamado de volta á pokébola. Com aquela, já somava quinze batalhas vencidas desde que começara a buscar treinadores com quem pudesse batalhar. Ainda que tais batalhas não fossem nenhum desafio digno de nota, já era alguma coisa, rendendo um pouco de experiência para seus Pokémon e também alguns trocados. Pelo que podia ver, sua Misdreavus acabara de subir um level derrotando os três Pokémon do oponente.
— Você é incrível além de linda, Misdreavus! – ela falou quando a Pokémon fantasma flutuou até ela. – Formamos uma boa dupla!
— Mis-mis dreaaavuus!

  O treinador derrotado se aproximou para efetuar o pagamento pela derrota para a conta da treinadora, conectando sua pokégear e a de Crystal através de infravermelho.
— Ei, você anda acompanhando os protestos?
— Protestos? Que protestos?
— Uma galera está falando nas redes sociais sobre isso. – o treinador comentou, enquanto via o dinheiro ser transferido de uma conta para a outra. – Tá crescendo um movimento aí de pessoas e até treinadores acerca do uso de Pokémon em batalhas. Eles alegam que batalhas Pokémon envolvendo dinheiro é uma forma de explorar os Pokémon, igual ao que acontece com as rinhas.
— Como assim? Batalhas entre treinadores, como as nossas, são feitas tudo dentro da lei, amamos nossos Pokémon e não exigimos demais deles ou os maltratamos! As rinhas são abusivas e cruéis, totalmente diferente!
— Então, eu também acho isso, mas sei lá, eu andei lendo umas coisas e vi uns vídeos que...
— CARRALHO, MEU POKEMON!

   Crystal e o treinador viraram-se para trás, onde uma treinadora avançava furiosa para fora do campo de treino, carregando um Growlithe chamuscado, machucado e desfalecido nos braços. Um pouco atrás da treinadora, Alice vinha, com o seu Houndoom ao lado.
— Ei, espera aí! Eu tenho uma Potion aqui para o seu poké...
— Eu não preciso da sua maldita Potion! Eu deveria é te denunciar para os Direitos dos Pokémon! Vou fazer um post no Pokébook te difamando!
— Você nem me conhece, sua retardada! Isso não tem cabimento! – Alice colocou as mãos na cintura. – Foi uma batalha justa e normal! Não tenho culpa se teus Pokémon não aguentaram!
— Não foi uma batalha justa! Meus Pokémon não são de nível alto, eles não aguentam um combate com um Pokémon muito nível acima!
— Ora, então está admitindo que você não tem nível capaz de me derrotar! Eu ainda te dei vantagem de poder usar mais de um Pokémon ao mesmo tempo contra meu Houndoom! E se não conseguiu me derrotar em batalha, não é problema meu.
— Você é uma treinadora muito escrota!
— Escrota é você, que não sabe perder!

  A treinadora foi embora bufando e praguejando, o pobre Growlithe nocauteado balançando em seus braços. O treinador se despediu de Crystal e também partiu, indo para o mesmo caminho que a outra treinadora.
   Crystal notou que Alice parecia irritada quando esta se aproximou e tratou de perguntar.
— Tá...tudo bem?
— Claro! – Alice soltou um suspiro, irritada. – Só que os treinadores daqui são meio fraquinhos e cheios de ataques de piti! Pensei que aqui pelas rotas seria melhor do que no campo de treino, mas não adiantou muita coisa! Ou talvez meus Pokémon que estejam em um nível maior do que a média...

“Provavelmente é a segunda opção.”
 Crystal pensou, lembrando-se de que, quando estavam no campo de treinamento, o fato de Alice ter incendiado o Exxeguttor de um treinador com uma explosão de fogo do seu Charizard, acabou fazendo com que os demais treinadores que estavam ali e haviam visto, se negassem a batalhar contra ela.

  Era certo que os Pokémon de Alice estavam em um nível acima da média, mas por um lado concordava com a amiga que os treinadores ali não mostravam serem grandes desafios ou competidores que realmente ajudassem seus Pokémon a adquirirem uma boa quantidade de experiência. Mesmo Crystal não se considerando uma grande treinadora, ainda assim não teve muitas dificuldades em vencer praticamente todos os oponentes que desafiou ou que foi desafiada. Desse modo, após algumas batalhas (e o fato de Alice não conseguir encontrar mais ninguém com quem batalhar) as duas decidiram seguir em direção ás Rotas de Treinadores, que ficavam sempre nos limites das cidades. Além de terem a vantagem de conseguir encontrar Pokémon selvagens, os treinadores que costumavam ficar nas rotas tendiam a serem melhores oponentes para batalhas. Não que fosse uma regra, mas era algo que a comunidade de treinadores costumava seguir: os treinadores que ficavam mais nos Campos de Treinamento, eram mais jovens e iniciantes, enquanto os treinadores que ficavam nas Rotas já possuíam maior experiência e buscavam desafios (e apostas em dinheiro entre as batalhas) maiores.
  Ainda assim, Crystal também não encontrou muitos desafios por ali. O grupo de treinadores de Ecruteak no Pokébook parecia meio abandonado e pelo que lera, a concentração de treinadores ocorria mais aos finais de semana ou feriados prolongados. Realmente, Ecruteak era uma cidade turística. Mas de um turismo não muito interessante para grande parte dos treinadores Pokémon, a despeito do grande acervo histórico e cultural ligado á Pokémon que possuía.

  Pelo menos, a tarde não havia sido de todo perdida. Conseguira treinar um pouco e, pela certa facilidade com que vencera, sentia-se mais confiante. Talvez pudesse levar seus Pokémon para o Centro Pokémon e comprar alguns itens para lhes dar mais força e energia. O dinheiro que havia ganhado nas batalhas de hoje poderia ser usado nisso, já que Alice fizera questão de pagar a hospedagem em um hotel mesmo Crystal tenso insistido que poderia pernoitar no Centro Pokémon. Mas estava concluindo que era impossível convencer Alice quando ela insistia em alguma coisa.
   Alice se voltou para o Houndoom ao seu lado, segurando a cabeça do Pokémon com ambas mãos.

— Iti! Quem é o cão infernal mais fodão e lindo da mamain? Quem é?
   O Houndoom ganiu de satisfação pelo agrado, abanando freneticamente a cauda. E Crystal concluiu que, daquele jeito, o Houndoom até parecia um Pokémon manso e simpático. Mas quando Alice parou de afagá-lo para ver algo no celular, o Pokémon encarou Crystal e se aproximou para farejar suas pernas.
— Hah...vai...vai...pra lá...

   O Houndoom continuou a farejando com interesse e Crystal sentiu todo o corpo gelar e estremecer. Sua mente foi invadida por lembranças ruins da sua infância, na vez em que um Houndoom enraivecido a atacou e só não foi pior por ter conseguido subir em uma árvore.
   Queria pedir a Alice que colocasse o bicho de volta na pokébola, mas as palavras não saíam e temia fazer algum movimento que acabasse induzindo o Pokémon a lhe atacar.
   Foi então que a Misdreavus, percebendo o medo de sua treinadora, se lançou sobre o Houndoom, soltando um assovio agressivo. O Houndoom se afastou, rosnando contra a Pokémon fantasma que, a despeito do tamanho, não se intimidou.

  Ambos Pokémon se encararam e o Houndoom latiu, tentando intimidar e até mesmo abocanhar a Misdreavus, que se matinha flutuando para lá e para cá, atenta, mas há uma distância segura, o que irritou ainda mais o outro Pokémon.
   Quando o Houndoom abriu a bocarra, Crystal pôde ver o fogo surgir do fundo de sua garganta e sentiu medo.
— Houndy, pare já com isso!
  Alice aplicou um soquinho no focinho do Pokémon e ele parou.
— Não pode ficar arrumando briga com os Pokémon da Crystal! Eles são nossos amigos! – ela afagou os chifres do cão. – Os outros você pode, mas os dela não, tá? Desculpa, Crystal. O Houndoom é meio pavio curto, mas depois que se acostuma ele é super amorzinho e...o que você tem? Está pálida.
— N-não é nada! Estou bem! Acho que só com um pouco de sede!

  Ela pegou a garrafinha de água que mantinha presa no cinto e bebeu um gole, sentindo que estava já meio quente. Não queria dizer para a amiga sobre seu trauma relacionado a Houndooms, até porque Alice tinha um grande carinho por aquele seu Pokémon e Crystal temia que, se falasse, poderia criar um clima chato.
   Mas foi um alívio quando viu Alice chamar o Houndoom novamente para a pokébola, dizendo que ele precisava descansar. As duas treinadoras ficam em silêncio, observando o silêncio na rota, só quebrado pelo ruído de algum simples Pokémon selvagem entre os matos e árvores de ambos lados da estrada. Mais ao longe, Crystal notou, parcialmente atrás do que seria um muro, uma construção antiga e abandonada.

— O que é aquele lugar? – disse, apontando na direção.
— Hum? Ah, é uma antiga capela. Ecruteak tem muitas, assim como os pequenos templos, mas vários deles são abandonados.
— Por quê alguns ficam assim? São locais históricos, não?
— Não sei. Tem muita coisa a ver com administração da prefeitura da cidade, organizações históricas e arqueológicas. Então, eles avaliam o que vale ou não á pena restaurar. E o que não consideram, a prefeitura deixa como está. Ai cabe a quem quiser comprar o terreno onde a construção fica para fazer a reforma ou demolir.
— Nossa. Isso é meio...triste.

  Alice afirmou com a cabeça e ambas observaram a construção. Foi então que, subitamente, a Misdreavus flutuou em direção á construção, como se uma intuição ou algum tipo de força sobrenatural a houvesse atraído.
— Misdreavus! Aonde você vai?
  Mas a Pokémon ignorou o chamado da treinadora e avançou em direção á antiga construção, atravessando o muro que a cercava.
— Misdreavus! – Crystal gritou, correndo até o muro. – Ei, menina! Volta já pra cá! Droga!
— O que deu na sua Pokémon?
— Eu não sei! – Crystal se preocupou. – Minha Misdreavus é muito sensível a qualquer tipo de manifestação de energia, como qualquer pokémon Fantasma é, mas você viu. Ela saiu como se estivesse hipnotizada! E se ela encontrar um pokémon agressivo? Misdreavus é forte, mas ela já enfrentou várias batalhas e está cansada!
— Calma! – Alice tocou seu ombro. – Vamos entrar lá dentro e procurá-la.
— Mas por onde vamos entrar?
— Tem uma passagem pelos fundos, vem comigo!

  As duas avançaram com passos apressados até o local e Alice entrou por uma lateral coberta por um mato alto, com Crystal atrás de si.
— Como você sabe que tem uma passagem?
— Eu já vim uma vez neste lugar.
— E veio fazer o quê?
— Aqui! Não consertaram mesmo esse buraco!

  Crystal viu Alice apontar para um grande buraco no muro e passar por ele e Crystal a seguiu. Assim que entrou, Crystal olhou para a construção, notando que era realmente uma capela. Ou havia sido, muito tempo atrás. Deveria ter sido uma construção até que bonita, mas agora estava muito mal tratada e com entulho espalhado por toda parte.
  Não conseguiu  se atentar aos detalhes, pois ouviu, vindo de dentro da velha capela, o grito de sua pokémon, que fez todo o calor sumir do seu corpo.

~*~

  
   Quando Dômino entrou na sala em que aconteceria a reunião, custou acreditar que aquela sala era a mesma sala de reuniões Rocket que estivera inúmeras vezes. Na época de Giovanni, aquela sala possuía uma atmosfera gelada, tanto pelo ar condicionado sempre parecer estar ligado ao máximo quanto pelas paredes revistas de metal daquela cor cinza chumbo que parecia deixar tudo mais escuro e frio. Não havia janelas, a iluminação externa vinha somente de pequenos vitrôs próximos ao teto, cujos vidros nunca eram abertos.  E de mobília havia apenas uma mesa retangular de ferro que mais parecia uma mesa de dissecação, exceto pelas oito cadeiras de ferro que a rodeavam, todas extremamente desconfortáveis. Fora isso, mais nada.
  De modo que se surpreendeu quando entrou na sala e se deparou com algo totalmente diferente.

   Quando Igni falara – enquanto caminhavam até o local – sobre uma reforma que fizera naquela sala especificamente, pensou que ele apenas havia mandado colocar alguma mobília, trocado piso e pintado a parede. Ele fizera isso, mas havia também mandado que se realizasse uma reforma completa. Tudo estava em cores claras, dando uma suavidade e requinte á sala.
   As paredes de metal haviam sido substituídas por paredes pintadas em um tom de marrom, para combinar com o piso. A mesa de ferro sumira, ficando em seu lugar uma mesa de madeira do mesmo tamanho, do tipo existente em salas de reuniões de grandes empresas. E as cadeiras eram grandes e com encostos almofadados. No fundo da sala, uma grande TV de plasma fora afixada na parede ao lado da porta que dava acesso ao banheiro que havia ali e, na parede direita, um grande aparador ia quase de ponta á ponta. Ele possuía portas e gavetas, confeccionado em madeira polida. Sobre ele haviam sido colocados alguns pratos com petiscos e também taças e garrafas de bebida. Nas paredes, havia alguns quadros de arte meio modernas, mas o que mais surpreendeu Dômino foi que a parede esquerda havia sido parcialmente demolida para criar uma grande porta que, quando ela viu melhor, dava acesso á uma varanda que permitia um vislumbre perfeito do vale e a floresta abaixo. Ainda que houvesse uma cortina sobre a porta, sabia que ela estava aberta, permitindo que a luz do dia iluminasse todo o recinto, dispensando o uso de luzes artificiais.
   “Isso aqui ficou muito bom”. Tinha de admitir para Igni depois.

  Ao redor da mesa, reconheceu Shiranui e mais dois homens que faziam parte do alto escalão Rocket – um dos quais ela tinha profundo asco. Havia também duas mulheres negras que Dômino não conhecia, mas sabia quem eram. A mais jovem, com os cotovelos sobre a mesa e expressão entediada, certamente era Moltres. Mondo falara sobre ela e vendo-a ali, Dômino tinha certeza de que ela era do tipo difícil de lidar. A outra, obviamente, era Articuno. Ela era muito bonita e mantinha uma altivez e serenidade que denotavam sua origem nobre. Mas Dômino percebeu quando ela a olhou de cima abaixo, como se a avaliasse.
  “Essa não é tola ou facilmente manipulável.”
  Mas onde estava o rei?

— Desculpem o atraso, tive um pequeno contratempo. – Igni falou, de forma agradável. – Oh, olá majestade. Como está?
  Dômino se virou na direção em que Igni olhava. Ali na entrada da varanda, estava, em forma humana, Lugia.

~*~
 


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...
Ufa, finalmente consegui. Acho que esse foi o capítulo que mais tive dificuldades em escrever, não pelo conteúdo dele, mas pelo estado emocional em que estou. Essa pandemia não está sendo fácil, ainda mais com inúmeros problemas e transtornos que a acompanham. E com o estado atual do país piorando cada vez mais, torna tudo mais revoltante e desmotivador.
Enfim, acho que consegui deixar o capítulo regular e, á medida que o escrevia, fui mudando muitas coisas do que havia preparado inicialmente para ele. Diálogos sempre são um pouco trabalhosos e por isso mesmo busco fazê-los o mais bem construídos possível de forma a ficarem naturais e verrosímeis. Alguns até que fluem bem (como as conversas entre Alice e Crystal) mas outros dão mais trabalho, como os de Igni e Dômino (na verdade, os de Igni com qualquer pessoa rs).
Queria ter colocado a cena com o Lugia, mas ficará pro capítulo seguinte
Agradeço á todos que continuam acompanhando a fanfic, que estão me apoiando nela e em todas as coisas da minha vida, que me incentivam a continuar escrevendo e criando. Obrigada, meus amores!
Até o próximo cappie!



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