A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leitor(a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Eu acabei atrasando a atualização da fanfic e nem sei bem o que dizer sobre isso. XD

Quando comecei a escrever histórias (vários anos atrás), as pessoas no geral, tinham o hábito de ler muito mais. Não digo acerca do que eu escrevia, mas acerca do que todos escreviam. Atualmente, as pessoas parecem ler cada vez menos e é muito difícil conseguir manter leitores fiéis.
Isso desmotiva muito quem escreve.
Eu tenho alguns leitores fiéis e é por eles que tenho motivações para continuar escrevendo essa fic.
Mas a partir de agora, não quero mais me auto-pressionar em prazos pré-determinados que coloquei para atualizá-la. Porque isso me esgota, me irrita e no fim, fico frustrada se atraso Então,irei escrever em um ritmo mais livre para mim.
2020 está sendo, para mim, um ano mais introspectivo, mais focado em coisas fora do nicho virtual e mais "sem tempo,irmão" com muitos e com várias coisas.

Mas, a fic de poké continuará sendo escrita (diferente da do Cruello que coloquei em um hiato) e muitas coisas acontecerão nela para te surpreender!
Obrigada pela presença, pelo apoio e pelo acompanhamento! Agora, vamos ao capítulo porque é isso que eu sei que você quer.

Boa leitura!



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~*~


— Nossa, ultimamente as enfermeiras Joy estão sendo um porre!
   Alice entrou no banheiro do Centro Pokémon, irritada, seguida por Crystal.
— Acho que nós não percebemos que nossas risadas e conversas estavam um pouco altas demais.
— Pode ser, mas ela não precisava ter sido tão grosseira! Você viu que ela ficou um tempo na porta cheirando nosso quarto? Na certa achou que estávamos fumando cigarro de Execonha! 

Um sorriso tremeu nos lábios de Crystal ao se lembrar da forma como a enfermeira Joy realmente cheirara o quarto, com expressão desconfiada. Era de conhecimento geral de que muitos treinadores Pokémon tinham o hábito de consumirem cigarrinhos feitos com folhas e Stun Spore, provenientes de Pokémon Exxeguttors. Embora fosse considerada uma droga, seu efeito era leve e raramente causava dependência, com efeitos que se limitavam a um relaxamento da mente, letargia e suave embriaguez. Crystal nunca tivera interesse em experimentar, mas já havia lido sobre e se deparado com ocasionais “rodinhas” de treinadores em campos de treinamento.

  O banheiro estava vazio e lembrava muito os banheiros de escola e ambas colocaram suas necessáries sobre a pia, para começarem a escovar os dentes.
— E aí. – começou Alice com a escova na boca. – Já sabe para onde vamos agora?
— Na verdade não. Depois de tudo que aconteceu hoje, nem parei para pensar! – Crystal começou a passar o fio dental entre os dentes. - Eu sei que preciso ir em direção á minha próxima insígnia, mas preciso treinar meus Pokémon também. Quanto mais experiência eles tiverem, mais chances eu tenho para poder enfrentar os líderes de ginásio sem tanta dificuldade. Eu percebo que preciso melhorar. E o ideal é treinar com meus Pokémon nos caminhos e rotas entre as cidades que possuem ginásios. Muitos treinadores mais experientes optam por treinarem assim do que nos campos de treinamento. Oponentes mais difíceis acabam sendo mais desafiadores e ao vencer, meus Pokémon ficam mais experientes. Fora que eu preciso continuar enfrentando batalhas para ter chances de ganhar um dinheiro senão não consigo viajar só com a mesada dos meus tios e a ajuda de custo do Bolsa-Treinador!

   Alice observou a amiga continuar, enquanto passava um creme hidratante no rosto.
— O Kenta vai para Goldenrod e até sugeriu que a gente fosse junto com ele.
— É, eu lembro que ele comentou sobre isso. De ir lá e aproveitar para ver se descola algum trabalho temporário.
— Sim. – Crystal confirmou. – Ele tá a fim de comprar uma bicicleta para seguir jornada pelas Rotas. Como eu, ele sabe que a melhor forma para se conseguir experiência entre uma cidade de ginásio para outra, é batalhar com outros treinadores nas rotas e não só nos campos de treinamento. Tem tanta coisa em Goldenrod que eu acho que acabaria deixando meus treinos com os Pokémon de lado e não posso sequer pensar nisso! Fora que no grupo de treinadores que sigo no Pokébook, eles comentam que o ginásio de lá é bem difícil e que a líder é...
— Uma Milktank!
— É! Dizem que esse é o Pokémon mais forte dela e é bem difícil de derrotar mesmo que a princípio não pareça.

  Alice pensou em explicar que não era por isso que ela falara o nome do Pokémon, que também servia como uma denominação pejorativa, mas desistiu. Uma hora, quando Crystal tivesse que enfrentar Whitney, a líder do ginásio de Goldenrod, Alice contaria sobre. Claro, depois de fazer seu Charizard transformar o Pokémon bovino da líder de ginásio em um hambúrguer bem passado e fazê-la engolir.

— Mas eu não sei... – continuou Crystal guardando suas coisas após escovar os dentes. - Eu gostei de conhecer um pouquinho a cidade e queria muito passar no Goldenrod Dept. Store de novo, mas eu sinto que não devo ir lá ainda. Você já sentiu isso?
— ...isso o quê?
— Esse tipo de sensação estranha, não algo ruim, mas que toda vez que eu penso parece me dizer para ir pra outro caminho. Como uma intuição.
— Ah, sim. Muita gente costuma ter isso. – Alice guardou os cremes em sua necessárie. – Mas você não quer ir para Goldenrod por conta disso ou também tem a ver com ir em parte da viagem com o Kenta?
— Como assim?
  Alice tratou de explicar da forma mais didática que conseguiu.
— Crystal, o Kenta esta esperando que você tope seguir jornada com ele. Talvez não por muito tempo, até porque ele tá indo lá principalmente pra descolar um bico de trabalho e isso obviamente vai atrasá-lo um pouco na jornada Pokémon, mas pelo menos até chegar na cidade. Ele gosta de você.
— Eu também gosto do Kenta! Somos amigos desde crianças, estudamos juntos e tal.
— Eu sei e não é desse tipo de gostar que estou falando! – Alice cruzou os braços, se encostando na pia. – Ele gosta de você mais do que uma amiga.  A forma como ele te olha, como fica encabulado e gagueja quando você o encara, é óbvia. Ele tá muito á fim de você!

  Crystal estancou. Piscou, confusa, e gaguejou, incrédula.
— Fi-ficou doida, Alice?! Somos só amigos, o Kenta nunca me falou nada!
— Ele não fala porque é tímido e inexperiente demais!  E na certa tem todo aquele fato de ele ficar com medo de falar e assim estragar a amizade de vocês.
— Acho que você está imaginando coisas!
— Eu tenho experiência suficiente para saber quando alguém está á fim! E o pouco que já conheço do Kenta dá pra ver que ele é uma pessoa muito transparente.  – ela suspirou. - É muito mais difícil notar essas coisas em alguém experiente em controlar as próprias emoções...

   Crystal notou o semblante melancólico da amiga ao dizer as últimas palavras, mas no momento sua cabeça parecia beirar entre a dúvida e a incredulidade.
   Nunca tivera ninguém que demonstrasse que era  “á fim dela”. Todos os garotos por quem já tivera algum interesse (que eram poucos) nunca retribuíram e Kenta...era estranho pensar que  alguém que conhecia desde que se entendia por gente e que era praticamente seu único amigo (agora tinha Alice também) pudesse nutrir algum sentimento e interesse daquele tipo por ela.
— Olha, eu sei que existe muitos casos de amigos de infância que um gosta do outro. Já vi filmes e li mangás desse tipo, mas não!
— Você não tem pelo menos uma quedinha por ele?

  Crystal fez uma careta de consternação.
— Somos praticamente como irmãos! Eu não consigo imaginar namorando ou pelo menos ficando com o Kenta! E acho que nem ele! Você está é criativa demais!
  Alice ergueu as mãos, em sinal de rendição, mas mantendo um sorrisinho.
— Okay, não está mais aqui quem falou! Mas só uma última perguntinha.
  Crystal a encarou com um suspiro de impaciência.
— Se, hipoteticamente, você e o Kenta não fossem amigos de infância, etc  e tal, você teria interesse em ficar com ele?
— ...não.
— Por quê?
— Eu não sei! Eu...eu gosto de outro tipo de cara, entende? E é bem diferente!
— Hum...seu ideal seria alguém tipo o mestre Lance?
— Ah, isso com certeza!- Crystal falou. – Mestre Lance é único. Ele é bonito, poderoso, talentoso, engajado em causas sociais tanto de humanos quanto de Pokémon, humilde, sexy...

  Crystal suspirou, um sorriso bobo nos lábios. Mas, ao perceber a forma divertida como Alice a encarava, corou.
— É...é que...eu sou muito fã do mestre Lance e...
— Relaxa, não te julgo. Lance Pendragon é mesmo um tipão! E eu já sabia que você era fã dele.
— C-como?!
— Eu tenho você como amiga no meu pokébook né? E te sigo pelo Pokéwitter também.
— Oh...

   Crystal remexeu na própria necessárie, constrangida. Enquanto no Pokébook costumava postar coisas aleatórias, usando-o mais para acompanhar certos grupos e páginas de treinadores, no Pokéwitter se sentia mais á vontade para compartilhar imagens, vídeos e textos de tudo que lhe interessava. E não eram poucas as vezes que postava algo relacionado ao Líder da Elite 4 de Kanto e Johto.
— B-bom...o Lance é o que eu poderia definir como o cara perfeito, sabe. É meu crush há anos, crush do tipo que...
— Que se sentar, nem um guindaste puxado por um Onix te tira de cima?
— ALICE!!!
— Vai dizer que você não pensa e imagina essas coisas?
— E-eu...não!
  Alice riu diante da indignação da treinadora, que começava a ficar tão vermelha quanto um Hoppip inchado.

— E...e você?! – Crystal reuniu coragem. – Vai dizer que não tem nenhum crush famoso ou algo do tipo?
— Eu tenho sim. Mas posso dizer que eu já não fiquei mais só na fantasia e apreciação á distância...
— Como assim?! Ah, quer saber?  Já chega desse assunto! – Crystal balançou a cabeça em negação e fechou o zíper da própria necessárie. – Não vamos mais falar disso! Vamos é voltar pro nosso dormitório e dormir porque amanhã vai ser um dia cheio!


~*~


   O encontrou exatamente onde imaginava que ele estaria. Desceu as escadas e se aproximou.
   A academia do QG da Equipe Rocket era, assim como o refeitório e o salão de treino, localizada em um galpão construído ao redor da base militar principal. Nela, havia uma grande variedade de equipamentos para que os agentes se exercitassem diariamente a fim de estarem aptos para as missões. Haviam pesos, esteiras, alteres, cordas para se escalar na parede ou se suspender, sacos de areia, armas brancas para treinamento marcial, bastões e até mesmo um ringue. Durante o dia e a noite, o lugar chegava a comportar muitos agentes mas, no fim da madrugada, estava vazia exceto por uma pessoa.

  Os resmungos de Buson enquanto socava e esmurrava um enorme saco de areia ecoavam, acompanhado pelo ranger da corrente que prendia o saco e o impacto de seus punhos no mesmo.
  Ele se mantinha concentrado em atingir o saco de areia, sem pensar em nada. Era a melhor forma de extravasar a raiva sem que ninguém notasse ou acabasse passando dos limites contra alguém em um combate corpo á corpo.
  Quando viu o outro se aproximar, Buson parou a sequência de socos e o encarou, enxugando o suor da testa com uma toalha.

— Tá aí uma coisa que eu nunca vi antes: você na academia. Se perdeu a caminho do laboratório?
— Bati na porta do seu dormitório e como ninguém atendeu, deduzi que estivesse aqui.
— Qualé, tá me estranhando com esse papo?! – o loiro bufou. – Eu poderia estar em qualquer lugar. Em missão. Ou trepando com uma agente em algum canto da base. Heh. Não seria a primeira vez.

  Basho se controlou para não revirar os olhos.
— Seu constante hábito de pontuar a própria heterossexualidade é tão evidente que ás vezes chega a parecer mais como uma auto afirmação.
— Não vem com  ironia, não! Não tô tolerante hoje!
   Se havia uma (das muitas) coisas que faltavam em Buson era tolerância.
  Basho sentou-se em um banco perto da parede, e Buson, sabendo que haveria conversa, fez o mesmo.

— Fiquei sabendo que Igni pediu que você fizesse uma demonstração de autoridade acerca de condutas dúbias e não toleráveis para a imagem da Equipe Rocket perante o mundo. –  Basho cruzou os braços. – Quebrar as mãos de dois recrutas em frente a um monte de agentes é um tipo de propaganda intimidadora bem fora do comum
— Sei lá! O gênio que está no grupinho alto nível é você.
— Eu não tenho qualquer participação no treinamento e controle de agentes, meu campo de trabalho é outro. Se incomodou de ter que punir aqueles recrutas?
— De modo nenhum! Eles mereciam um corretivo mesmo! Mas não precisava ser daquele jeito.  – resmungou Buson. - O que eles fizeram não foi grave, nem algo que nunca nenhum Rocket fez! Eu mesmo no começo roubei e assaltei treinadores pra carralho. Mas o Igni quis que a punição fosse pública! Se ele queria deixar todo mundo surpreso, conseguiu. Olha, eu não sei o que o Igni tem na cabeça, mas eu duvido muito que o Giovanni vai aprovar esse tipo de coisa quando voltar e ficar sabendo! Ele não é o tipo de líder que aceita que outro fique querendo mandar mais do que ele! Escreve o que eu tô dizendo!

  Basho não tinha muita convicção de que Giovanni ainda possuiria qualquer poder na organização. A bem da verdade, começava a acreditar que era capaz de Giovanni nunca mais voltar.

  “É uma possibilidade cada vez mais óbvia que não sei como esse tipo de boato não acontece entre os agentes. Talvez porque estejam em um processo de negação de imaginar e cogitar que seu adorado líder pode...”

— Algum motivo específico para Igni ter pedido justamente que você fizesse isso e você ter obedecido? – perguntou.
— Aqueles recrutas foram treinador por mim no passado. Na real, nem lembrava deles mas eles se lembravam de mim. E com a merda de que tudo é documentado por aqui, o Igni soube que eu treinei eles. Eles até choramingaram dizendo que me admiravam. Heh, agora certamente não admiram mais. Pelo menos  ainda me temem. – Buson bebeu um gole da garrafa de água que trouxera, ficando sério. – Sabe, Basho. O Igni tentar intimidar o pessoal desse jeito não acho que vai ajudar na popularidade dele. Eu ouço os agentes fofocando. Eles andam meio cons...cons...
— Constrangidos.
— É, isso aí.
— Já diz o ditado “O Pyroar não deve se preocupar  com a opinião dos Marreeps.”  Igni não se preocupa com a opinião de soldados.
— Deveria.
— Igni possui o Supremo Conselho do lado dele. Não são soldados ou agentes de campo. Mas são os responsáveis pelas pesquisas, pelo financiamento e pelo controle de tudo que mantém a Equipe Rocket atuando. Ele também possui apoio de pessoas poderosas que possuem tratos com a Equipe Rocket.  E os agentes de nível mais alto tendem a apoiá-lo por conta disso.
— Você tá do lado do Igni?! Puta merda!
— Vou te dar um conselho e espero que você pense sobre.  Não tome partido da maioria se não quiser se prejudicar.
— Está sugerindo que eu me torne um capacho do Igni?
— Não disse isso. Mas Igni tem algo planejado, algo que poderá mudar muitas coisas para além de uma organização criminosa.
— Como assim?
— No momento é só isso o que posso dizer. Em breve, haverá uma missão sigilosa e de extrema importância. Sugeri que você fosse colocado nela e Igni acatou. Quando for chamado, vá.
— Por quê?
— Há algo nessa missão que quero que veja. E tenho certeza de que entenderá.
— Esse tipo de missão tem a ver com aquele cara estranho que o Igni trouxe? Quem é esse maluco? Ele é meio...não sei dizer, tem algo de diferente nele.
— Aceite a missão e muito provavelmente verá.
— Tu não vem junto? Você já fez duas missões junto do cara. Qual o nome dele?
— Não desta vez. 

   Ambos ouviram vozes e logo um pequeno grupo de agentes entrou no galpão, para iniciarem seus treinos. Basho se levantou.
— Preciso voltar ao meu dormitório e terminar de arrumar minhas coisas.
— Vai sair em missão?
— Consegui uma folga e irei para Ecruteak. Tenho coisas para resolver. Boa sorte e até breve.

~*~


   Crystal observou a chuva suave que caía através do vidro do ônibus fretado em que estava. Era engraçado como o clima podia mudar tão rápido em Johto. Ontem estava calor e abafado e hoje o dia amanhecera nublado e chuvoso. Mas apesar da temperatura ter caído um pouco, era agradável.
  E isso, aliado ao barulhinho da chuva e o sacolejar suave do ônibus, provocavam uma certa sonolência. Ao seu lado, Alice dormia tendo se coberto parcialmente com a própria jaqueta.

   Embora tivessem decidido que o melhor era dormir assim que voltaram ao dormitório do Centro Pokémon após a conversa no banheiro do mesmo, não foi isso que ocorreu. Kenta havia caído no sono logo depois de apagar a luz, mas Crystal notou a luz da tela do celular de Alice durante um bom tempo e sabia que a amiga ficara acordada conversando com alguém.
 Mas ela própria também havia demorado para adormecer. Sua mente estava ativa apesar do cansaço em seu corpo e ficou repassando em sua mente tudo que havia acontecido ao longo do dia. O reencontro com Kenta, a floresta de Ilex, o tal Arc que a ajudara (esperava poder tornar a vê-lo algum dia), o amoroso Bulbasaur que a escolhera para ser sua treinadora e a conversa com Alice a respeito de Kenta.
 Duvidava muito que Kenta gostasse dela da forma como Alice tinha insinuado. Nunca havia tido qualquer indício, pelo que se lembrava, de que Kenta pudesse ser interessado nela.

“ Kenta sempre foi Kenta, meu amigo de infância, que ia até o portão de casa me chamar pra brincar na  pracinha do bairro, que sempre conversa comigo no pokébook sobre técnicas de Pokémon e que topou seguir jornada na mesma época que eu dividindo o sonho de sermos grandes treinadores.. Alice está fantasiando demais.”

Via Kenta como amigo, um irmão. E só. O tipo de rapaz que lhe interessava era diferente. Alguém como...o mestre Lance Pendragon.
  Mas Lance era algo impossível. Outro nível, muito distante de sua realidade. Ele sequer sabia da sua existência, embora não conseguisse evitar de admirá-lo, fosse por fotos ou vídeos. Talvez, um dia, pudesse vê-lo e conhecê-lo pessoalmente. Afinal, sonhar não era proibido.
   Suspirou, tornando a olhar para sua pokégear. Kenta ainda não havia respondido sua mensagem, muito embora ele tivesse visualizado e também postado um status de “Seguindo jornada – Goldenrod aí vou eu!” em seu pokébook.

“Será que ele está chateado por eu não aceitar ir para Goldenrod?!”

~*~*~

  
   O terminal rodoviário de Azalea estava com um movimento tranquilo naquela manhã. Como a cidade não possuía uma estação de trem, o transporte era feito por ônibus circulares entre os bairros da cidade e o intermunicipal que levava ou para Goldenrod ou para Violet. Havia outros ônibus para as demais cidades, mas eram fretados com horários específicos e valores diferenciados.
    Após comerem um pão na chapa na lanchonete da rodoviária, Alice e Crystal esperavam que Kenta voltasse do banheiro.

— E então, Crystal. Vamos para Goldenrod junto com o Kenta mesmo?
  A  treinadora suspirou diante da pergunta. A bem da verdade, embora Kenta fosse seu amigo, a possibilidade de viajar em jornada com ele, não a animava muito, Ainda que fossem só até a metrópole de Goldenrod.
— Não sei. Não estou muito á fim de ir pra Goldenrod, mas também não sei bem pra onde ir.
— Posso dar uma sugestão?
  Crystal deu de ombros, concordando.
— O que acha de irmos para Ecruteak?
— Ecruteak...?
— É! A cidade mais antiga de Johto! Ela é muito bonita e repleta de locais históricos. E também possui um ginásio Pokémon credenciado pelo comitê da Liga! E...bom, eu gostaria muito de ir lá por conta de uma coisa...
— Que coisa?
— Depois eu falo, é uma história meio longa. E o Kenta está vindo aí!

  O garoto se aproximou, com uma grande mochila nas costas, o cinto de pokébolas na cintura e um papel em mãos.
— Meninas! Cês não vão acreditar! Acabei de receber uma mensagem aqui no meu pokégear, que tá rolando uma seleção de vagas para trabalho temporário de Monitor de Campo de Treinamento quase na entrada de Goldenrod!  Vou me candidatar assim que chegar lá, parece que as inscrições vão só até o fim da tarde de hoje! Acho que, pelo fato de eu ser um treinador, tenho chances!  Eu peguei aqui os horários dos ônibus que saem daqui até a cidade! Que horas vocês querem ir? Tem aqui um saindo ás dez, depois tem ás onze e quinze...
— É...Kenta. Acho que não vamos pra Goldenrod.
  O sorriso no rosto do rapaz se transformou em uma expressão de surpresa.
— Quê?! Por quê?
— É que... – Crystal olhou para Alice, mas ea amiga estava digitando freneticamente algo no próprio celular.  “Porra, Alice! Me ajuda!” — Eu e a Alice conversamos e...bom, eu já passei  por Goldenrod e preciso seguir minha Jornada para o próximo ginásio. E preciso pegar algumas rotas de treinadores para treinar.
— Bom, se for o caso podemos ir a pé pela rota em direção a Goldenrod. Demora um pouco mais, mas...
— A rota para Goldenrod saindo de Azalea não é boa para isso! Como a distância não é tão grande, os treinadores já pegam o ônibus direto e não tem mais campos ou bosques por lá. Virou tudo pasto e plantação. Li isso no grupo de treinadores de Johto que sigo no Pokébook.
— Pô, depois me passa o link desse grupo!

  Alice levantou os olhos da tela do celular.
— Gente, acabei de ver aqui os horários do ônibus fretado para Ecreuteak. É um pouquinho caro, mas nada exorbitante. Leva quase um dia de viagem, mas ele faz algumas paradas no caminho. Se pegarmos o que sai ás dez e meia, chegaremos lá no comecinho da noite. E poderemos nos planejar para o dia seguinte!
— Se quiserem, eu posso ir com vocês! – Kenta se prontificou. – Andei vendo os noticiários e estão dizendo que Johto anda bem violenta por causa da Equipe Rocket e acaba sendo perigoso para duas garotas viajarem sozin...
  Ele parou ao perceber o olhar inquisidor que Alice e Crystal lhe lançaram.
— É..bem, não estou dizendo que vocês não sabem se proteger, é que...é..desculpa,foi mal!
  Ele baixou a cabeça, envergonhado. Mas Crystal se aproximou, lhe tocando o pulso.

— Kenta, você já se planejou para ir a Goldenrod e tem até mesmo a chance de conseguir um trabalho temporário lá, que com certeza vai te ajudar muito! Não acho que seria bom pra você perder essa oportunidade.
  Crystal notou que ele olhava para sua mão sobre a dele  e ela rapidamente a afastou.
— Digo, acho que não tem problema a gente tomar direções opostas agora. Eu preciso continuar no ritmo da minha jornada, a Alice também disse que precisa resolver uma coisa em Ecruteak.
— Que coisa?
— ...coisas pessoais. – ela respondeu diante da pergunta de Kenta.
— No fim das contas, estamos fazendo jornada juntos por Johto, só que em direções diferentes.  – Crystal continuou. - Igual quando fizemos em Hoenn.
— Daqui a pouco vira uma tradição nossa!
— É verdade!
  Os dois riram.

— Mas... – Kenta sentiu seu rosto avermelhar. – Espero que..bom, que um dia a gente faça um pouco de jornada juntos. Se-seria bem legal, eu acho.
— É..é, pode ser...podemos pensar nisso.
  Os dois ficaram em silêncio e Alice procurou controlar o sorriso, voltando a atenção para o próprio celular. Por fim, Kenta suspirou,coçando o nariz e empertigando o corpo.
— Bom, então é isso aí. Eu vou pra aquele lado e vocês vão pro outro lado! Nós vamos nos falando então.
— Certo!
— Tome cuidado na sua jornada, Kenta. – Alice o abraçou e o garoto corou ao sentir os seios dela pressionando seu peito. – Foi legal te conhecer, você é gente boa!
— Obri-obrigado! Você também é legal...e cu-cuida da Crystal, tá. Ela ás vezes se empolga demais sendo uma treinadora pokémon e acaba não prestando atenção ao redor.
— ...ah, isso lá é verdade.
— O quê?! Como assim?! Vocês dois estão tirando uma com a minha cara? – comentou Crstal se fingindo de zangada.
— Mas enfim, se cuida viu Crystal. – pediu Kenta. – Pra gente poder se encontrar em breve. E manda notícias!
— Pode deixar, prometo ficar mais online no pokébook!

  Após se despedirem, Kenta ficou observando as duas garotas até que elas sumissem de vista e então correu para pegar o ônibus que já estava prestes a sair da rodoviária.
— Ownt, que fofinho o Kenta! – Alice riu quando ambas já estavam longe. – Ele está tão na sua, amiga!
— Nada a ver, pare com isso!  E a senhorita? Fica fazendo esse mistério todo e não me diz por que quer ir pra Ecruteak e o tanto que fica aí no celular!
— Hum, está curiosa? Tudo em seu tempo! – Alice deu uma piscadinha. – Agora vamos logo comprar nossas passagens e torcer para conseguirmos sentar juntas no ônibus.
  Ela passou os ombros em volta de Crystal em um gesto de camaradagem e ambas seguiram na direção dos guichês de compra das passagens.

~*~*~

Crystal suspirou.  Chega de pensar naquilo. Kenta não era o tipo de pessoa que se chateava fácil, fora que eram amigos há anos. Concluiu que estava é com Dunsparces na cabeça porque Alice inventou que ele pudesse ser a fim dela e agora isso ficava martelando em sua mente, diante da possibilidade dele ser a fim dela e isso lhe deixava extremamente desconfortável.

  “Ele não é. E mesmo que fosse, o que eu acho impossível, não tem como eu retribuir esse tipo de sentimento! Quando eu gostar de alguém, vai ser pra valer...”

   Ainda faltava um tempo para que o fretado fizesse a primeira parada para que os passageiros descansassem, de modo que Crystal decidiu fazer uma rápida pesquisa sobre o ginásio de Ecruteak e seu líder.
   E já ao ler o primeiro parágrafo sobre o ginásio, Crystal virou-se indignada para Alice, que estava acordando após um sacolejar mais forte do ônibus ao passar em uma lombada.

— GINÁSIO DO TIPO FANTASMA?!
— ...nossa, Crystal. Não precisa falar tão alto...
— Por quê você não me disse que Ecruteak era um ginásio especializado em Pokémon do tipo Fantasma?! – sussurrou Crystal furiosa.
— Ué, pensei que você sabia.
— Eu sabia que tinha um ginásio em Johto especializado nesse tipo, mas não me lembrava onde era! Eu não tenho chance alguma!

   Alice passou a mão sobre o rosto e se arrependeu ao lembrar que estava com os olhos pintados e poderia ter borrado a maquiagem.
— Por quê você acha que não tem chances?
— Duas palavras: tipo Fantasma. Os Pokémon desse tipo são muito difíceis de derrotar!
— Todo os tipos de Pokémon tem suas desvantagens. – Alice se olhou no pequeno espelho de mão que levava na bolsa. - Os Fantasmas possuem mais vantagens que a maioria, mas não são imunes.
— Eu sei, mas o problema é que não tenho Pokémon realmente eficazes contra esse tipo! E pelo que estou vendo aqui, o líder de ginásio é muito forte! O principal Pokémon dele é um Gengar! Eu tô ferrada!
— O Morty é de boas. Posso trocar uma ideia com ele e ele não pega tão pesado contigo na batalha.
— Os líderes ganham para manterem os ginásios no circuito competitivo da Liga. E quanto menos treinadores os derrotam, mais status o líder ganha. – Crystal comentou, azeda. -  O que te faz pensar que ele vai ser legal com uma treinadora qualquer como eu?
— O Morty é meu amigo. Já demos vários rolês juntos e sempre trocamos ideia pela internet. Ele é um fiel curtidor das minhas postagens!
   Crystal a encarou boquiaberta.

— Então é por isso que você sugeriu que fôssemos para Ecruteak? Pra visitar seu amigo e aproveitar pra eu lutar com ele já que é um líder de ginásio?
— Na verdade, foi por outra coisa. Depois falamos sobre isso! Mas acabou que dá pra aproveitar e fazer isso também, né! Além do mais, Ecruteak é uma cidade antiga, repleta de locais históricos, um verdadeiro museu a céu aberto. É bem legal para turistar!

   Crystal pensou em lembrá-la que estava em Jornada Pokémon e não poderia simplesmente ficar “turistando”, mas Alice tocou em sua mão, continuando.
— Relaxa, tá tudo bem! Eu tenho certeza de que você vai conseguir bolar uma boa estratégia contra o Morty e eu posso ajudar! – ela deu uma piscadela. – E chegando lá, podemos nos informar sobre rotas alternativas de treinadores para você treinar seus Pokémon. Confia em mim que o role em Ecruteak valerá á pena!
   Ela suspirou. Que a estadia em Ecruteak poderia ser proveitosa, não tinha dúvidas. Ainda mais na companhia de Alice. Nunca havia ido á cidade, mas sabia o quanto de importância histórica ela carregava. E pelo que já vira em grupos de treinadores no pokébook, nas imediações da cidade havia muitas rotas para treinar e caçar Pokémon. O único problema mesmo seria o ginásio. Teria que verificar os status de seus Pokémon, treiná-los mais alguns níveis e montar um time pensando em uma estratégia de batalha minimamente capaz de enfrentar Pokémon Fantasmas. Mas no fundo de seu âmago, duvidava que teria sucesso. Mas agora  já estava quase chegando lá e não iria retroceder. Se tinha uma coisa que Crystal se mantinha firme era em nunca retroceder.

  Alice voltou a focar a atenção em seu celular, de modo que Crystal olhou novamente através da janela, vendo que a chuva estava diminuindo. Ainda sentia uma estranha sensação em seu peito, como uma espécie de ansiedade que não sabia dizer por quê. Instintivamente, levou a mão ao pingente de cristal que sempre carregava consigo. Mexer nele a acalmava.

“ O que me aguarda em Ecruteak?”

~*~

 


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...

Por Arceus! Os capítulos mais simples e cotidianos sempre me são os mais dificeis de escrever!
Demorei demais pra conseguir fazer esse, havia traçado outros acontecimentos mas no fim eles tiveram que ser transferidos para o capítulo seguinte.
Enfim, esse foi o tipo de capítulo para se encaixar as peças do jogo rs. E eu confesso, não via a hora de tirar o Kenta da jogada. Nada contra ele, mas ele voltará futuramente.
Fora isso, curtiram a ideia dos cigarrinhos de Exxeconha? XD
Podem ter certeza que vai rolar mais infos sobre futuramente e também de outros entorpecentes ilícitos do mundo pokémon!

Muita coisa vai acontecer em Ecruteak, é o que posso lhes garantir! Até porque enquanto escrevia esse capítulo surgia várias ideias para os capítulos seguintes.

Então acho que é isso. Obrigada por ler e nos vemos em breve!



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