A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Olá caro leitor (a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

A história está começando a se tornar mais grandiosa e justamente por isso, este capítulo acabou por ter menos mudanças de cena.
Inicialmente, a fic costuma ter, por capítulo, três a quatro cortes de cena mas neste houve apenas dois. Por conta disso meio que decidi me libertar de padrões que impus e tornar a narrativa mais maleável enquanto a desenvolvo. Assim, a partir de agora os cortes de cena poderão se alternar: em alguns capítulos ter mais e em outros, ter menos. Mas vou manter a quantidade limite de caracteres por capítulo (nunca passando de 5000) porque isso é um simples capricho de controle meu XD.
Dito isso, quero justificar a certa demora em atualizar. Este mês foi deveras acelerado e também houve meu aniversário além do início do planejamento da minha história original (agora com fé nos Sete, em R'Ohlor, Deuses Antigos e no Outro, agora sai!) acabou culminando no atraso para com a fic.
Por fim, quero agradecer ao carinho de odos que estão acompanhando e apoiando esta história. Se demoro para atualizar é porque também quero fazer o meu melhor e entregar capítulos de qualidade!

Boa leitura!



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~*~

  
   Em um primeiro momento, o que Crystal viu foi a luz. Uma luz branca e dourada tão intensa que a obrigou a fechar os olhos.
   A luz era forte, porém não havia calor nela. Crystal até chegou a pensar que poderia ser o golpe Flash de algum Pokémon, mas aquela luz era diferente. Só conseguiu abrir os olhos quando tal luz diminuiu, como se estivesse sendo puxada na direção de onde ouvira a voz que lhe fizera uma pergunta.

   Viu vestes  em meio á luz e logo lhe pareceu que os panos tomavam forma e então percebeu que era uma pessoa alta vestida de branco. A luz diminuía e ela notou  que a mesma não emanava da pessoa; mas sim do sol, cujos raios passavam por entre os galhos das árvores. Quase pareciam emoldurar a figura de forma santificada, mas quando a pessoa ficou contra a luz, Crystal o viu.
   Um homem alto e belo, de pele negra com os cabelos curtos e uma barba bem aparada que realçava seus lábios. Ele usava o que parecia ser uma túnica branca com pequenos bordados dourados nas mangas, gola e barra da calça. Seus sapatos pareciam ser feitos de tecido dourado igual aos dos bordados da roupa e por mais simples que pudessem parecer, o deixavam com uma aparência nobre e imponente.
  Mas o que mais o destacavam eram seus olhos: ele possuía olhos de um tom âmbar que Crystal pensou que nunca pudessem existir.

— ...Você está ferida?
—  E-eu estou bem! Apesar de ...- ela olhou para trás e em seguida para si mesma, suja de folhas e terra. – Apesar de ter rolado pelo barranco.
  Ela tencionou se levantar, mas ao fazer isso, sentiu a dor no tornozelo e tornou a cair com um gritinho. O homem se ajoelhou ao lado dela e Crystal pôde sentir o aroma de incenso que ele exalava.

— Com licença. – ele olhou para o tornozelo dela, notando o crescente inchaço. - Você torceu seu tornozelo na queda. Se não tratar, poderá ter uma luxação.
— Ah não! Era só o que me faltava! Minha jornada só vai se atrasar mais se eu tiver que ficar mais de semana parada por conta disso!
— Você é treinadora Pokémon?
— Sim...eu já estive em Hoenn e agora estou em Johto. Tenho uma boa experiência e tal...estou para participar da Liga Pokémon daqui.

  Crystal tentou mostrar que poderia ser uma adversária difícil em batalha caso o homem tentasse alguma coisa. Depois da péssima experiência que tivera com os agentes Rockets no início da sua jornada em Johto, cautela nunca era demais. De modo que manteve uma mão sutilmente na pokébola de seu Ampharos, ao lado do Bulbasaur que observava o homem, curioso.
   Mas o homem logo se levantou e pareceu procurar algo entre a vegetação e, quando encontrou, começou a colher determinadas plantas rasteiras que cresciam por ali.

— Gosta de seus Pokémon?
— M-muito! – ela respondeu prontamente. - Eles são muito importantes para mim. Me ajudaram a vencer muitas batalhas e sempre me fizeram companhia durante minha jornada e em diversos momentos. São verdadeiros amigos para mim, que me ensinam e me lembram de que nunca estou sozinha.
— Pokémon são criaturas misteriosas e muito especiais mesmo.
— ...o senhor...tem algum Pokémon?
  O homem pareceu pensar por um momento e uma possível sombra de sorriso passou em seus lábios.
— Sim. E escolhi que eles pudessem trilhar seus próprios caminhos.

   Crystal pensou em perguntar o por quê, mas deixou isso de lado quando o homem se ajoelhou novamente diante dela  com o que parecia ser um emplastro feito com as folhagens que ele havia colhido.
— Isto aqui ajudará com seu tornozelo, deixe-me colocá-lo. Não se preocupe, não irá arder e irá curar rápido.
  Crystal estava receosa em permitir tal coisa mas quando  Bulbasaur cheirou o emplastro, virou-se para ela e soltou um “Bulba!” satisfeito, ela se sentiu um pouco aliviada.
— Tudo bem...

  O emplastro foi colocado na área machucada e o homem prendeu com fios de capim. Havia um cheiro agradável de ervas e uma quentura sutil se instaurou sobre a área envolvida. Crystal notou que as mãos dele eram bem cuidadas e o toque foi rápido mas gentil.
— Fique um pouco com a perna esticada, o remédio logo fará efeito.
— Que tipo de plantas você colocou aqui?
— Todas as plantas podem ser curativas...
  Ele parou quando o Bulbasaur se aproximou dele com os olhinhos brilhando, surpreso ao observar o homem. E este prontamente deu um sorriso leve e acariciou a cabeça do Pokémon.
— Sim, amiguinho. – ele falou, como se entendesse o Pokémon. - Esse Bulbasaur...te pertence?
— Oh....ah, n-não...ele...ele apareceu aqui quando eu acordei depois da queda ...
— Ele parece ter gostado de você.
   Crystal olhou para o Pokémon que  a encarou de forma amigável e se aproximou, colocando as patinhas em cima de sua coxa.

— Não é normal que Pokémon selvagens  se  aproximem de treinadores de forma amigável e receptiva. Este Bulbasaur quer acompanhar você.
   Crystal encarou o Pokémon, que retribuiu seu olhar, dando o que parecia ser um sorriso. 
—  Eu...eu sempre quis ter um Bulbasaur. – Crystal olhou para o Pokémon. – Eu adoraria que me escolhesse para sua treinadora mas...eu não posso.
— Por que não pode?
  Crystal segurou as patinhas do Bulbasaur de sua coxa e as colocou no solo.
— É que...criar Pokémon não é algo simples. Embora eu seja uma treinadora, eu não tenho muito dinheiro e todo Pokémon tem um custo para se manter. Custo com alimentação, remédios, itens...eu tenho quinze Pokémon e isso é pouco poucoda maioria dos treinadores mas... – ela acariciou o rosto do Bulbasaur, que fechou os olhos aprovando o toque. – Eu não consigo conceber a ideia do “temos que pegar todos!” se não tenho como criar e cuidar de todos eles corretamente, sabe? Pokémon são seres vivos, mas parece que muitos treinadores só pensam nas batalhas, quantidade e status e mesmo tendo vários Pokémon, eles não os criam muito bem ou lhes dão a atenção e carinho suficientes....eu não quero ser assim. Deixei de capturar muitos pokémon porque sabia que não poderia criar e me esforço muito para ser uma boa treinadora para os meus...

  O homem observou Crystal enquanto ela falava e, ao perceber, a garota se calou. De novo perdera a noção e desatara a falar.
— Você é uma boa treinadora.
— Não sou tão boa assim. Ainda tenho muito o que aprender em termos de batalha e...
— Mas você possui um coração mais gentil e uma mente mais consciente no que diz respeito a cuidar dos Pokémon. E isso é muito valioso. Por isso esse Bulbasaur gostou de você. Deve saber que os Bulbasaurs são Pokémon muito reservados e desconfiados. Para este selvagem ter se aproximado de você e se afeiçoado tão rápido, é sinal de que ele sentiu que seu coração é de alguém sincera, gentil e dedicada.

  Crystal encarou o Pokémon, que voltou a colocar as patinhas em sua coxa. Gostaria muito de levá-lo consigo, mas sabia que sua situação financeira como treinadora não era das melhores para conseguir criar e treinar mais um.
— Leve-o com você. Ele a escolheu.
— ...mas...
— Se deixá-lo, ele ficará muito triste. – a voz do homem era compreensiva. – Tenho certeza de que, se viajarem juntos, vocês serão muito companheiros um para o outro. E por mais que possa haver algumas dificuldades, sempre há formas de superá-la.

 Crystal encarou o Bulbasaur e um sorriso gentil surgiu em seus lábios.
— Eu...não sou uma treinadora poderosa, não tenho como dar uma vida de luxo...mas você aceita ir nessa jornada comigo para lutarmos e viajarmos juntos?
  O Pokémon bateu as patinhas em sua perna, os grandes olhos fixos nela. Entretida em observar o Pokémon, Crystal não notou o olhar compreensivo que o homem lhe lançara. Mas ele logo se levantou.
— É melhor que saiamos daqui. Logo começará a escurecer.
— Isso é verdade, mas...
— Seu tornozelo já está melhorando, fique de pé.

   Crystal abriu a boca para retrucar que não fazia nem dez minutos que o emplastro havia sido colocado e era impossível que melhorasse, mas ao se colocar de pé, viu que podia andar. Ainda doía um pouco e teria que mancar, mas já estava bem melhor do que antes.
— Eu disse que o efeito seria rápido. – falou o homem diante da expressão de surpresa dela.
— É incrível! – ela olhou para trás. – Mas não acho que eu consiga subir o barranco há menos que use um dos meus Pokémon...
—  É melhor não se arriscar por ali, a terra está mole e poderá afundar ou se machucar. Siga-me, conheço o caminho até a administração do parque.

  O homem começou a andar para a direita, como se fosse contornar o barranco. No primeiro momento, Crystal hesitou. Não o conhecia, não sabia de suas verdadeiras intenções. Ele fora gentil e prestativo mas isso não era o suficiente para que pudesse confiar nele.  Ao longo de sua jornada Pokémon, Crystal aprendera muito a não confiar em estranhos para seu próprio bem e os constantes casos que apareciam na mídia, só reforçavam suas ressalvas.
  Mas se não o seguisse...bom, tinha todo seu time de batalha bem preparado, qualquer coisa teria como lutar. O Bulbasaur já ia á frente e Crystal o seguiu.

 A vegetação era um pouco mais espessa no caminho e claramente não era uma trilha. Crystal podia sentir a terra mole e úmida embaixo dos pés, e o capim raspava em suas pernas e braços.
  O Bulbasaur andava com dificuldade por ali, mas estava decidido em seguir o homem. Crystal então o pegou no colo, sentindo que ele era pesadinho, mas a forma como ele mostrou ter apreciado, a fez sorrir. Era a primeira vez que um pokémon selvagem se mostrava tão solícito.
  Foi então que Crystal notou que o caminho que o homem seguia ele parecia estar abrindo uma trilha para que fosse mais fácil para ela passar. Mas não foi isso que mais a surpreendeu e sim o fato dele estar usando roupas que continuavam impecavelmente brancas e limpas ao andar por ali.
  Como ele conseguia? Seria o jeito de andar ou algum tipo de magia?

  Caminharam ouvindo os sons da floresta e sentindo a calmaria da mesma. E á cada passo que dava, Crystal sentia a perna melhor e também seu receio se dissipar. O homem perguntou se ela gostava de ser treinadora, sua relação com os Pokémon e como a natureza era bonita. Ainda que se mantivesse mais reservada, Crystal continuou a conversa e não soube precisar quanto tempo se passou mas talvez houvesse sido  menos do que pensava, quando ela percebeu que estava em uma das trilhas principais. Avistou então a pequena cabana da administração da Floresta de Ilex.

— Está entregue.
— M-muito obrigada, senhor... – ela se virou para o homem. – É...eu não sei o seu nome.
— Pode me chamar de...Arc.
—Certo, senhor Arc! Muito obrigada por ter me encontrado, me ajudado a chegar até aqui e também pelos primeiros-socorros!
— Como está seu tornozelo?
— Parece bom, consegui andar sem dificuldade, é como se nem tivesse mais machucado!
  Ouviram então uma discussão que vinha de dentro da cabana da Administração e Crystal reconheceu uma das vozes de imediato.
— É a Alice! Eu preciso ir lá, ela deve estar super preocupada com meu sumiço e na certa já querendo bater no guarda-florestal! Já volto, senhor Arc!

   Com o Bulbasaur nos braços, a garota correu até a cabana e, ao entrar, se deparou com Alice quase por cima da mesa do guarda-florestal que parecia se afundar mais na cadeira enquanto Kenta não sabia o que fazer.
— Como assim não há nada para ser feito?! Há uma pessoa perdida nessa porcaria de floresta!
— Senhorita, veja bem...temos normas de que buscas só podem ser iniciadas após um período de 24 horas.
— Isso é um absurdo! Se alguém some na floresta, tem que se procurar! É para isso que vocês são guardas-florestais!
— Na verdade, um guarda-florestal tem como prioridade...

  O rechonchudo guarda interrompeu sua explicação diante do olhar mortífero de Alice.  O pouco que conhecera da garota havia sido o suficiente para tentar evitar deixá-la mais alterada; antes de irem pra cabana, a garota já havia chegado furiosa por ter se sujado e ralado o braço em galhos alegando ter sido perseguida por um enxame e querendo soltar seu Charizard para queimar a floresta a fim de encontrar uma tal amiga desaparecida.
   Lembrando-se disso, ele pigarreou e tratou de tentar se explicar com outra abordagem.

— Sua amiga é treinadora Pokémon, correto? Muitos treinadores costumam se embrenhar na floresta para caçar Pokémon e suas pokégear ficam fora de área nas partes onde as árvores são mais densas. Não há por aqui Pokémon perigosos e há placas em diversas partes das trilhas da floresta.
— Mas a Crystal não foi caçar Pokémon! Bom, era até a nossa intenção quando chegamos mas aí fomos atacadas por um enxame de Beedrils psicóticas! Confirma, Kenta!
  O guarda-florestal olhou emburrado para Kenta, que engoliu em seco. Sabia que seu chefe temporário era irritadiço e não gostara nem um pouco do fato de que seu Farfecth’d voltara nocauteado por conta de um confronto com um Beedril.
— S-sim! Isso é verdade, senhor! Eu e ela corremos para um lado e despistamos o enxame, mas nossa amiga foi para o outro lado e depois mesmo chamando, não a encontramos!
— E ela pode ter sido picada por um desses Beedrils e estar agoniando de dor em algum lugar! Ou ela pode ter caído em um barranco, batido a cabeça e está desmaiada ao relento correndo risco de morrer! – Alice aumentava gradualmente o tom de voz. – E a única coisa que o senhor guarda-florestal aí quer fazer é continuar sentado com essa bunda gorda na cadeira!

   Aquilo já era demais. O homem se levantou dando um tapa na mesa e estufando o peito, mas isso só fez sua barriga parecer ainda maior.
— Chega de fazer alarde desnecessário aqui!
— Desnecessário?! Uma treinadora SUMIU após ser atacada por Beedrils nessa floresta!
— Essa treinadora é uma garota magrela de cabelo azul e roupas de jornada?!
— Sim e ...
— É aquela lá?

  Alice virou-se para trás e foi como se toda agonia e nervosismo se dissipasse. Ali na entrada estava Crystal, suja de folhas e terra, o cabelo parecendo um ninho de Ratatta, um emplastro esverdeado na perna, braços arranhados e segurando um Bulbasaur. Ela parecia ter acabado de sair de uma temporada do programa “Perdidos no Mato”, um popular reallity show que ocorria em uma região da Floresta de Viridian, em Kanto.
— CRYSTAL!

  A treinadora não conseguiu falar porque foi envolvida por um abraço de Alice que a apertou de tal forma que quase sufocou o Bulbasaur em seus braços.
— Que bom que você está bem! Pensei que algo ruim tinha te acontecido e ia ter que acionar a polícia já que esse guarda-florestal não queria fazer nada!
— ...só não fiz nada porque sabia que não era caso de desaparecimento, ó a menina aí!
— O que aconteceu?– Kenta se aproximou. – Nossa, você tá só o bagaço, Crystal!
— B-bom...quando fugimos dos Beedrils, eu acabei tropeçando e caindo por um barranco...
— Eu falei que ela tinha caído de um barranco e se machucado! – Alice se voltou furiosamente para o homem, segurando o braço de Crystal. – Ela poderia estar até agora caída no meio da floresta precisando de ajuda!
— ...mas não está.

  A expressão de incredulidade de Alice para com o guarda-florestal foi evidente e ela disparou, com um dedo acusador.
— Você é a vergonha da profissão!
— Calma, Alice! Tá tudo bem! – Crystal colocou-se na frente da amiga. – Eu não estou mais perdida mas e vocês? Os Beedrils não os atacaram?
— Eu e o Kenta conseguimos despistar o enxame usando o Farfetch’d dele de alvo.
— Vocês usaram o meu Farfecth’d de alvo?! Por isso meu pobre Pokémon foi nocauteado daquele jeito?! – o guarda-florestal começou a ficar com o rosto vermelho de raiva.  – Eu mandei cuidar do meu Pokémon!
— Hãn...bem...Caramba, Crystal! Você tem um Bulbasaur! – exclamou Kenta tentando não olhar para o guarda-florestal que o fitava furioso. - Que legal!
— Ah, bem, na verdade...
— Seguinte, já que a amiga de vocês está aí viva e bem, podem ir circulando que já passamos da hora de fechar o parque!
— O que aconteceu com você? – Alice ignorou a ordem do guarda.
— Bom, então...quando  eu estava recobrando a consciência depois de cair...
— Você desmaiou?! – Alice observou a cabeça da amiga. – Você está com dor, sentindo alguma tontura?!
— Eu estou bem, já disse!  Então, quando eu acordei, o senhor Arc surgiu me trouxe até aqui. Além disso, ele ainda me ajudou com meu tornozelo que eu torci na queda.

  Ela moveu a perna e Alice e Kenta puderam notar o emplastro .
— Mas o que é isso?
— O senhor Arc fez esse tipo de curativo com algumas plantas da floresta. E eu consegui andar normalmente! Aliás, vou apresentá-lo á vocês. Venham!
   Quando saíram da cabana, o sol já havia sumido e as primeiras estrelas surgiam timidamente no céu enquanto a floresta mergulhava na temperatura e aromas da noite.
— Ué...onde ele está? 

   O Bulbasaur agitou-se em seu colo e Crystal colocou-o no chão. O pokémon caminhou na direção em que haviam vindo, parecendo procurar algo mas nada havia por ali.
— Mas ele estava aqui, eu pedi que ele esperasse... – levou as mãos em concha na boca, para gritar. – EI, SENHOR ARC! CADÊ VOCÊ?!
— Não há ninguém por aqui...como ele é?
— É um homem alto, Todo vestido de branco...
— O cara estava andando pela  floresta de branco? – Kenta achou aquilo estranho.
— Sim e as roupas dele não estavam sujas! Ele deveria saber andar pela floresta muito bem sem se sujar. Até os sapatos dele continuavam limpos e ele era muito cheiroso!
— Ou poderia ser um espírito. – murmurou Kenta se benzendo. – Uma vez vi um filme que...
— Ele não era um fantasma! Ele fez esse curativo na minha perna, que é um curativo bem real! SENHOR ARC!
— Menina, pare de gritar! – ralhou o guarda-florestal.  Irá incomodar os Pokémon selvagens!
—  Senhor... – Kenta chamou com voz fraca. - Amanhã eu entro no mesmo horário?
— Amanhã só venha para receber seu pagamento. Está fora!
  O rapaz ficou em choque.

— Mas...por quê?!
— Você fez o meu Farfecth’d ser nocauteado! Rua!
— Mas...
— Deixa ele pra lá, Kenta! Você pode achar um trampo muito melhor!
— E podem ir andando, o parque já está fechando!
— Nós vamos embora porque a Crystal está aqui! – ralhou Alice. - Senão, pode ter certeza que eu iria expor na internet o ocorrido e ainda faria uma ligação para alguém que colocaria essa administração abaixo!  Agora eu vou pegar os meus amigos e ir embora!
   Alice puxou o rapaz pelo braço enquanto segurava Crystal pela mão.

— Espere...o senhor Arc...
— Ele já deve ter ido embora . - Alice apontou para a entrada. – Capaz de encontrarmos ele no caminho e acho bom a gente ir no pronto-socorro pra ver se seu tornozelo está bom.
  Crystal não contestou. Embora não sentisse muita dificuldade em andar, a amiga tinha razão.  Mas queria se despedir de Arc. Olhou para trás, para a floresta que já mergulhava na penumbra mas viu apenas o pequeno Bulbasaur, que correra na sua direção e agora a acompanhava para fora da Floresta de Ilex.

~*~

  A base Rocket possuía vários galpões em seu subsolo, cada qual sendo utilizado para determinada tarefa. A antiga base militar se mostrara uma excelente aquisição e a organização sabia muito bem como administrar para obter o melhor aproveitamento de cada parte daquele grande e esquecido lugar.
   O maior dos galpões ficava dentro do complexo principal da base e havia sido escolhido para ser o salão de audições e pronunciamentos de campanhas Rocket. Fora ideia de Giovanni, quando decidira que a ER seria mais do que um mero grupo criminosos: seria uma organização de grande porte, como um exército. E ele conseguira isso, conseguira obter a admiração e devoção de quase todos os agentes Rockets.

   “ Exceto dos que ele mais deveria ter obtido. E por conta disso, acabou daquele jeito.”

   Do alto da plataforma de metal que servia como uma espécie de palanque, Dômino observava os agentes Rockets de patentes D a B que iam chegando ao local. Igni havia emitido uma nota oficial solicitando (com urgência) que todos os agentes de tais patentes comparecessem ao local. Mas, embora houvesse emitido o aviso com antecedência, era visível que muitos não estavam presentes.

  “No comando da Equipe Rocket, Igni conseguiu tirar financeiramente a organização do buraco, fomentar alianças, fazer a organização voltar a ser temida e respeitada, ampliando sua influência. Mas com relação aos agentes, ele continua não sendo muito bem visto. O consideram um aproveitador, golpista, interesseiro e não confiável. A imagem de Giovanni no comando da organização ainda é muito forte e ele realmente demonstrava que sua real intenção era o que dizia ser o ideal da Equipe Rocket. Já Igni passa a imagem de alguém que tem interesse em algo além e a organização não passa de uma ferramenta para esse objetivo que ninguém sabe.”

   Dômino saiu de seus pensamentos ao identificar uma agente Rocket com rosto redondo, de cabelos estilo channel tingidos de verde.Ela vestia o uniforme que a identificava como uma agente de nível C.
   Dômino a conhecia bem. Era Wendy, uma ex-colega que dois anos atrás após um desentendimento, lhe havia ofendido e dito que “ela não sabia ser uma agente Rocket capaz de alcançar alto nível na organização.”

  Mas agora lá estava Wendy, ainda como Agente Rocket Nível C e, pelo que as fofocas obtidas por Mondo diziam, tendo rendimentos pouco significativos nas missões e troca constante de parceiros de trabalho que alegavam não desejarem mais trabalhar ao seu lado. E isso  estava abalando seu emocional e ocasionalmente piorando sua gastrite nervosa.
   Ela parecia mesmo  meio abatida e, quando Wendy ergueu os olhos e viu Dômino olhando-a de cima, a loira se empertigou.

   “Aqui estou, Agente de Elite A, admirada e invejada por conta de todas minhas qualidades, gozando de boa saúde e tendo me tornado assessora de confiança do Supremo Conselho. Tenho alto salário e regalias da posição, além de ser amante do novo líder da Equipe Rocket. Quem não é capaz de alcançar alto nível na organização hein, Wendy?”

O olhar soberbo e o sutil sorriso de Dômino foram bem claros para Wendy, que se limitou em abaixar a cabeça e sumir entre os demais Rockets que ali estavam.
     A porta de metal ao final do corredor na frente do palanque deslizou para o lado co um silvo e Igni surgiu, acompanhado por Mondo com seu inseparável tablet. Atrás deles, vinha Buson escoltando dois cabisbaixos recrutas Rockets.
— Todos os agentes já estão aqui?
— Os que compareceram, pelo menos. Mas evidentemente, não todos.
  Igni parou ao lado de Dômino, observando o local. Embora suas mãos estivessem próximas na barra de apoio do palanque, Dômino não arriscou tocá-lo.
  Era assim que deveriam sempre agir.

— Os agentes ainda não nutrem uma devoção e respeito por você. Pelo que sabemos, o consideram algum tipo de usurpador interesseiro e se perguntam porque Giovanni e o Alto Conselho o deixam no poder .
— Não me importo com o que eles pensam e especulam. Contanto que façam seus trabalhos devidamente.
  Ele sorriu daquele jeito dissimulado, os olhos de cores diferentes causando uma constante ambiguidade.
— ...eu jamais objetivei me tornar um líder aclamado e repleto de fiéis seguidores ao ponto de ser registrado na História. – ele deu uma olhada desinteressada para os agentes embaixo. – Eu sou apenas aquele que move as peças do jogo e se mantém nos bastidores enquanto o líder é louvado e lembrado. Mas o que irei esclarecer aqui certamente os fará mudar alguns pré-conceitos sobre mim.

  Ele fez um sinal para Mondo, que rapidamente foi até a parede e acionou o botão do painel. Um som semelhante a uma sirene ecoou no local e todos os agentes olharam para cima.
— Boa tarde! Eu tenho a atenção de todos vocês? Espero que sim.
   Igni empertigou o corpo e se direcionou aos agentes de forma simpática. Dômino notou que eles olhavam, mas se mantinham espalhados. Quando Giovanni estava no poder e ordenava uma reunião, os agentes se agrupavam em fileiras como se fossem soldados de um grande exército.

— Posso notar que há uma quantidade de presentes menor do que o esperado. Mas se isso foi uma tentativa de mostrar que não me levam a sério, não os criticarei. Cada um é livre para pensar o que quiser, entretanto todos juraram fidelidade e devoção á Equipe Rocket e por acreditarem no ideal e potencial desta organização, deverão continuar cumprindo seus trabalhos de forma eficaz. Porque assim não apenas a organização terá lucros, mas cada um de vocês também. É isso o que importa afinal de contas, não é mesmo? Mas para que todos possam obter o que desejam é necessário que trabalhemos juntos. E o juramento prestado para a Equipe Rocket é algo que deve ser honrado e cumprido. Infelizmente, acontece de alguns não, como posso dizer... “ valorizarem seu próprio trabalho ou vestirem a camisa da empresa” da forma como deveriam.

  Dômino não prestou muita atenção no restante do discurso. Igni era um excelente orador mas a forma como ele falava mais parecia um palestrante do que um comandante. No que Giovanni demonstrava autoridade, ele demonstrava simpatia, mas que para muitos soava como encenação. Mas Igni era estratégico e se agia assim era porque sabia o que estava fazendo.
   Ao terminar o discurso, ele virou-se para Buson e este se aproximou, empurrando os dois recrutas.

— Estes cadetes estão aqui para serem repreendidos por conta de uma conduta inadmissível para o novo padrão e objetivo da Equipe Rocket. Como devem saber, já que a notícia se espalhou até mesmo na grande mídia, estes dois recrutas estavam cometendo uma série de roubos a mão armada e delitos nas imediações da cidade de Azalea. Eles foram derrotados por duas jovens treinadoras e acabaram sendo detidos pela polícia. Acreditem...eles estavam praticando assaltos em pontos de ônibus e rotas de treinador. Assaltando pessoas comuns, treinadores de baixo nível levando não apenas Pokémon, mas pertences pessoais, como se fossem trombadinhas qualquer! E pior... – ele apontou para os rapazes. – Usando os antigos uniformes da Equipe Rocket!
 
   Passou os olhos pelos presentes antes de continuar.
— Quando Giovanni saiu daqui, havia eliminado a ralé na organização, deixando soldados dignos. Porém, não é a primeira vez que recebo a notícia de agentes agindo como bandidos banais.  A organização não voltará a ter manchas como outrora. Não mais. Alguns de vocês podem ter sido criminosos comuns de rua no passado, mas ao prestarem juramento á Equipe Rocket, condutas que envergonham a organização perante a opinião pública e contribuem para que as pessoas nos temam menos é inadmissível!  - ele elevou a voz. – Somos a Equipe Rocket uma organização de poder, um exército do submundo que sempre causou temor nas pessoas e não um maldito bando de salteadores!

  Ele retomou o tom de voz calmo a seguir.
— Com base nisso, permitam-me demonstrar como as más condutas para o novo perfil de agente Rocket serão repreendidas e remediadas a partir de agora. Para cada conduta errônea e vergonhosa, uma punição do nível será presidida.  Buson. – a voz de Igni era estranhamente calma. – Pode quebrar uma mão de cada um.

  Um silêncio sombrio pairou no galpão. E então todos assistiram quando Buson se precipitou para cima dos dois jovens e com facilidade torceu uma mão de cada um deles para trás em um ângulo estranho. O ruído seco de ossos se partindo ecoou no galpão e foi possível sentir a tensão em todos os agentes presentes. Os dois recrutas gritaram de dor, caindo de joelhos no chão. Um apertava o pulso da mão quebrada enquanto o outro berrava e chorava copiosamente com a mão quebrada pendendo de sue pulso.
  Mondo levou uma mão á boca em choque enquanto Dômino se limitou a crispar os lábios e observar, com o canto dos olhos, a reação dos agentes. Se Igni queria surpreendê-los, conseguira.

— ...pode levá-los para fora daqui.
  Mesmo de má vontade, Buson obedeceu e ergueu facilmente os dois recrutas, praticamente os empurrando para a porta de onde haviam vindo. Assim que eles saíram, Igni voltou-se para os agentes, olhando-os de cima para baixo com um sorriso apático.
— Acredito que a demonstração tenha sido clara. Espero, encarecidamente, que todos aqui presentes e os que não estão presentes, mas que certamente ficarão cientes do que foi dito e demonstrado, saibam como devem proceder a partir de agora. Em nome de Giovanni, do Alto Conselho e do legado da Equipe Rocket, enquanto eu estiver aqui, independente de gostarem ou não de mim, deverão cumprir as ordens estabelecidas. Condutas fúteis e estúpidas não serão permitidas, tampouco toleradas. A Equipe Rocket é uma poderosa organização e que está caminhando para se tornar ainda maior e mais influente. E pela posição que Giovanni me entregou, não permitirei que haja nesta organização, qualquer um que possa macular não apenas a tradicional imagem Rocket, mas a nova e definitiva que está por vir.  Nosso poder há de ser grandioso, muito mais do que sequer seus fundadores imaginavam!

  Ele ficou em silêncio por alguns segundos, permitindo que suas palavras fossem absorvidas.
— Por hora, isso é tudo. – ele sorriu de forma natural. – Continuem sendo agentes Rockets de qualidade, como tenho certeza de que podem ser. Tenham todos uma boa noite e um bom dia de trabalho amanhã!

~*~


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...
Definitivamente, a cena que mais gostei de escrever nele foi o pensamento de Dômino e seu olhar soberbo para a ex-colega recalcada. Só quem já saboreou esse tipo de vingança sabe o quão confortante é. Confesso que essa cena foi baseada em fatos reais (lógico que em situações e circunstâncias diferentes) então posso dizer que me senti representada pela Dômino.
Terminando o capítulo aqui...
O que achara desse cena final?
Igni, mostrando que ele não é apenas um orador dissimulado. Eu confesso que tinha em mente o lance da punição com antecedência, mas em dúvida de em qual nível aplicar. Optei pelo mais leve que eu havia pensado, já que ponderei acerca da "gravidade" do crime, não poderia ser algo muito forte. Mas precisava ser algo que pudesse começar a dar aos rockets a noção de que Igni não está na posição em que ocupa simplesmente por estar.
Aliás, a imagem que ilustra o capítulo é ele. Achei que já era hora de mostrar.

Mas definitivamente, a cenaque mais gostei de escrever nele foi o pensamento de Dômino e seu olhar soberbo para a ex-colega recalcada. Só quem já saboreou esse tipo de vingança sabe o quão confortante é. Confesso que essa cena foi baseada em fatos reais (lógico que em situações e circunstâncias diferentes) então posso dizer que me senti representada pela Dômino.

Enfim, quero saber sua opinião! Deixe um comentário!
Até o próximo capítulo.



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