A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor(a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui, rapidinho!

Como pode ter notado, houve uma ligeira demora em atualizar a fic desta vez. Peço desculpas por isso, mas foi inevitável em vista de outras prioridades que tive aliadas á esse tempo que passa cada vez mais rápido. Vida de adulto não é fácil. :v
Quando eu vi já havia passado praticamente um mês, aí bate o desespero, a falta de tempo, foi (e ainda está sendo) uma doideira.

A ideia para este capítulo tomou forma há semanas atrás, mas não sei direito o por quê, encontrei uma certa dificuldade para colocar as ideias em palavras e organizar a narrativa. Principalmente com relação a última cena (e olha que nem foi algo complexo! rs) Mas nessa demora de um mês para atualizar a fic, conclui o meu primeiro cosplay de pokémon, cujo link para uma foto se encontra nas notas finais deste capítulo.

Quero agradecer á todos que continuam acompanhando esta história e também aos novos leitores. Muito obrigada! E, em troca espero conseguir continuar trazendo capítulos envolventes!
Aproveitando, deixo aqui uma perguntinha: ate o momento, qual personagem (ou personagens) vocês mais estão gostando e qual deles vocês esperam por mais?

Ah e a imagem que está nesse capítulo, é um desenho feito por mim ♥
Não manjo muito de desenho, mas essa fic tem mexido muito com minhas ideias e acabei rabiscando esse desenho básico da Crystal com o Lugia. Espero que gostem!



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~*~

O céu ainda não começara a dar os primeiros indícios do amanhecer quando Lugia finalmente encontrou um lugar no qual pudesse pousar, longe do olhar de todos.
   Após a batalha contra Grondon, Lugia sobrevoou a cidade, observando o alarde e movimentação das pessoas. Mas logo precisou se ocultar entre as nuvens ao perceber que muitos o observavam. Voou pelo que pareceram horas, o cansaço cada vez mais dominando seu corpo. Poderia mergulhar no mar e ali permanecer mas não queria ficar na forma de fera. Já passara tempo demais como Pokémon e agora só queria sê-lo quando necessário.

     Entre os muitos escombros e elevações de terra causados pelo ataque de Groudon, Lugia encontrou o que parecia ser um bom lugar. Com a atenção das pessoas e repórteres focada quase que inteiramente em direção á Cave of Origin aliada á chuva que caía, ele concluiu que poderia descer algumas centenas de metros de distância e voltar a ser humano.
     Mesmo que já estivesse se acostumando com a transformação e o processo ficasse gradualmente mais rápido, ainda era doloroso. E a mudança do corpo bestial para o corpo humano sempre era pior do que o contrário.

     Gemeu de dor e olhou para as próprias mãos fincadas no barro. Seu corpo sentiu o gelado da chuva sobre si e com dificuldade ele se arrastou até um coberto entre rochas e o que parecia ser um pedaço de lona. Teria que se contentar com aquele abrigo improvisado. Não tinha mais forças, o uso de seus poderes na batalha, as horas voando e a invocação da chuva o haviam exaurido. E agora encolhido naquele parco abrigo, nu, sujo, molhado e exausto, só queria que aquela dor horrível em sua cabeça cessasse.
    Mas tinha de continuar acordado, manter a mente focada. Como sairia dali sem que chamasse atenção? Não conhecia o lugar para se lembrar agora onde o helicóptero Rocket estava pousado.

   Repreendeu-se mentalmente: deveria ter pensado nisso antes, mas no momento em que Groudon atacara, sua prioridade era a população.
   Olhou para a chuva que caía sabendo que poderia fazê-la parar ao se concentrar. Mas era bom que continuasse chovendo por um tempo, para que Groudon não voltasse. Além do mais, sua cabeça latejava. Talvez devesse fazer algum tipo de sinal para ser encontrado por alguém, mas logo descartou tal ideia. Se fosse encontrado por autoridades, o interrogariam.

   Fechou os olhos, o som da chuva entorpecia seus sentidos, a água gelando cada vez mais em sua pele. Aos poucos, foi como se sua própria consciência se esvaísse ao som da chuva.
   E lembrou-se daquela floresta verdejante, com os acolhedores  raios de sol passando por entre os galhos frondosos das árvores. E havia o calor e o aroma da primavera nas curvas acolhedoras Dela, a fragrância das flores em seus cabelos fartos agraciados com vários tons na luz quando seu rosto neles tocavam.
   E então sua mente desvaneceu, vencida pela exaustão.

 

Não soube precisar se dormira por minutos ou horas, mas sua mente e corpo começaram a despertar quando sentiu a presença de algo perto de si e os primeiros indícios de claridade. Abriu os olhos e piscou algumas vezes para que sua visão se ajustasse e se deparou com um pokémon grande há alguns metros de distância que o fitava com um olhar curioso em seu rosto parcialmente coberto por uma espécie de pano.
      Um Greninja.
    Passos fizeram Lugia se encolher parcialmente e o Greninja olhar na direção de quem se aproximava. Não demorou para que a figura de um homem esbelto surgisse e, ao reconhecer Basho, Lugia relaxou.

— Finalmente o encontrei, senhor. - não havia ironia em suas palavras e ele se voltou para o Greninja. – Avise se alguém se aproximar.
    O Pokémon prontamente obedeceu e Basho se aproximou, entregando algo ao outro.
— Assim que você se transformou, peguei suas roupas.
— Como me achou...?
— Após o que fez, cogitei primeiramente que havia mergulhado no mar, para não ser visto pelas pessoas. Mas logo pensei que isso não seria o melhor para você na atual situação após a batalha. Então, parti do pressuposto que havendo voltado á forma humana, você estaria exausto e despido. Tentaria se abrigar até que pensasse em algo. – explicou Basho olhando ao redor enquanto Lugia rapidamente  se vestia. – Então pedi ao meu Greninja que cheirasse suas roupas e o rastreasse.
— ...sábio de sua parte.
— Foi apenas uma decisão óbvia. Já entrei em contato com Igni e ele está nos esperando com o helicóptero. Consegue andar?

   Lugia o encarou com o cenho franzido e se colocou de pé. Saiu de onde estava, notando o céu nublado. Começou a caminhar ao lado de Basho e, ao perceber, o Greninja os seguiu. Embora aparentemente estivesse bem, Basho notou que Lugia caminhava com um pouco de dificuldade devido à fadiga e o caminho repleto de oscilações e incerto por conta do barro, o fez derrapar algumas vezes.
— Estou bem. – respondeu ele quando Basho tencionou ajudá-lo.
   Caminharam em silêncio por alguns minutos, notando a movimentação das pessoas e autoridades mais ao longe.

— Qual foi...a gravidade do estrago?
— Exceto que a Cave of Origin ficou completamente soterrada e por centenas de metros, crostas e fendas surgiram devido aos tremores de Groudon, não houve mais perdas.
— ... as pessoas...
— Não se preocupe, não houve feridos e tampouco mortos. Você os protegeu bem.
     
    Lugia sentiu como se um peso fosse retirado de suas costas ao ouvir aquilo e ele até pareceu caminhar melhor.
— Você não está...surpreso e intrigado pelo que eu sou?
— ...deveria estar?
    A pergunta fez Lugia franzir as sobrancelhas e Basho continuou, no tom profissional e sem emoção.
— Eu já havia sido informado a respeito. Mas mesmo sabendo, se eu disser que não me surpreendi ao vê-lo se transformar, estaria mentindo. É surpreendente a forma e rapidez como o seu corpo se transforma. Penso que deve ser doloroso.
— Um pouco. Mas diminui a cada vez.
—  Se quer saber, mais intrigante para mim do que o fato de você ser um Pokémon lendário que na verdade é um humano amaldiçoado há eras, é o fato de que todo seu corpo, ossos, músculos, órgãos e tecidos, possam mudar drasticamente de forma e tamanho com incrível rapidez e se curar quase instantaneamente, sem nem mesmo sangrar muito.

    Lugia pareceu soltar um riso misturado com resmungo.
—  Algum problema?
— Não. Mas é que ninguém antes não se mostrou surpreso ou fascinado por eu não ser apenas um Pokémon ou apenas um humano.
— Em um mundo no qual humanos capturam criaturas com poderes elementais e capazes de evoluir  e os colocam dentro de esferas de metal de alta tecnologia, não deveria ser tão surpreendente que um Pokémon pudesse se tornar humano ou vice-versa.
— Outros membros da Equipe Rocket que viram o que me tornei, se chocaram e até estão um pouco...interessados demais nisso.
— É natural que os outros estejam. Mas eu sou diferente dos outros.

  “ De fato. O pouco que estou te conhecendo, já deixa isso bem visível.”

  
Lugia guardou o comentário para si. Já Basho guardou o Greninja na pokébola assim que puderam avistar o helicóptero em que vieram metros a frente. Igni os esperava com a porta do helicóptero aberta, sentado em um dos bancos, parecendo entediado. Próximo ao helicóptero, os dois agentes  que cuidavam da base Rocket em Sootópolis, permaneciam atentos para evitar que qualquer pessoa se aproximasse.

— Finalmente chegaram... – Igni sorriu do jeito dissimulado que lhe era comum. – Basho, já que tivemos um certo probleminha com o nosso piloto...se importa de ficar no lugar dele?
— Não.
— Ótimo obter um agente multifuncional como você. Por mais agentes assim!– Igni voltou a atenção para Lugia. - Nossa, você parece exausto, majestade.
— ...o cristal...
— Está em perfeita segurança.
  Igni tirou a pedra do bolso da camisa. E, na luz, o cristal revelava em seu interior, tons de azul que pareciam enroscar-se entre si.
— Avaliei previamente e tenho uma boa notícia. Logo terá mais um reencontro familiar.
— Então vamos logo encontrá-la.
— Opa calma, majestade! O senhor está, com o perdão da palavra, um trapo. Temos tempo para tudo e ela já  ficou tanto séculos na forma de Pokémon que ficar mais um ou dois dias não farão diferença. Vamos voltar para a base, destruir o cristal e então faremos uma equipe de busca. É visível que o senhor precisa descansar um pouco e sua outra irmã deve estar esperando por notícias.

     Com um suspiro resignado Lugia entrou no helicóptero, sentando-se em um dos bancos e fechando os olhos. Realmente, sentia-se exausto e não conseguiria se transformar novamente sem que descansasse e se alimentasse antes.
— Um banho seria bom.
— Ah, isso com certeza. – concordou Igni. – Se me permite dizer, sua aparência não é das melhores.
— Não precisa dizer o que já sei.

~*~


— Caramba, a internet só fala do ocorrido em Sootópolis ontem!
— Também pudera... não era um simples aparecimento de Pokémon raro: foi uma batalha fenomenal entre Grondon e Lugia!
   Alice e Crystal conversavam dentro do ônibus intermunicipal que ia em direção á cidade de Azalea, que não ficava muito longe da cidade de Violet. Crystal quisera pegar o ônibus logo pela manhã após tomarem um rápido café na padaria e naquele horário, o transporte estava relativamente cheio, o que as obrigou a irem de pé, se segurando onde era possível.

— Pelo que me lembro. – continuou Alice. - Existem muitos registros históricos e amontoado de relatos sobre aparições de Pokémon lendários, mas são poucos os que possuem provas concretas e nunca antes um assim, com material em vídeo de uma batalha!
— Eu fiquei revendo o vídeo várias vezes ontem antes de dormir. – Crystal deu espaço para que uma mulher cedesse seu lugar para outra que segurava uma criança de colo. - Foi incrível, aquele tornado de água que o Lugia criou...o Grondon foi atingido em cheio, parecia coisa de filme!
— Anda rolando muita especulação. – falou Alice segurando-se na barra de ferro com uma das mãos enquanto na outra mantinha o celular. – Tem gente até falando aqui na net que pode ser montagem mas é besteira. Mesmo que a imagem do vídeo esteja meio ruim, há o depoimento de dezenas de pessoas que viram e grandes jornais noticiaram, eles não fariam isso se fosse falso. E a Cave of Origin foi soterrada mesmo depois que o Grondon desapareceu nela.
— Eu visitei a Cave of Origin uma vez. Não havia muita coisa lá, só era bem quente. Será que Groundon sempre esteve lá, metros e metros embaixo da terra? E se foi, qual motivo o fez atacar Lugia e por qual motivo Lugia foi até lá?
— Tudo o que se tem é só dúvidas e nenhuma resposta. O senhor Lawrence deve estar chocado e levantando um monte de perguntas! Assim como você, ele tem o Lugia como Pokémon lendário preferido.

  “ Definitivamente, essa é a única coisa que eu posso ter em comum com esse cara...além de achar a Alice bonita.”

   Crystal pensou dizer em voz alta, mas certamente a amiga sabia. A forma como o empresário demorava alguns segundos a mais quando olhava para Alice, não passava totalmente despercebido pelo seu olhar atento de treinadora.
— Ô MOTO! VAI DESCER AQUI!
   Um homem gritara alto perto delas que trincaram os dentes. O ônibus parou no ponto e o homem desceu apressado, empurrando as pessoas para conseguir sair.
— ...tem cordinha pra anunciar que vai descer, seu Slowpoke! – resmungou Alice. – Não precisava gritar.
— Falando em cordinha, puxe aí. – pediu Crystal. – Vamos descer no próximo ponto.

     Assim que o ônibus parou, as duas passaram pelo corredor apertando em murmúrios de “com licença”, e desceram do ônibus. Alice olhou ao redor, com o cenho franzido. Ali, além do ponto de ônibus e uma espécie de mercadinho, não havia nenhum resquício de civilização. Do outro lado da estrada, se estendia uma plantação de alfaces e mais ao longe, uma de milho. Do lado me que estavam, após o mercadinho, havia uma espécie de trilha que levava para um bosque;  à frente, uma placa indicava o Poço dos Slowpokes, um ponto turístico conhecido na região. Ao longe, na direção em que o ônibus fora, ela pôde discernir a cidade de Azalea.

— Posso perguntar por que paramos aqui sendo que a cidade é um pouco mais á frente? Nosso destino não era o ginásio Pokémon de lá?
— Sim, mas antes eu gostaria de treinar um pouco meus Pokémon. Organizei parte do meu time com alguns que precisam aumentar um pouco de nível.
— Mas não dá pra fazer isso nos campos de treinamento da cidade? Porque enfrentar Pokémon selvagens nunca aumenta muito o nível do Pokémon quanto uma batalha contra os pokémon de outros treinadores.
— Eu entrei em um grupo de Treinadores de Johto . –Crystal sacou a pokégear do bolso externo da mochila. – E aqui diz que o campo de treinamento de Azalea não é muito bom e que a maior parte dos treinadores que querem realmente obter bons resultados em seus treinamentos, batalham na Union Cave. Daí, pensei em dar um pulo lá porque parece que vai rolar um encontro semanal de treinadores ali então pode ser uma boa opção de treinar meus Pokémon e ainda ganhar um dinheirinho se eu vencer!
— Hum...entendi. Bom, se lá tem bastante treinadores, acho que vou participar também!  Treinar um pouco meus Pokémon, vai ser bom e como é dentro da caverna, não tem o risco de ficar torrando embaixo do sol!
— Então vamos lá! Podemos batalhar até a hora do almoço e depois ir pra cidade!
— Certo! – Alice se deteve. – Ah, espera um pouco. Eu preciso dar um pulo ali no mercadinho!
— Se precisa de algo para seus Pokémon, eu tenho aqui e posso te dar.
— Ah, não! É que...desceu pra mim hoje, sabe como é...ai preciso trocar de absorvente e aproveitar e comprar um remédio pra cólica.
— ...entendo. Bom, vai lá! Eu fico aqui te esperando. Vou aproveitar e ligar o sinal da pokégear para ver se aqui capta alguma daquelas estações de rádio exclusivas para indicar que Pokémon selvagens costumam ter na região.
— Ok, eu volto rapidinho! Quer alguma coisa?
— Não, tô de boas.

     Alice entrou no pequeno comércio enquanto Crystal ficou embaixo do ponto de ônibus, verificando sua pokégear. Enquanto o aparelho procurava sinal do rádio, ela aproveitou para dar uma verificada em seu pokébook. Surpreendeu-se com a quantidade de curtidas em sua foto com Alice, tirada ontem. Suas fotos e postagens nunca possuíam uma repercussão ainda que mediana e pelo visto, Alice gozava de uma certa popularidade, o que não era de se espantar.
    Compenetrada em verificar as notificações e postagens na internet, Crystal não se importou com o fato de que estava sozinha ali. E quando estava começando a responder a mensagem que seu amigo Kenta deixara, não percebeu que uma bicicleta se aproximava na estrada com certa velocidade, tendo duas pessoas vestidas de preto sobre ela.
  E a abordagem foi incisiva.

— PERDEU! PERDEU! PERDEU!
— ...quê...?
— CALA BOCA E VAI PASSANDO TUDO, RÁPIDO, RÁPIDO!

    O garoto que estava na garupa da bicicleta desceu, um canivete em riste, ameaçador. Ele era magro e parecia ter mais ou menos a idade da garota. Crystal notou que ambos usavam um uniforme preto, botas e boina enterrada na cabeça, além de óculos de lente escura. Havia um grande R vermelho bordado na camisa e isso a fez estremecer. Equipe Rocket.
— TÁ SURDA, É?! VAI PASSANDO A POKÉGEAR!

  Crystal deu um passo para trás, os olhos fixos na lâmina do canivete.  Com um movimento ligeiro, o agente arrancou a pokégear de sua mão.
— DÁ A MOCHILA, ABRE A MOCHILA!
— ...eu..abro ou dou...
— ABRE LOGO, CARRALHO!
  Tremendo, Crystal começou a abrir o zíper.
— Pega logo isso, cacete! - rosnou o outro olhando ao redor, preocupado.

    O Rocket com o canivete pegou a mochila das mãos de Crystal e entregou para o outro.
— PASSA AS POKÉBOLAS!  DEPRESSA!
— Moço, os meus pokémon não...
— QUER SER FURADA?! PASSA OS POKEMON!
  Tremendo, Crystal desafivelou seu cinto de pokébolas e entregou para o meliante.

— Pega os tênis dela também!
— ...quê?!
— TU OUVIU! PASSA O TÊNIS, PASSA! PASSA!
  Crystal tirou os calçados e rapidamente o Rocket o pegou, subindo na garupa da bicicleta, no qual o que dirigia já colocara a mochila de Crystal nas costas.
— VAI, VAI, VAI!

  A bicicleta deu um arranque e os dois Rockets desceram a estrada em disparada, com um deles pedalando á toda velocidade e o outro tentando se equilibrar e segurar as coisas recém roubadas.
  Poucos segundos depois, Alice saiu do mercadinho, segurando duas garrafinhas e se aproximou do ponto de ônibus.

— Ah quando começa a descer eu me sinto como um balão, meus seios ficam super doloridos e esse mês resolveu descer bastante! Eu acabei comprando um refrigerante pra gente ir tomando até chegar na Union Cave e...Crystal,  cadê seus tênis?!
— Eu...eu acabei de ser assaltada!
— Quê?! Como assim?
— Alice, me ajuda! Eles levaram tudo o que eu tinha!
— Calma, você está tremendo! Senta aqui. – ela indicou o banco do ponto de ônibus. – Você está machucada?
— Não...eles...eles só levaram tudo! O que eu faço?!
— Eu estava no mercadinho e nem eu e nem o rapaz do Caixa ouvimos nada...
— Eles foram muito rápidos! Eu estava aqui mexendo na minha pokégear e de repente, dois Rockets em uma bicicleta me assaltaram!
— Dois rockets?!
— Um deles desceu da bicicleta e me ameaçou com um canivete, eu não consegui reagir, só fui dando tudo que ele pedia!
— Ainda bem que não reagiu, você poderia ter sido ferida!
— Eu deveria ter feito alguma coisa!
— Não, Crystal! Só deve reagir se tentarem te levar ou te machucar. O que foi levado pode ser comprado, eu até te ajudo nisso e...
— ELES LEVARAM MEUS POKEMON! – Crystal gritou, lágrimas de raiva e desespero em seu rosto. - Eu não ligo tanto de perder as outras coisas ainda que não sei como vou conseguir parcelar uma nova pokégear, mas os meus Pokémon são parte de mim!
— Calma, Crystal. Eu também tenho Pokémon e sei como é isso.
—  O que eles vão fazer com meus Pokémon?!  Eu tenho medo só de pensar!

    Crystal parou por um segundo, respirando com dificuldade em meio a choro. Alice passou um braço envolta da outra, procurando consolá-la. Subitamente Crystal arregalou os olhos e pôs-se de pé.
— Eu estava logada á todas as minhas contas no meu pokégear! Eles podem hackear minhas redes sociais e pior! Podem ter acesso a minha conta do banco! Precisamos ir na polícia, depressa! Preciso fazer alguma coisa! Ai, socorro!

    Alice se levantou, circundando a outra e procurando evitar que Crystal saísse correndo destrambelhada pela estrada.
— Vamos pensar de forma racional! Não adianta ligarmos para a polícia ou ir correndo até Azalea para fazer um B.O na delegacia. Isso vai levar tempo e quase sempre acaba não dando em nada!
— E o que vamos fazer? Simplesmente deixar por isso mesmo? Eu tendo minhas coisas roubadas e meus Pokémon possivelmente traficados?!
— Eu não disse isso! Primeiro, em que direção eles foram?
— Continuaram pela estrada! Mas eu duvido muito que tenham ido para a cidade, na certa devem ter ido se esconder em algum esconderijo Rocket. Mas o lugar aqui é deserto, com mato e caverna, eles podem ter ido para qualquer lado!

     Enquanto Crystal falava, Alice tirou a própria mochila das costas e pegou um par de tênis que havia nela.
 – Coloque isso. Não vai andar por aí nesse asfalto quente ou nesse mato cheio de pedras! Agora...se eles foram pra lá, faz quanto tempo?
— Não sei...mal eles foram embora, você veio.
— Ótimo! Isso significa que eles não podem ter ido muito longe, mesmo estando de bicicleta. E é provável que tenham que parar em algum lugar para ver o que roubaram. Vamos pegá-los!
— Quê?! Como assim?! Eles são bandidos da Equipe Rocket, um deles estava armado, eles podem ter seus próprios Pokémon e...
— Ora, um canivete não vai me ameaçar enquanto eu tiver meus Pokémon de fogo e meu spray de pimenta!

    Alice tirou uma de suas pokébolas do cinto e dela surgiu um imponente Houndoom.
— Muito bem! – ela sorria empolgada. – Vamos meter o louco em uns Rockets trombadinhas e reaver o que é seu!

~*~

 
   O alojamento destinado aos membros da Equipe Rocket na sede da Organização localizado entre as cadeias montanhosas nos confins da região de Johto, ficava um pouco distante da base principal. Quando o local ainda era uma base militar, dispunha de um alojamento para os soldados e ao se apossar dali, isso foi mantido, mas agora para alojar os agentes Rockets com algumas reformas e separações.
  Os agentes de patentes mais baixas amontoavam-se nos alojamentos maiores, ocupando até cinco agentes por dormitório. Á medida que o agente subisse de nível, ele poderia ir para alojamentos melhores e dividir com menos pessoas. Os agentes de mais alto nível usufruíam de aposentos particulares localizados na melhor parte da área do mesmo, com uma melhor ventilação e iluminação.

   Basho passou o cartão magnético no leitor e a porta destrancou. Ele acendeu a luz e fechou a porta atrás de si, não sem antes desativar um sistema de alarme que colocara ao lado do interruptor para só então olhar o local. Exatamente como havia deixado.
    O quarto possuía um tamanho razoável, dispondo de um toalete. Uma cama média e um guarda-roupa além da estante onde havia um notebook e um porta canetas com bloco de anotações. Tudo era na cor branca e as persianas de cor bege. Abriu a persiana de modo que o sol iluminasse fracamente o local e ligou o notebook. Tudo estava limpo, com nada fora do lugar e a total ausência de qualquer enfeite ou adereço que pudesse indicar algum tipo de gosto particular. Ainda que se assemelhasse aos quartos-modelos que eram fotografados para revistas de casa e decoração, não havia ali um resquício de personalidade.

    Após digitar algo no celular e colocá-lo na mesa de cabeceira, Basho retirou as botas e as colocou alinhadas em um canto, seguindo em direção ao banheiro. Após os últimos acontecimentos, precisava mesmo de um banho para se limpar e relaxar.

“O que fazer agora? Recém-nomeado membro do Alto Conselho, ocupando a cadeira de Zamba, que morreu recentemente...que foi morto recentemente, essa é a verdade, embora não admitam. Mas, para o Conselho me escolher de súbito, será que suspeitam de algo? Igni não é burro e muito menos ingênuo, embora tente se mascarar com uma simpatia claramente falsa. Por que Giovanni nomeou essa pessoa para presidir o Alto Conselho e se responsabilizar acerca da direção da Equipe Rocket? A única pessoa que talvez possa ter alguma informação é Ela...mas para isso preciso abordar de uma forma que não crie margens para suspeitas acerca do que estou procurando realmente saber. “

    Saiu do chuveiro e voltou ao quarto, abrindo uma das portas do guarda-roupa. Tudo devidamente arrumado, separado por cores, que se limitavam em preto,branco e cinza. Observou, no cabide, os dois uniformes Rockets de cor cinza, que representava seu cargo como Oficial de Alto Escalão Elite A+, o mais alto nível que um soldado poderia ocupar na organização. Acima deles, somente os cientistas que lideravam as pesquisas e o Alto Conselho. Poucos eram os agentes Rockets que atingiam aquele nível, principalmente a Elite A+ e Basho conseguira isso em pouco mais de dois anos que entrara na organização.

     Um feito e tanto, disseram. Mas óbvio que por ser Ele, isso era certeza de que aconteceria, complementavam aqueles poucos que sabiam de sua origem.
  Basho tirou um dos uniformes do cabide. Não gostava de usar aquilo. Desde quando agentes de uma organização criminosa andavam uniformizados, ainda mais com aquele R vermelho enorme na camisa? Ainda bem que há cerca de quatro anos essa ideia estúpida de usar tal uniforme denunciador fora abolido e atualmente os agentes que usavam algum uniforme possuíam apenas um R discreto e pequeno bordado na altura do coração,não tendo mais do que 4 centímetros. E só os agentes de patentes mais baixas optavam por isso já que a elite muitas vezes se envolvia em missões de espionagem e qualquer tipo de deslize poderia comprometer o sucesso da missão.
    Mas há quatro anos, o uso dos uniformes em missões foi inteiramente suspenso e seu uso fora da base Rocket eram proibidos e quem usasse e acabasse prejudicando a organização de alguma forma (sendo detido por autoridades ou algo semelhante) era punido severamente. Essa ordem fora uma das coisas que, precisava admitir, Igni fizera bem.
    Os uniformes agora só eram permitidos dentro da base e durante os treinamentos e ocasionalmente para alguma reunião ou comemoração específica.

   Com um suspiro que ficava entre o tédio e a irritação, Basho vestiu o uniforme cinza, tomando o cuidado de colocar a escuta por dentro da roupa, ajustando o pequeno fone na lapela da camisa e conferindo se o gravador estava bem preso e oculto.
   Sentou-se diante do notebook, constatando que a verificação de acessos desde a última vez fora feita. Ninguém havia acessado. Conectou o modem móvel no notebook , afinal nunca que usaria o wi-fi da base Rocket  e correr o risco de ter seu histórico de navegação rastreado. Transferiu em seguida um arquivo para a máquina e analisou o vídeo específico.
   No momento que Lugia começara a se transformar em Pokémon, Basho havia retirado o celular e começado a filmar. A vantagem de estar relativamente perto, permitia uma imagem nítida.
“ E o homem se torna fera.”

   Mas não tinha interesse de vender ou mostrar o vídeo para Lawrence ou qualquer outra pessoa. Pelo menos não ainda.
   Iria esperar. Obter mais informações sobre tudo aquilo, o que o Alto Conselho realmente estava trabalhando e por qual motivo Lugia teria ficado ao lado deles. E até quem ele realmente era ou havia sido.
   Basho recostou-se na cadeira, os braços cruzados.

  “Pelo visto me tornei realmente um espião duplo, quem diria. Mas até que ponto devo chegar e qual lado devo escolher ou quem sabe, criar um terceiro lado... “

    Batidas na porta. Basho minimizou a tela do notebook  e se levantou para abri-la, dando passagem para que o corpo grande de Buson entrasse.
— E aí, novo membro do Alto Conselho. Curtindo a nova promoção?
— Olá para você também.
— Você sai em missão, depois na maior cara de pau ainda me manda mensagem pedindo pra te trazer comida e eu tenho que bater antes de entrar? Não sou seu empregado, não!

  Ele colocou a sacola sobre a mesa. Basho fechou a porta e sentou-se na cadeira.
— Era o último desses lanches natureba que tinha na máquina. Agora vai, me conta como foi a promoção.
  Basho franziu as sobrancelhas quando Buson sentou-se em sua cama. Suspirou, abrindo o lanche e mordendo um pedaço.

— Nada que tenha sido muito claro. – falou após mastigar. - Subitamente Igni me chamou diante de todo o Alto Conselho reunido dizendo que eu havia sido “aprovado” para ocupar a vaga aberta... E não tinha motivo algum para que eu não aceitasse.
— Se sua arrogância com a classe baixa de agentes já era bem chata,  agora vai ficar insuportável! Mas já que tocou no nome desse cara, estou de saco cheio dele! Ele tá passando dos limites, trazendo gente folgada que acha que pode mandar em tudo e ainda ter privilégios dentro da organização!
    Buson continuou a dissertar sobre o que ocorrera entre ele e a garota desconhecida que surgira do nada e gozava de privilégios como se fosse alguém importante. E que isso era coisa de Igni, sempre trazendo pessoas suspeitas ( “como aquele cara alto e metido”).

—  Sinto lhe informar mas ele e a garota realmente possuem privilégios mas o motivo, não cabe a mim dizer. – falou Basho se levantando. - Eu estou indo me reunir com Igni agora.
— Ah claro que eu vou com você! Porque se eu for sozinho, sempre aqueles escravos que ele chama de subalternos puxa-sacos dizem que ele está ocupado, isso e aquilo. Olha, te juro, tem vez que me dá vontade de meter um soco na cara do Igni!
— Tome cuidado para quem fala isso. Sabe muito bem que as punições por insubordinação e desacato têm se tornado bem menos brandas. Mas fora isso, Igni até está se mostrando uma pessoa muito apta para ocupar o cargo em que está. Apta até demais, arrisco dizer.
— Mesmo assim, eu  não sou o único que suspeita e não vai com a cara dele! Fala sério, Basho. Ele é muito suspeito!
— Todos na Equipe Rocket são criminosos, logo todos são suspeitos.
— Tu entendeu meu ponto!

    Basho deu de ombros e calçou as botas. Desligou o notebook e foi em direção á porta, seguido por Buson, que continuou.
— O que é estranho e o pessoal comenta pelos cantos, é porque o Giovanni deixou esse cara no comando. Ele não foi agente Rocket, não teve treinamento, subiu de nível nem nada. É como se “puff” simplesmente apareceu e conseguiu de cara receber do chefe o controle, enquanto o Giovanni resolveu se escafeder do mapa em busca de não sei o quê! Galera até está fazendo uma piada do tipo “Onde está o Giovanni SanDiego?”

    Aquela era uma questão que Basho pensava já á um certo tempo. O que acontecera com o líder da Equipe Rocket, que há cerca de três anos sumira sem dar satisfações deixando Igni no poder?
   Teria ele realmente escolhido isto ou sido influenciado a escolher?
   Era algo que valeria investigar.

~*~


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Notas finais do capítulo

Com o capítulo terminando aqui...

Espero que todos tenham gostado deste capítulo! Ainda que eu tenha demorado para escrevê-lo, eu acabei tendo ideias que serão usadas em capítulos seguintes.

Primeiro, algumas referências mencionadas na fic:

— Crystal sendo assaltada pelos Rockets é uma clara referência ao meme "dois caras em uma moto" uma ocisa que, infelizmente, muita gente é vítima na vida real :/

— "Onde está Giovanni SanDiego?" - SanDiego não é o sobrenome do líder Rocket, essa referência foi uma piada acerca do desenho Carmem SanDiego.

Segundo, os agradecimentos mega especiais a algumas pessoas que me motivam e incentivam muito: Raven, StraussSilver, Leon, Hime, Alêzito. Obrigada, galera!

Por fim, como dessa vez não tenho muito o que falar, deixo aqui o link com uma foto do meu cosplay de pokémon: é a agente da Equipe Rocket conhecida como Dômino! o/ Ela e uma personagem que aparece no movie especial O Retorno de Mewtwo
E já adianto que essa personagem aparecerá na fic e será uma figura bem importante e presente!

Link: https://www.facebook.com/tsukeehl/photos/a.2311871422208254/2311871688874894/?type=3&theater

Bom, acho que é isso. Nos vemos no próximo capítulo!



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