A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor(a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Avisando desde já que neste capítulo temos Crystal e Alice de volta!
Acredito que você pode estar se perguntando "quando elas vão realmente serem envolvidas com todo o lance dos lendários amaldiçoados,os planos da Equipe Rocket e os demais personagens?" Bom, o que posso dizer é que tudo está se encaminhando para isso acontecer e as peças vão sendo lentamente colocadas.

Gostaria de agradecer imensamente á todos que estão acompanhando a fanfic. Que comentam aqui, trocam ideias comigo no inbox do face, que estão lendo e se afeiçoando aos personagens e ao enredo.
Quero agradecer especialmente ao meu primoso Raven que me ajuda muito na parte das batalhas pokémon, com golpes e opções. Essa é a parte mais difícil para eu escrever.Então ele é sempre o grito de "help" que eu dou quando preciso de ajuda nessas partes.
Aliás, descrever cenas de batalhas pokémon é um desafio enorme e espero estar conseguindo melhorar nem que seja um pouquinho. Se pudesse, eu nem descreveria cenas de batalha, mas elas são importantes para a história tanto pelo acontecimento como pelo modo de agir dos personagens.
Quero agradecer também ao StrausSilver, pelo interesse que me mostra pela fic e também pelas conversas sobre nossas obras. Isso é muito incentivador pra mim!

Enfim, espero que gostem deste capítulo!



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~*~

   O ginásio da cidade de Violet era conhecido por ser, costumeiramente, o primeiro ginásio  que os treinadores desafiavam em Johto. Sua estrutura possuía um design que misturava o moderno com um toque tradicionalista que representava muito bem o estilo das demais construções da cidade.
   Assim que entraram no ginásio, Crystal e Alice foram até o balcão de atendimento, no qual havia uma garota terminando de guardar algumas coisas.

— O-oi. – começou Crystal. – Eu sou treinadora Pokémon e vim desafiar o líder para uma batalha pela insígnia de Zephir!
   A atendente olhou para o relógio na parede e se voltou visivelmente emburrada.
— Tem hora marcada?
— ...não. Não sabia que precisava.
— Não precisa. Mas o ginásio fecha às 18 horas. Pode vir aqui amanhã, abrirmos ás sete.
— Mas são cinco e dez da tarde agora. Uma batalha Pokémon não toma tanto tempo. – intrometeu-se Alice. – O líder do ginásio não está?
— Ele está ocupado no momento e não poderá atender. Voltem aman...

   A porta ao lado da recepção foi aberta e dela surgiu um homem jovem de cabelos pretos com a franja lhe cobrindo um dos olhos. Usava calça e uma camiseta com um desenho estilo vintage de Pidgey e suas duas evoluções. Ele falava ao telefone, alheio a presença das treinadoras.

— Mas você sabe que meu Pidgey gosta daquele carinho para virar Pidgeot... – ele falava baixo, com voz melosa. – Hum...eu sei que tenho o que pé necessário para esmagar sua Ratatta... Mais tarde eu chego...ah, desliga você primeiro amor...eu só desligo se você desligar...

  Ele então olhou para frente e se deparou com a expressão de constrangimento e tentativa de segurar o riso que ambas treinadoras mantinham. Desligou o celular e o colocou no bolso.
— É...hum...b-boa tarde. – cumprimentou, evitando contato visual. – Mari eu já estou indo.
— Espera! – Alice tratou de tomar a dianteira. – Você é o líder do ginásio daqui, certo?
— Sim, sou.
— Minha amiga está querendo te desafiar para uma batalha Pokémon! – ela apontou para Crystal. – Sua atendente disse que você não poderia batalhar hoje mesmo ainda estando dentro do horário disponível do ginásio porque estaria muito ocupado mas...

   Alice fez questão de frisar as três últimas palavras o encarando e Falkner mexeu nervosamente na franja.
— Pode liberá-la.
— Mas já são...
— N-não tem problema passarmos um pouco do horário de fechar, Mari. – ele tirou do bolso o celular que vibrava com uma chamada. – Faça o cadastro dela e me envie. – ele abriu a porta de onde viera. – Estou...esperando na arena! Oi, amor...

  Ele sumiu pela porta e então as duas voltaram-se para a atendente que ficara visivelmente emburrada por ter conseguido encerrar o expediente mais cedo.
— Me passa seu Cartão do Treinador.
  Crystal obedeceu e a atendente passou o cartão em um leitor magnético, começando a verificar algo no computador.

   Todos os treinadores licenciados pelo Comitê da Liga Pokémon recebiam o Cartão de Treinador  (junto da Pokédex e Pokémon Inicial) assim que iniciavam suas jornadas. O Cartão do Treinador confirmava que o treinador era licenciado e tinha número de registro, portanto poderia enfrentar líderes de ginásio, participar de torneios de habilidades Pokémon, temporadas de capturas em Zonas de Safári e, obviamente, batalhar nas Ligas Pokémon.
  Nos dados contidos no chip do cartão, esses locais de competição poderiam ter acesso no momento do cadastro, informações sobre o treinador: ginásios pelos quais passou, quais Ligas participou e o nível de seus Pokémon.

— Quais Pokémon irá usar?
— Ah! – Crystal se debruçou no balcão. – Os três primeiros!
— Pronto. – a atendente entregou o cartão para Crystal. – Pode entrar por essa porta e usar o elevador. O líder Falkner a aguarda.

    O elevador do ginásio de Violet era bem inusitado: uma grande e quadrada plataforma de metal com uma baixa grade de ferro ao redor. Assim que subiram na plataforma, as duas foram até o pequeno púlpito no centro, que possuía uma alavanca com um adesivo escrito “Puxe” ao lado.
— Ué, será que...
   Antes que Crystal chamasse a atendente, Alice puxou a alavanca e com um tranco que assustou ambas e quase as fez perder o equilíbrio, o elevador começou a subir e não demorou para que chegassem ao último andar, no qual Falkner já as esperava.

   Apesar de ainda haver sol, o vento ali era um pouco forte no final da tarde. Embora as paredes ao redor fossem envidraçadas, o teto estava aberto. Crystal agradeceu a si mesma por estar usando sua jaqueta, mas Alice praguejou, abraçada á si mesma.
— Que ventania da porra, aqui! Crystal, trate de terminar essa batalha logo antes que eu fique gripada!
— Prometo que vou tentar.
  Enquanto Alice ia sentar em um banco no canto do local onde o vento não passava co tanta força e se apressava em colocar a blusa de manga longa que amarrara na cintura, Crystal se posicionou na arena de batalha.

— Seu nome é Crystal Marine, correto? Eu sou Falkner, líder do ginásio da cidade de Violet. Seremos rápidos.
    Ele havia tirado a jaqueta e parecia confortável no vento frio.
— Pelo que vi... – ele apontou para um painel ao seu lado que continha um monitor. – Você já competiu na Liga de Hoenn.
— Sim. Fiquei em décimo terceiro lugar.
— É bem mais experiente do que a maior parte dos treinadores que costumam vir aqui. Será uma batalha de três contra três.
  Crystal assentiu. Em sua rápida pesquisa durante a viagem, soubera que o líder Falkner se dedicava á Pokémon do tipo Voador, em especial Pássaros. Como os Líderes só podiam utilizar nas batalhas em seus ginásios, Pokémon do continente em que sediavam, Crystal montara seu trio levando isso em conta.

— Muito bem, vamos começar!
   Falkner jogou uma pokébola e dela surgiu um Doduo.
   Crystal lançou a pokébola e Luxio saiu.
— Luxio, Investida!
— Fury Attack, Doduo!
  Os Pokémon avançaram agressivos um contra o outro, chocando-se no meio da arena. Gritos de ambos ecoaram, o ataque de Luxio parecendo causar pouco dano em Doduo, que começou a desferir bicadas pelo corpo do oponente. Mas logo Doduo emitiu um gritinho e se afastou.
— Doduo, Fury Attack de novo!
   Doduo tencionou avançar, mas a estática elétrica de Luxio que pegara em seu corpo no momento em que ambos se chocaram, causavam no Pokémon Voador um efeito paralisante.
— Thundershock com tudo, Luxio!
   Os raios do leãozinho elétrico atingiram Doduo com força e o Pokémon caiu, derrotado (e chamuscado).
— Nada mal. – Falkner recolheu o Doduo na pokébola e puxou outra do cinto. – Mas esse outro aqui não será tão fácil.

  Surgiu então um imponente Pidgeot. Ele abriu as grandes asas e planou no céu.. Crystal pôde notar que aquele Pokémon não era apenas experiente, mas também muito bem cuidado.
— Luxio, Thundershock!
  O Pokémon obedeceu mas seus raios não atingiram o Pidgeot que voara para o alto  e em seguida bateu as asas com força e velocidade, criando um tornado que envolveu Luxio, o ergueu no ar e o jogou contra o chão. Por ter caído de cabeça, o Pokémon desmaiou.
— Ah, Luxio! Volte!
— Muitos acham que basta ter um pokémon elétrico que qualquer Pokémon Voador irá cair. Mas eu provo que estão errados! – Falkner colocou ambas mãos na cintura. - O que vai me mostrar agora?
— Ela não vai te mostrar Ratatta nenhuma, se quer saber!
   A resposta  de Alice fez Crystal quase cuspir uma risada e o rosto de Falkner se avermelhou.
— V-vai, Numel!
— FLY!

  Crystal lançou a segunda pokébola e dela surgiu o Pokémon amarelo de expressão sonolenta. Ele soltou um mugido e esfregou as patas no solo. Pidgeot voou mais alto e em seguida desceu com extrema velocidade, atingindo Numel com violência que rolou pela arena.
— M-mas o que é isso?!
— É o golpe Fly. – Falkner arqueou uma sobrancelha. – Nunca viu?
— Já tinha visto, sim! Eu tenho Pokémon com esse golpe mas ...
     Crystal notou que seu Pokémon se levantava com dificuldade.
— Numel, você está bem? Pode continuar? – o Pokémon afirmou com um gesto da cabeça, os olhos agora enfurecidos para o oponente. – Certo, vamos atacar com...
   O Pidgeot já começara o ataque dessa vez com Gust, erguendo Numel no ar mas, por ser mais pesado, o Pokémon conseguiu minimizar o dano que a queda lhe daria.
— Numel, ataca com Fire Spin!
   As bolotas de fogo saíram da boca do Pokémon em direção ao Pidgeot mas este apenas chamuscou um pouco as penas da cauda pois tomou altitude rapidamente e quando Crystal percebeu, Falkner já dera a ordem e o Pidgeot atacara novamente com Fly.
— Desvia, Numel!
   Mas não deu tempo. O golpe atingiu Numel em cheio e ele rolou novamente pela arena. Ainda tentou se levantar, mas suas patas fraquejaram e ele caiu, derrotado.

   Crystal praguejou consigo mesma. Quando escolhera Numel, tinha certeza de que ele ajudaria a balancear a luta e embora pressentisse que poderia não vencer, acreditou que pelo menos poderia causar algum dano considerável nos combatentes mais fortes. Talvez precisasse treiná-lo mais.
— Agora só depende de você.  – ela sussurrou pegando a última pokébola. – Vai, Ampharos!
— Ah, o clássico Elétrico mais forte para usar no fim. Pidgeot, Wing Steel!
   Pidget atacou, mas Ampharos estava preparado e, mesmo sentindo a dor do golpe, não recuou, contra atacando com um Thunder Punch que atingiu Pidgeot bem no bico. Irritado, o Pidgeot tentou se afastar para erguer voo mas sem precisar ser ordenado, Ampharos saltou sobre ele, passando as patas envolta de seu pescoço.
— Pidgeot, voe para cima e o derrube com tudo!

  O Pokémon obedeceu e subiu aos céus. Crystal mordeu o lábio inferior. Se não conseguisse derrotar o inimigo agora, Ampharos tomaria um dano considerável que dificilmente permitiria que ele enfrentasse oponente seguinte caso derrotasse o de agora.
   Falkner sorriu satisfeito. Sabia que ela não ordenaria um ataque pois seria mais prudente que Ampharos tomasse o golpe Fly que lhe causaria um bom dano mas não o levaria á nocaute. Se ela ordenasse que Ampharos atacasse em pleno ar com um choque, Pidgeot cairia mas isso faria com que ele levasse o adversário junto E, naquela altura, o impacto derrotaria ambos.
  Para Crystal restava somente uma alternativa. Um pouco arriscada mas iria tentar.
    Pidgeot chegava próximo ao solo, inclinando o corpo para girar sobre si mesmo a fim de forçar o adversário a soltar-se dele.

   “É agora!”
— Ampharos, solta ele e manda Thundershock!
  Ampharos largou o Pidgeot e, enquanto caía, liberou a descarga elétrica de seu corpo, que atingiu o adversário. Aturdido com o golpe que o afetava consideravelmente, o Pidgeot caiu com um violento baque no chão, derrotado. Ampharos conseguiu virar o corpo ainda no ar e caiu no chão sobre as patas, como um gato.
— É isso ai, Crystal! – exclamou Alice. – Esse Pidgeot não sobe mais, nem com carinho!
   Falkner olhou irritado para Alice e recolheu o Pidgeot na pokébola.
— Sua decisão arriscada não foi nada mal. – Falkner comentou. – Mas isso não vai se repetir.
   Ele lançou a última pokébola e dela surgiu um Noctowl.

“Droga!”
   Crystal fechou os punhos. Aquilo era péssimo. Noctowl era um Pokémon Voador mas capaz de aprender golpes psíquicos e tinha certeza de que aquele sabia.
— Bom, temos a vantagem do primeiro golpe...Ampharos, Thunderbolt!
   Noctowl desviou dos raios mas acabou sendo atingido. Ele começou a cair e Crystal sorriu.
— Eu acho que não há o quê comemorar.
  Ao comentário de Falkner, Crystal viu o momento em que o Pokémon coruja girou sua cabeça em quase 180 graus e abriu os grandes olhos.
— Confusion!
— Ampharos,não olhe nos olhos dele!
   Quando Crystal avisou, já era tarde. O ataque psíquico atingiu Ampharos e ele entrou em transe.

— Amphy, Thundershock!
   Para sua preocupação, Ampharos atacou, mas por estar sobre efeito do ataque de Noctwol, acabou por aplicar o choque em si mesmo. O golpe não o afetou tanto mas a situação era preocupante.
— Sky Attack, Noctowl!
— Use Thunder Punch!
  Ampharos não se moveu por conta da confusão e isso permitiu que o Noctowl o atingisse em cheio. O segundo golpe causou um dano efetivo no pokémon elétrico.
— Ampharos, Thundershock!
  Nada. Ampharos continuava como se estivesse em transe.
— Desista. O golpe Confusion do meu Noctowl costuma durar um bom tempo. Até lá, seu Pokémon já terá sido derrotado. – Falkner sorriu. – Mas não se preocupe, se perder agora você pode vir me desafiar de novo depois de treinar um pouco mais.

    Se tinha uma coisa que Crystal não queria, era ter que voltar para desafiar novamente o mesmo líder de ginásio. Cometera esse erro algumas vezes em sua jornada de Hoenn e sabia o quanto aquilo causava um tipo de chacota entre os líderes e seus alunos.
  Não passaria por isso em Johto.

— Ampharos, não vamos desistir! Thundershock!
— É inútil, garota. Só está fazendo seu Pokémon perder energia! Noctowl, Steel Wing!
  O golpe de Noctowl atingiu Ampharos ao mesmo tempo que este liberava uma descarga elétrica. Ambos Pokémon sentiram os golpes mas embora Noctowl houvesse tomado um golpe efetivo, ele ainda estava em vantagem.
— Esse tipo de sorte não vai acontecer de novo. Noctowl, hora de terminar! Sky Attack com força total!
  Crystal sabia que seria o último golpe. Ampharos já estava cansado, confuso e com pouca energia. O golpe de Noctowl iria nocauteá-lo se o atingisse então só lhe restava arriscar.
— Ampharos, Thundershock em toda parte!
   Ampharos não se moveu, Noctowl se aproximava com velocidade, o golpe já prestes a finalizar o oponente. Com poucos centímetros para ser atingido, Ampharos disparou uma forte descarga elétrica que se espalhou por toda a arena, obrigando Falkner e Crystal fecharem os olhos devido á forte luz.
   Noctowl foi ao chão e ficou imóvel, com se tivesse sido abatido. E acabara sendo mesmo. Falkner olhava incrédulo.

— AE CRYSTAL! – Alice deu alguns pulinhos, empolgada. – Arrasou, amiga!
— Ampharos, nós conseguimos! – a treinadora correu até seu Pokémon, o abraçando. – Você foi incrível!
  O Pokémon balançou a cauda e lambeu o rosto da treinadora, mas estava visivelmente esgotado e ainda meio confuso.
— Devo dizer que estou impressionado. – Falkner recolheu o Noctowl e se aproximou. - Você realmente apostou na possibilidade de seu Pokémon conseguir atacar mesmo sabendo que as chances poderiam não ser efetivas.
— B-bom, eu não tinha outra alternativa e não ia desistir sem lutar.
— Você é corajosa, mas não abuse muito da sorte nas batalhas.

  O celular de Falkner tocou  e ao ver a mensagem , ele ficou um tempo observando enquanto Alice notou que o rosto dele começava a avermelhar e resolveu perguntar.
— O Pidgey tá evoluindo ai?
— ...o quê...ah! – ele meteu o celular no bolso. – Eu preciso ir agora e aqui está seu prêmio.
  Ele entregou a Crystal uma caixinha contendo a insígnia de Zephir.
— Boa sorte na sua jornada em Johto. Tchau!
— Espera! -Alice chamou quando ele já estava para iniciar uma ligação. – Não vai rolar nenhum brindezinho pra treinadora? Sabe um Elixir, Antiparalisante, algum itenzinho, sei lá.
— Falem com a Mari da recepção e ela vê o que pode dar.

   Ele deu as costas e atendeu o telefone. Alice e Crystal trocaram um olhar e decidiram pegar o elevador. Na recepção, encontraram a atendente já apagando as luzes colocando a bolsa nos ombros.
— Com licença. – Alice acenou. – Ganhamos a insígnia e viemos buscar o brinde.
— Que brinde?
— O brinde que o treinador recebe junto com a insígnia, oras! O líder disse que tem!
  A atendente voltou-se para o balcão visivelmente irritada. Remexeu em algumas coisas dentro das gavetas e tirou uma Poção e um chaveiro em forma de Pidgeotto.
— Aqui está.
— Só isso?!
— É o que tem.
  Alice iria retrucar acerca da péssima qualidade brindes para um treinador que conseguia derrotar o líder de ginásio mas Crystal pegou os objetos, agradeceu constrangida e saiu dali puxando a amiga pela mão.

~*~

Era final de tarde quando o luxuoso veículo preto parou diante da construção abandonada que outrora serviria como uma pequena usina de distribuição de energia.
      A usina começara a ser construída anos atrás pelo prefeito de Mahogany na época. A ideia era que a usina fizesse uso das águas do Lago da Fúria para fornecer energia para as firmas que iriam se sediar nas proximidades. Mas a união de ambientalistas e treinadores Pokémon interviram contra isso pelo fato de que uma usina de energia e firmas industriais causariam um enorme estrago á natureza pois o Lago da Fúria e a floresta em torno dele eram uma reserva ambiental desde que fora descoberto a existência de Pokémon raros. A construção da usina foi suspensa enquanto as firmas se sediaram em outro lugar.

   Assim, os alicerces da primeira parte da usina ficaram sem manutenção, sujeitos ás intempéries do tempo (como uma parte do telhado destruída por algum temporal). A construção fora abandonada e esquecida e assim certamente continuaria.
     Encostado em uma das pilastras da parte interna da usina, Lance observou o veículo luxuoso com cautela e atento a qualquer outro possível movimento ao redor.
     O líder da elite4 estreitou os olhos quando o homem loiro descera do banco de trás. E não é que ele viera mesmo?

— Lance, meu caro. – disse o outro batendo de leve no capô do carro para que o motorista estacionasse mais á frente. – Como tem passado?
  O homem olhou ao redor enquanto colocava os óculos escuros sobre a cabeça, parecendo avaliar o lugar.
— Aqui é um local inusitado para nos encontrarmos, ainda que não seja o tipo de lugar que eu consideraria ideal para tal. Tem uma aparência rústica e decadente, com um quê de selvagem...é a sua cara!

     Lance ignorou a tentativa de provocação, mas não deixaria de rebater.
— O lugar isolado e decadente te preocupa a ponto de vir acompanhado? Ou será que minha presença lhe causa a hipótese de algum risco, Lawrence?
— Eu não tenho nada com o que me preocupar vindo de você. Nunca me é uma ameaça.
— Foi acordado entre todos da Ordem que as informações e contatos fossem sigilosas. – Lance explicou, querendo terminar o assunto o mais breve possível. – Por questões de segurança.
— E isso está sendo mantido. – Lawrence fez um gesto indicando o veículo. – Tenho pessoas de confiança e bem pagas ao meu lado. Sou um homem de negócios e não é apenas com a Ordem que mantenho contatos e alianças sigilosas. Agora, espero que por ter me chamado neste lugar, tenha algo realmente útil para me mostrar.

  Lance descruzou os braços e se aproximou, entregando uma pequena câmera. Lawrence a pegou, ligando-a e assistindo seu conteúdo.
— ...o que estão dizendo...?
— Pelo que consegui captar na leitura labial, o piloto do helicóptero diz alguma coisa como “são Pokémons, eu vi”,ele está bem assustado. Mas então, Igni o toca e o homem se acalma. Ambas coisas suspeitas e intrigantes. O que foi visto, o que foi...feito.
  Lawrence nada disse e Lance pensou se, de alguma forma, ele sabia o motivo. Ou ao menos poderia suspeitar.
   Lance, entretanto, optou por omitir o fato de que chegara a ver Lugia enquanto seguia para a base Rocket. Não era com Lawrence que iria comentar o ocorrido e trabalhar as hipóteses.

— O que eles estão trazendo?
— Aparentemente é uma mulher. Mas o mais estranho é esse homem ao lado de Igni. O conhece?
— Não. Nas vezes em que vi Igni, ele estava sozinho ou acompanhando Giovanni.
— Esse homem não é comum. Ele sentiu que estavam sendo observados e se aproximou do local em que eu estava. Só não me descobriu porque Igni o chamou.
— Está me dizendo que o homem tem algum tipo de poder paranormal ? – Lawrence comentou com desdém. – Você deve ter feito algum barulho.

   Lance procurou conter o ímpeto de socar o rosto do empresário.
— Igni se referiu a este homem como “majestade”. E não foi de forma provocativa. Tem certeza de que não o conhece? Dos locais que frequenta, talvez.
— Se soubesse eu diria. – ele entregou a câmera para Lance. – Confesso que esperava um material bem melhor de sua parte.
— Eu sou o mestre da Elite4. Não tenho tempo ocioso para ficar bancando o espião a todo tempo!
— Se é assim não deveria ter se oferecido para investigar.
— Acha que eu deveria fazer o quê, Lawrence? Me vestir de agente Rocket e entrar dentro da base?  Já que estamos investigando o Alto Conselho e o que estão realmente planejando. Seria interessante se você pudesse procurar obter algumas informações naquelas reuniões seletas  das quais é sempre convidado. – Lance fingiu lembrar-se de algo. – Ah é!  Você fica extremamente ocupado selecionando a companhia mais semelhante para lhe satisfazer e acaba não sobrando tempo para você obter informações necessárias.

   Lawrence estreitou suavemente os olhos e respondeu, com a voz perigosamente mansa.
— Parece que temos aqui alguém que se interessa em fofocar e fazer conjecturas sobre assuntos pessoais que não lhe dizem o mínimo respeito e conhecimento. Se aprecia tanto, posso oferecer informações relevantes sobre certos membros da Elite4 para aqueles que adorariam saber. – ele deu um sorriso curto. - Ainda precisando usar aquelas braçadeiras, mestre Lance?

  O rosto de Lance empalideceu e parecendo satisfeito, Lawrence colocou os óculos escuros e deu as costas ao ruivo, mas não sem antes virar-se para comentar.
— Sei muito bem como conseguir informações que sejam relativos a minha parte na Ordem, Lance. Aconselho que continue fazendo o seu trabalho e eu continuarei fazendo o meu.  – ele fez um gesto com a mão e o veículo se aproximou. - E trate de achar um lugar melhor como ponto de encontro, este lugar não tem o mínimo de classe.

~*~

   A Sprout Tower era uma construção em forma de templo erguida há décadas e mantida por monges. O templo, inicialmente, era um local de reclusão e meditação, mas hoje era também um local turístico. Ele se localizava ao norte da cidade, ao lado de um grande e pacífico lago. Para chegar ao templo era preciso atravessar uma larga ponte de pedra e, ao longo do caminho para a torre a noite, os postes de pedra em estilo oriental eram acesos e o templo era também ornado com lâmpadas chinesas. E essa iluminação criava um contraste incrível com as águas calmas do lago.

    A poucos metros de distância do templo, em uma espécie de píer, fora construído o renomado Restaurante Brotinho.
    O restaurante era um dos locais mais conhecidos e sugeridos para os viajantes que iam á cidade de Violet. Ele possuía dois andares e suas paredes de vidro ofereciam aos clientes uma belíssima visão do templo e do lago.
   Assim que Crystal e Alice entraram no local, foram recepcionadas por uma atendente simpática e um alegre Bellsprout de gravata borboleta.

— Boa noite, sejam bem-vindas! Gostariam de ver nosso cardápio?
— Beeelll...prout!
— Vamos encher a cara no bar. – Alice riu ao ver a surpresa da atendente. – Brincadeirinha! Eu até poderia beber, mas tenho de dar um bom exemplo para minha amiga, né Crystal?  Vamos no self-service.
— Er...
  A atendente assentiu e indicou para que as clientes  avançassem, sendo imitada em seu gesto, pelo Bellsprout.

   Crystal logo começou a fazer uma rápida análise visual do lugar. O restaurante, embora tivesse um nome em diminutivo, era bem grande. Havia muitas mesas ali mas boa parte estava vazia, talvez por ainda não ser muito tarde da noite. Havia alguns garçons e em uma parede ficava o balcão do bar com uma grande prateleira repleta de bebidas atrás. Em uma outra parede que não era envidraçada, fora fixada uma grande TV que no momento exibia o novo capítulo da novela As Flores de Celadon. Mas o que mais lhe chamou atenção foi a comprida mesa de self-service, com opções variadas e apetitosas.
— Eu estou com uma fome! – Alice já pegara um prato. – A comida daqui é ótima! Vim algumas vezes com o senhor Lawrence mas ficamos no segundo andar, onde a comida é servida por pedido.
— Aqui parece chique. Não é muito caro?
— Bom, se for pelo cardápio no andar de cima é um pouco, mas o self-service é tranquilo!

   Crystal receou. Alice podia pagar qualquer coisa, afinal o tutor dela era muito rico. Olhou para as mesas ocupadas e notou um grupo de treinadores Pokémon (facilmente identificados por suas roupas levemente surradas e o cinto com pokébolas) e concluiu que talvez não fosse mesmo muito caro. Até porque, com o dinheiro que ganhara das recentes batalhas, poderia se dar ao luxo de gastar um pouquinho para comer bem.
— Olha, eles têm bolinho de arroz frito!
   Após encherem seus pratos e o pesarem (pegando assim uma comanda para depois pagar no caixa), as duas foram se sentar em uma mesa com vista para o calmo lago e a Sprout Tower um pouco mais á frente.
— Que bonito!
   Alice concordou e ao olhar para aquele cenário, sua mente vagou em uma lembrança da última vez que viera ali.

~*~


— Assim, as relíquias de maior importância arqueológica foram retiradas e enviadas para uma análise antes de serem designadas aos museus .
— ...E certas coleções particulares.
   O comentário divertidamente incisivo de Alice fez Lawrence esboçar um sorriso antes de beber um gole de vinho.

— Se o governo e arqueólogos desejam que eu invista e disponha condições para preservação e restauração de peças e patrimônios históricos, devem me oferecer algo que seja de meu interesse.
— E posso saber o que foi encontrado de realmente atrativo para você?
   Lawrence olhou discretamente para as mesas mais próximas. O restaurante naquela noite estava agradável e os demais clientes absortos em suas próprias conversas nas respectivas mesas.

— Os monges da Sprout Tower guardavam fora do conhecimento de visitantes, evidentemente, algumas relíquias tanto religiosas como não religiosas. Algumas separei para que eu próprio faça uma pré avaliação para ver se valerá á pena manter ou leiloar, mas uma em particular eu já pedi que levassem para casa.
— É a tal tabuleta de pedra que chegou anteontem?
— Os monges possuíam muitas coisas do Antigo Período Ilexiano e esta tabuleta contém um trecho do notório poema da Sagrada Maldição. Eu ofereci uma boa ajuda de custo para a manutenção do templo em troca dela ainda que, claro, a tabuleta valha muito mais.
— Hum... – Alice mastigou o pedaço do bife que cortara. – E que parte do poema é?
— Não tive tempo de traduzir, sabe que isso leva tempo. Mas pretendo fazê-lo assim que voltarmos para casa. – ele pensou um pouco antes de continuar. – Gostaria de me auxiliar no processo?
  Alice se surpreendeu.
— Cla..claro!

     Lawrence assentiu. Alice olhou, através do vidro, a Sprout Tower iluminada por seus archotes e a lua minguante que parecia emergir de trás do telhado da torre.
— Que visão bonita!
— Linda.
   Alice virou-se para comentar acerca do local mas um suave estremecimento percorreu seu corpo ao notar os olhos do colecionador sobre si.

~*~


— Ah, droga! Essa pokégear sempre demora para abrir a câmera! Só quero tirar uma foto para postar no pokébook!
     Alice saiu das próprias lembranças ao ver Crystal tentando fotografar o cenário á frente.
— Eu tenho uma ideia melhor de foto para isso.

     Ela contornou a mesa e sentou-se ao lado de Crystal, pegando a pokégear enquanto passava um dos braços envolta dos ombros da garota. Ativou a câmera frontal e bateu uma foto.
— Pronto! Assim é mais legal pra postar. Eu dei uma xeretada no seu pokébook e definitivamente você precisa postar mais fotos suas com seus amigos.
   Crystal preferiu não comentar que a ausência de fotos com amigos se devia a sua ausência de amigos. Notou que a foto ficara realmente boa, com as duas á frente e a Sprout Tower e o lago atrás. Após postar a foto, colocou a pokégear sobre a mesa e tratou de saborear o jantar.

— Um brinde! – Alice ergueu o copo de refrigerante. – Pela sua primeira insígnia em Johto!
  - Espero que seja a primeira de muitas aqui. - Crystal aceitou o brinde. – Gostaria de conseguir participar da próxima Liga Mundial, mesmo sendo impossível.
— Não é impossível! Não desista! Vamos acelerar essa conquista de insígnias, você vai ver!
     Continuaram a conversar de seus próximos passos na Jornada enquanto comiam e já estavam pensando no que pegar de sobremesa quando notaram, junto com os demais clientes e funcionários, que a transmissão da novela foi interrompida pela vinheta do plantão urgente de jornalismo.

— POKÉMON LENDÁRIOS SURGEM EM SOOTOPOLIS! – gritou o apresentador do jornal. – Houve uma violenta batalha entre dois deles que casou pânico e destruição!
    Todos no restaurante se atentaram e o gerente aumentou o volume da TV.
— Estamos ao vivo diretamente de Sootópolis onde mais uma vez a cidade foi palco de um fenômeno inimaginável! Tivemos acesso á um vídeo que está rolando na internet acerca do acontecimento e posso garantir que é verídico!

     Na tela, surge uma imagem de câmera amadora (possivelmente de celular) tentando filmar algo ao longe, em meio aos gritos e exclamações das pessoas. A pessoa que filmava ajustou o foco e é possível ver, ao longe, Groudon urrando e cuspindo chamas.
    A câmera começou a tentar focalizar na mancha branca que surgira no céu e logo a forma de Lugia surgiu na tela. E junto dele um imenso tornado de água.
— EITA CARRALHO!

     Todos que assistiam ao vídeo se surpreenderam. Lugia e Groudon lutavam entre si, de uma forma que era tão incrível que nem parecia real. Crystal observou aquilo estática e apreensiva, a mão apertando o pingente de cristal em seu pescoço, sem entender porque temia que o Pokémon branco se ferisse. Só sentiu seu coração acalmar quando viu Lugia derrotar Groudon e voar para longe, até desaparecer no céu.

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Notas finais do capítulo

Com o capítulo terminando aqui...

Primeiro: ao comentário de Lance acerca de se vestir como agente Rocket e se infiltrar na organização é uma referênia do que ocorre nos jogos Gold/Silver. Foi só uma referência que quis colocar.

Quero já adiantar que estou compondo o "casting em 2D" dos personagens. Posteriormente pretendo colocar o "casting humano" com atores/atrizes que possam representar os personagens.
Por quê isso? Ah vai que, á medida que você se afeiçoa ao personagem, imagina como ele pode ser e isso pode ajudar. Mas ainda to pesquisando e amadurecendo a ideia. Portanto, para ela ir pra frente eu pergunto: gostariam que eu colocasse ou não?

Enfim, espero que continue acompanhando a história e obrigada por estar lendo!



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