A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor (a).
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

De início, quero avisar que este capítulo não conterá cenas com as protagonistas Crystal e Alice. Mas calma que o motivo é importante e mostrará que a história precisa variar o protagonismo em um ou outro capítulo.
Todas as cenas de cada capítulos desta história eu penso muito antes de escrevê-las, pois trabalho de modo que todas tenham sua importância e não sejam apenas aleatórias. Na certa você já deve ter notado que nem todos os personagens aparecem em todos os capítulos e que sua presença se intercala.

Crystal e ALice voltarão com tudo no capítulo seguinte mas só quis avisar neste para não te pegar desprevenido(a). Quis avisar aqui porque essa momentânea mudança de foco em um ou outro determinado personagem é sempre rápida mas tenderá a acontecer sempre queeu achar necessário, pois quero trabalhar devidamente com cada personagem. Afinal, todos possuem papel importante na trama.

Dito isso, quero agradecer agora á todos que estão acompanhando a história e principalmente deixando seus comentários.
Em especial, quero agradecer dessa vez ao Leon Yorunaki por deixar seus comentários super bem detalhados e ao StraussSilver pela constante troca de ideias sobre a obra e outros temas.
E claro, á minha amiga Hime e ao meu primoso Raven. Não sei o que seria do meu ânimo para esta fic se não fosse por vocês!

Então é isso. Espero que gostem do capítulo e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760077/chapter/12



~*~

  A Cave of Origin era considerada uma das mais antigas formações rochosas de Hoenn. Um verdadeiro patrimônio histórico, na antiguidade a caverna fora usada como um templo de adoração e culto aos titãs Pokémon Groudon e Kyogre que, segundo as lendas, tinham sido responsáveis pela criação de continentes e oceanos.
   Com o passar das eras, ambos cultos que antes coexistiam em harmonia, se separaram e começaram aos poucos a caírem em desuso até desaparecerem quase por completo. A Cave of Origin então se tornou um ponto turístico famoso, ainda que a caverna não possuísse muito o que se pudesse ver.

   O silêncio que pairava em seu interior foi acometido por um grande estrondo.
   Uma das paredes de pedra  se quebrou em inúmeros pedaços de rocha e terra, com poeira subindo. A sombra de um imenso Pokémon parecendo ser feito de pedra surgiu. O Steelix se erguia como uma serpente, balançando a cabeça visivelmente desproporcional ao corpo.
   Igni passou ao lado do Pokémon, uma grande lanterna em mãos, a iluminar o que havia atrás da parede destruída.

— Eu falei que havia algo escondido na rocha!

  Ele pulou para dentro da passagem, seguido pelo agente Rocket que carregava uma mochila, e Lugia. Basho guardou o Steelix em sua pokébola e fez o mesmo, não sem antes tirar um lenço do bolso e amarrá-lo para cobrir nariz e boca.
— Trate de arrumar o que trouxemos.

   O agente Rocket prontamente atendeu a ordem de Igni, e com ajuda de uma lanterna que fixara sobre a boina, caminhou na escuridão, tirando da mochila o que parecia estranhos pequenos holofotes de metal. Ele aumentava o bastão com um clique neles e os fincava no solo.  E, ao lado ele colocava um  cubo de tamanho mediano, conectando com um fio este ao holofote.
   Apesar da pouca luz, Basho pôde notar que a “caverna dentro da caverna” não era tão grande porém a temperatura era muito mais quente e a respiração ficava um pouco mais difícil.

— Olha só, temos algo interessante aqui.
  Igni apontou a lanterna para frente, iluminando o que havia dentro de um grande buraco no centro do local recém-descoberto. Lugia e Basho se aproximaram, apontando as próprias lanternas. Com uma maior quantidade de luz todo o local se tornou visível. Metros abaixo naquele fosso, havia um espaço de terra batida, com pilastras de pedra polida a formarem um círculo e uma espécie de mesa de pedra no centro.

— Um templo ritualístico. Provavelmente aqui aconteciam os cultos secretos fora dos olhos dos fiéis. Basho, faça seu Steelix servir de escada para descermos até lá e...por que você está com esse pano no rosto feito um saqueador barato?
— É bem óbvio que este lugar esteve intacto por eras. Pode haver um  acúmulo de toxinas e desenvolvimento de bactérias devido a não circulação de ar e isso pode causar possíveis problemas de saúde.
— ...é mesmo. Tinha esquecido.

   O desinteresse de Igni diante da possibilidade de inalar algo prejudicial era visível e Lugia compartilhava do mesmo. Mesmo assim, Basho preferia não se arriscar e simplesmente liberou novamente seu Steelix da pokébola.
— Nos ajude a descer.
   O Pokémon moveu o grande corpo de serpente para baixo e os três desceram. Assim que estavam embaixo, Basho notou, com ajuda da lanterna, uma rústica escada escavada na própria rocha.

  “Os devotos de Kyogre transferiram o culto para uma ilhota no oceano e os de Groudon se mantiveram aqui . Se os antigos religiosos usavam este lugar para culto, porque depois fecharam totalmente o acesso? Seria pelo artefato?”

— Este lugar é meio macabro com a luz das lanternas. – falou Igni  movendo a lanterna por entre as pilastras.
— Que tipo de culto faziam aqui?
— Provavelmente oferendas a Groudon. – falou Basho diante da pergunta de Lugia. - Os primeiros povos de Hoenn cultuavam Groudon e Kyogre como deuses.
— Não há qualquer inscrição nas pilastras, paredes ou qualquer outro lugar.
— Diferente dos demais povos que registravam suas histórias em paredes e tabuletas de argila, o antigo povo de Hoenn passavam suas histórias e tradições via oral. Isso começou a mudar com as invasões de Sinnoh  e...
— A aula de História é interessante mas viemos  buscar uma coisa. – cortou Igni. – E quanto mais tempo perdemos, mais em risco ficamos! O radar denota que o que procuramos está aqui mas não especifica. Como é um artefato precioso e com significado, pensei que possa estar na mesa de pedra. Mas acho que é meio óbvio.
— Não custa verificar. – Basho foi até a mesa e se ajoelhou diante dela, aproximando bem a luz da lanterna sobre a base da mesma. – Historicamente, os devotos de Groudon eram mais simples do que os devotos de Kyogre. Onde o artefato no templo de Kyogre estava?

   Lugia demorou alguns segundos para perceber que a pergunta era dirigida á ele. Aquele agente sabia até sobre isso?

— ...a joia não estava em um altar e sim em uma determinada abertura falsa na parede. Mas as inscrições indicavam a direção. Por isso achei este templo estranho. No templo de Kyogre ainda havia um diamante no centro, a joia máxima do culto. Aqui não há nada.
— O rubi sagrado de Groudon nunca foi perdido. Sempre esteve nas mãos de pessoas poderosas. Atualmente, ele está em exposição no museu de Ever Grande City, sendo um patrimônio de Hoenn. Bom saber que o diamante de Kyogre  continua no templo considerado desaparecido e que temos agora as coordenadas. – Basho passou a mão por baixo da mesa de pedra e ao notar uma fissura, direcionou a luz da lanterna para a mesma. -  Acho que existe um espaço embaixo da mesa.

  Basho e Lugia entregaram as lanternas para Igni e juntos moveram a pesada mesa de pedra. O ruído de algo raspando ecoou no local. Um calor emergiu do buraco retangular que surgira abaixo de onde a mesa estivera. Basho iluminou a abertura.
— Há inscrições nas paredes aqui.
— São iguais as que havia no templo de Kyogre. – constatou Lugia. – É este o lugar.
— Vejamos a profundidade. – Basho pegou uma pedra e jogou esperando alguns segundos até ouvir o ruído da mesma ao chegar ao chão. – Não é muito fundo.

     Um estrondo seguido por um tremor de terra fez os três se sobressaltarem e procurarem se apoiar em algo para não cair.
— Eu vou descer.  – Lugia se prontificou. – Iluminem para mim, vou precisar ler as inscrições para encontrar.
  Apesar da abertura ser um pouco estreita, Lugia conseguiu entrar nela. Havia fissuras entre os blocos no qual conseguiria apoiar as pontas das mãos e dos pés. Com a ajuda da luz das lanternas, Lugia observou os símbolos cuneiformes grafados ali. Um novo tremor na terra surgiu e as pilastras do altar balançaram.

— Acho bom acelerar um pouco. – avisou Igni. – Não está ficando muito seguro por aqui.
   Se soltando, Lugia foi ate o fundo do buraco.
— Me joguem uma lanterna.

  Igni o fez e Lugia agachou-se como pôde no curto espaço, tateando a parte de baixo do local, como se procurasse algo. Não demorou muito para achar uma parte da rocha que parecia oca por dentro. A pressionou e ela se moveu.
  Do pedaço de rocha que retirou, surgiu um pequeno espaço oco e nele uma caixa, semelhante a que encontrara no templo de Kyogre. Com a lanterna na boca, Lugia usou ambas mãos para forçar o retângulo de pedra o puxando como se fosse uma gaveta. No espaço oco, havia uma pequena caixa de ferro igual a que havia no templo de Kyogre. A abriu, encontrando o que tanto procurava.
  Um outro tremor, mais forte que o primeiro, surgiu no local fazendo duas pilastras caírem e pedaços de terra começarem a deslizar.
  Com agilidade, Lugia escalou o buraco fazendo uso das fendas para isso e logo saiu dele, a roupa já coberta com pó. O calor ali em cima estava maior, tanto que Basho até desistira de cobrir o rosto.

   Mais um tremor e agora até a mesa de pedra caíra, se quebrando ao bater na borda do buraco que ocultara.
    Em posse da joia, os três saíram do local do antigo templo com a ajuda do Steelix de Basho no momento que um tremor ainda mais forte os fez perder o equilíbrio e o teto da caverna ameaçar desabar.

— Basho, use os Pokémon que lhe dei e cubra isso aqui de gelo da melhor forma que puder!
  Mesmo achando estranho, Basho assim o fez. Liberou das pokébolas que Igni lhe entregara  e os quatro Abomasnow surgiram.
— Todos juntos, Ice Beam! Cubram as paredes de terra.

     Basho moveu a lanterna  e a luz da mesma iluminou a caverna, indicando aos Pokémon onde deveriam jogar seus ataques. Estes obedeceram e logo as paredes de terra ao redor começaram a ser cobertas por uma camada de gelo. Mas a alta temperatura era tal que não demorava muito para o gelo começar a derreter. E um novo tremor surgiu fazendo os Pokémon se assustarem.

— Igni, isso não vai dar certo!  – Basho tirou o pano que cobria metade do seu rosto devido ao calor. – A temperatura está muito alta. Se continuarmos tentando congelar, logo vai derreter e a água com essa terra solta devido aos tremores vai acabar criando um lamaçal. Capaz de nem conseguirmos sair.
— Então é melhor darmos o fora antes que desabe! Já temos o que viemos buscar mesmo.

  Basho enviou os Pokémon de volta para as pokébolas, mas manteve o Steelix, só por precaução. Os três seguiram em direção á saída, com Igni á frente.
— Onde está o recruta?

  Uma onda de calor intenso surgiu de súbito, seguida por um rosnado profundo e os três moveram a luz da lanterna ao mesmo tempo para a direção em que o som viera.
   Grandes crostas vermelhas que pareciam não ter fim tomavam forma na escuridão á medida em que eram iluminadas. E logo elas se revelaram ser parte de uma carapaça resistente que revestiam um imenso corpanzil de aparência primitivamente animalesca.
   Seus grandes olhos amarelos brilharam como fogo na escuridão e as imensas garras metalizadas reluziram á luz.
   Groudon.

   O lendário pokémon possuía algo entre suas mandíbulas e Basho foi o primeiro a perceber que aquilo era metade de pernas humanas.
— ...encontramos o recruta.
   Groudon deu dois passos na direção da luz, saindo da parte mais estreita da caverna. E além do tremor causado pelo seu andar, a temperatura havia subido tanto que os três homens sentiam seus corpos pingarem suor e a mente zonza, como se estivessem na boca de um vulcão.

    Groudon ergueu a cabeça para facilitar que o corpo do agente Rocket se acomodasse em sua boca. O som de ossos e músculos se partindo enquanto ele mastigava o corpo antes de engoli-lo manteve os três homens estáticos. Ele pareceu saborear a carne antes de se voltar para  os presentes após captar seus cheiros. E então ele abriu a imensa boca repleta de dentes, sangue e saliva, soltando um urro cavernoso.

~*~

Moltres caminhou pelo longo e silencioso corredor. Aquele lugar parecia uma caverna mas era diferente, com as paredes de metal. Havia uma ou outra porta, mas não tinham maçaneta e não cediam quando tentava empurrá-las. Pelo menos havia a tal luz elétrica que permitia que não andasse no escuro.
   Estava pensando seriamente em voltar ao quarto e esperar Lugia voltar quando escutou barulhos mais a frente. Apressou o passo e chegou ao fim do corredor, onde  um grande galpão que se estendia abaixo da base de metal em  que estava. Notou uma escada em um dos lados e se apoiou na grade de proteção, olhando para o que acontecia embaixo.

   Parecia ser um local de treino no qual algumas pessoas usando uniformes pretos com um R grande e vermelho na camisa, treinavam seus Pokémon. O chão dali era demarcado por retângulos que ela se lembrou de um livro que lera, onde as imagens indicavam serem as marcas usadas nas batalhas Pokémon em competições da Liga.
   Moltres contou seis pessoas ali, cada qual com um Pokémon. Não batalhavam e sim treinavam os Pokémon a lhe obedecerem.
   Notou um agente começar a ter um vínculo amistoso com seu Koffing, mas em contrapartida, uma agente teve que enviar para a pokébola  seu arredio Murkrow.

     O som de um chicote estralando no chão fez a atenção de Moltres se voltar para um homem musculoso ao canto do galpão.
   Diferente dos outros, ele usava um uniforme cinza com um R bordado na regata aberta. Tinha uma compleição física avantajada e a pele morena, com os cabelos loiros curtos. Ele balançava um chicote em uma das mãos e á frente dele, encostado na parede estava um Mightyena. O Pokémon estava agachado, o rabo entre as patas traseiras e as orelhas para trás. Ele rosnava ameaçador para o homem, embora seu corpo tremesse.
   Quando o Pokémon tentou escapar por um dos lados, o chicote estralou em sua direção, fazendo-o recuar e acuado, o Mightyena avançou contra o homem com os dentes á mostra. Mas ao tentar mordê-lo, recebeu um forte soco no focinho. O Pokémon ganiu e foi ao chão.

— Quantas vezes vai levar pra perceber quem é seu novo treinador, hein?!
   Buson se aproximou do Pokémon que em um gesto instintivo, atacou. Mas Buson foi mais rápido e se moveu de forma que o Pokémon mordesse o chicote em vez de sua mão. E com a mão livre, o Rocket desferiu dois fortes tapas no focinho do Mightyena e quando ele soltou, recebeu um chute na barriga, fazendo-o ganir.
— PÁRA JÁ COM ISSO!

   A ordem fez Buson se virar para trás, vendo a  garota negra de cabelos vermelhos que se aproximava.
— Como pôde fazer uma coisa dessas?! Não é assim que se trata um Pokémon, seu escroto filho da puta!
— Oê, tá pensando que é quem pra falar assim comigo, sua imbecil?!
— Imbecil é você! Como pode maltratar um Pokémon desse jeito?
— Ele só está sendo treinado!
—  Isso não é treinar! É maltratar!
  Moltres se aproximou para verificar o Pokémon mas Buson puxou a pokébola e mandou o Mightyena pra dentro da mesma.

— EI! Traz ele de volta! Ele está machucado, você socou o focinho dele!
— Ele tentou me morder!
— Tentou te morder porque você assusta e maltrata ele! Um Pokémon deve ser treinado com carinho e respeito!
— Ah, pronto! – Buson colocou ambas mãos na cintura. – Agora a magricela vai querer dar aula de como se treina um Pokémon justo pra mim!
— Você bem que está precisando mesmo! Porque tá na cara que não sabe fazer isso!
— Escuta aqui, garota. Eu treino Pokémon e recrutas há anos, sou respeitado e requisitado por isso aqui na organização. Sei muito bem o que estou fazendo! Então abaixa a crista e...SAI PRA LÁ!

  Ele tencionou segurar o braço dela quando Moltres tentou pegar a pokébola de sua mão.
— Eu vou levar esse Pokémon para bem longe de você!
— Esse Pokémon é MEU! E eu disciplino ele do jeito que eu quiser!
— Não na minha presença!
— Então pode se retirar, será um prazer que vá para o raio que te parta! Antes que...
— Antes que o quê? Tá querendo me bater como fez com o Mightyena? Tenta que eu faço o chicote estralar dentro do teu cú!

  O rosto de Buson ficou lívido e Moltres deu meio passo para trás. Ainda que não tivesse medo, aquele homem dava quase duas dela.
— Não sei que é você e na verdade pouco me importo. – rosnou Buson, os olhos faiscando por trás dos óculos de lente escura. - Mas como comandante do Centro de Treinamento Rocket é meu dever ensinar aos novatos aprenderem a baixar a cabeça e se colocar em seus devidos baixos lugares diante de um superior.
  Moltres fechou os punhos. Seria bom dar uns socos em um babaca para gastar a energia acumulada. Sentiu um calor surgir em seu peito e se concentrar em suas mãos, como se as colocasse no fogo.

— SENHORITA MOOOOOOOOOL!
   Moltres parou antes que desse um salto para atingir Buson com um soco no queixo e tanto ela quanto o Rocket olharam para cima vendo Mondo, o secretário pessoal de Igni, descendo rapidamente a escada e correr na direção deles. Ele carregava o inseparável tablet nas mãos e parecia tão preocupado e apressado que tropeçou nos próprios pés e caiu estatelado no chão, fazendo o som ecoar e o tablet cair para longe.
— Eita, você tá legal?!
   Esquecendo a raiva, Moltres se aproximou do garoto, que já tentava se levantar.
— Eu..eu estou bem, não se preocupe. O importante é que te encontrei, senhorita Mol!
— “Senhorita Mol”?
— Me desculpe em referir á você assim é que o senhor Igni recomendou que eu me dirigisse de forma respeitosa e não falasse seu nome por questão de confidencialidade!  E não pensei que poderia abreviar o nome mas se quiser posso parar de usar!  Eu fui ao seu aposento para perguntar se estava precisando de algo daí vi a porta aberta e me desesperei! Tanto porque a senhorita não estava ali quanto pelo fato de que o senhor Igni ficariam muito bravo comigo se ele soubesse que você tinha sumido e eu não sabia onde estava! A base aqui é muito grande e você poderia se perder ou ver o que não deve ou se machucar e aí que o rei e o senhor Igni iriam acabar comigo porque eu sou um inútil que...
— Caramba, fala um pouco mais devagar, Mondo! Ninguém entende nada quando você tagarela assim!
   Buson se aproximou estendendo o tablet para o rapaz.
— O-obrigado...o senhor sabe o meu nome?!
— Claro.
   Mondo apertou o tablet contra o peito, os olhos apreensivos em expectativa.

— Todo mundo da Equipe Rocket sabe que você é o secretário-capacho do Igni.
— ...ahn....
— Aliás, já que tu está aqui, pega essa recruta boca suja e leva pra fora que ela está atrapalhando o meu treino!
— ...quê?
— Essa imbecil veio do nada querendo me dar lição de moral sobre como eu devo tratar um Pokémon indisciplinado!
— Treinar não é socar um Pokémon!
— Cala essa boca!! Mal chega aqui e acha que pode ficar peitando agentes superiores! Abaixa a cabeça para falar comigo!
— Não vou abaixar porra nenhuma pra você!
— Ah, mas vai obedecer agente superior, sim! Aqui temos regras ou tá achando que a Equipe Rocket é bagunça?!
— Pa-parem com isso! – pediu Mondo com a voz esganiçada. – Não briguem!
— Ela que começou! Surgiu do nada me xingando por causa de um Pokémon !
— Não tem cabimento esse demente treinar um Pokémon! Não tem o mínimo de respeito!
— Quem recrutou essa paspalha para ser Rocket? Isso não serve nem para ser agente de limpeza daqui!

   Antes que a situação ficasse insustentável, Mondo se colocou entre eles.
— Ela...ela não é uma recruta! É...uma convidada, isso, convidada do senhor Igni! E ela deve ser inteiramente respeitada!
   Ao ouvir, Buson revirou os olhos e abriu os braços.
— Era só o que me faltava! Esse cara anda trazendo quem ele quer para cá! Tá na hora do Alto Conselho começar a impor algumas limitações. O cara tá achando que é o Giovanni!
— ...o Alto Conselho está ciente e permitiu.
  Buson suspirou, irritado. Por mais que fosse um agente de alto nível dentro da organização, não poderia contestar as ordens e decisões do Alto Conselho.
— Só tira essa chata da minha frente!
— Eu só saio com aquele Pokémon!
— Esse Pokémon é meu! Você não tem nada melhor pra fazer não, desocupada?!

     Mondo gemeu de frustração. Eles iam começar de novo e se a identidade de Moltres viesse á tona, ele sofreria represálias.
— Senhor Buson entregue o Pokémon para ela, por favor.
— Você ouviu o garoto. – provocou Moltres. – Me dá o Pokémon!
— De jeito nenhum!
— As...as ordens foram claras: a senhorita Mol deve ser bem tratada e os pedidos dela acatados.
— Por quê?!
— É confidencial. Só estou repassando as ordens. Ela e o homem alto estão com essa liberação por ordem direta do Alto Conselho. Desculpe! 
     Buson fechou os punhos em sinal de raiva. Estava começando a ficar de saco cheio desses segredos e regalias do Alto Conselho. Mas como uma organização militar, sabia que não tinha como contestar ou desobedecer tais ordens. Ele jogou a pokébola com força em Moltres, mas ela segurou sem problemas.
— Fica com esse merda, então. Não preciso dele mesmo.
— O senhor pode... – começou Mondo. – Falar com o senhor Igni depois se qui...
— Ah, mas é claro que eu vou falar! Pode ter certeza disso!

     Mondo agradeceu constrangido e indicou que Moltres o seguisse Ela assim o fez, mas não sem antes lançar um sorriso vitorioso para o agente. Assim que os dois saíram, Buson notou o olhar curioso dos demais recrutas presentes.
— TÃO OLHANDO O QUÊ?! Podem ir dispersando e voltando aos treinos, seus xeretas de merda! Pokémon pode até ter proteção, mas recruta meliante e frutriqueiro, não!

~*~

A entrada da Cave of Origin explodiu e um estrondo ecoou na noite. Pedaços de pedra e terra foram jogados á metros de distância.
   Um grande Steelix emergiu da poeira levantada e avançou rastejando o mais rápido que seu corpanzil  conseguia para longe dali. Em cima de sua cabeça, segurando-se no chifre de pedra estavam Basho, Igni e Lugia.

— Droga, aqueles holofotes de luz e os Ice Beams dos Abomasnow não adiantaram nada.
— Você achou mesmo que essas coisas iriam deter um Pokémon como Groudon? – a voz de Basho tinha um tom sarcástico apesar de seu rosto sério. –É um lendário com capacidade de causar terremotos e erupções em larga escala. Paredes de gelo de Pokémon comuns de nada servem contra as chamas e força dele.
— Eu sei. Mas acabei não tendo tempo de programar algo melhor e a bomba certamente foi engolida junto com o agente. E, tecnicamente, não era para Groudon aparecer, não havia qualquer indício de que ele estivesse na caverna porque não havia nada há anos! Até porque o local é bem frequentado por turistas. – ele olhou para a caverna parcialmente desmoronada. – Ou era.
— Você me disse que “é bom estarmos armados porque não é um simples pokémon”.
— Cogitei a possibilidade mas não acreditei que fosse realmente possível.

     O Steelix parou á uma distância segura da caverna e os três notaram uma movimentação de pessoas no campo de refugiados devido á explosão.
  Uma segunda explosão maior que a primeira irrompeu na caverna, seguida por um tremor de terra que abriu fissuras por metros e metros no chão, liberando vapor quente.
    Dos escombros irrompeu Groudon. O Pokémon deu alguns passos, farejou o ar e soltou um urro ensurdecedor que ecoou na noite.

— Ele veio atrás de nós. Se continuar avançando, acabará atacando a cidade. – Lugia tirou a joia do bolso da calça e entregou a Igni. – Fique com o cristal e saia daqui. Não podemos correr risco de perder isso.
— O que pretende fazer?
— Vou tentar detê-lo.
— Espere! – chamou Igni enquanto o Steelix abaixava a cabeça para os três descerem. -  Já temos o cristal, vamos embora! O helicóptero está nos esperando próximo a costa. Não há necessidade de enfrentar...
— Se Groudon não for detido, atacará o que ver pela frente. O pouco que restou da cidade será destruída quando as forças armadas tentarem detê-lo e ele próprio pode causar um terremoto e fazer tudo o que restou vir abaixo sem dar tempo de resgatar a população. – Lugia voltou-se para Basho. – Gostaria de lhe pedir uma coisa.
— ...diga.
— Poderia usar seu Steelix e aqueles Abomasnow para criar uma barreira entre as imediações da caverna e o local dos refugiados?
— Sim.
— Isso é se arriscar sem necessidade. – resmungou Igni. – Mas faça o que quiser. Ficarei á postos no helicóptero.

    Igni seguiu com passos apressados para longe dali, atravessando a área aberta entre os escombros no qual pessoas haviam improvisado posto de atendimento e abrigo para as vítimas.
— Depressa, tente evitar que as pessoas venham pra cá!
— Uma pergunta: se eu fizer o que me pede e por algum motivo a situação se complicar...
— Se deduzir que está em risco, pode ir embora. – falou Lugia começando a se despir. - Mas juro que não deixarei que estas pessoas sejam novamente vítimas de uma tragédia.

    Basho apenas soltou os quatro Abomasnow das pokébolas.
— Steelix, use Dig e faça uma grande vala até aquele prédio. – ordenou o Rocket. – Vá!
   O Pokémon urrou e bateu com força a cabeça na terra, começando a abrir um grande buraco e descer por ele á medida que escavava, como uma minhoca em terra macia.
   Basho então se voltou para os Abomasnow, ordenando que usassem Ice Beams para erguer um muro de gelo .
   Enquanto os Pokémon trabalhavam, ele se virou á tempo de ver Lugia deixar de ser humano e se tornar fera.
   A transformação foi rápida mas mesmo para Basho, sempre tão cético, ver aquilo acontecer diante de seus olhos deixou-o estático. A lenda era real.

     O lendário Pokémon Lugia surgiu diante de si, a luz da lua iluminando o grande corpo branco. Abrindo suas asas, ele alçou voo em direção ao Pokémon primitivo.
     Groudon notou a presença de Lugia assim que este sobrevoou ao seu redor. O Pokémon então urrou e lançou um potente jato de fogo de sua boca, mas Lugia tomou altitude e evitou o golpe. Irritado, Groudon pisou com força na terra que tremeu violentamente e aumentou a quantidade de rachaduras e vapores quentes que saíam da terra, como se fosse gêiseres. Groudon não parou, urrando ainda mais alto e a terra começou a abrir em fendas maiores, com o vapor quente emergindo. Todo o solo tremia á cada novo urro de Groudon as profundezas da terra reagindo com violência.
     Lugia sabia que era questão de tempo para para que algo pior do que ar quente surgisse. Aquela região possuía grande concentração vulcânica e com Groudon usando seu poder ancestral, era uma questão de tempo até que jorros de lava emergissem.

    Lugia soltou um silvo e planou no céu, concentrando-se. A chuva começou a cair. Aquilo irritou Groudon, que urrou e lançou bolas de fogo contra o outro.
  Embora estivesse em desvantagem de forma ofensiva, ainda sim Groudon era um oponente perigoso. As chamas que ele disparava possuíam largo poder de alcance, obrigando Lugia a voar mais alto e desviar com rapidez.
    Ele sabia que precisava atacar, mas Groudon era um Pokémon com vantagens defensivas, ainda mais por estar em um solo favorável á sua influência. Precisaria encontrar uma brecha para atacá-lo antes que o Pokémon avançasse contra a cidade. A parede de gelo e a vala criadas pelos Pokémon á mando de Basho serviam apenas para evitar temporariamente  o avanço de pessoas curiosas. Mas os tremores de terra e urros de Groudon já fizera com que soassem a sirene de alerta de perigo. Tal som atraiu a atenção de Groudon e isso fez Lugia arriscar uma aproximação. Voou em baixa altitude e perto do Pokémon, que logo se irritou e tentou atacá-lo com bolas de fogo.
     
    Lugia desviou de todos os golpes e isso enfureceu o Pokémon primitivo que emitiu um urro muito maior e mais longo do que os que soltara até então.
    O chão pareceu ganhar vida e grandes pedaços de terra emergiram com velocidade, como se fossem lanças, o chão se abria e mais pedaços de rocha irrompiam, complicando o voo mais rasante de Lugia. Ele desviou da maioria, mas o vapor quente que surgia das fissuras ao mesmo tempo em que toda a terra estremecia e as rochas pontudas surgiam cada vez mais rápido, obrigavam Lugia a manter-se concentrado, ainda mais porque Groudon continuava tentando atingi-lo com seus jatos de fogo.
     Foi no momento em que desviava de uma sequência de bolas de fogo que Lugia não desviou há tempo da rocha que irrompera abaixo de si. A ponta atingiu sua barriga em cheio e ele gritou, levantando voo e tendo um pouco das penas chamuscadas. Lugia ergueu o rosto para o céu, soltando um piado longo e a garoa então se tornou uma chuva intensa.
     Groudon não se intimidara com a chuva e aproveitando que Lugia voava mais devagar, disparou uma imensa bola de fogo. Lugia sabia que não poderia desviar e ergueu uma barreira psíquica que o protegeu do golpe. Antes que Groudon pudesse atacar novamente, Lugia voou em direção ao mar, moveu o corpo de forma reta, as asas coladas ao corpo e mergulhou.
     Se era apelar que Groudon queria, era apelação que iria ter.

     Então, uma espiral de água envolveu seu corpo e emergiu como um tornado. O gigantesco tornado ficou suspenso no ar e se estendia quase uma centena de metros. Groudon urrou novamente, criando um terremoto devastador. Lugia avançou com o imenso tornado de água, Groudon tentou deter o ataque lançando uma explosão de fogo mas não surtiu efeito diante da pressão e quantidade de água que o atingiu em cheio, cobrindo-o totalmente. A força do tornado de água, impelido pela telecinese de Lugia forçou Groudon em direção aos destroços da caverna.  Groudon ainda tentou avançar contra o tornado que o atingia mas o volume de água era muito grande e interrupto e ele começou a retroceder.
     A chuva tornara-se mais forte, agitando o mar e em consequência aumentando a força do tornado, que Lugia mantinha com seu poder psíquico. Com um urro de lamentosa raiva, Groudon adentrou nos escombros da caverna e desapareceu.
     A terra parou de tremer e o tornado de água foi diminuindo até desaparecer. E, embaixo da chuva que caía, Lugia planava no céu.

~*~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Com o capítulo terminando aqui, fico no aguardo (preocupada rs) do que você tenha achado. Portanto, deixe comentário, não custa nada! XD.
Quero aproveitar e mencionar o grupo do facebook Dojo Literário Pokémon, que eu conheci quando estava começando a escrever esta história. Lá é um grupo singelo mas com gente simpática e amante de pokémon., Se quiser falar sobre pokémon, escrita literária, ler outras fics, bora entrar lá!

Por fim, gostaria de saber se algum personagem já ganhou sua afeição. Então, diga aí! (ou pode vir no meu inbox para papearmos! ;)
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lenda de Cristal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.