A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor(a)
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Em primeiro lugar, quero explicar e me desculpar pela demora em atualizar a fanfic. Minha ideia era poder entregar novos capítulos duas vezes ao mês entretanto, o começo do ano já mostrou que conseguir fazer isso será um desafio. Estou postando este capítulo já tendo passado um mês desde que atualizei o último.
Confesso que não imaginava que já passara tal tempo em vista de outras coisas que precisei priorizar.Mas, mais do que isso, a demora deste capítulo se deu por um problema meu como escritora relacionado á ele.

Desde o começo eu tinha em mente mais ou menos o que iria ser mostrado. Porém, com o tempo, em meio a estudos e análises para poder trabalhar a trama de um jeito realmente conciso e com sentido, acabei tendo que fazer inúmeras alterações, principalmente com relação aos locais, cidades e coisas do tipo.
Para terem ideia, eu cheguei memso a passar algumas horas deixando o sono de lado para focar nisso e ir anotando no caderno as ideias que vinham. Escrevi e reescrevi cenas algumas vezes.
Em alguns momentos precisei recorrer a ajuda do meu primo e do meu namorado acerca de pokémon e suas habilidades/ poderes para batalha. Ainda que eu não use as informações recolhidas agora, elas foram necessárias para eu poder evitar (ou ao menos minimizar) deslizes futuros.
E no fim,, por conta disso eu demorei muito mais psra poder escrever e finalizar o capítulo. Portanto, peço desculpas. Mas prefiro demorar um pouco mais e entregar um capítulo bem estruturado para não cometer deslizes do que fazer algo ás pressas e me arrepender depois, sabendo que poderia ter feito de outro jeito que, acredito, ficaria melhor.



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~*~


— Eu vou junto!
  Moltres se levantou da cadeira mas Lugia a deteve.
— É melhor que fique aqui por enquanto.
— Mas por quê? Eu quero ir com você, posso te ajudar!
— Você acabou de voltar a ser humana, ainda não conhece como o mundo está agora. É melhor que descanse, se alimente e comece a estudar um pouco sobre o mundo atual.
— Mas eu não estou cansada! E eu sempre aprendia as coisas vivendo elas e não presa dentro de um quarto!
— Você deve ir com calma. Eu mesmo precisei de um tempo para me adaptar e ainda estou me adaptando. São muitas coisas para assimilar e compreender. Use o tempo que estiver aqui para isso. Eu estarei de volta logo.
— ...você disse a mesma coisa quando...

   Moltres parou quando Lugia pousou os olhos em si. Ele se aproximou, tomando as mãos dela entre as suas.

— Não se preocupe. Eu estou indo buscar um dos cristais e logo teremos mais um de nós conosco. Depois de pegar o cristal e destruí-lo, você irá comigo para resgatarmos quem de nós estiver livre da maldição.
— Mas eu... – Moltres murmurou cabisbaixa. – Não quero ficar presa aqui sozinha nesse lugar estranho!
— Você não está presa, tampouco sozinha. Há empregados á sua disposição caso precise de algo. Pedi diretamente a Igni que colocasse um de confiança para te atender ou te fazer companhia. Só precisa  apertar aquele botão que o empregado virá.

   Lugia apontou para uma espécie de controle preto com um botão vermelho fixado na parede ao lado da cama.

— Mas eu quero sair, caramba!
— E vai sair. Mas não na minha ausência. Pelo menos não agora.  

   Ele se sentou na beirada da cama, indicando a Moltres que sentasse ao seu lado. O que ela fez, cruzando os braços emburrada.

— Entenda, Moltres. Esse lugar, essas pessoas...estão e irão nos auxiliar para que nos livremos da maldição e possamos reaver o que é nosso por direito. Entretanto, embora seja uma organização grande pelo que pude perceber, muitos poucos tem conhecimento de nós e principalmente de quem somos. Ou seja...é preciso agir com cautela, podemos contar com eles mas não confiar demais.– Lugia suspirou. – Alianças são necessárias. No mundo de hoje, não somos nada além de aberrações pelo ponto de vista das pessoas. Como não conhecemos toda a complexidade do mundo atual, não conseguiríamos agir por conta e correríamos o risco de sermos capturados. E também...voltei a ser humano graças a Igni que de certa forma me libertou da maldição. Exatamente como agora fizemos com você e faremos com os outros. No momento, eu e o Alto Conselho dessa organização compartilhamos do mesmo objetivo, mas mesmo assim...
— Não é bom confiar. Acho que saquei.  Mas se é assim...é mais um motivo para eu ir com você!
— Você tem que ficar aqui. Seu corpo ainda está um pouco debilitado, sabe bem disso. Precisa repousar e se alimentar. Além do mais, o mundo está tão mudado que é chocante ver como ele está agora. Digo por experiência própria. Com o tempo vamos nos habituando .

  Lugia se levantou.
— Eu estarei de volta em no máximo dois dias. E quando eu voltar, vamos sair e você verá muitas coisas. Posso te ajudar a treinar também, se quiser. Mas por enquanto... pode ir estudando um pouco de História.
  Moltres olhou horrorizada para a pilha de livros que ele colocara em seu colo.

— É preciso conhecermos esta realidade e sociedade atuais. Muitas coisas mudaram, muitas coisas aconteceram. E muitas descobertas foram feitas. Tenho certeza de que saber sobre algumas coisas que aconteceram no mundo será uma ótima forma de passar o tempo enquanto eu estiver fora. Eu mesmo separei algumas coisas para que comece, basta seguir a ordem. O bom é que mesmo ao longo dos séculos, nosso idioma falado e escrito sofreu poucas alterações.
— Eu mal voltei a ser humana e já tenho que estudar?! Dá um tempo!

  Lugia sorriu, bagunçando os cabelos da irmã caçula. Moltres continuava a mesma.

~*~

Moltres suspirou, saindo da janela e caminhando pelo quarto. Lugia partira ainda de madrugada e nem conseguira relutar e pedir que ele a levasse junto, tão sonolenta estava quando ele veio se despedir.

“ Logo estarei de volta e na próxima, você irá comigo. Prometo.”

 Olhou as horas no relógio. Igni lhe explicara como o aparelho funcionara mas se não fosse pelo barulhinho de “tic-tac” acharia que o negócio estava quebrado. Talvez tantos séculos na forma de uma fera capaz de voar a deixavam agora irritada com o fato de ter que ficar entre paredes com apenas uma janela para ver o que havia lá fora.
   Sentou-se na cama, os pés balançando. Talvez devesse tomar mais um banho. O tal “chuveiro” era algo interessante que os humanos haviam inventado.

  Pegou um dos livros que Lugia deixara  e o folheou com certo desinteresse. 
— Tanta coisa aconteceu desde que viramos Pokémon que para conseguir saber de tudo, vou é levar a vida toda! Será que não tem uma versão resumida?

  Observou os demais livros. Durante a manhã, já lera um, mas sobre Pokémon e como eles eram tratados agora. Capturados em coisas chamadas pokébolas, treinados para competições repletas de regras. E as pessoas que quisessem entravam em uma Jornada Pokémon, viajando pelo mundo capturando Pokémon, treinando, desafiando outros treinadores e participando de um negócio chamado Liga Pokémon.
  Aquilo era muito louco. Mais louco ainda era como se conseguia prendê-los dentro de pequenas bolinhas mágicas. Queria conversar com um desses  “treinadores” qualquer dia.

  Deixando o livro de lado,se levantou e abriu o armário. Havia algumas peças de roupa ali, diferentes das roupas que usava na época. Havia algumas coisas estranhas, mas outras eram interessantes. Principalmente porque agora era comum mulheres usarem calças e coisas do tipo. Ela mesma optara por vestir algo que chamavam de shorts e cropped.
  Fechou o armário e voltou a se sentar na cama. Pegou um outro livro mas logo desistiu de continuar a leitura. Não estava á fim. Rolou na cama algumas vezes até que isso a irritou.

  Olhou para as próprias mãos. Lugia dissera que assim como ele, certamente ela poderia usar os poderes que tinha na forma de pokémon e também voltar a ser a ave lendária. Manter os poderes seria bom mas só a possibilidade de voltar a ser fera logo minavam sua vontade de tentar. E se ao virar novamente um pokémon, não conseguisse mais voltar a ser humana?
  Lugia conseguia, mas ele era ele.

  Suspirou entediada e se levantou da cama. Encostou-se na porta, batendo devagar a cabeça na mesma.
— Tédio, tédio, tédio...
   Displicentemente, colocou a mão na maçaneta da porta e esta se abriu com um clique.

   Moltres arregalou os olhos. Tinha certeza que a porta havia sido trancada quando o empregado deixara a bandeja com lanches e frutas. Colocou a cabeça pra fora, se deparando com um longo e silenciosos corredor de paredes cinzas. Moltres olhou para o seu quarto, para o corredor, novamente para seu quarto e então para o corredor. Sorriu.
  Não haveria mal algum em dar uma volta rápida.

~*~


— A CJTM informa: este trem inter-regional tem como destino final a estação Violet. Tenham todos uma boa viagem.

Crystal relaxou quando ouviu a voz robótica ecoar no vagão de trem em que ela e Alice entraram, sentando-se nos bancos.
— Agora estamos no caminho certo!

   Após passarem as catracas de acesso ao trem e metrô na estação de Goldenrod, elas ficaram no meio do “fogo cruzado”, termo o qual Crystal usou para se referir á imensa quantidade de pessoas que iam e vinham ali.

— Por pouco você não entra no trem errado e vai para Olivine! Sorte que te puxei para a plataforma antes que a porta se fechasse!
— Eu só estava seguindo o fluxo! – defendeu-se Crystal. – Você disse para ir aonde a maioria estivesse indo, mas era tanta gente indo pra tudo que era lado que qualquer direção parecia “a maioria”! Ainda que eu tenha feito uma jornada por Hoenn, lá não tem um sistema de metrô como aqui.
— Você quis sair logo cedo então tivemos que enfrentar o horário de pico. Geral está na estação pegando metrô para o trabalho, escola ou jornada.

   Crystal notou que o vagão em que elas estavam começara a lotar de pessoas dos mais variados tipos. Mulheres maquiadas com uniformes de loja, homens de terno, um professor ( a julgar pela pilha de livros sobre hábitos alimentares de Pokémon e uma pasta com folha de chamada que ele carregava), uma enfermeira Joy (na certa indo para algum Centro Pokémon), adolescentes com fones de ouvidos e focados no celular e até alguns treinadores pokémon (facilmente identificados pelo cinto de pokébolas que carregavam).

— Ainda bem que achamos lugar para sentar que não fosse preferencial. – a voz de Alice a despertou de sua observação. – A viagem demora algumas horas. Mas então, o que pretende fazer quando chegarmos á cidade de Violet? Ir direto ao ginásio desafiar a líder?

— OLHA A BALA! BalaBalaBalaBalaBala! Olha o CHICLEEEEEEETE!
   Um vendedor ambulante carregando balas e chicletes de vários sabores começou a atravessar o vagão vendendo seus produtos.

— Eu tinha pensado em analisar os ginásios ontem pela internet para ver qual seria bom pra começar mas acabei me distraindo e esquecendo.
— ...porque ficou vendo safadezas.
   Crystal encarou Alice fingindo estar emburrada para mascarar a vergonha que sentia ao se lembrar das fotos do mestre Lance.

— Cabo USB, Game Link, fone de ouvido..só dez pokédolar cada!
  Uma vendedora gordinha passou pelo vagão carregando uma grande sacola enquanto anunciava. Duas pessoas compraram.

— Você poderia ter começado em Golenrod, tem um ginásio grande.
— Ah, mas é um ginásio bem difícil pelo que sei. Não quero pegar algo forte assim logo de primeira. Li em um grupo no Pokébook que participo, que o ginásio de Violet é um dos melhores para se iniciar em Johto. Alguns treinadores dizem que o  líder de lá é mais, digamos, “fraco” por causa da forma como cede facilmente á provocações referentes a Pokémon Voador cair rápido com Pokémon Elétrico.

— OLHA O POKÉMON! Olha o Pokémon! Tem Pikachu, tem  Growlithe, tem BLASTOOOOISE!
   Um vendedor passou no corredor carregando um pequeno varal no qual havia pelúcias de vários Pokémon.

— Bom, se vamos a Violet. – Alice pareceu pensar. – Quando chegarmos lá teremos que ir até o terminal rodoviário e pegar um busão que passe em frente ao ginásio. Não lembro agora qual é, mas ele dá umas voltas pela cidade antes de passar no ginásio, então pode colocar mais uma hora além das três horas de viagem aqui.
— ...teria problema?
— Por mim de boas.
   O trem parou em uma estação: algumas pessoas  saíram e mais entraram. A viagem prosseguiu.

— QUEM TÁ COM SEDE?! Tem água, tem suco, tem refri, tem cerveja, tudo geladinho! Tem pro seu Pokémon também!
  Um vendedor magrelo passou carregando uma grande caixa de isopor. Algumas pessoas compraram.

— O que você tanto vê na pokégear?
— Estou tentando montar meu time Pokémon. Preciso ter certeza de selecionar um time equilibrado para enfrentar o líder de Violet.
— Mas essa viagem vai demorar. Você pode fazer isso quando chegarmos!
— Ah  mas eu quero definir meu time o quanto antes para treiná-lo nas rotas de treinadores antes de desafiar o líder de ginásio e então derrotá-lo na primeira tentativa! É frustrante perder e ter de ir de novo. E se você perde mais de uma vez, os treinadores dali ficam de piadinha e olhando torto...e até o líder parece que fica entediado de ver você insistindo em desafiá-lo!

   Crystal passou a imagem de seus Pokémon na pokégear, se lembrando da situação humilhante de quando precisou ir pela quinta vez tentar derrotar Flannery, a líder de ginásio de  Lavaridge, em Hoenn.

— Mas você tem as oito insígnias de Hoenn e participou da Liga de lá. – a voz de Alice a tirou de seus pensamentos. – Tenho certeza de que você vai derrotar o pessoal de Johto sem problemas!
— Acontece que...não é na Liga Kanto ou na Johto que eu quero realmente participar. É na Grande Liga.
  Alice arregalou os olhos, compreendendo.

— POKÉBOLA! POKÉBOLA! Olha a pokébola baratinha! – um vendedor passou com pokébolas penduradas em um cabo de vassoura. – No PokéMart é trinta pokédóllar, na minha mão é quinze! Tá barato, tá barato!

— A Grande Liga é a liga criada pelo Comitê da Liga Pokémon que une Kanto e Johto, certo?
— S-sim. – confirmou Crystal. – Décadas atrás um acordo no Comitê da Liga Pokémon permitiu que Kanto e Johto pudessem ter, além de suas próprias Ligas, a Grande Liga.
— Eu cheguei a estudar um pouco sobre essa decisão, pelo lado histórico e tal. – Alice pensou um pouco. – Como na antiguidade Kanto e Johto se uniram e se tornaram um único grande reino. E só no final da Grande Guerra, foram novamente separados. Parece que, muitos treinadores e estudiosos renomados sugeririam ao Comitê uma espécie de “homenagem” á antiga união de Kanto e Johto de forma simbólica através dessa Liga. Mas eu não sei bem como funciona.

— Bom... – Crystal ficou satisfeita em poder falar de um assunto que sabia. – Existe duas formas de poder se classificar para competir na Grande Liga. Uma é você é obter as oito insígnias de Kanto ou Johto, competir em uma das Ligas e vencer, no mínimo, dois membros da Elite 4. A outra opção é obter as dezesseis insígnias que compõe Kanto e Johto e derrotar, no mínimo, três membros da Liga. E na Grande Liga, os cinco primeiros que se classificarem poderão competir na Liga Mundial Pokémon!
— Nossa, a Liga Mundial e incrível! – exclamou Alice. – Tem cada batalha épica! Eu nunca competi, mas assisti á algumas batalhas ao vivo nos estádios.
— Eu nunca fui ao estádio, sempre assisti pela TV e revi as batalhas no Pokétube. Mas ao vivo deve ser de arrepiar.
— Pode apostar! Quando eu fui, peguei o camarote presidencial graças ao senhor Lawrence. – confidenciou Alice sussurrando. – A Silph Co. é a principal patrocinadora da Liga. Embora a vista do camarote seja privilegiada, acredito que estar na arquibancada deve ser muito mais emocionante!
— Com certeza!

— PEÇO UM MINUTO DA ATENÇÃO DE VOCÊS! – gritou um homem que acabara de entrar no vagão. – Eu podia tá matando, eu podia tá roubando, eu podia ser um agente Rocket, mas estou aqui pedindo humildemente e de coração, uma ajuda para o tratamento veterinário do meu Pikachu. Sou treinador amador, pobre e ex-viciado, mas amo meu Pokémon. Ele, após uma batalha, se chocou contra uma cerca elétrica e está internado no Centro Pokémon, incapaz de batalhar novamente. Não tenho dinheiro para o tratamento então peço para quem puder ajudar com qualquer quantia, ajude. – ele já estava com os olhos marejados. – Arceus os abençoe, bom dia!

   Ele começou a passar com um boné estendido no qual havia preso uma foto dele com um Pikachu enfaixado fazendo fracamente sinal de vitória. Algumas pessoas deram moedas e Crystal ajudou com dois pokédollars. Alice ficou pensando um pouco no sentido daquilo mas quando o homem desceu na estação seguinte, ela acabou por deixar pra lá.

— Ei! – chamou  Alice para desviar novamente a atenção de Crystal da pokégear. – O que acha de combinarmos de ir juntas assistir a próxima Liga Mundial?
— Seria maravilhoso! Mas eu...não posso.
— Se o problema é o valor ou disponibilidade dos ingressos, deixa comigo! Posso pedir pro senhor Lawrence conseguir alguns. Assistimos á algumas batalhas na arquibancada e a final no camarote!
— Não é bem a questão de dinheiro é que...eu prometi a mim mesma uma coisa. De que só iria para o estádio da Liga Mundial como...competidora. Sei que é loucura mas é um sonho que tenho!
— Seu sonho não é loucura. – Alice pegou a mão da outra entre as suas. – Você vai conseguir realizá-lo e até ele chegar, eu vou estar aqui para te ajudar e apoiar! E quando chegar, eu vou estar lá torcendo!
— ...obrigada.

— ATENÇÃO, ATENÇÃO! – um vendedor parou no meio do vagão com algo em mãos. – Trago aqui o incrível Ralador DittoPlus! Parece um ralador comum mas como um Ditto, ele é e pode ser muito mais! Ele pica, ele corta, ele mói, ele descasca, ele raspa, ele picota, ele descama, ele mistura!  – o homem começou a pegar legumes e frutas de uma sacola e usá-los no produto. - Vejam como é fácil!

— ...anh...esse trem...é um trem de viagem ou mercado ambulante? – sussurrou Crystal.
— Ambos. – Alice riu. – E vamos ver se esse “Ralador DittoPlus” é bom mesmo.

~*~

Sootopolis City – Hoenn

Destruição.
     Essa era a palavra que poderia definir boa parte da grande cidade de Sootópolis no momento. Outrora conhecida como uma cidade rodeada por montanhas em que inúmeras casas e demais construções foram erigidas e na qual para andar por elas, extensas e infindáveis escadarias foram criadas, o local sempre fora considerado um grande ponto turístico do continente.

    Mas agora, desde o tsunami que atingiu a área costeira da cidade, destruindo casas, comércios e demais construções da área litorânea chegando até mesmo a cobrir de destroços e lama o lago central da cidade, que surgira milhões de anos antes devido á um vulcão subaquático. O ginásio localizado em uma ilhota no centro do mesmo, fora completamente destruído.
     Sootópolis era considerada por muitos como uma das melhores lugares para se observar o céu que, junto com as luzes da cidade criavam um espetáculo único. Mas desde o desastre, as luzes das estrelas dividam lugar com as luzes das lanternas e sirenes.

     Embora já houvesse passado alguns dias desde o ocorrido, com a maior parte dos feridos já resgatados, mortos identificados e estragos parcialmente avaliados, muito ainda precisava ser feito. Por estar localizada em uma região de acesso mais restrito, a entrega de suprimentos  acabava sendo realizada por via aérea e marítima. A cidade recebera o apoio do governo de Hoenn, da Elite 4, e outros continentes já começavam a também enviar suprimentos e pessoal preparado para ajudar.
      Era final de tarde quando Basho terminara sua caminhada em torno do local em que se localizava a Cave of Origin. O local não fora atingido pelo tsunami mas assim como praticamente toda a cidade, estava interditado. Faixas amarelas haviam sido colocadas avisando para não ultrapassarem e na entrada da caverna, uma placa fora fixada ás pressas alertando sobre perigo de possível desmoronamento.

“ Conveniente.”

      O sol já estava se pondo e Basho atravessou o caminho de pedregulhos que se tornara uma rua improvisada para que fosse possível motoristas e pedestres trafegarem. Ali não estava tão destruído como mais próximo á costa, mas havia muitos destroços e tendas na qual soldados e voluntários ajudavam os feridos e improvisavam atendimento médico. Nas construções ainda em pé, abrigos improvisados para aqueles que haviam perdido tudo.
    Metros á frente, alguns prédios comerciais ainda se mantinham erguidos, não tendo sido atingidos pela água. Basho caminhou na direção deles, desviando dos entulhos e evitando perder tempo demais olhando para aquela desolação.

     O prédio comercial estava com uma aparência desmazelada, com algumas janelas quebradas, na certa por vândalos, que mesmo na tragédia não perdiam oportunidade de obter alguma coisa. Entrou em um dos locais, que era um pequeno bar. Não havia quase nada ali e os dois funcionários procuravam limpar a sujeira da melhor forma que podiam. Pelo visto ali um pouco de água chegara a entrar. Um maneio da cabeça trocado e Basho foi para os fundos do local, onde havia uma estreita escada de madeira. Esta rangeu á medida que subia e no segundo andar, um pequeno corredor levava a um minúsculo banheiro de um lado no qual o cheiro o incomodara e uma porta que dava ao único dormitório. A abriu.
      O dormitório era pequeno, com chão de madeira e paredes forradas com papel de parede já gasto, além de janelas altas e estreitas. Os móveis se limitavam a um sofá, uma mesa, cômoda e uma poltrona já gastas pelo tempo. Na mesa, um computador fora colocado e um agente Rocket – o mesmo que pilotara o helicóptero em que haviam vindo – estava terminando de preparar o que parecia ser algum tipo de bomba.

     Basho observou o agente. Ele surgira mudo e assim permanecia durante todo o tempo. Sabia que alguns agentes levavam a sério a devoção para a Equipe Rocket, mas aquilo já era demais. O homem parecia quase mecânico e respondia apenas quando Igni lhe ditava ordens e lhe dirigia a palavra. E ainda assim as respostas soavam sempre curtas e precisas. Era estranho que Igni mantivesse ocasionalmente agentes de baixa patente durante missões que deveriam ser em completo sigilo, mas se Igni não se importava era porque tinha o controle.
     Controle.

    Basho decidiu não pensar naquilo, não no momento. Precisava manter a eficiência e a cautela.
    Tirou a jaqueta que vestia, colocando-a no braço do sofá, arregaçando as mangas da blusa preta fina que usava por baixo.

— E então, como estão as coisas lá embaixo? - indagou Igni.
— Esquadrinhei todo o local ao redor da Caverna. – falou Basho cruzando os braços.- O local está interditado de maneira parca, como diziam as informações dos agentes infiltrados aqui. A polícia e o exército estão concentrados nas áreas mais atingidas, lidando com resgates e coisas do tipo. As demais pessoas estão focadas, obviamente, em suas próprias desgraças e condições e não parecem interessadas no que acontece ao redor. A região onde está a caverna ficou praticamente deserta, só alguns veículos carregando suprimentos passam por ali em direção á área litorânea. Os voluntários estão bem ocupados e se concentram nos abrigos e hospitais improvisados. Se formos rápidos e mantivermos a discrição, passaremos despercebidos. A entrada principal da caverna foi fechada apenas com fitas e não notei qualquer segurança nas proximidades. De certo, concluíram o óbvio de que, na situação em que a cidade se encontra ninguém procurará refúgio dentro de uma caverna antiga e repleta de caminhos claustrofóbicos e sem iluminação. Além do alerta de possível desabamento.

 - Entretanto. – o agente continuou, no mesmo tom de voz prático. - É prudente esperar para irmos. O trabalho do exército e voluntários diminui exponencialmente durante a noite. Embora o caminho até a Cave of Origin esteja parcamente iluminado, hoje é noite de lua cheia e não teremos dificuldade em caminhar até lá. Mas o sistema de iluminação no interior da caverna foi suspenso após o desastre.
— Isso não é problema. Usaremos algumas lanternas, o radar irá nos guiar na direção certa e não iremos nos perder.
— Acho prudente levarmos pouca bagagem para não atrair atenção.  Grandes mochilas podem ser confundidas com carga de mantimentos ou medicamentos, o que pode atrair perguntas de algum soldado ou policiais.
— Não carregaremos muita coisa. – Igni deixou o notebook de lado e foi até a mesa. – Quando obtive a localização do que viemos buscar, pedi que os agentes dessa base levassem algumas...”coisinhas”, para um determinado esconderijo na caverna. Quando chegarmos lá, só precisamos pegar.

     Basho assentiu, dividindo sua atenção entre observar as pequenas granadas de gelo que o agente terminava de separar e seus próprios pensamentos.
     Diferente das demais bases Rockets espalhadas em diversas cidades ao redor do mundo, a de Sootópolis era deveras precária e não apenas pelo desastre que se abatera na cidade (ainda que o estabelecimento houvesse sido indiretamente afetado). A bem da verdade, todas as bases Rockets em Hoenn deixavam um pouco a desejar em sua opinião, mas sabia que isso se devia pela constante dificuldade que a organização tinha em se infiltrar em Hoenn e conseguir estender seus poderes em vários setores importantes da região. Isso ocorria por conta da presença das organizações Acqua e Magma que, embora fossem organizações de ideais contestáveis e até criminosos, possuíam um acordo com o sistema político de Hoenn e ambos acabavam por manter um constante acordo de interesses: em troca de suavização em punições por atividades ilícitas.

— Separei alguns Pokémon para você levar. – a voz de Igni tirou Basho de seus pensamentos.
— Eu tenho meus próprios Pokémon.
— Tudo bem, mas leve esses também. São todos do tipo gelo e estão com bom nível. Há uma grande probabilidade de que precisaremos usá-los como poder ofensivo e defensivo.
— A informação que me foi fornecida por Shiranui era de que isto seria uma busca por um determinado artefato precioso. Pela forma como ele se referiu, conclui que seria necessário enfrentar, no máximo, algumas autoridades ou Pokémon selvagens.
— Um Pokémon selvagem é bem provável...e por isso mesmo é bom estarmos armados porque não é um simples Pokémon.... – murmurou Igni. – Mas até que ponto sobre tudo que isto envolve, Shiranui lhe contou?
— ...o suficiente.

      Ambos se encararam por alguns segundos e então Igni soltou um risinho.
— Bom, levando em consideração o excesso de desconfiança que alguns membros do Alto Conselho e principalmente Shiranui tem, é normal que ele tenha se limitado em contar certas coisas.
— Sei como é Shiranui. Já trabalhei com ele em algumas missões. – e logo Basho emendou. – Não tenho dúvidas de que ele me contaria mais, entretanto  o senhor mesmo solicitou  minha presença nesta missão e precisei me preparar com o que foi dito ser necessário.
— Sim, quanto a isso não tem problema. Você tem inteligência e capacidade suficientes para que tenha conhecimento das coisas á medida que elas se apresentem á você.  
— É por essa razão me integrou ao Alto Conselho?
— ...quem sabe...ou acredita que pode haver outras razões?
— Isso é o senhor que deveria me dizer...não?

     Igni encarou o agente com sua expressão dissimulada em olhos bicolores.
— Você é uma grande aquisição na Equipe Rocket, Basho. Tanto eu quanto você sabemos que há muito potencial para você nessa organização. Esta missão certamente lhe colocará á par da amplitude que alguns de nós pretendemos. Mas quanto á pergunta do real motivo...isso virá com o tempo. 
— ...que seja. Farei o que me for pedido.
— Sem perguntas demais ou desnecessárias. Gosto disso em você.

     Igni encostou as costas na mesa.
— Agora que estamos livres da observação do Alto Conselho, gostaria de conversar sobre algumas coisas. E não se preocupe com o agente. Ele não delatará nada.
— Eu sei.
— ...sabe? – o outro sorriu, divertidamente intrigado. – Por quê acha isso?
— Se está para conversar comigo acerca de assuntos sigilosos mas mantém o agente de baixa patente presente, sei que não há problema. 
— Confia em mim, então?
— Eu não confio em ninguém. Apenas reconheço as capacidades das pessoas. E a sua pode-se dizer que é...formidável.
— Diga-me, Basho...não está surpreso, chocado ou intrigado com o fato de que exista Pokémon que são humanos?
— Vivemos em um mundo onde existem criaturas que atacam com os mais diversos poderes, capturamos eles em esferas de alta tecnologia e as treinamos para combate. Há ainda criaturas lendárias com poderes capazes de controlar e criar forças da natureza. E artefatos antigos e místicos com poderes mágicos. Não seria impossível que nesse mundo houvesse também Pokémon que sejam na verdade humanos amaldiçoados.
     Igni assentiu, continuando com o suave sorriso dissimulado no rosto.

~*~

A noite já caía sobre a desolada cidade de Sootópolis. As poucas luzes artificiais vinham de lanternas, lampiões e de um ou outro poste usado para iluminar os abrigos e centros médicos improvisados. Muitos voluntários separavam e dividiam os mantimentos, designando-os para determinadas tendas. Uma mesa fora posta em uma das tendas onde serviam uma espécie de “sopão” para as pessoas, que faziam fila a fim de garantir um prato de comida e um pedaço de pão.
     Além do grande número de pessoas que precisavam de atendimento, havia também muitos Pokémon que haviam sido resgatados sendo tratados por enfermeiras Joy e treinadores.

— Sootópolis nunca mais será a mesma depois disso.
— Foi um desastre terrível. Mas é impossível evitar uma força da natureza.
— Quantas pessoas já morreram?
— Oficialmente, mais de duzentas. Mas tem muita gente desaparecida.

    Lugia estava sentado em uma pedra no alto de uma pequeno morro, observando os destroços da cidade destruída metros a frente, quando ouviu a conversa de dois soldados que caminhavam por perto, em direção a uma tenda de primeiros-socorros.
    Até onde sua vista alcançava, via apenas escombros e desolação. Tantas pessoas mortas, feridas física e emocionalmente. Quantos haviam perdido suas casas, trabalhos, entes queridos? Soubera também que muitos pokémon haviam sido atingidos pela catástrofe.

    O pouco que havia caminhado próximo há algumas tendas de apoio às vítimas, o que ouvira e vira eram relatos de dor. Soldados e voluntários se esforçavam ao máximo para resgatar e prestar assistência á todos que precisavam. Por onde quer que se olhasse, via pessoas machucadas, desamparadas, tristes e mutiladas. Famílias, jovens, idosos, crianças...todas vítimas do tsunami que se abatera na cidade por conta da violenta batalha que travara contra o lendário Kyogre.
     Aquilo era culpa sua. Ainda que em nenhum momento tivera a intenção de prejudicar quem quer que fosse, ainda mais causar tamanho estrago e tantas mortes, isso não diminuía o fato de que o que via diante de seus olhos eram sua responsabilidade.
   Sentindo-se observado, Lugia se virou para trás, encontrando Igni, Basho e o agente Rocket.

— Estamos prontos, majestade. – falou o loiro. – O cristal nos espera.
     Lugia se levantou, olhando uma última vez para a cidade destruída aos seus pés. Não poderia mais voltar atrás ou remediar o estrago já feito. O pesado fardo de suas consequências já se abatiam sobre sua alma e sabia que mais cedo ou mais tarde lhe consumiriam.

  Só orava para que isso viesse somente quando seu destino fosse concluído.

~*~

 

 


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...

Este capítulo pode ter parecido simples e sem grandes revelações, mas devo dizer que ele foi de extrema importância para que eu tomasse consciência da amplitude e complexidade que pretendo (e precisarei) colocar na historia á fim de concluir aideia que sempre tive em mente para ela. Então, por incrível que pareça, esse capítulo foi o mais trabalhoso até o momento, justamente porque precisei pensar em diversos pontos bem além dele.

Quero agradecer imensamente á todos que estão lendo e acompanhando essa história.
Quero dar um agradecimento especial ao meu mozão que me ajuda - e muito - em várias análises sobre que pokémon poderia usar em determinado momento, que ouve minhas divagações aleatórias sobre as ideias que tenho para a história e do que quero trabalhar na mesma.
Também ao meu primoso Raven que sempre que entro em um desespero sobre determinada coisa, ele prontamente me atende e procura me enviar link ou informações para ajudar.
Agradeço também ao Leon, que comenta em cada capitulo de forma detalhada, o que muito me ajuda.

Nos vemos no próximo capítulo, que pretendo postar com menos tempo de demora!



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