A Lenda de Cristal escrita por Tsu Keehl


Capítulo 10
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor(a)
Antes de começar a ler, gostaria que lesse aqui.

Como podem ter notado, eu demorei mais do que pretendia para atualizar a fanfic. E que a reta final do ano me foi uma correria danada. Havia trabalhado, encomendas, eventos e ensaios. Sabe quando você corre e faz um monte de coisa mas ainda assim tem um monte de coisa para fazer e os dias vão passando e você conclui algo, percebe que tem mais para concluir e começa a crer que não vai dar conta? Pois bem, é isso que eu estive passando nessas últimas semanas.
Em consequência, a criação do novo capítulo da fanfic ficou comprometida e mesmo escrevendo um pouquinho á cada noite quando surgia um tempinho.
Mas enfim...apesar da correria consegui cumprir o prazo que estipulei acerca dessa atualização: de fazê-la antes do fim do ano.

Talvez possa vir algum questionamento da história não estar se focando tanto em pokémon propriamente mas eu peçlo que tenha um pouco de calma. Essa história possui muito (mas muito mesmo) a serm ostrado e uma coisa que gosto de desenvolver dsão os personagens. Porém, não quero fazer capítulos extensos demais a fim de não te cansar e lhe tomar muito tempo.

Enfim, este capítulo é, de certa forma, o fim do primeiro ciclo da trama. A jornada de Crystal e Alice irá se iniciar bem como a busca de Lugia e as engrenagens da trama começaram a se movimentar, o que irá levar á momentos mais "pesados" e densos da história.

Por enquanto é isso.
Boa leitura!



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~*~

  Após chegar ao hotel e tomar um banho, Crystal sentou-se em uma das camas e tratou de rearrumar sua mochila á fim de fazer caber todas as coisas que havia comprado. Ainda que fosse um pouco trabalhoso, gostava de fazer aquilo, ainda mais diante do fato de que, pela primeira vez, viajaria na companhia de alguém. E aquilo a deixava ansiosa.

      Colocou a necessárie em um dos bolsos externos e os itens para Pokémon, sempre deixava na segunda divisão da mochila e cm as compras feitas, por pouco não conseguiria fechar o zíper que já estava cismando em emperrar. Dobrou  e ajeitou as roupas com cuidado, conferindo se não precisaria passar em um posto de Troca amanhã.

   “Certo. Dá para manter por mais uns dois dias.  Será que Alice não vai se encher de mim logo? Eu...eu não sei como manter uma conversa legal, espero não parecer chata...”

  Após concluir mentalmente que colocara tudo dentro da mochila, Crystal a colocou no chão ao lado de sua cama e sentou-se na mesma, as costas apoiadas na cabeceira.
     Pegou então  a embalagem do Zinc e leu as informações no verso. Embora soubesse bem como funcionava, sempre gostava de ler as precauções. Tirou da embalagem um dos quatro pacotinhos ,contendo uma bolinha cinza que se assemelhava a uma goma de mascar.

  Crystal pegou um bolinho que trouxera na sacola do CentralMart e colocou o item dentro do alimento, amassando um dos cantos do doce para que ocultasse o Zinc. Sabia que, uma das melhores formas de fazer com que Pokémon ingerissem itens ou medicamentos  que precisavam ser ministrados de forma oral, era misturá-los com comida.
  Deixou a embalagem do Zinc e pegou uma das pokébolas do cinto que deixara em cima da mesa de cabeceira ao lado da Pokédex.

  Abriu a pokébola e dela um Pokémon surgiu á sua frente e se aproximou alegre da sua treinadora, as patinhas  afundando no colchão macio, lhe dando um gingado engraçadinho.
— Oi, Aron! Como você está?

   O pequeno Pokémon metálico subiu em seu colo, esfregando-se em demonstração de carinho. A treinadora coçou-lhe  a garganta, algo que o Pokémon apreciou, fechando os olhos e abanando o pequeno rabo.
— Está dengoso hoje! Aqui, tenho um presentinho pra você...tcharans!

   Ela estendeu o bolinho para  o Aron, que olhou atento para o doce. O farejou e então abocanhou um pedaço. Aprovando o gosto, rapidamente devorou o restante.
   A porta do banheiro foi aberta e o som fez Aron saltar do colo de sua treinadora, saltitando até o meio da cama e ficando em posição de ataque.
   Alice apareceu, terminando de tirar o excesso de água dos cabelos com uma toalha.

— Olha, o tal creme para pentear da linha Trainner’s Life que comprei no CentralMart é mesmo...oh, é o  Aron!
   Ela se aproximou da cama, se agachando até que seu rosto ficasse na altura do Aron, que ainda se mantinha na defensiva.
— Eu nunca me atentei ao fato do quanto esse pokémon é uma gracinha! Posso tocar nele?
— Pode. Aron. – o Pokémon olhou para Crystal. – Alice é nossa amiga e vai viajar conosco a partir de agora.

   Aron voltou a encarar Alice e sentiu o toque delicado da mão dela em sua cabeça. O carinho o agradou e ele fechou os olhos, agitando o rabinho em sinal de contentamento.
— Olha Crystal, eu já vi vários Arons, inclusive o senhor Lawrence possui alguns mas nunca vi um como o seu.  Essa marquinha na patinha dele é o quê?
— Quando eu o encontrei, ele estava mancando e machucado. No Centro Pokémon me disseram que ele na certa fora amarrado com algo perfurante por alguém.
— ..que horror...
— Eu não consigo entender como alguém pode ter coragem de fazer uma crueldade com um ser tão puro quanto um Pokémon! Já ouvi e li tantos relatos que até me tiraram o sono!
— Concordo com você. Olha seu Aron, ele é tão amorzinho que parece um rocambole de fofura!  - ela se levantou. – Bom, eu preciso ir até a suíte do senhor Lawrence porque ainda nem conversamos  e coisa e tal...pode ficar á vontade se quiser ligar na recepção e pedir alguma coisa.
— ...tu-tudo bem. Eu vou aproveitar para dar uma checada na internet e mandar uma mensagem para minha tia, avisando que estou bem e contando as novidades.
— Faça isso! E Crystal... tem certeza que não está chateada pela exigência do senhor Lawrence de ter que retomar sua jornada aqui em Johto por minha causa? Ele é meu tutor mas se quiser posso tentar conversar com ele e...
—Não, de modo algum. Pode ficar tranquila!

   Era verdade que realmente Crystal não estava incomodada ou chateada pela mudança de região para retomar sua jornada. Sentia apenas uma ansiedade e nervosismo mas conseguiria lidar com isso sem problemas. E o pouco que conhecera de Lawrence, já pudera perceber que ele não era um homem que apreciava ter suas ordens contestadas. Até porque, ela era uma simples treinadora e ele, o dono da Siplh Co. e maior colecionador de Pokémon e artefatos antigos do mundo.
   Ela sabia bem o abismo que os separava.

— Se está tudo bem ...eu fico muito feliz de poder seguir em jornada com você! De verdade! Bom, eu vou sair aqui e mais tarde eu volto. Até logo, Aron!
  Alice fez um último afago em Aron que levantou as patinhas pedindo mais carinho.
— Aproveite para descansar e não precisa me esperar  para dormir! – Alice caminhou até a porta e pareceu se lembrar de algo. – Ah, eu lavei minha calcinha e deixei secando no box, espero que não se incomode. Assim que secar eu recolho ela, prometo! Até loguinho!

   Assim que ela saiu do quarto, com a porta fechando-se automaticamente atrás de si, Crystal apenas riu diante do jeito...único, da nova amiga. Enquanto Aron se aconchegava em seu colo, Crystal tratou de pegar sua PokéGear e conectou-se á internet. Colocou uma música em volume baixo para tocar e massageou os dedos.
— Muito bem, vamos lá!

~*~

   Ela parou diante da grande porta, reunindo coragem enquanto sua mente se revolvia em pensamentos, deixando-a nervosa.

“ Ah mas que besteira! Termos boa convivência há anos! Não tenho de ficar nervosa e muito menos ter receio, carralho! Ele parece que está bem indiferente com a situação, então não tenho que estar aqui suando frio!”

  Irritada com a reação que seu estômago tinha, Alice digitou a senha que ele lhe passara no painel ao lado da porta e esta soltou um silvo, deslizando para o lado.
   Lawrence sempre fazia questão de pegar a suíte presidencial em todo hotel de luxo que se hospedava. Alice o encontrou sentado diante da mesa circular de vidro, concentrado em verificar algo no notebook enquanto os três celulares que costumava usar encontravam-se colocados lado á lado ao lado do computador. Ele estava usando óculos, algo que só usava quando teria de passar um bom tempo lendo ou analisando algo minuciosamente.
  Gostava de vê-lo assim, de trajes sociais e óculos. As mangas da camisa dobradas até metade de seus braços.

   A porta se fechou e Alice se aproximou, esperando.
— Vai me dar atenção ou ficar aí trabalhando?
— ...boa noite para você também, Alice.
— Boa noite.
— E não estou trabalhando estou...verificando alguns possíveis novos itens para minha coleção.
— Hum... – Alice notou a taça de vinho sobre a mesa. –  É algum Pokémon ou artefato para uma de suas muitas coleções? Talvez o item mais valioso que pode adquirir?
— Eu já tenho o item mais valioso.  – ele continuou antes que ela indagasse. – Mas dê uma olhada nisto aqui.

  Alice contornou  a mesa, parando ao lado do empresário, um dos braços apoiado no encosto da poltrona em que ele estava, se inclinando para ver melhor o que havia na tela. Foi então que Lawrence notou como a garota estava.
  Os cabelos recém-lavados deixavam gelados seus braços e costas, exalando o perfume do shampoo com essência de Aromatisse*. Ela usava tênis, regata branca justa (tinha que ser justa?) e shorts bem curtos de tecido fino preto.

— Mas você já não tem um monte dessas tabuletas de pedra?
  A pergunta dela o trouxe á realidade e percebeu que ela já usava o sensor do notebook para passar e ampliar as fotos na tela. Fotos que mostravam uma antiga tabuleta de argila gasta pelo tempo, de modo que as laterais estavam quebradas  e empoeiradas. Havia muitos riscos e símbolos nela mas pareciam meio apagados, na certa devido ao tempo e erosão.

—  Embora á primeira vista pareçam iguais, nenhuma tabuleta encontrada até hoje é igual. – explicou Lawrence da forma calma de sempre. – E essas são tabuletas do antigo período Ilexiano.
— Hum...
— Os registros históricos apontam que, embora no período Ilexiano Antigo já se utilizava pergaminhos á base de celulose e folhagens extraídos de determinados Pokémon do tipo Planta ( principalmente Yvisaurs que eram criados em rebanhos) para se registrar documentos referentes á acordos de comércio, leis e registros de bens e propriedades, os religiosos e artistas da época ainda faziam uso da rudimentar prática de registrar informações em tabuletas de argila ou pedra.
— Isso eu sei. Mas essas aí, especificamente, o que está escrito?
— Pelo que pude inicialmente analisar e traduzir, parece que  se trata de uma descrição sobre ... – ele aumentou a imagem e indicou com o dedo conforme lia os símbolos. – “ Sua majestade rei Lugia, de além-mar.  Senhor da tormenta e arauto da libertação.”
— Agora começou a parecer interessante... isso tem relação com a lenda de que o Pokémon Lugia era o rei amaldiçoado?
— Bom, historicamente há registros de um rei chamado Lugia, cujo reinado ainda é pouco conhecido e informações sobre são escassas. Muito dos registros desse reinado e coisas relacionadas certamente foi perdido no Grande Incêndio da Burning Tower em Ecruteak séculos atrás. Mas respondendo á sua pergunta...acredito que não. Parece-me mais um registro de algo importante e que tenha acontecido. Mas algumas partes não consigo ver com clareza.
— ...e vai comprar?
—Conversei com os escavadores que encontraram a peça e ofereci os meus...conhecimentos na tradução da escrita. Eu mesmo colocarei o preço ou talvez consiga-a sem ter gastos.

  Dizendo isso, pegou a taça de vinho e sorveu um gole.
—  Já jantou?
—Jantei no restaurante do hotel assim que cheguei com a Crystal. Aliás, o que achou dela?
— Me pareceu uma garota...comum. Embora não a conheça mais do que umas poucas horas.
— A Crystal é uma boa pessoa, eu sei disso! É uma treinadora Pokémon licenciada e além disso é uma pessoa gentil, humilde e prestativa. O senhor viu o quanto ela ficou sem graça durante o café. E antes que possa dizer que ela pode ser algum tipo de interesseira, vale lembrar que ela passou por cima do próprio caráter e invadiu uma delegacia para me resgatar pondo em risco ela própria porque pensou que eu poderia estar em apuros!
— Pelo visto você está se afeiçoando bem rápido á essa nova amiga.
— Eu sinto que posso confiar na Crystal. Tenho certeza que terei uma jornada Pokémon muito divertida com ela!

  Lawrence optara por se levantar da poltrona, em uma mescla de incredulidade e tédio enquanto retirava os óculos. Alice contornou na mesa, recostando-se na mesma.
— Hum... – a garota conteve um sorrisinho de provocação. – O senhor acha que seria mais prudente eu viajar com o...
— Não.
— Mas eu nem falei o nome!
— Não preciso que fale para saber. E se as únicas opções são aquele delinquente ou a menina desnorteada, viaje com a menina.

   Alice assentiu, bebendo um gole de vinho da taça. Quando ia dar outro gole, Lawrence tirou a taça das mãos dela e levou aos próprios lábios, no mesmo lado da taça que ela bebera.
  Para colocar a taça de volta á mesa, ele inclinou-se bem próximo á garota e quando voltou, percebeu que exagerara na aproximação e sentiu sua perna roçar na dela.

— ...eu...vou demorar para voltar.
  As palavras de Alice próximo á seu ouvido soavam como um gatilho e aquela maldita regata branca contornando os seios só deixavam a situação pior.

   Após três meses praticamente sem contato, realmente achou que todo aquele absurdo cessaria mas agora a única coisa que Lawrence pensava era em empurrá-la para cima da mesa e meter as mãos com vontade naquele par de coxas tentadores.
  Fechou o punho á poucos centímetros da coxa dela mas quando os lábios dela roçaram em seu rosto, só percebeu que cometera o erro no momento que tomou-lhe os lábios em um beijo casto, apenas suas bocas se movendo. Mas no primeiro contato de suas línguas e o gosto do vinho, a vontade prevaleceu e Lawrence agarrou com força a coxa da garota, sentindo a carne que impulsionou seu corpo contra o dela, fazendo Alice inclinar-se para trás com um gemido abafado. Como se procurasse algum apoio, ela soltou o pescoço dele e tateou a mesa, acabando por esbarrar na taça de vinho.

— Ah!
  No mesmo instante, Lawrence se afastou, recobrando a consciência e se adiantando em tirar o notebook de perto do vinho derramado. E o silêncio que se seguiu entre ambos foi constrangedor, até que Alice tomou coragem.

— ...eu... acho que...– Alice murmurou. - ...precisamos conversar.
— Se precisar de alguma coisa para sua jornada, pode providenciar. A governante estará de prontidão caso precise trocar de roupas e coisas do tipo. Seu cartão está com um aumento de limite, mas use-o com parcimônia, não ostente. E evite trilhas desertas ou se embrenhar por lugares de acesso mais restrito, e perigoso. A Equipe Rocket tem aumentado suas atividades.

  A súbita mudança de posição dele a irritou.
— Por que o senhor está fugindo do assunto que precisamos falar?!
— ...você acabou de dar a resposta.
— O quê?!
—  Não vamos retomar uma conversa infundamentada! É melhor mesmo que siga jornada com sua amiga.
— ...é isso mesmo que eu vou fazer!

   O tom de voz dela soou embargado e quando a olhou, percebeu que a garota estava prestes a chorar. E isso fez Lawrence parar ao lado dela, ambos procurando olhar para qualquer coisa ali, exceto um ao outro. Silêncio.

— Nem ao menos um como despedida?
  Alice percebeu o que dissera depois que as palavras já haviam saído.
— Ambos sabemos muito bem que não iria parar em apenas um.
— ...eu não me importaria.

  Alice sentia seu coração disparado, o estômago retorcendo-se diante do nervosismo que ela própria estava querendo causar. O maxilar de Lawrence ficou tenso, seus olhos azuis fixos na cama.
— Volte para o seu quarto. Agora.
  Não era um pedido.
  E mesmo á contragosto,  Alice obedeceu e seguiu em direção á porta.
— ...mande notícias, se cuide. E tenha uma boa jornada.
— Pode deixar.

  Com um suspiro Alice abriu a porta e saiu. Assim que viu-se sozinho, Lawrence contornou a mesa, ciente de que precisava acertar os últimos detalhes com o líder da equipe de escavação e conferir sua agenda relacionada á Silph Co. para amanhã.
   A taça de vinho, agora vazia, sobre a mesa atraiu sua atenção . Pegou o objeto e o observou por alguns segundos então o arremessando com raiva contra a parede. A taça se espatifou e os cacos se espalharam pelo chão.
  Maldição. Por quê esse pecado não cessava?

~*~

Crystal estava acompanhando, atenta, o novo ensaio fotográfico que Ele fizera para a revista PokéIdol, a revista mais popular e renomada a falar sobre grandes nomes e celebridades do mundo Pokémon ao redor do mundo. Não era uma revista técnica, estava mais para uma revista de “fandoom” com entrevistas, informações e fotos de personalidades. A revista era disponibilizada online com uma parte gratuita e outra, mais completa, exclusiva para assinantes.  Crystal não era uma leitora da mesma, mas ocasionalmente acessava o site para verificar as novidades e por quê não, fofocas?

  “Ora todo mundo gosta de saber uma ou outra coisinha de gente famosa...não há mal algum!”

  Foi com esse pensamento que deu uma pausa nos seus estudos para verificar os artigos recentes e se deparou com a nova edição da revista.  A edição comemorativa (referente á 50ª publicação) trazia um ensaio fotográfico do mestre da Elite 4 de Kanto e maior campeão de Johto, Lance Pendragon, junto de seu principal time pokémon de batalha.
  “Kissed by fire” era como a mídia o classificava. Não apenas pelos cabelos vermelhos como fogo, mas por sua personalidade aventurosa e decidida, além de sua capacidade destruidora em batalha.. Seus Pokémon refletiam toda  sua força e coragem, tendo um nível de poder e experiência que poucos treinadores eram capazes de alcançar.

  Crystal o admirava. Não, mais do que isso. Para ela, Lance era mais do que um mestre Pokémon, era um ídolo e um fascínio que passara a ter desde que o vira, pela primeira vez, em uma batalha Pokémon pela TV na qual ele e seu Dragonite enfrentavam outro membro da Elite 4. Naquela época, Crystal sequer era uma treinadora mas ver Lance a fizera realmente querer seguir por esse caminho.
  O tempo foi passando e aquele fascínio infantil, deu espaço á um fascínio adolescente, fazendo com que ela visse atributos nele que antes não notara. E Lance ficava mais incrível á cada nova notícia ou imagem que via dele.

  Crystal observou as fotos do ensaio de Lance e seus Pokémon disponíveis no site. Eram fotos muito bonitas, que na certa dariam lindos pôsters na parede. Em uma, Lance parecia ordenar que seu Dragonite atacasse com um Hyper Beam, a capa esvoaçando atrás de si.  Na outra, ele estava no centro, os braços cruzados e alguns de seus Pokémon dragão atrás de si. A terceira foto fez Crystal conter uma exclamação para não acordar Aron, que ressoava baixinho em seu colo.
  Lance estava á beira do mar, com a água pingando de seus cabelos e a camisa parcialmente aberta, permitindo um pequeno vislumbre de seu tórax. Atrás dele, o grande Gyarados vermelho encarava a lente da câmera, ameaçador.

   Crystal ficou alguns segundos admirando o mestre da Elite, sentindo um calor se apossar de si. Tentou aumentar a foto e baixá-la em alta resolução, mas o site não permitia. Bufou, frustrada. Teria que comprar a revista impressa para ter acesso á todo o ensaio fotográfico (a versão online não disponibilizava isso) mas o problema é que levando em conta que já fora lançado há alguns dias e a fama de Lance, encontrar um exemplar da revista seria bem complicado pelo fato de ser uma tiragem limitada.
  Maldita editora que fazia isso só para encarecer o preço de edições focadas nos membros da Elite 4 quando se tornassem raras! Lembrava da vez em que a revista lançara uma edição do ensaio sensual da mestra Karen e as revistas esgotaram em uma semana.

  A porta foi aberta e Alice surgiu.
— Oh, pensei que já estava dormindo.
— B-bom, na verdade eu aproveitei para estudar um pouco. – rapidamente Crystal minimizou a janela de navegação da pokégear. -  Com a vida de treinadora, não rola ficar fazendo cursos presenciais e coisas do tipo. Então procuro compensar com cursos online e estudos por conta.
— Olha só, garota aplicada. Tá certo! E o que você está estudando?

   O rosto de Crystal se avermelhou.
— ...estava vendo safadezas?
— N-não!! – Crystal exclamou, acordando Aron. – E-eu não fi-fico vendo essas coisas!
  Alice riu da forma como a outra ficara constrangida.
— Ora, não há mal algum em ver esse tipo de coisa. Por que para os garotos isso é normal e para as garotas não? Somos iguais em nossos desejos, o fato é que a sociedade só impôs que as mulheres tinham de reprimir. O que estava vendo?
— Mas eu ...eu não estava vendo nada pornográfico! E.... – Crystal só queria que o assunto mudasse. – Ei! O que é esse vermelhão na sua coxa?

   A pergunta surpresa de Crystal fez Alice notar a marca avermelhada em sua coxa.
—Hah, isso...isso eu...eu bati na quina da mesa, é! Quando o senhor Lawrence foi.... Quando ele foi  me mostrar algo que estava averiguando no computador!
— Caramba, foi uma batida e tanto! Isso vai ficar roxo, é bom passar uma pomada...
— Está tudo bem!

   Alice afastou alguns passos para que Crystal, na pouca luz do quarto, não percebesse que  aquilo estava longe de ser uma batida no móvel.
— Mas é bom cuidar disso, vai que dá uma luxação, sei lá.

“Isso deu foi tesão, amiga...”

— Eu tenho uma pomada aqui, já estou indo passar! – Alice pegou sua necessárie e foi em direção ao banheiro. – Pode ficar tranquila que não é nada!
   Assim que ela fechou a porta, Crystal encarou Aron, que a fitava curioso.
— Então tá né...ei, quer dormir comigo na cama hoje?
  O Pokémon pulo empolgado,  aceitando a proposta.
— Melhor então já irmos dormir. – ela desconectou-se da internet. – Vou colocar o despertador para tocar porque com uma cama gostosa dessas é bem possível que eu perca a hora...ah, Alice!
— ...o quê?
— Tudo bem se sairmos cedinho amanhã? Tipo, pra iniciarmos a jornada.
— Por mim sem problemas. Na verdade, quanto mais cedo, melhor! – Alice saíra do banheiro, usando um pijama cujo shorts do mesmo ocultava suas coxas. – Podemos sair assim que o sol nascer, acho até melhor. Bom, vamos dormir? Estou com sono.

  Alice deitara na cama ao lado, ajeitando-se entre os lençóis limpinhos. Crystal apagou a luz do abajur e fez o mesmo, com Aron se enrolando feito uma bolinha ao seu lado.

~*~

   A tempestade rugia forte e intensa, com relâmpagos a cortar o céu em clarões.  O vento  fustigava as árvores e parecia cantar entre os vãos das montanhas. Mas a base da Equipe Rocket era protegida contra as intempéries do tempo e nenhuma tempestade era capaz de atravessar suas paredes de aço maciço.
  Porém, em um dos únicos pontos em que havia uma entrada com cobertura, Lugia estava sentado, observando a tempestade.  Apesar de ser noite e as nuvens de chuva cobrirem o céu, ainda assim conseguia enxergar  toda a vastidão da floresta cujas árvores se agitavam com a tempestade e os relâmpagos iluminavam as montanhas mais ao longe.
  Lugia precisava ficar sozinho. Para pensar, para se preparar.

  Tantas coisas estavam acontecendo, tantas coisas desse novo mundo que precisava aprender e compreender. Quase não dormia desde que voltara a ser humano. Porque precisava aprender a ler nesse novo idioma, precisava compreender a tecnologia, precisava entender e conhecer toda a história da sociedade, precisava compreender o novo mundo que surgia diante de si ao mesmo tempo em que precisava se manter firme no que precisava ser feito, não importava o que precisasse sacrificar para isso.
  Sua cabeça doía e ele tratou de fechar os olhos, inspirando e relaxando corpo e mente. Exatamente como havia aprendido á tantos séculos atrás.

~~~**~~~

Aquela tempestade era uma das maiores que já havia visto. Das janelas do palácio poderia sentir o vento que projetava respingos para o corredor e fazia as tochas dos candelabros rodopiarem suas chamas e se apagarem.

  Ele caminhava sozinho pelos vastos corredores de pedra se incomodando com o fato de que aquela tempestade só estava complicando os trabalhos no reino. Tudo acabava atrasando: as colheitas, as construções o treinamento dos soldados, a navegação. E com a movimentação do exército de Sinnoh qualquer atraso nos preparos das tropas em Kanto era um problema.
  Absorto em seus pensamentos, planejamentos e preocupações, Lugia caminhava sem rumo e cabisbaixo, sua mente incansável em planejar soluções e analisar opções. Foi então que notou, mais á frente, uma fraca luz e de forma cautelosa, se aproximou.

  Uma tocha fora colocada na lateral de uma das janelas de pedra, lançando uma sombra bruxelante e uma luz amarelada  ao redor. Lugia sabia que, não importava o quanto a chama daquela tocha fosse soprada pelo vento ou recebesse respingos de chuva, não iria se apagar. Não enquanto Ela estivesse ali.
  Ela estava de costas, sentada no largo parapeito da janela, observando a tempestade á frente. Daquela janela, era possível ver á frente, a extensão do mar. Com a tempestade, as ondas surgiam gigantescas e os clarões dos relâmpagos vez ou outra iluminavam as águas tempestuosas, com o vento soprando as ondas e a chuva torrencial mesclando seu ruído com o som das ondas que se chocavam violentas nas rochas da praia.

  Os longos cabelos ondulados dela e seu vestido pareciam dançar quando o vento salgado do oceano a atingia. Ela mantinha os olhos fechados, sem se incomodar com os pingos de chuva  que, trazidos pelo vento, a tocavam.
— ...está revolto.
—  Com a tempestade, o mar sempre torna-se agitado e perigoso.

  Lugia se aproximou, parando ao lado dela. Um clarão de relâmpago ao longe iluminou o céu e o mar por segundos, permitindo o vislumbre das gigantescas ondas que se formavam ,a água da chuva caindo com força sobre o mar agitado.
— Tempestades são comuns aqui, mas fazia um tempo que não tínhamos uma  forte assim.
— ...não me referi ao mar e sim á você. Mas o mar está representando o interior de sua mente.
— ...está lendo minha alma?
— Não preciso fazer isso para saber. Eu posso sentir.

  Lugia encostou as costas na parede, olhando-a. Ela usava apenas um vestido de alça e seus braços se arrepiava quando o vento parecia lamber sua pele. Ela fechara os olhos, inspirando o ar gelado e um suave sorriso surgiu em seus lábios.
—  Não teme as tempestades?
— Como poderia temer algo que me traz paz?

  Lugia observou a tempestade no mar. Quanto mais forte o vento soprava, mais violenta as ondas se tornavam. Os trovões e relâmpagos rasgavam os céus. Mesmo estando uma noite obviamente escura pelas nuvens de chuva, a fraca luz da tocha permitia que pudesse ver, metros abaixo de onde estavam, as grandes pedras que circundavam o castelo. Qualquer pessoa não se arriscaria a ficar sentado ali perto, com as pernas balançando, relaxadas. Uma queda levaria á morte certa.
  Mas Ela não temia nada da natureza.

— Livre-se do manto e sente-se aqui do meu lado.
  Lugia assim o fez Mas ao contrário dela, apenas passou uma das pernas no parapeito e encostou as costas na parede. Os pingos de chuva tocaram-lhe a pele do rosto e braços agora despidos e  sentiu o vento gelado.

— O mar e a tempestade podem  causar desconforto e temor aos nossos olhos. Mas eles na verdade nos acalmam e  limpam nossa mente. – ela então se virou para encará-lo. – Feche os olhos.
  Como não atender aos pedidos dela? Lugia assim o fez.

— Agora deve afastar todos seus pensamentos, tudo o que é  e o que precisa fazer. Deixe que o mar seja o seu guia. Ouça o som das águas. Da água que vem do céu, da água que está abaixo. Sinta o aroma destas águas, trazidas pelo vento. Respire.
   Ela falava de forma calma e pausada e aos poucos, Lugia sentia toda a tensão e cansaço diminuírem, como se estivessem sendo levados pelas águas. O vento gelado era agradável e refrescante em sua pele como se pudessem renová-lo.
— O som das ondas avançando e da chuva que cai. É a paz e o descanso que trazem. Ouça a canção do mar.

   Lugia permitiu ser dominado pela sensação que seus sentidos absorviam. O frio na pele, o aroma de chuva e o cheiro salgado do mar.O vento trazia tudo para si e era como se o seu corpo por dentro e por fora estivesse sendo lavado e refrescado. Suspirou baixinho.
  Mas o melhor era o som. O som da chuva no mar, as ondas se quebrando tanto nas rochas quanto na água, trovões ao longe e o movimento do oceano. Tudo era harmonioso, refrescante, apaziguador.

   Sua mente pareceu abandonar todo e qualquer pensamento que pudesse ter. Não se concentrou, apenas permitiu-se sentir e ouvir. Era como se a água – do céu e do mar – estivessem se comunicando com ele, livrando-o de todos os fardos e responsabilidades e lhe entregando paz e liberdade.
  Não soube quanto tempo permaneceu ali, os olhos fechados apenas sentindo e ouvindo as águas. Uma sensação que deixara de sentir á tanto tempo e agora percebia o quanto precisava daquilo. O cansaço sumira, carregado pelo vento; as preocupações deixaram de existir, levadas pelas águas.  E só restava o frescor, a paz e a vontade de aceitar a liberdade do oceano e tornar-se parte dele.

   E ali permanecer.
   Abriu os olhos ao sentir a mão dela em seu peito.

— Tenha cuidado. Embora o oceano seja benéfico, ele pode convencê-lo a se tornar eternamente parte dele.
— ...e isso seria ruim?
  Ela o olhou por alguns segundos.
— O mar o escolheu. Mas decidir se fará ou não parte dele, só dependerá de você.

~~~**~~~

  Lugia abriu os olhos. A chuva continuava a cair, mas nas montanhas, não havia o som do mar. Talvez por isso não conseguia relaxar e afastar as dúvidas e anseios que lhe assolavam a mente. E na tentativa de fazer isso, sua mente voltou ao passado, naquela noite em que aprendera a conhecer e se comunicar com as águas. Naquela época, nunca imaginaria que aquela noite e aquelas palavras dela, teriam tanto significado agora.
   Teria  ela percebido, de alguma forma, a simbiose que ele e o oceano iriam se tornar?
   Ironia, destino ou alguma outra coisa...

   O vento gelado da tempestade percorreu seu corpo por dentro e por fora, trazendo o frescor e a purificação que só a água era capaz de fazer. E percebera que, quanto mais forte a tempestade, mais ele se sentia em paz.

~*~


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Notas finais do capítulo

Terminando o capítulo aqui...

*Aromatisse - é um pokémon tipo Fada natural da região de Kalos e conhecido como Fragance Pokémon.

Quero agradecer ao incentivo e acompanhamento que todos estão dando á fanfic. Ela é um projeto muito querido e estou fervilhando de ideias que quero, preciso e vou colocar na história! Mas sem o incentivo dos leitores, esse projeto não estariai ndo pra frente. Obrigada, de coração!

Esse capítulo me deu um pouco de trabalho para fazer porque, embora eu tivesse as ideias em mente, foi um pouco complicado conseguir colocá-las em palavras para transmitir a sensação e possibilidade de imaginar a cena. Inclusive na cena final, eu a escrevi em noites quentes onde cheguei ao ponto de colocar som de tempestades no mar para tocar enquanto escrevia a fim de instigar a criatividade. (vale tudo para entrar no clima na hora de escrever, rs)

Enfim, para 2019 pretendo trazer muitos capítulos desta fanfic (deixem seus comentários, sugestões, etc) além de outras cisas interessantes como trilha sonora, fanservice e quem sabe, cosplays. ;)
Então..nos vemos ano que vem!



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