A luz do teu olhar escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 6
Abraçados pela escuridão


Notas iniciais do capítulo

Gatilhos a respeito de estupro nesse capítulo. Não há descrição do ato em si, mas uma personagem traumatizada. Vocês foram avisados.
Boa leitura!



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Gaara estava para lá de nervoso quando passou pela recepção e Ino, com seus olhos de águia, não deixou de notar. Dando a volta no balcão e seguindo-o. Pescando com os olhos por cima dos ombros de Gaara e vendo o motivo para isso. Sorriu.

− Então o Lee te deu o número dele, não é? – perguntou, fazendo com que Gaara desse um pulo.

− Ino, caramba! Que ideia é essa de chegar como um ladino perto de mim assim?! – Levou uma das mãos ao peito, tentando acalmar o próprio coração.

Ela, por sua vez, deu um risinho.

− E então, quando vai chamar ele para sair? – perguntou, acompanhando-o na direção da saída.

− E-eu... não sei. – respondeu. – Não sei se ele quer sair comigo ou se só fez isso pra, você sabe.

− Ahn... não? – Ino cruzou os braços, encarando Gaara. – Você tem que ser mais confiante, ruivo! Vamos, bola pra frente!

Ino sabia que para Gaara não era fácil seguir em frente. Acompanhava o amigo definhar desde a morte da mãe naquele atentado, e não vinha sendo nada fácil. Pois conhecia seus fantasmas interiores e sabia do que acontecia. Já que mais de uma vez, havia sido ela a responsável por correr com ele para o hospital, escondendo sua condição dos familiares com os quais não conseguia se abrir.

Mas isso não significava que seus irmãos mais velhos, Kankuro e Temari, não desconfiassem se sua condição. O pai, Rasa, era um tanto ausente por conta de todas as obrigações. Mas Ino sabia que não era por não amar os filhos, e sim por não conseguir livrar-se da culpa que sentia, tão forte quanto a de Gaara. Pois no fim, pai e filho eram mais parecidos do que poderiam imaginar.

Por vezes, Ino recebera mensagens de Kankuro ou Temari na madrugada, alertando-a sobre a preocupação com um Gaara desaparecido. E ela, sabendo os lugares que o melhor amigo frequentava, ia em seu socorro.

Os dois sempre a alertavam sobre sua preocupação para com Gaara, ao mesmo tempo em que o caçula não permitia que se aproximassem. Como se tivesse medo de carregar alguma espécie de doença contagiosa que matasse qualquer um que o tocasse. Doença da qual Ino parecia ser imune, pois era a única pessoa de quem Gaara ainda permitia alguma aproximação.

− É que... eu não quero que ele me veja como o perdedor que eu sou. – Gaara abaixou o olhar, apertando o pedaço de papel entre as mãos. Ainda sentindo o calor dos dedos de Rock Lee quando estes haviam esbarrado contra os seus. Havia se enclausurado dentro de si mesmo há tanto tempo! Não se permitindo sentir nada além da culpa. Mas agora...

− Você não é nenhum perdedor, neném! – Ino passou um dos braços ao redor do pescoço de Gaara. – Escute. – Segurou seu rosto com ambas as mãos, encarando-o. – Nada daquilo foi sua culpa, Gaara. Ninguém poderia prever o que de fato aconteceu, entendeu? Você é maravilhoso. Faz coisas maravilhosas. Não se martirize. Vamos sair hoje à noite, está bem? Eu e você. Como nos velhos tempos.

Gaara engoliu em seco. Sentindo aquela dor tão forte em seu peito. Aquela necessidade gritante de culpa que o sufocava vindo de todos os lados.

− Passe pra me pegar depois que o meu turno acabar. É uma ordem, gatinho! – Ino piscou para ele.

Gaara sentiu-se grato por ela sempre saber quando ele gritava por ajuda.

X

A consulta de Aburame Shino era algo rotineiro, pelo que Kiba havia compreendido. Ele parecia conseguir se virar bem sozinho, andando com a bengala, tocando-a contra o chão e guiando-se. Embora segurasse no braço de Kiba.

− Por que precisa ir direto para casa? – Shino perguntou, meio que para quebrar o gelo, enquanto se sentavam para esperar pela vez dele. Kiba ficou em silêncio por um tempo, como se sopesasse as palavras de Shino. – Não precisa responder se não quiser. Não é como se você fosse obrigado.

− Não, tudo bem. – Kiba respirou fundo. Shino notou como o ritmo dela – de sua respiração – havia mudado. Como se houvesse um grande peso em seus ombros. – Acho que se vamos fazer isso, temos que fazer certo. Porque você tem todo o direito de me odiar depois que souber disso.

Shino achava difícil detestar Kiba mais do que aquilo, embora não houvesse nenhum motivo em específico para isso além do fato de ele ficar lhe irritando com sua persistência ferrenha de tentar fazer com que Aburame fizesse amizade consigo.

Mas antes que tivesse a chance de lhe contar, a voz de Sakura se fez ouvir:

− Aburame Shino! – chamou de dentro do consultório. Shino colocou-se de pé.

− Acho que teremos que deixar para depois. – Limitou-se a dizer, entrando no consultório.

− Estarei esperando aqui fora. – Abriu um sorrisinho que Shino não podia ver. Ainda assim, ele anuiu com a cabeça. A porta do consultório fechou-se em seguida, deixando Kiba sozinho com os próprios fantasmas.

X

A doutora Sakura ergueu o rosto quando viu Shino entrar, desacompanhado como sempre preferia.

− Na maca, Shino-kun. – pediu, enquanto se levantava da cadeira. Shino tateou até sentir a cama, dobrando a bengala e colocando-a ao seu lado. – Como está se sentindo?

− Não diferente da última vez. – Não estava sendo rude, apenas realista. – Sabe que não voltarei a enxergar. Por que insistir nisso?

Sakura suspirou. Era a médica que acompanhava Shino desde que ele começara a frequentar o centro, após passar por milhares de médicos que sempre haviam lhe preenchido com falsas esperanças de que voltaria a enxergar.

− Tire os óculos. – pediu ela, enquanto aproximava-se com a lanterna para incidir a luz em seus olhos. – Eu já te disse isso antes, mas não é porque você não enxerga que está imune a doenças oculares. Aliás, isso te faz ainda mais susceptível. Já tivemos essa conversa.

Shino engoliu em seco, retirando os óculos. Os olhos, que encaravam lugar nenhum, pareciam fixos na parede.

Durante o incidente das explosões, Shino estava no teatro municipal da cidade performando uma apresentação. Naquela ocasião, a explosão havia causado um incêndio e Shino estava próximo demais ao local, fazendo com que as brasas queimassem suas córneas de maneira intensa, além de outras áreas do corpo, como pescoço, tórax e antebraços. Motivo pelo qual ele se escondia por trás de casacos pesados como o que usava naquele dia.

− Seus olhos estão secos. – disse ela, incidindo a luz sobre as pupilas. Irresponsivas. – Tem passado o colírio ultimamente?

Shino ficou em silêncio. Sakura exalou o ar pelos lábios, sentando-se ao lado de Shino.

− Sei que tem sido difícil, Shino-kun. A adaptação não é fácil para alguém que perde a visão já mais velho. – Havia um tom de complacência em sua voz que Shino odiava.

− Pelo menos você é sincera. – Shino rebateu.

A cicatriz na região dos olhos era intensa, e só não havia sido pior porque Shino usara os braços para proteger o rosto após a primeira explosão que o lançou para trás. Segundo os milhares de médicos que ele havia consultado ao decorrer daqueles dois anos, se ele tivesse tido um tratamento imediato, provavelmente poderia ter recuperado a visão. Mas o fato de ter sido dado por desaparecido pelo período de uma semana havia complicado tudo, trazendo-lhe uma infecção aos olhos que o privou da visão por completo.

− Você sabe que a ciência tem feito avanços, não é? E que tenho estudado seu caso de perto. – Sakura assegurou. – A queimadura em suas córneas, Shino-kun, foi muito profunda. E por muita sorte não necrosou seus olhos ao ponto de termos que realizar a enucleação de ambos. Mas se você não realizar os cuidados da forma que te pedi, isso é exatamente o que vai acontecer. Como tem ido as aulas de braile?

Shino engoliu em seco. Pois era sempre difícil lidar com isso.

Não quero reaprender a ler, Sakura. Me sinto um inútil. – Cerrou os punhos com força. – Não posso mais fazer o que amo... e perdi tudo.

Sua voz era um fio rouco.

− Tenho certeza de que se você se permitir ao menos a chance de aprender, Shino-kun, verá que as coisas não são tão ruins assim.

Ele deu uma risada amarga. Mas Sakura ignorou, enquanto prescrevia o colírio, e também um nome no papel.

− Entregue isso para o seu acompanhante. – disse ela. – E pare de afastar as pessoas, Shino-kun. Se quer ser miserável, tudo bem. Mas não arraste os outros com você só porque perdeu as esperanças. Não desistirei de tentar. Mas cabe a você decidir se me acompanhará nisso ou não.

Shino suspirou, incomodado com o que Sakura havia lhe dito e agarrou o papel. Ouvindo um até semana que vem que nunca chegou a responder.

X

Toka seguiu com Mito até o interior do prédio. Nem por um segundo, soltou-se do braço enlaçado da amiga, que olhava sempre andando por cima dos ombros, ainda que de maneira disfarçada.

Sair de seu apartamento era uma tortura.

Encarar uma rua cheia de pessoas era uma tortura.

E tudo ali ao seu redor gritava, como se todos zombassem de si. Como se falassem dela. E tudo o que Mito queria era sumir.

Mas sua psicóloga havia lhe dito que parte de seu tratamento para integrar novamente a sociedade era voltar a trabalhar fora de casa. E foi aí que Toka lhe disse que o primo e o cretino do seu esposo procuravam por um advogado que cuidasse da parte legal.

“Eu já tinha te cogitado outras vezes, mas você havia insistido não querer sair de casa. Acontece que nenhum dos advogados atendeu às expectativas dos dois. Você sabe como Madara pode ser insuportável quando quer.”

É claro que ela sabia. Afinal, quando conhecera Madara, ele fizera questão de mostrar que insuportável era o sobrenome do meio de todos os Uchihas.

Pararam diante da sala da direção e Mito engoliu em seco.

− Vai se sair bem na entrevista, Mito, tenho certeza. – Toka a encorajou, ao que a ruiva engoliu em seco. Estava trajando um vestido de tubinho negro, com sapatos de bico fino de mesma cor. Queria sentir-se bem e por isso vestiu-se assim quando saiu de casa. Mas a verdade é que estava tão incomodada que jogou um sobretudo por cima que lhe cobria o corpo todo. Bege, sem graça. Que não chamava atenção de ninguém. Também estava maquiada antes, mas não conseguira encarar-se no espelho sem achar que outras pessoas a viam. Então optou apenas por uma base, sem nenhum batom.

− Não sei... acho que eu deveria voltar outro dia, Toka. – Mito abraçou o próprio corpo, ao que Toka virou-a em sua direção.

− Escute, Mito, você precisa tomar o controle da sua vida outra vez. – disse, segurando-a pelos ombros. – Não estamos falando de um lugar estranho ou de pessoas estranhas. É o cretino do Madara e o meu primo. Eles não são aquele cara, entendeu?

As palavras duras de Toka fizeram os olhos de Mito marejarem em lágrimas. Toka a abraçou com força, querendo matar o filho da puta que havia deixado sua melhor amiga naquela situação.

Não havia sido o atentado que tinha tirado a paz de Mito, mas um ordinário que não tinha mais o que fazer da vida além de perturbar mulheres com ameaças vazias. A princípio, ligações mudas de telefone que pareciam pegadinhas de crianças, começaram a ser feitas para o seu apartamento tarde da noite. Com o passar do tempo, sempre que atendia, a respiração pesada podia ser ouvida do outro lado. Essa rotina seguiu-se por meses e, embora Toka insistisse para que ela chamasse a polícia, Mito achava que era apenas algo trivial, e acabou optando por cancelar a linha telefônica que quase não usava, exceto para falar com os pais. Mas o celular permitia que fizesse o mesmo sem nenhuma perda.

Foi quando Mito começou a achar que estava sendo seguida. Para todos os cantos que ia, alguém parecia estar atrás dela. E aquela sensação não a abandonou durante duas semanas consecutivas. Em mais de uma ocasião, sentiu como se alguém tocasse seu ombro, ou cheirasse seu cabelo. Mas sempre que se virava, não via ninguém. Era como se a sombra sempre desaparecesse em meio à multidão.

Naquele dia, ela foi à polícia acompanhada de Toka. Mas sem provas concretas, tudo o que puderam fazer foi colocar uma escolta no prédio da advogada. Mito nunca se sentiu tão presa quanto naquele momento, mas pelo menos a polícia lhe dava certa segurança.

Passara a trabalhar em casa e evitar a rua em horários noturnos. Mas, às vezes, o trabalho exigia dela que ficasse até tarde na empresa. Ouvira relatos de um homem que atacava mulheres pelas redondezas, e por conta do que vinha acontecendo, a polícia continuou a fazer sua escolta, sobretudo por ser uma advogada com bastante prestígio que colocava criminosos atrás das grades.

Com o tempo, a tranquilidade retornou. E foi quando menos esperava, que ele entrou em sua casa. Mesmo com a polícia por perto. Mesmo em um prédio com porteiro.

Não viu seu rosto, pois ele usava uma máscara de esqui. E a aprisionou em sua cama após drogá-la dentro de seu próprio apartamento.

As memórias eram flashes de um filme de terror. O medo a assolava de maneira constante, e nos pesadelos ouvia a voz dele lhe dizendo: É assim que você gosta?

Na manhã seguinte, ao despertar, estava nua e sozinha em seu apartamento. Ligou para Toka e ela foi imediatamente buscá-la, Madara em seu encalço com medo de deixar a esposa sozinha após ouvir seu relato.

Mito lembrava-se daquelas horas como se fossem um filme que acontecia com outra pessoa e não consigo. Era como viver em outra realidade.

No exame de corpo e delito, realizado pela própria Toka, descobriu-se de banho tomado, mas não se lembrava de tê-lo feito. Nos exames toxicológicos, uma grande quantidade de Rohypnol foi encontrada em seu corpo. A droga, também conhecida popularmente como Boa noite, Cinderela, tinha o efeito de causar lacunas na memória além de apagar a pessoa por longos períodos.

Havia marcas de cordas no pulso de Mito, e de apertos firmes em seu pescoço. Mas o estuprador aparentemente havia usado luvas. E depois lhe dera banho.

Mito não se lembrava disso, e sua psicóloga – pois se recusara terminantemente a ser atendida por um homem – lhe dissera que o bloqueio das memórias era perfeitamente normal. Não apenas pela droga, mas também pelo trauma. E Mito achava que era melhor assim.

Mas também sabia que não podia viver presa para sempre. Tudo o que era vivo em sua mente, eram os olhos escuros, de um castanho perfeitamente normal. E a voz rouca, arranhada e gentil. Como se ele quisesse agradar. Como se achasse que agradava. Aquilo lhe dava asco, mas principalmente pavor.

Sentiu o aperto de Toka em seu ombro, provavelmente porque estava distante enquanto toda a memória daquilo retornava.

− Quer que eu entre com você? – Toka perguntou.

Mito anuiu, apertando firmemente os punhos.

− Tudo bem.

As duas entraram juntas na sala, após bater. Madara ergueu os olhos dos documentos que estudava, enquanto Hashirama assinava alguns papéis. Ambos pararam o que estavam fazendo para erguer os olhos para Mito e Toka. Havia uma expressão de indagação por parte de Hashirama, mas bastou uma troca de olhares entre ele e Madara para que compreendesse que aquela não era uma situação qualquer.

− Hashi, esta é minha amiga Uzumaki Mito de quem lhe falei. Está lembrado? – perguntou Toka. – Este é meu primo, Senju Hashirama, Mito. E aquele é o cretino do meu marido. Ele você já conhece.

Madara encolheu os ombros, tentando fingir indiferença como sempre fazia quando queria irritar Toka.

− Ainda não sei como me casei com alguém tão insuportável quanto você, my love.— Madara abriu um sorrisinho afetado.

Por alguma razão, a conversa entre Madara e Toka pareceu aliviar um pouco a tensão nos ombros de Mito, que chegou a dar um sorriso fraco.

− Senhorita Uzumaki, não é? – Hashirama dirigiu-se a ela com um sorriso dócil. – Sente-se, por favor. Estava analisando seu currículo. Você possui formação em Harvard, estou certo?

Mito anuiu, sem dizer uma única palavra.

Toka olhava para Madara, como se pedisse socorro.

− Também vi que tem um projeto muito interessante, senhorita Mito. – Madara interrompeu. – Por que não me conta um pouco sobre ele?

Mito respirou fundo por um momento, como se tentasse recobrar a segurança de suas próprias palavras.

− Muitos... Muitas pessoas perderam com o atentado terrorista causado pela Akatsuki. E até mesmo tivemos pessoas que foram acusadas de maneira injusta. – Engoliu em seco. Era como se a boca toda fosse um deserto. – Não posso entrar em detalhes do caso ou de nomes, mas eu defendo um cliente que foi acusado dessa maneira. E existem muitos outros na mesma condição. O meu intuito é retirá-los da cadeia, um a um, e trazê-los para cá para que possam ser reabilitados como voluntários. Pois, acreditem, não existe nada pior do que ser acusado injustamente.

Exceto que tinha. Mas Mito precisava se concentrar nas coisas que podia controlar.

− Hmm... parece interessante. – Hashirama coçou o queixo. – Temos muitos voluntários aqui, mas um projeto desses, que reintegra aqueles que foram presos injustamente é perfeito. Muito bem. Quando você pode começar?

Mito arregalou os olhos. Então era isso? Nada de perguntas pessoais ou coisas do gênero? Por que aquele homem estava sendo tão gentil?

Pare, Mito. Não pense dessa maneira. Ele não é a mesma pessoa. Não é.

− A-agora mesmo, se me permitir. – disse ela, de maneira enfática.

− Ótimo! – Hashirama ergueu-se, dando a volta na própria mesa e estendendo uma das mãos para apertar a de Mito. Ela sentiu-se incomodada, olhando para Toka, que anuiu. Apertando então a mão dele. Sentindo como se um choque percorresse todo seu corpo antes de se afastar.

− Os documentos estão aqui. – Madara adiantou-se, passando a pasta para Mito, sem tentar tocar-lhe. Pois ainda se lembrava daquela manhã, seis meses antes, e do olhar apavorado que ela lhe lançara quando havia jogado o próprio sobretudo sobre o corpo dela a caminho do hospital. – Na maior parte, você terá apenas que revisar contratos e lidar com algumas pequenas causas que trazem para nós. Por vezes, o altruísta do meu melhor amigo aqui quer ajudar aqueles que não podem. Motivo pelo qual quis abraçar seu projeto assim, de cara. Vocês vão se dar bem.

− Espero que sim. – Mito forçou um sorriso que mal chegava a seus lábios, segurando a pasta contra o peito. – Onde posso ficar?

− Existe uma sala anexa ao lado. Vou te mostrar. – Hashirama propôs. Mito sentiu o estômago fisgar naquele momento.

− Claro... – Tentou parecer o mais calma possível, pois não poderia ficar assim para sempre. Hashirama passou por ela e por Toka, sendo seguido por Mito assim que deixou a sala.

Madara, que acompanhou tudo com um olhar analítico, apenas suspirou pesadamente olhando para a esposa.

− Acha que ela consegue lidar com isso, Toka? – perguntou de maneira enfática.

− Ela tem que conseguir, Madara. – murmurou em resposta, sentindo os braços dele se fecharem ao redor de sua cintura quando ergueu-se para cumprimentar a esposa. – Ela precisa voltar a viver.

Madara concordou. Mas não conseguia imaginar os terrores que assombravam Mito todas as noites desde o incidente de um estuprador que nunca havia sido pego.

X

Kiba havia escutado tudo. Ele não queria, e fora antiético de sua parte. Mas a verdade é que queria saber mais sobre Shino e entender sua condição. Sabia que deveria ter esperado ele querer se abrir, e o fato é que não havia ouvido a conversa toda, mas mesmo assim... ouvir que ele não voltaria a enxergar, talvez nunca, havia sido um baque profundo para Inuzuka. Como ele deveria se sentir a respeito disso, incapaz de seguir em frente com uma vida amargurada que o havia forçado a reaprender tudo com o qual estava acostumado?

Estava sentado do lado de fora, tendo tomado cuidado de não ser visto por ninguém no processo. Pois não queria ser acusado de crime algum. Ouviu o clique da porta e colocou-se de pé de súbito.

− E então, como foi? – Tentou disfarçar com a pergunta.

− A mesma baboseira de sempre. – disse ele, entregando-lhe o papel. – Preciso passar na farmácia e pegar isso. Pode me acompanhar? Não posso sair daqui sozinho.

Kiba sabia que tinha suas limitações quanto a horário, mas se Shino fazia parte do seu voluntariado, isso estaria incluso? Ele achava que não.

− Claro. – respondeu, segurando-lhe o braço. – Tem um telefone aqui também. De um tal professor Hatake.

− Não quero saber disso. Apenas do colírio. – Shino foi incisivo.

− Tudo bem. – Kiba decidiu não insistir. Mas havia salvo o contato do professor Hatake. Pois queria poder ajudar Shino. Sobretudo depois de saber que talvez ele tivesse que conviver com aquela condição para sempre. – Vamos.

Os dois caminharam de braços dados para fora do centro. Kiba decidido a se transformar em um ponto de luz para alguém que havia decidido abraçar a escuridão.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAAAAA RAFA, ME PERDOA E NÃO DESISTE DE MIM AAAAAAAAA
A Mitinha é sofredora nessa fic, gente, mas quem não é? Aqui todo mundo tem passe livre pra sofrência e ingresso grátis no show da Marília Mendonça.
Real.
Não vai ter descrição detalhada da cena de estupro, mas eu decidi colocar os avisos mesmo assim, porque né, nunca é demais avisar os desavisados.
Inclusive, o plot da Mito é baseado em um episódio de SVU que acaba se tornando meio que uma saga, quem assiste a série fielmente deve ter sacado logo de cara, pois a frase do estuprador é muito clássica: ‘Is that how you like?’. Então, se alguém achar parecido, não é mera coincidência. Lembrando que aqui o foco não é o estupro, mas a superação do trauma que virá lentamente. Enfim. Não desistam de mim nessa trama!
Sobre Shino e Kiba, as coisas parecem que estão começando a andar também. E essa desesperança de Shino?
O que será que é esse professor Hatake?
Tivemos também Gaara todo bobinho com o telefone do Lee e nosso brotp favorito que é GaaIno!
Além de, claro, Madara cretino com Toka cretina!
Espero continuar vendo vocês por aqui! Não desistam de mim!



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