A luz do teu olhar escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 7
Viver é fácil de olhos fechados


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo mais leve hoje! Boa leitura!



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Naquele dia, a dor estava quase beirando ao insuportável.

Em geral, as sessões de fisioterapia de Naruto aconteciam às quartas e sextas-feiras, mas naquela terça-feira ele havia aparecido no centro de reabilitação por não suportar a dor. Fato que disfarçara bem na presença do amigo Kiba porque Hinata tinha trabalho a fazer.

Então, ele havia decidido procurar alguém que poderia lhe dar um alívio temporário enquanto ela permanecia ocupada.

− Me diz até a onde a dor se estende, Naruto. – Ino pediu, estendendo o coto do braço direito de Uzumaki.

− Ite-te-te-te, ‘te bayo! – Trincou os dentes, sentindo o choque espalhar-se até a região do ombro. Ino suspirou pesadamente, tendo abandonado a recepção, pedindo para que alguém lhe substituísse.

− A dor está aumentando, não é? – Ino moveu os dedos de maneira gentil, massageando o coto, e subindo lentamente. Naruto ajeitou a postura, deixando que ela fizesse seu trabalho.

Estavam então na sala de Ino, ao lado do consultório de Sakura, que consistia em um pequeno cubículo com uma maca e uma escrivaninha simples. Decorado com flores e que tinha um aroma tranquilizante no ar.

− Achei que era por conta da prótese. – Naruto murmurou. – A doutora Toka considerou isso e a retiramos, porque vinha causando dores horríveis. Mas...

− A verdade é que retirá-la não melhorou as coisas. – Ino deduziu, os dedos agora trabalhando em seus ombros. Naruto sentiu-se relaxar um pouco. – Você está tenso. Aconteceu alguma coisa?

Ele entreabriu os olhos azulados, encarando ponto nenhum específico na parede. Ele e Ino eram colegas de longa data, embora nunca pudesse ter dito que eram de fato grandes amigos. Mas desde que ela vinha lhe ajudando com esse problema, tornaram-se amigos. E ela tinha ótimas dicas de condicionadores para cabelos loiros que Naruto sempre acatava.

Conhecia-a por causa de Sakura, amiga com quem dividira o apartamento assim que havia saído da casa dos pais durante algum tempo, enquanto ela ainda cursava medicina e ele tinha começado a carreira como bombeiro. Todo mundo achava que os dois terminariam juntos, como dois namoradinhos, mas a verdade é que Sakura para ele era como uma irmã. E não conseguia vê-la de outra forma, embora, em seus anos juvenis, uma paixonite pela amiga quase tivesse estragado tudo.

E Ino sempre estava lá, no apartamento dos dois, ralhando com Sakura por suas péssimas escolhas amorosas. Bem, a convivência fez com que criassem uma espécie de afeto por osmose, pois sempre que Sakura estava na residência e Naruto em casa, os dois acabavam vendo algum filme juntos; tinham um gosto muito semelhante para o que Sakura chamava de filmes de péssima qualidade.

− Eu o vi hoje aqui no centro. – Naruto murmurou baixo. – Konohomaru.

− Ah. – Ino abaixou o olhar, ainda trabalhando na massagem. – E como foi?

Naruto engoliu em seco.

− Ele não me viu.

Ino suspirou baixinho, debruçando-se sobre os ombros do loiro para encará-lo.

− Sei que já te disse isso, Hinata também. E mais meia dúzia de pessoas. Mas sabe que a culpa não foi sua, não é? Fez o possível. Salvou a vida dele, Naruto.

− Mas falhei com seus pais. – balbuciou de maneira quase inaudível. Ino apenas revirou os olhos, afastando-se dele e indo até um pequeno armário, onde uma centena de pomadas estava disposta. Pegou um dos frascos, entregando-o a Naruto.

− Eu e Hinata estamos trabalhando em algumas pomadas juntas. – disse ela. – Procure-a. Sei que pode sugerir acupuntura, que também é algo no qual se especializou.

− Ela estava ocupada mais cedo com o Kiba. – Naruto coçou de leve uma das bochechas, um leve tom rubro tingindo seu rosto. Ino acertou-lhe um pescotapa, sem dó. – Itte! Por que fez isso, Ino?!

− Mas você é um tapado mesmo, Naruto-baka! Quando vai criar vergonha nessa sua cara ordinária e chamá-la pra sair?! – Inflou uma das bochechas, fingindo uma raiva que não sentia.

− Y-yare! O que ela poderia querer com um cara como eu? – perguntou, um tantinho sem jeito.

Ino revirou os olhos, empurrando-o pelos ombros.

− Suma daqui! – exclamou. – E não volte até que tenha criado coragem nessa cara pra chamá-la ao menos para um cinema!

Um cinema, Naruto pensou enquanto era enxotado da sala de Ino. Talvez não fosse tão má ideia depois de tudo o que Hinata sempre fizera por si.

X

Sentir a brisa fresca sobre o rosto no final da tarde era uma delícia. Não que Shino não saísse em momento algum – afinal, vinha de casa para o centro e vice-versa –, mas sempre que estava ali, enclausurava-se na biblioteca, saindo apenas para as atividades que lhe eram obrigatórias. E nos demais dias, quando não vinha, permanecia dentro da própria casa, remoendo-se por tudo o que havia perdido e não podia recuperar.

Segurando no braço de Kiba enquanto sua bengala tocava no chão, ouvia-o tagarelar sem parar sobre os mais diversos tipos de coisa. Assuntos comuns, irrelevantes, que davam voltas e voltas sem chegar a lugar algum.

A verdade é que, embora o achasse um tantinho irritante, era bom ter alguém que simplesmente ignorava suas grosserias ou que batia de frente consigo sem se importar com nada. Fazia-o esquecer-se um pouco de sua condição, embora a escuridão estivesse sempre ali para deixa-lo ciente de que aquilo jamais o abandonaria.

Agora, por exemplo, ele falava da coloração dos flamingos, aves um tantinho exuberantes às quais Shino nunca dera a devida atenção quando era capaz de ver cores.

− ... então sua coloração vem dos carotenoides, que são pigmentos lipossolúveis responsáveis pelas cores laranja, amarela e vermelha em bactérias, algas, fungos e vegetais. – concluiu.

− Você sempre fala tanto assim? – Shino questionou, embora não em tom de troça como quando haviam começado o dia. Kiba sorriu internamente desta pequena vitória, enquanto caminhavam abaixo das frondosas cerejeiras na direção da entrada do centro. Cumprimentou algumas das pessoas que por ali passavam, indo na direção da rua, sem realmente prestar atenção aos transeuntes.

− Sempre. – Deu uma gargalhada gostosa. Shino perguntou-se como era possível alguém parecer sempre tão feliz, mas talvez fosse apenas uma primeira impressão equivocada. – Acho que é coisa demais na minha cabeça. Gosto de compartilhar.

− Então parece que vou ter muito tempo para aprender coisas inúteis com você. – Shino deu-se por vencido. Talvez por saber que não adiantaria em nada tentar irritar aquele garoto. Pois ele parecia imune às suas investidas. E talvez sua companhia não fosse ser de todo ruim.

− Hai! – Kiba respondeu com alegria genuína enquanto apreciava aquela caminhada ao ar livre. Pois estivera tanto tempo preso que qualquer coisa parecia boa demais para ser ignorada.

X

 Pain o observou afastando-se na companhia do que parecia ser um homem cego, os olhos estreitos acompanhando cada movimento de Kiba. Certamente era ele. O garoto a quem havia colocado atrás das grades, com uma acusação anônima de vê-lo plantar uma das bombas.

Na época, as fotos mostrando-o no local, a expressão de quem parecia desesperado, além de outras provas que apontavam para si, ainda que de maneira substancial, haviam sido o suficiente para colocá-lo atrás das grades, já que nenhum dos terroristas havia sido pego. O único que havia sido cercado era Deidara, e ele havia se matado com o intuito de impedir que isso acontecesse. Pois eles viviam pela causa e a causa deveria ser protegida até o fim.

Só que Deidara era um tantinho... explosivo demais para demonstrar aquilo.

Pain, em nenhum momento, deixava que seu sacrifício tivesse sido em vão.

Mas as acusações contra Kiba haviam sido colocadas em evidência desde que a atual advogada, Uzumaki Mito, assumira o caso. Ela era tia de um bombeiro que havia salvado inúmeras pessoas naquele atentado, e abraçara a causa por conta de todas as vítimas que haviam perdido algo. Segundo as informações que angariara, ela também estava começando a trabalhar ali. O que lhe era muito fortuito, pois parecia que tudo se ligava a esse centro de reabilitação.

Ela era uma grande advogada, com muito prestígio e uma garra que não se via em muitos advogados hoje em dia. Embora, durante os últimos meses, estivesse desaparecida da mídia. Mas não fora conveniente a Pain pesquisar nada a respeito até aquele momento. Talvez colocasse Konan nisso mais tarde.

Estava prestes a seguir Kiba para fora do centro, pronto para acompanhar seus passos e arrumar uma maneira de quebrar sua condicional, quando alguém esbarrou em si, fazendo com que Kiba se perdesse em meio à multidão.

− Opa, desculpe. – O sorriso fácil no rosto do homem que falara consigo ganhou a atenção de Pain, embora este não tivesse lhe sorrido de volta. Tinha os cabelos tingidos em um tom prateado, provavelmente com aqueles sprays baratos, pois era possível ver-lhe as raízes castanhas. – Nunca te vi por aqui, é novo no centro?

Pain, que não esperava chamar atenção, apenas anuiu com a cabeça. Ele estendeu a mão para cumprimenta-lo. Pain aceitou sua mão, apertando-a. Sentindo nos dedos calejados um aperto firme e seguro de si.

− Desculpe novamente, eu estava distraído. Será que posso te pagar um café e fazer um tour pelo centro como forma de recompensá-lo? Assim pode conhecer um pouco mais daqui. – Encolheu os ombros. Vestido em um terno azul com uma gravata preta bem alinhada apesar do calor que fazia ali. Os olhos, de um intenso azul, incidiam como duas safiras em seu rosto. Pain, que já havia perdido o motivo de sua visita ali, decidiu que talvez conhecer o local não fosse de todo ruim. Afinal, conhecer o território antes de seu ataque era sempre uma boa pedida.

− Claro. – concordou. – Me desculpe também. Estava igualmente distraído. – Passou uma das mãos pela nuca, ensaiando um sorriso que nunca lhe pertencera. Mas a Yahiko.

− Por aqui. – Fez um sinal para que o homem lhe acompanhasse. – Adorei os piercings, a propósito. Algum motivo especial para ter tantos?

− Para me lembrar. – respondeu simplesmente, ao que o outro riu.

− Você é engraçado. – disse ele, tirando o paletó e o carregando dobrado sobre um dos braços. – Acho que vamos nos dar bem.

Pain tinha essa mesma impressão.

X

Naruto refletiu sobre o que Ino havia lhe dito quando decidiu procurar Hinata a pedido de uma sessão extra. Ou ao menos uma consulta que o ajudasse um pouco. Ainda tinha a pomada em mãos, pensativo sobre isso. Pensativo sobre muitas coisas, como a culpa que o sufocava todas as vezes em que olhava para Konohomaru.

Pois queria ter salvo seus pais. Queria que um garoto tão jovem não tivesse perdido a família. Mas quantas outras pessoas também haviam tido a mesma tristeza que ele?

Durante aqueles dois anos e meio, onde Kiba ficara preso, sempre que Naruto o visitava, conseguia enxergar a tristeza em seu olhar por nunca ter sido capaz de esquecer-se da morte da irmã. E como se não bastasse isso, Naruto era uma das únicas pessoas a saber que Kiba havia visto em primeira mão como ela fora assassinada. Embora não dissesse a ninguém a respeito de quem a havia matado. Apenas divulgara ter sido uma morte no incidente. Nem mesmo para ele Kiba havia se aberto para detalhes.

E aquela fora a única vez em que havia enxergado pavor nos olhos do amigo.

Tudo o que ele sempre lhe perguntava era a respeito da mãe, Tsume, que embora o visitasse com certa frequência, sempre parecia carregar aquele olhar vazio de quem vivia presa a uma realidade que não mais existia.

Naruto costumava sempre visitar a tia de consideração, embora agora com menos frequência do que antes. E culpava-se por isso também.

− D-desculpe a demora, Naruto-kun. – Hinata aproximou-se dele, fazendo um sinal para que lhe acompanhasse até sua sala. Hinata pouco a usava, pois em geral seus pacientes ficavam na ala de exercícios, mas sabia que alguns deles, como Naruto, sentiam-se desconfortáveis com algumas coisas mais particulares. Então o levou para lá, encostando a porta quando entraram. – Se tivesse me dito que queria falar comigo, teria pedido à Hanabi que acompanhasse Kiba-kun.

Naruto negou com a cabeça.

− Kiba precisava de alguém como você por perto. – disse com um sorriso no rosto. – Ele é meu amigo também, lembra? E eu podia esperar. Estive com Ino antes disso.

Hinata concordou, tentando esconder um pouquinho da decepção que sentia. Afinal, Ino era cativante e bela. Não poderia culpá-lo por procurar sua companhia.

− Ela me deu essa pomada. – Naruto estendeu para Hinata, que reconheceu-a de imediato. – Disse que vocês duas estavam trabalhando nisso.

− Sim! – Foi como se os olhos perolados se iluminassem e ela se esquecesse da própria timidez. – Extrato de camomila. Tem efeito de relaxante muscular. As suas dores estão muito intensas, Naruto-kun?

Hinata ergueu os olhos para observá-lo concordar com a cabeça, e suspirou baixinho. Pois sabia o quanto Naruto sofria com tudo. Não apenas com a dor fantasma de seu membro perdido que nunca o abandonava, apenas amainava, mas com o coração ferido que não era capaz de perdoar a si mesmo por acreditar ter falhado com Konohomaru.

− Eu já te disse que nada disso foi sua culpa, Naruto-kun, e que deveria frequentar as reuniões. – Hinata tocou no assunto.

− Ele está lá. – Naruto encolheu os ombros. – Não posso ser um lembrete constante da falha que fui com seus pais, Hinata-chan.

− É por isso que parou de frequentar a minha casa também? – perguntou baixinho. O sorriso nos lábios de Naruto nunca chegou aos olhos azuis como o céu. – Konohomaru-kun não é mais nenhuma criança, Naruto-kun, e terá que aprender a lidar com a própria dor. Coisa que está fazendo ao frequentar as reuniões do centro e que você deveria fazer também. Vai se privar de algo que pode lhe fazer bem achando que está fazendo bem a ele? Não acha que Konohomaru-kun também tem que aprender a encarar seus fantasmas? Sabe, talvez isso fosse até bom para ele. O ajudasse ao invés de, como você conclui, signifique lembrar-se de coisas que não pôde alcançar.

Naruto não sabia o que dizer a respeito disso. Ou de muitas coisas.

− Apenas pense com carinho. – Hinata concluiu, ao pegar a pomada. – Ino-chan sugeriu algo mais?

− Que talvez fizéssemos algumas sessões de acupuntura. – disse ele, mas na verdade pensava em seu outro conselho. Sobre o cinema.

− Bom. Podemos fazer isso hoje se quiser. Tenho um horário livre. – Hinata esboçou um sorriso tímido.

− Claro. Obrigado. – Naruto coçou de leve a cabeça, enquanto Hinata pegava o material necessário para isso. Pedindo para que ele se deitasse na maca. Naruto assim o fez, após tirar a camisa, pois seria necessário para que ela atingisse alguns pontos.

Hinata fingiu não corar com a visão daquele abdômen tão malhado. Pois mesmo após o acidente e com todas as dificuldades, Naruto não havia largado as atividades físicas. Aliás, no centro achara Rock Lee, o filho de Gai e Kakashi, aficionado por exercícios físicos, e que sempre o ajudava a manter-se em forma.

− Vou começar, tudo bem? – Naruto concordou com a cabeça, enquanto Hinata posicionava as agulhas e ele tentava não reclamar muito.

− Hinata-chan, você vai fazer algo hoje à noite? – perguntou.

− Tinha planos apenas de colocar a leitura em dia. – Deu um risinho. – Por quê?

− Estava pensando se podíamos ir ao cinema. Eu e você. – Hinata, que não esperava essa pergunta, o espetou com um pouco mais de força que o necessário. Arrancando um grito agudo de Naruto. E deixando-o com a certeza de que chamar uma mulher para sair enquanto ela portava agulhas era uma péssima ideia!

X

Comprar o colírio na farmácia foi fácil. O difícil foi sair na companhia de Kiba, pois cada pessoa com quem ele falava em algum momento, parecia ser um novo amigo. Shino teria se irritado facilmente em outra ocasião, mas a verdade é que ouvi-lo falar... não era a pior das coisas. Pois mesmo naquelas curiosidades inúteis, Kiba sabia como prender a atenção de seu ouvinte. E talvez por isso sua companhia fosse um pouco mais fácil de suportar que das outras pessoas.

Pararam diante do centro de reabilitação Mokuton, Shino apoiado na própria bengala enquanto Kiba olhava para a entrada. O sol começava a se esconder por trás do horizonte.

− Acho o pôr-do-sol uma das coisas mais tristes que existe, sabia? – Kiba comentou, enquanto se sentava com Shino em um dos banquinhos de pedra abaixo das cerejeiras no interior do centro. Shino arqueou uma das sobrancelhas. Como alguém poderia achar o pôr-do-sol triste?

− Por quê? – perguntou, curioso. Ele realmente havia conseguido ganhar sua atenção.

− Porque é quando a luz e o calor se escondem. Vão embora para nos deixar com o frio da noite, a escuridão... – Kiba foi parando de falar, dando-se conta do que havia feito. – Sinto muito. Não foi minha intenção.

Shino apertou as mãos contra a bengala, apoiando o peso parcialmente nela.

− Não se culpe. – disse simplesmente. – Eu nunca dei a devida importância para essas coisas, sabe? A cor dos flamingos, o pôr-do-sol, as expressões das pessoas. Nunca fui muito conectado a essas coisas. E é da simplicidade que sinto mais falta. E das leituras que costumava fazer.

Kiba olhou para frente, para onde o sol se punha, determinado.

− O céu está tocado por tons de laranja. – começou ele. – É como se ele todo fosse uma grande tela azul, e seu pintor tivesse derramado o laranja e o amarelo sobre a tela, espalhando essas tintas sem uma ordem certa.

“Enquanto a tinta esfria, o roxo se forma, escurecendo do centro da tela até as suas pontas, enquanto aquela esfera brilhante, quente e intensa vai desaparecendo no horizonte, como se seu espetáculo do dia tivesse chegado ao fim. Ao mesmo tempo em que a escuridão toma o seu lugar nessa peça, trazendo consigo o fraco brilho de uma lua minguante, pendurada como o sorriso de um gato Cheshire no céu, ponteada por estrelas que acompanham seu espetáculo como se fossem meras telespectadoras da cena.”

Envolvido pelas palavras de Kiba, Shino pegou-se imaginando a cena, o rosto erguido naquela direção enquanto os últimos raios de sol o tocavam, incidindo os tons alaranjados que deixavam o castanho de seus cabelos em um tom avermelhado. Mas esse detalhe, Kiba guardou para si, imaginando como Shino ficaria em um quadro se ele de fato soubesse pintar.

− Me conte mais sobre o mundo. – Shino pediu. – Como ele é através dos seus olhos. Deixe-me conhecer mais sobre ele. Me mostre como é... enxergar outra vez.

Kiba arregalou os olhos diante daquele pedido, esboçando um pequeno sorriso.

− Você pode ver o mundo por si mesmo, Shino, se aceitar com que os outros te ajudem. Isso não te diminuirá, sabe? Mas pode começar pelas coisas simples. Sei que reaprender tudo não deve ser fácil. Mas por que não começamos vendo esse nome que a sua médica indicou? Não estou pedindo que faça o que quer que ele te peça. Apenas tente. Você pode se surpreender. – Kiba encolheu um pouco os ombros. – A escuridão é muito difícil, mas isso não significa que você precise caminhar sozinho.

Shino engoliu em seco. Pois por tanto tempo caminhara sozinho...

− Não sei como fazer isso. – confessou por fim. – Não sei como não afastar as pessoas.

Kiba sorriu largo.

− Eu estou aqui agora, não estou? – Kiba tocou seu ombro. – Não vou a lugar algum.

Shino suspirou pesado, sentindo-se no limiar de algo, envolvido por aquela escuridão que sempre o cercava. Por um lado, estava na segurança daquilo que já conhecia, vivendo recluso e amargurado, porém sabendo que era aquilo. Que nada o magoaria mais do que já havia magoado. Por outro lado, estava um pouco cansado daquela tetricidade. E agora aquele garoto vinha lhe oferecer algo completamente diferente... mas não sabia até que ponto isso era apenas empolgação da parte dele que se desvaneceria com o tempo.

Mas não saberia, não é? O ponto era esse.

Ergueu-se, apoiado na bengala e de costas para Kiba, que já se sentia conformado com o fato de Shino desistir.

− Ligue para o número e marque um horário. Nos vemos amanhã, Kiba. – Limitou-se a dizer, enquanto caminhava na direção da entrada, até um homem que parecia aguardá-lo e no qual Kiba não havia reparado até o momento. Homem este que o abordou, caminhando ao seu lado até um carro onde instalou Shino.

− Nos vemos... amanhã. – Kiba murmurou para si mesmo, contente com aquela vitória. Pois viver era fácil de olhos fechados, mas estava na hora de acordar.


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Notas finais do capítulo

Acho que esse foi o capítulo mais nhonho que escrevi até agora. Depois de todo aquele clima tenso com Mito, decidi aliviar um pouquinho a barra nesse capítulo, trazendo um pouco mais da fofura dos nossos protagonistas e um outro casal se formando que é NaruHina!

Como será que vai ser esse encontro no cinema?

Ino, rainha dos brotps. Mas a vez dela também vai chegar!

E esse Kiba que em um dia já conseguiu conquistar a boa vontade do Shino?

Eu acho ele muito pudim, gente!

O que me deixa mais awwwwwn da vida é que Kiba é desse jeito mesmo. Ele não desiste e vai indo pelas beiradas até alcançar o próprio objetivo!

Aiai, esses dois me preenchem com ternura.

E quanto ao Pain? Será que ele vai alcançar nosso bb? Hohoho

Não acredito que precisei de seis capítulos pra terminar um dia no centro! Socorro!

Nos vemos no próximo capítulo! Me digam o que acharam!



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