02:01, Portão Sul, Lavender Town

— Mas dessa vez... — A pokébola de Gold foi jogada para cima e se abriu no ar, liberando o Pokémon que a mesma guardava. — Dessa vez você vai pagar!

Um pássaro foi liberado da esfera, que enquanto se formava chegava a relembrar os famosos pássaros lendários de Kanto, mas rapidamente se mostrou muito maior que um deles, quase o dobro de largura. E quando suas cores se revelaram, foi impossível não reconhecer o Lendário que havia sido colocado na frente deles.

As chamativas cores douradas, amarelas, vermelhas e verdes que decoravam aquele Pokémon eram famosas pelo mundo todo. Ho-oh emitia poder apenas com o bater de asas, que parecia iluminar todo aquele quarteirão.

Nicolas e Kiran, como todos os Rockets inimigos apenas olhavam atônitos a imagem do que era reverenciado por muitos como deus do sol e do ouro. Era realmente um deus na frente deles, com todo seu poder a mostra.

Natalie não parecia afetada pela visão, ao menos exteriormente. Sabia quais as escalas de poder de um lendário, e como era conhecimento geral, Ho-oh era uma divindade. Diferente de Zapos, Articuno e Moltres que eram apenas naturalmente mais poderosos que os Pokémons comuns, Ho-oh estava em um nível completamente diferente.

E ao bater suas asas, a visão de um lindo arco-íris surgiu sobre ele, mesmo durante a noite, demonstrando os poderes místicos que ele possuía. Com um feroz rugido ele pousou sobre suas patas e fechou as asas, esperando o movimento inimigo.

— Vamos. Para cima! — Natalie comandou seu Pokémon e este voou para cima imediatamente a uma alta velocidade.

— Atrás dele. — Ho-oh ouviu o comando e subiu também. Era mais rápido que Zapdos e na subida vertical de ambos, estava o alcançando rapidamente. Nuvens começavam a se formar acima do local onde os treinadores estavam, observando de longe o combate que estava prestes a se iniciar. — Flamethrower!

Ho-oh abriu a boca, poucos metros atrás de seu oponente e um espiral de chamas saiu dela, para cima, tendo Zapdos como alvo. Este apenas dobrou sua trajetória, passando de vertical para horizontal para desviar, agora ambos estavam na altura das nuvens de raios que se formavam.

— Thunder! — Natalie gritou e seu Pokémon parou bruscamente no ar. Energia elétrica envolveu seu corpo e um enorme raio partiu dele na direção de Ho-oh.

— Sacred Fire. Siga em frente. — Ao comando de Gold, o pássaro se envolveu em chamas vermelhas, que quando cobriram seu corpo se tornaram azuis. O Pokémon avançou contra o raio de Zapdos e uma pequena explosão aconteceu, mas em apenas um segundo Ho-oh saia da fumaça com seu corpo ainda envolto nas chamas.

— Droga, desvie! — O comando de Natalie foi rápido, mas seu Pokémon não o suficiente. Foi atingido pelo Sacred Fire de Ho-oh, fazendo o gritar de dor enquanto era arrastado no ar pelo enorme pássaro. — Chame os raios da tempestade, agora!

Zapdos deu outro grito, ainda arrastado pelo inimigo. Dessa vez, mais agudo, parecia um chamado. Os raios que estavam correndo pelas nuvens de tempestade pararam por um segundo.

Natalie deu um pequeno sorriso vitorioso, mas nesse instante Ho-oh parou. Parecia um movimento totalmente errado nas condições normais, mesmo que isso só o faria ser um alvo mais fácil. Pequenas correntes elétricas nas nuvens mostravam que grandes quantias de eletricidade estavam ali armazenadas. Com um rugido muito semelhante ao de Zapdos, uma rajada de vento partiu de seu corpo em um raio circular. Não era um vento normal, já que ao minimo contato com as nuvens de Zapdos, elas simplesmente desapareceram, enquanto algumas, as que estavam ali antes da luta, permaneceram intactas.

— O que foi... — Natalie havia substituído o sorriso por um olhar confuso. Gold quem sorria agora, de uma forma quase debochada.

— Você acha que Ho-oh é um lendário no mesmo nível dos outros? Como irmão de Lugia, que é mestre do trio de pássaros, é óbvio que ele têm um certo domínio sobre as habilidades deles.

— Mas isso não deveria...

— Cuidado. A batalha não acabou. — Mal Gold acabou de falar e Ho-oh voltou a se envolver nas chamas de um Sacred Fire. Zapdos nem esperou o comando de sua treinadora, deu as costas e bateu as asas com força, disparando em alta velocidade para cima, que Ho-oh não perdeu tempo em seguir.

No ar a perseguição se intensificava. Zapdos mantinha seu corpo em um formato aerodinâmico, atingido uma velocidade muito maior que a anterior, que era suficiente para o manter afastado de Ho-oh, talvez estivesse até mais rápido que ele.

Vendo que não o alcançaria, as chamas ao redor do pássaro se desfizeram e ele parou no meio do voo, virando de costas para o inimigo, Ho-oh começou a descer com velocidade máxima.

— Nunca vire as costas para seu oponente! Zapdos não o deixe fugir! Drill Peck! — Zapdos fez uma manobra no ar, girando seu corpo e mudando de direção para não perder a velocidade, e com a direção mudada e sem a resistência do ar ele estava ainda mais rápido que antes. Em segundos ele cortou a distância de metros a quase nada que o separava de Ho-oh, mas Gold parecia estar esperando por isso.

— Agora! — Com um grito e um gesto de mão para o lado, Ho-oh girou seu corpo para o lado numa ágil manobra para sair da trajetória de Zapdos, sem parar a sua. O Pokémon passou por ele como um raio, incapaz de interromper sua queda. Agora ele apenas descia incontrolavelmente em direção ao chão. Ho-oh então rugiu e abriu sua boca, jogando uma bola de fogo para frente. Esta se expandiu para cinco direções, criando algo parecido com um "boneco", que avançou contra Zapdos, incapaz de desviar graças a sua queda, foi atingido em cheio, empurrado até o chão pelo ataque que explodiu em chamas ao tocar o solo, liberando uma enorme onda de choque que fez todos levarem as mãos ao rosto para se proteger da fumaça.

Assim que a fumaça desapareceu, todos os Rockets olhavam boquiabertos a general e seu Pokémon. Zapdos estava caído ainda, chamas ao seu redor persistiam e ele não conseguia se levantar. Natalie o olhava, não parecia inconformada com sua derrota, já esperava que esse fosse o resultado, mas não tinha escolha a não ser lutar. Não adiantava liberar seus outros Pokémons por um minuto ou outro a mais de liberdade, nem valia a pena. Não restava outra escolha a não ser levantar seus braços e se entregar. Não fazia diferença a menos que...

— Gold! — Kiran disparou num momento em que todos estavam em silêncio, correu o mais rápido que pode e empurrou Gold que caiu para frente, e saltou para trás. Algo passou por eles e cravou-se no chão onde Gold estava. Uma adaga afiada, com uma lâmina escura.

— Droga... Vocês vão fazer tudo mais doloroso. — Uma voz partia de algum lugar, que Kiran nem Gold conseguiam identificar, até que ele se mostrou. Um homem de cabelo negro, curto e olhos vermelhos como sangue. Não parecia muito velho, cerca de vinte anos. A primeira vista parecia estar sozinho, misturado com a escuridão graças a sua roupa predominantemente preta. Da mesma rua que saiu, outros dois também o acompanharam. Uma mulher de longos e lisos cabelos roxos e olhos azuis, com trinta anos de aparência, usava uma roupa toda de couro e escura, com vários tons de cinza decorando a jaqueta, calça e bota. E um homem aparentemente bem mais velho que os dois, com mais de cinquenta anos no minimo. Seus cabelos brancos penteados para trás indicavam isso, tinha olhos azuis, que Kiran jurava os conhecer de algum lugar, mas ignorou este pensamento.

Estava claro para eles quem era aquele trio. As Sombras, como seu visual indicava. Os assassinos da Equipe Rocket haviam chegado. Os que haviam matado o pai de Kiran e os de Nicolas estavam ali na frente deles. Kiran cerrou um punho e pegou a pokébola de Soleil com a mão livre, estava prestes a libera-lá quando Nicolas segurou sua mão. Ele quase gritou com o colega, mas se segurou e respirou fundo.

— Nos não vamos perder. Ho-oh, Soleil e Zoroark podem...

— Preste atenção, pelo amor de Arceus. Eles estão ali, se revelaram ao invés de nos matar pelas costas como de costume fariam. Eles sabem que Ho-oh está praticamente intacto e no nosso lado, e mesmo assim eles se revelaram abertamente! Kiran, você é inteligente o suficiente para perceber o que isso significa.

Kiran parou por um momento e pensou no que Nicolas havia dito. De fato fazia sentido, e se eles estavam se revelando assim... era porque...

Mal terminou sua cadeia de pensamentos e a resposta surgiu em sua frente. Um enorme em forma de vórtice negro se abriu atrás do trio de assassinos, e dele uma figura sombria saiu, ao menos parte dela.

Um monstro cinzento e enorme, maior que as casas da cidade, mostrou seu rosto através do portal, uma serpente dracônica de olhos vermelhos e chifres dourados. A parte frontal de seu corpo serpentino continha listras vermelhas e pretas, alternadas, combinadas com três pares de espinhos dourados decorando seu corpo.

Até Gold parecia assustado com aquela visão, deu alguns passos para trás. Seu Ho-oh apenas olhava sério para o Pokémon que surgia.

— Giratina está sedento. Ele e Ho-oh estão quase no mesmo nível, mesmo que não pareça, então vamos fazer dessa uma luta divertida. — O mais jovem falou, dando alguns passos para frente. — Lucien e Carla, vão atrás de Seyhuong. Natalie, vá contatar Herald e diga que chegamos.

— Sim, senhor Nate. — O homem e a mulher, Lucien e Carla, responderam com uma continência e desapareceram nas sombras atrás deles, enquanto Kiran e Nicolas não podiam fazer nada além de olhar.

A monstruosidade rugiu alto, provavelmente poderia ser ouvido por quilômetros, provavelmente pela cidade inteira. Nicolas estava quase tremendo, era incomum de sua personalidade a incerteza tomar conta de si como estava fazendo daquele jeito. Mas era uma situação que nenhum ser humano normal poderia permanecer forte diante tal visão. Giratina era o verdadeiro "diabo" que existia naquele mundo. Sua crueldade era incomparável, como um demônio tinha que ser. Ele não lutaria como humanos, ele daria tudo de si desde o primeiro momento em que entrasse no combate, e certamente quem não estivesse preparado, estaria morto em segundos.

02:30, Portão Oeste, Lavender Town

Ataques eram lançados para cima, onde Articuno manobrava para desviar. Estava começando a direcionar seu voo para o centro da cidade, mas a presença de Matsuo montado em Moltres impedia seu avanço. Não podia lutar contra ele com ataques vindo de todas as direções, e ainda mais a desvantagem de tipo.

Os poderosos Hydro Pump de Suicune mantinham um ritmo constante, sincronizados com os Dark Pulse de Zoroark, criavam um cenário em que Seyhuong não conseguia pensar em nenhuma forma de se defender. Podia apenas atrasar sua derrota, mas seria inevitável nesse ritmo. Não pareciam haver esperanças para o jovem escapar naquele momento.

No solo, longe da atenção de Seyhuong, Cressida observava o combate, quando Rhys chegou até ela. Ficou surpresa de vê-lo ali, e imediatamente soube que algo não estava certo. Talvez tivesse algo a ver com o rugido que ouviram alguns minutos antes.

— Cressie, temos que sair daqui. — Rhys não fez introduções ou elaborou, apenas disse isso e a pegou pelo braço. Cressida resistiu e puxou seu braço de volta.

— O que está acontecendo?

— Têm dois assassinos a caminho daqui, nesse instante. Enquanto os outros dois garotos estão lutando com um deles, que usa um Giratina. Isso mesmo, o maldito deus do submundo.

Cressida franziu a sobrancelha, procurando a risada que esperava que Rhys desse por tê-la assustado. Mas ele parecia mais sério que nunca, e lentamente ela começou a acreditar em tudo que ele falou.

— Temos que avisar todos... — Mal ela terminou de falar e ouviu outro rugido como a anterior e realmente percebeu algo estranho com relação a ele. Não parecia um som deste mundo, um pouco distorcido.

Rhys não esperou muito e criou um Protect para segurar um Dark Pulse que veio em sua direção, por algum motivo parecia muito mais potente que um ataque comum, mas ele logo saberia porque.

De trás deles, entre os corpos de alguns membros da Resistência, duas pessoas vestindo roupas negras estavam olhando para eles. Crystal foi a primeira a olhar para eles e reconhecer os oponentes. Alexis estava no solo acompanhada de Lucario lembrou deles no assassinato de seu pai, por um minuto começou a caminhar na direção deles, mas Lucario colocou o braço em sua frente a impedindo de avançar.

Lilith foi a ultima a mudar sua atenção para eles, e não conseguia exatamente reconhecer os rostos, mas sabia de que grupo eles faziam parte, então era muito provável que ele estivesse por perto.

Seyhoung notou que os ataques em sua direção pararam, e reconheceu os colegas imediatamente. O olhar derrotado dele se iluminou imediatamente, começando a gargalhar insanamente com a chegada dos aliados. Matsuo olhou onde ele olhava, tentando entender o motivo de suas risadas.

Rhys desfez seu Protect, seus braços formigavam devido a potência do ataque que defendeu. Olhou para a direção dele e reconheceu os dois Pokémons que estavam atrás de seus donos.

Um deles, mais comum, com o corpo cinzento, com detalhes vermelhos no pescoço, na cauda e na cabeça. Tinha longas garras brancas e uma gema dourada no centro da testa. Um Weavile.

O outro era uma negra e sombria figura, que parecia se misturar com as sombras. Tinha um formato humanoide, porém sem pernas visíveis. Braços com apenas três garras e um metro e meio de altura. Na sua cabeça algo semelhante a um véu branco ficava apontando para cima, acompanhado de um colar de espinhos vermelhos e pequenos. Seus olhos eram azuis e profundos e as extremidades do corpo pontudas. Um Pokémon muito popular e temido, perigoso. Darkrai.

Sua mão estava apontada para frente, e dela partia o ataque que Rhys defendeu, era óbvio que a potência seria muito maior que a de um Pokémon comum. Outro lendário estava entrando para a luta, e mesmo ele sendo do nível de Articuno, Suicune e Moltres, a luta poderia se arrastar por mais algumas horas. Cressida sabia que Herald também podia aparecer a qualquer momento. Se eles quisessem alguma vantagem ela precisava abrir aquele portão e melhorar os número com a ajuda de Green, mas isso não seria fácil de maneira alguma.

— Calma! Vamos separar. Suicune, vamos descer lá e lutar junto com Cressida. Lilith, acho que essa é uma luta pra você também! — Crystal começou a dar ordens enquanto os combates estavam parados, seu Pokémon saltou para onde Rhys estava. — Matsuo, persiga Seyhuong! Depois que derrotarmos eles seguimos para o sul.

Articuno havia pousado no topo do portão de metal que defendiam. Estava se preparando para voar para fora da cidade. Moltres e Matsuo o olhavam, enquanto também se preparavam para avançar contra eles.

No chão, Suicune, Zoroark, Rhys e seus treinadores, Crystal, Cressida e Lilith trocavam olhares com os oponentes. Os oponentes respondiam de forma fria, como se aquela batalha não significasse muito.

— Quanto tempo, filha. Vamos acertar as contas. — Lucien disse, dando um passo a frente com seu Weavile. Era possível ver que ele tinha uma longa cicatriz que começava um pouco abaixo do pescoço e descia pelo peito. Sua Weavile tinha também uma marca longa de garras em seu pescoço.

Como se aquela frase fosse um sinal, ambos grupos avançaram um contra o outro.