Vínculos escrita por Lilie


Capítulo 2
Problemas


Notas iniciais do capítulo

OIEEEE, MEUS AMORES!
Aqui vai mais um capítulo, agora que a estória começa de verdade!



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Capítulo 1- Problemas

Segunda-feira, 1 de Setembro de 2003.

 — Mark Benjamin Thatcher, que porra é essa?!

 Mark deu um pulo na cadeira quando sua noiva apareceu gritando em seu trabalho. Alguns de seus colegas até espicharam a cabeça das divisórias para verem o que estava acontecendo, alguns deles, porém, não demonstraram surpresa; não era a primeira vez que ela fazia esse tipo de coisa.

 — Como assim, Skye?

 Ela fez uma bola com a folha de papel que tinha em mãos e a jogou em sua cara.

 — O que essa mulher está fazendo na nossa lista de convidados, seu filho da puta?

 Mark desamassou a folha e fitou o nome sublinhado com caneta vermelha. Angelina Coretta Quinn, também conhecida como sua ex-esposa.

  — Estou esperando uma resposta!

 Mark fitou a futura esposa por um momento. O rosto enrubescido de ira, o cabelo castanho claro cortado na altura dos ombros atrapalhado e os olhos azuis, que tanto adorava, fincando feito espinhos.

 Respirou fundo e disse a resposta que havia ensaiado:

 — Apesar de tudo, a Angelina ainda é minha amiga, por isso quero convidar ela. É mais uma questão de consideração, duvido que ela realmente vá...

 — Questão de consideração? Consideração?! — rugiu, subindo o tom de voz a cada palavra. — E eu lá tenho consideração por essa vagabunda?!

 Para evitar ser decapitado, segurou a vontade de rir. Angelina estava longe de ser “vagabunda”, mas, do ponto de vista de Skye, só o fato de ela ser sua ex já a tornava merecedora do título.

 Podia até parecer absurdo para as outras pessoas, mas achava graça dos ciúmes da noiva, assim como de outras de suas características um tanto “peculiares”. Por causa disso, muitos o consideravam tão louco quanto ela. Mas não era loucura.

 — De novo, Skye, duvido muito que ela... — repetiu, sendo interrompido antes de poder completar a frase.

 — Foda-se! — rugiu. — Eu já disse que não quero ela na lista!

 Mark sentiu o olhar fuzilante de seus colegas sobre si. Não era só porque não estranhavam os escândalos de Skye que gostavam deles. Por isso, pegou-a pelo braço e a levou para a escadaria do prédio, sob o som de palavrões e protestos.

 — Tudo bem — começou ao fechar a porta corta-fogo da escadaria. — Tiro a Angelina da lista se você convidar a Amethyst.

 A proposta só piorou a cara feia de Skye, se é que era possível...

 — Nem a pau — respondeu prontamente.

 Mark soltou um longo suspiro de desânimo. Sabia que seria um plano difícil antes mesmo de decidir colocá-lo em prática.

 Apesar de ainda ter uma relação amistosa com Angelina, não era o tipo de idiota insensível que convidava a ex-esposa para o novo casamento. Ainda mais levando em conta que seria uma cerimônia pequena, apenas para os íntimos. Por seu nome na lista, na verdade, era parte de seu plano para tentar convencer Skye a convidar a irmã mais velha. Sempre soube das desavenças entre elas, mas ainda achava que, futuramente, a noiva se arrependeria de não convidá-la.

 — Olha, eu sei que a relação de vocês é complicada, mas ela é sua irmã!

 — Ela é uma cretina, isso sim! Tenho certeza que vai inventar algo para implicar comigo e ficar me estressando. É só isso que ela sabe fazer.

 — Olha, tudo bem que ela pode ser um pé no saco às vezes, mas ela só faz isso porque se preocupa com você e...

 — Você mal conhece ela! Eu não quero a Amy, a sua ex, a minha tia ou qualquer outra pessoa que eu não gosto no nosso casamento além da sua mãe! — Mesmo sentindo que deveria, não se ofendeu com o comentário a respeito de sua genitora. — Não quero guardar nenhuma lembrança desse dia que não seja feliz.

Com uma delicadeza que não combinava com a situação, tomou as mãos dela nas suas, o que a fez olhá-lo nos olhos. Mark sempre fora vidrado nos olhos de Skye, que mais pareciam duas grandes safiras.

 — Mesmo que a sua irmã te chateie, que a minha mãe invente mil defeitos para colocar em coisas perfeitas, que o bolo esteja horrível ou desmorone, que todas as garrafas de cerveja quebrem, que o som não funcione... Mesmo que tudo dê errado, nós vamos nos casar nesse dia. Para você, tem alguma coisa que pode ofuscar isso? Porque para mim não.

 A expressão de Skye mudou drasticamente. Antes, ela parecia prestes a cometer um homicídio; agora, parecia perdida e em transe, desarmada.

 — Eu odeio quando você faz isso — disse em um tom de voz estranho, que parecia misturar serenidade com raiva, após um período de silêncio.

 — Quando faço o quê?

 — Me deixa parecendo uma puta duma idiota que não sabe o que dizer.

 Mark soltou uma gostosa gargalhada.

 — Você não conseguiria parecer uma idiota nem se tentasse, meu amor.

 Skye respondeu o comentário com um sorriso fraco, que logo em seguida sumiu de sua face para dar lugar a um ar melancólico que disputava espaço com sua seriedade.

 — Angelina não vai ao nosso casamento... E nem a Amy. Eu e ela... Isso é uma das poucas coisas que você não entende.

 Aquela foi sua despedida. Skye saiu pela porta corta-fogo, deixando como rastro suas palavras frias que ainda pairavam pelo ar.

 (...)

 — Tem visão no mundo mais nojenta do que essa? — disse Shae, fazendo careta.

 Faith seguiu o olhar da amiga para Nate e Esther, sentados em uma mesa do outro lado da lanchonete da universidade. Eles conversavam enquanto dividiam uma porção de batatas fritas. Ocasionalmente, ele segurava a mão dela carinhosamente por cima da mesa redonda, e ela retribuía com um risinho. Faith achou-os fofos... até se lembrar do que aconteceu na festa de Aaron.

 “Esqueça aquilo, Faith. Nunca aconteceu. Ouviu? Nunca! ” foi a única coisa que Ethan, transtornado, havia lhe dito sobre o que tinha acontecido. Prometeu que não falaria nada a ninguém, mesmo que já tivesse contado tudo ao seu namorado, que ficou tão chocado quanto ela.

 — Eu amo o Nate, mas ele é tão bobinho. Ele não percebe que é o prêmio de consolação dessa vaca, um tapa-buraco. Ela tá só usando ele para fazer ciúmes no Ethan.

 — Será mesmo? Acho que ela desistiu do Ethan e realmente tá gostando, ou pelo menos tentando gostar, do Nate — Faith disse mais para si do que para a amiga. Era naquilo que tentava desesperadamente acreditar, a justificativa que dava a si mesma para não interferir. Não havia motivo para permitir que o erro de uma noite destruísse não apenas a relação de dois amigos de infância, mas também o que poderia se tornar uma história de amor.

 A resposta de Shae veio acompanhada de um riso sarcástico.

 — Até parece. — Deu um longo gole em sua latinha de refrigerante antes de continuar. — Esther é apaixonada por Ethan desde os quatorze anos, e até pouco tempo atrás ainda corria atrás dele. Não tem como deixar de amar alguém tão rápido assim, ainda mais no caso dela.

 Faith voltou a fitar o casal, que agora estava rindo de alguma coisa. O que a amiga falou realmente fazia sentido.

 Sentiu a insegurança aumentar. Será que Esther estava apenas usando Nate? Será que ela estava se aproveitando dos sentimentos que ele nutria por ela há quase tanto tempo quanto os dela por Ethan? Será que depois ela o jogaria fora como uma ferramenta velha e sem utilidade?

 E será que, ao guardar o segredo, ela própria estava de certa forma ajudando Esther?

 Seu coração pesou no peito e o ar pareceu mais denso e difícil de respirar.

 — Faith? — indagou Shae em um tom misto de estranhamento e preocupação. — Está tudo bem?

 Faith negou com a cabeça, tão aflita que começava a sentir vontade de chorar. Decidiu que precisava dividir aquilo, senão surtaria.

 — Eu tenho que te contar uma coisa...

(...)

 Ao ver o tamanho do livro à sua frente, Ethan se perguntou se realmente queria ser advogado. Logo em seguida, lembrou que sua vontade pouco importava para seu pai, o famoso juiz Stanley Walsh, que era capaz de expulsá-lo de casa se abandonasse o curso de Direito.

 Depois de muita enrolação, abriu o livro e começou a estudar, apenas para, minutos depois, distrair-se pensando na grande festa que teria no sábado em comemoração, ou para afogar as mágoas, pela volta das aulas. Ao perceber que estava perdendo o foco, obrigou-se a voltar sua atenção para o livro. Quinze minutos depois, estava decidindo quem chamaria para sair naquela semana: Kristal Burton ou Samantha O’Connel? Kristal tinha pernas maravilhosas, mas Samantha era mais legal.

 Quase como um sinal divino, ouviu Kristal ser citada por um grupo de três rapazes em uma mesa ao lado da sua. Como estavam nos fundos da biblioteca, era difícil que algum funcionário fosse os repreender pelo barulho.

 — ...Kristal Burton está na minha aula de economia. Quase ajoelhei no chão e agradeci aos céus quando vi ela lá — comemorou o rapaz de cabelos castanhos. — Ela é muito gata!

 — Para de agir que nem um adolescente virgem, Fiachra — repreendeu o que usava boné, fazendo o terceiro rir.

 — Não estou agindo assim!

 — Sim, você tá — afirmou o terceiro em tom de zombaria. Dos três, ele era o único que Ethan conhecia. Ele era vizinho de Shae e se chamava Logan.

 — Toda vez que vê uma mulher bonita você se comporta como se ela fosse a oitava maravilha do mundo.

 O tal Fiachra ia voltar a falar, mas foi cortado por Logan:

 — Falando em maravilhas, adivinhem com quem eu transei na última quinta-feira?

 — Não somos videntes, Logan — retorquiu o de boné.

 — Aquela garota que mora na minha rua e que faz Publicidade, Sheila O’Flahertie.

 Ao escutar o nome da amiga, Ethan sentiu-se como se seu cérebro tivesse dado pane. Pensou em interferir na conversa dos rapazes, dizendo que não era possível que Logan tivesse ficado com Sheila, já que ela estava namorando seu irmão. Entretanto, resolveu ficar quieto e escutar o resto da conversa.

 — A baixinha que mora naquela casa grande? Cara, ela é muito gata! — Fiachra voltou a falar. — Aquele cabelo brilhante, aqueles lábios...

 — Aquela bunda — disse o de boné, imitando o tom sonhador do amigo.

 — E que bunda — concordou Logan, rindo.

 — Mas sério, como você pegou ela?

 — O carteiro, pra variar, fez confusão e trocou a correspondência da minha casa com a da Sheila. Como sempre, ela foi lá em casa devolver as minhas cartas e pegar as dela. Só que dessa vez eu tava sozinho em casa e chamei ela para entrar. E, bem, digamos que as coisas aconteceram naturalmente a partir daí...

 Era difícil dizer o que mais irritou Ethan: o tom de voz malicioso que Logan usou para se referir a Shae ou a comemoração idiota de seus amigos, como se ela fosse uma espécie de troféu.

 Teve vontade de bater na cabeça deles com o livro de Direito. Será que havia alguma chance, por menor que fosse, de não ser punido pela diretoria da universidade se fizesse isso no meio da biblioteca?

 Fazendo o possível para não perder a calma, guardou seus materiais na mochila e saiu da biblioteca para ir atrás de Shae. Não se atreveria a perguntar qualquer coisa àqueles idiotas, não levava eles a sério. A única palavra que dava valor era a da sua amiga, e era com ela que falaria para saber se ela realmente havia traído seu irmão. Se Logan estivesse mentindo a respeito daquilo... Bem, aí não seria uma punição da universidade que impediria Ethan de dar com a mão na cara dele.

 Ninguém, absolutamente ninguém, espalhava boatos sobre sua amiga e saía impune.

(...)

 Ethan entrou quase correndo no The Tea Zone, uma das lanchonetes da universidade, que era a preferida dele e de seus amigos. Shae costumava ficar por lá naquele horário.

 Conseguiu avistá-las quase imediatamente, graças ao excêntrico cabelo tingido de roxo de Faith. Ambas estavam tão distraídas conversando que até se assustaram quando ele foi até elas.

 — Precisamos conversar — disse à Shae, colocando uma das mãos delicadamente em seu ombro coberto pela velha jaqueta de couro sintético.

 Ela assentiu, despedindo-se de Faith enquanto lhe dava o dinheiro para pagar a sua parte da conta. Ela estava com cara de poucos amigos e mal dirigiu a palavra a ele até chegarem no primeiro lugar vazio que Ethan encontrou: o estacionamento.

 Sem cabeça para enrolação, disparou:

 — Você transou com Logan Connely?

 — Transei.

 Independente da resposta, Ethan esperava que ela, ao menos, esboçasse alguma emoção como surpresa, hesitação ou confusão, mas não. A resposta foi tão fria e direta quanto a pergunta.

 — Não acredito nisso... Como você teve coragem de fazer isso com o Vince?! Ele te ama!

 Vince e Shae estavam juntos há quatro meses. Ethan quase surtou quando começaram a namorar. A ideia de ver seu irmão quatro anos mais velho junto de sua melhor amiga era de embrulhar o estômago. Mas acabou aceitando com o tempo, ainda que de má vontade. Sempre teve a sensação de que aquele namoro acabaria em desgraça e, infelizmente, estava certo.

 — Aquele cachorro não me ama coisa nenhuma! — vociferou. — Ele só me fez de idiota, do mesmo jeito que o Kevin!

 Kevin foi um rapaz que Shae namorou no último ano de colegial. Era o tipo de cara que dava definição ao termo “cafajeste”. Ele a traiu várias e várias vezes ao longo dos oito meses de relacionamento, e ela só foi descobrir na festa de formatura, quando o flagrou beijando uma colega de sala no estacionamento. Mesmo que Ethan a tivesse vingado, enchendo a cara de Kevin de socos, Shae passou a noite inteira, assim como a semana seguinte, chorando.

 — Do que diabos você tá falando?!

 — O Vince me traiu!

 — Como é?! — a voz de Ethan saiu em um grito esganiçado de espanto. — De jeito nenhum! Ele não é disso...

 Shae riu com deboche.

 — Eu também achava que não, mas pelo visto ele não presta que nem o irmão mais novo.

 — O quê?! — Ethan se irritou. Por que ela o estava xingando, que não tinha nada a ver com a estória?

 A resposta veio logo em seguida, na forma de um berro furioso.

 — Eu não acredito que você transou com a Esther! Como você pôde?! O Nate... Pelo amor de Deus, você tem noção de como ele vai ficar quando descobrir isso?! Puta que pariu, o melhor amigo dele dormiu com a garota que ele ama! Com tanta mulher no mundo, por que você foi engraçar justamente com ela?!

 Shae estava com tanta raiva e tão fora de si que não conseguia ficar parada, andava de um lado para o outro e gesticulava com as mãos enquanto despejava palavras sobre o amigo sem pena alguma. O nervosismo era tanto que ela ofegava, tremia e, até mesmo, parecia estar à beira de um ataque de choro.

Ethan sentiu como se uma pedra de uma tonelada tivesse sido jogada sobre seus ombros. Ele queria, mas não conseguia dizer nada e mesmo que conseguisse, não saberia o que falar. Era irônico pensar que ele era o surpreendido, sendo que esse era o papel que tinha erroneamente esperado de Shae. Suas palavras intensificaram os sentimentos que vinha sentindo desde que dormiu com Esther.

 Culpa. Vergonha. Nojo. Mas, acima de tudo, medo.

 O medo que tinha de perder Nate por causa daquilo estava incrustado em sua alma, torturando-o. Nunca se sentiu tão mal em toda a vida.

 A própria Shae conhecia esse medo e era afetada por ele, mesmo não tendo nada a ver com a história. Era por causa dele, inclusive, que estava nervosa daquele jeito. Ela entendia, e aquilo era óbvio para Ethan. Sabia que se a possibilidade de Nate descobrir a verdade e nunca perdoá-lo se concretizasse, a amizade entre os três acabaria e ela seria forçada a escolher entre eles por ser praticamente impossível continuar amiga de ambos. Para ela, aquilo seria equivalente ao inferno.

Quase ignorando a presença da amiga, sentou-se no chão, sem forças. Fechou os olhos e respirou fundo diversas vezes, numa falha tentativa de se acalmar. Não soube exatamente por quanto tempo ficou daquela forma.

 Sem abrir os olhos, sentiu as pequenas mãos de Shae correrem delicadamente por suas costas, um gesto que contrastava absurdamente com sua posição raivosa de antes. Ela o abraçou por trás de deitou a cabeça em seu ombro. Apesar de estar mais calma, o ritmo de sua respiração ainda estava bastante alterado. Com a voz rouca e embargada, ela murmurou a promessa em seu ouvido:

 — Nós vamos dar um jeito nisso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até o próximo capítulo!



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