Reputation escrita por Jubileep


Capítulo 8
Call it what you want - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá! Demorei mais que o habitual, mas espero não ter sido o suficiente pra galera ir embora. Enjoy ♥



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"They took the crown but it's alright. All the liars are calling me one. Nobody's heard from me for months. I'm doing better than I ever was."

Rachel largou a bolsa ao lado da porta de entrada ao chegar após inúmeras aulas segurando o choro e um ensaio do coral que ela preferiu se ausentar, porque estava emocionalmente exausta demais para ouvir um “a” sequer sobre músicas de amor.

Ela não tinha cabeça para baladas emocionantes, duetos com Finn Hudson ou adolescentes cheios de hormônio. Ela era a única adolescente cheia de hormônio que gostaria de precisar lidar naquele momento, então quando ela pôs os pés em casa uma lágrima caiu e puxou todas as outras junto com ela.

Suas costas cederam na porta; ela sabia que seria cinematograficamente dramático se seus joelhos desabassem e ela se sentasse aos prantos apoiada à entrada que separava todo o caos lá fora e o interior de sua casa, mas tudo que sua mente conseguiu pensar foi em rumar em passos velozes até o segundo andar.

Teria chegado a tempo para começar sua sessão de músicas tristes e choro ininterrupto se Hiram não lhe interrompesse no caminho.

Docinho — sua voz era calma, como se ele quisesse saber o que houve para que então lhe pudesse oferecer todas as soluções possíveis. – Quer... Falar sobre isso?

Rachel soluçava quando fez que não com a cabeça, havia fios de cabelo entrando na sua boca e catarro prestes a preencher toda a estrutura de seu rosto. Seus pés, agora inaptos de continuar a trajetória até o quarto, mandaram a mensagem pra seus braços ordenando que eles envolvessem o pescoço do pai e esperasse seu abraço acolhedor.

Sentiu ser aninhada pelo homem enquanto seus dedos afagavam seu cabelo e ele fazia “shhs” discretos, exatamente do mesmo jeito que fazia quando ela era só uma garotinha e morria de medo dos filmes de terror.

A primeira vez que ouviu um comentário maldoso sobre sua aparência ela estourou em lágrimas, aos sete anos ela não conseguia lidar com o fato de que algumas crianças conseguiam ser tão cruéis. Aos dezesseis, quando ela conheceu Quinn Fabray, ela percebeu que algumas crianças cruéis estão desesperadas por atenção, e que às vezes há algo bom nelas no fim das contas.

Queria lembrar-se de Q como a garota que desenhava caricaturas pornográficas e lhe xingava pelas costas, queria lhe odiar por dispensá-la com tamanha facilidade, mas Rachel só lembrava dela às seis da manhã, com seus escudos desarmados, sem cartas na manga e sua língua afiada não necessariamente munida de piadas ofensivas.

A primeira vez que ouviu um comentário maldoso sobre sua aparência ela estourou em lágrimas, e ambos seus pais lhe aninharam em seus colos e prometeram que tudo ficaria bem. Que ela era uma estrela, e que estrelas não se desmoronam daquela forma por causa de comentários bobos.

Que porra de estrela sou eu agora?, pensou. Uma estrela que chora por garotas bonitas, respondeu no segundo que se seguiu.

— Corações quebrados... – Disse entre soluços, fazendo com que Hiram finalmente despertasse dos movimentos automáticos de passar a mão pelas suas costas e afagar seus fios; posicionou-se de modo que se mostrasse atento ao desabafo que sabia que viria. –... Soam melhores em músicas.

O homem suspirou e Berry pôde sentir a respiração quente do pai em sua testa.

— Soam... – Sorriu fraco. – Antes de seu pai eu colecionei alguns, benzinho. E droga, como gostaria de socar o maldito que fez com que corações quebrados soassem algo glamuroso de se ter. E não é! É cheio de choro e catarro e Whitney Houston. – Completou, compartilhando da indignação da filha.

— Você amou alguém antes do papai LeRoy?

— Oh, querida... – Engoliu em seco. – Eu amei alguns. Nenhum como LeRoy, mas amei alguns... Alguns deuses gregos... Literalmente! Fui pra Grécia uma vez e conheci esse cara, ele era perfeito. Dizia as coisas certas, nos lugares certos, e mexia o cabelo com uma graciosidade que fazia com que sua existência soasse insignificante diante de toda a maravilha que ele era... Foi um romance de quatro meses, nada demais. – Deu de ombros.

Quatro meses.

Nada demais.

O estômago de Berry revirou.

— O que houve?

— Acho que ele não estava preparado pra sair do armário, enquanto eu estava bem longe dele naquela época. Conflito de interesses, é o que acontece... Às vezes você acha o amor em momentos tão confusos que ele nem se parece com o amor. Mas é. É amor, é amor numa péssima hora, mas não deixa de ser amor.

— O amor acaba? Até quando é de verdade e cheio de coisas certas ditas no lugar certo? Digo, se é tão real não parece certo... Acabar e tudo mais...

— O amor sabe a hora de parar. Às vezes não tem o que fazer... – Deu de ombros, começando a sentir que seus conselhos eram menos motivacionais do que pareciam em sua cabeça.

— Então acha que devo desistir?

— Do amor, jamais. Do amor numa péssima hora? Às vezes é a única saída. – Ele deu dois tapinhas no ombro da garota, desejando que LeRoy entrasse pela porta para dar à sua estrelinha uma faísca de otimismo. – Mas não é uma fórmula... Pode ser que o amor numa péssima hora seja obrigado a tornar a hora conveniente! Mas, hm, – pigarreou – então... Qual o seu dilema, docinho?

Berry respirou fundo com alguma dificuldade e fungou na manga do cardigã antes de pensar no que dizer.

— Amor em péssima hora... Digo, nem sei se é amor.

— Pra você chorar dessa forma? Deve ser, a última vez que te vi assim foi quando ouviu Barbra Streisand cantando pela primeira vez. E aquilo nem era um choro de tristeza...

 – É, era definitivamente de emoção. – Concordou, enquanto conseguiu ordenar seu cérebro a limpar uma nova lágrima que caiu com a manga do cardigã. Deu uma fungada e respirou fundo mais uma vez, perguntando-se a quantidade de oxigênio que precisaria respirar para que seus problemas soassem menores, para que as coisas se parecessem não tão trágicas.

— Vou agredir esse rapaz que quebrou seu cora...

— É uma garota. – Cortou, sem fazer ideia de que aquelas palavras tinham a capacidade de sair pela sua boca. Mas elas saíram, se derramaram com uma naturalidade que arrancava um peso imenso de seus ombros.

— Oh... Tudo bem.

— Eu... Eu realmente não quero falar sobre isso.

[...]

Cinco dias haviam se passado e o silêncio entre Quinn Fabray e Rachel Berry faria qualquer um que já esteve com um coração remotamente quebrado ir à loucura, pelo menos, era assim que se sentiam – cada uma em um canto diferente, com a ponta de seus dedos dançando de ansiedade e cada átomo de seus corpos suplicando por algo bom. A Cheerio não tinha ideia de onde Rachel poderia estar ou o que diabo ela estava fazendo da vida, mas ela podia responder por si mesma quando se tratava de estar amedrontada como um ratinho – logo ela, acostumada com o título de predadora.

A dona do rabo de cavalo mais impecável do WMHS tremia de medo só de pensar em pessoas rindo ao seu redor, a paranoia lhe encharcando de pensamentos nada agradáveis sobre como poderia estar exposta, sobre como seus segredos poderiam vir à tona a qualquer momento. Sentia-se como naquele sonho universal e embaraçoso onde você se encontra pelada em frente a uma multidão de pessoas conhecidas – era como se, a qualquer momento, alguém lhe fosse arrancar as roupas do corpo.

Tremia de medo ainda mais quando cogitava que ela nunca mais teria Berry por perto, lhe assustava a forma como se tornara dependente daquilo que sempre detestou – ou fingiu detestar. Fazia só cinco dias e ela já considerava a saudade daqueles suéteres bregas e das saias xadrezes e do nariz peculiar e da gargalhada exagerada uma tortura medieval.

— Você tá estranha. – Foi Santana quem apontou, durante a fila no refeitório, enquanto elas pegavam o mínimo para comer.

— Eu tô normal.

— Você não faz piadas maldosas com alguém já faz, pelo menos, três dias.

— Quer que eu comece por você? – Revirou os olhos.

Ouch! Olha, Q, conselho de amiga: se há algo te incomodando, parta pra violência... Ou melhor, pra violência psicológica. Pegue seus problemas pelos ombros e faça-os chorarem como bebezinhos. Aja como a treinadora Sylvester gostaria de te ver agindo. – Deu de ombros. – E é assim que Sue pensa. — Disse, em tom de deboche, enquanto formava um C com a mão como no quadro da treinadora durante o jornal local de Lima.

Não tem nada me incomodando.

Mas havia. Havia milhares de coisas lhe incomodando, e por mais que na maior parte das vezes Santana Lopez soasse meio inconveniente dessa vez ela talvez estivesse certa.

[...]

— Conversa real agora, Jacob WhasYourName. — Fabray puxou o garoto de forma abrupta contra um armário, encurralando-o do modo mais ameaçador que conseguira. A maioria dos alunos já havia entrado nas salas, e os poucos que perambulavam estavam correndo para chegar em tempo às aulas.

Jacob Ben Israel parecia assustado, por mais que fosse ele quem tivesse informações que poderiam destruir a reputação de alguém. Ele suava tanto quanto o usual, o que não era surpresa para a Cheerio, além disso, ele gaguejava sílabas indecifráveis e palavras monossilábicas como se estivesse prestes a ter um colapso.

Quinn Fabray podia dizer que, pelo menos naquele momento, ela não sentia um pingo de medo – ela estava furiosa. Seu braço mantinha o corpo do garoto parado contra a superfície metálica e se ele começasse a chorar naquele momento ela não sentiria piedade alguma.

Estava furiosa.

Sua mente pensava em Rachel e em como ela estava sendo privada de ver a garota por causa da sua estúpida imagem que estava em jogo por causa daquele estúpido garoto. Quem sabe ela também tivesse culpa naquele drama todo, ela sabia que se apenas não desse tanta importância para o que os outros iriam achar dela as coisas poderiam não soar como tragédias tão catastróficas, mas quem dava o direito de Jacob poder lhe manipular daquela forma?

Quem podia lhe dar tanto poder? Ninguém fez um alvoroço quando ela beijava meninos, e agora a única coisa que impedia de que o mundo soubesse que ela também beijava meninas era  uma calcinha de Rachel.

— Escute bem o que vou falar... – Seu indicador mais perto do que gostaria do rosto adolescente. Ele emanava puberdade, Quinn queria vomitar por obrigar-se a ficar tão perto dele. –... Você pode estar achando que vai ficar recebendo calcinhas de Rachel Berry para o resto da vida como pagamento pela sua chantagem idiota, mas você deve estar esquecendo que eu sou Quinn Fabray e eu posso tornar sua vida um inferno.

— E-E-Eu tenho fontes confiáveis de que vocês estão juntas.

— Eu disse pra escutar! – Cortou, sem nem acreditar que era capaz de juntar tanta fúria dentro de si. – Se você abrir a boca sobre alguma coisa tudo que tiver dentro daquela máquina de slushie vai parar na sua cara, é sério, você vai morrer de hipotermia. E se isso não for suficiente eu vou literalmente pagar pra alguém te jogar naquela grande lata de lixo na frente da escola.

— V-Você realmente acha que não tô acostumado com os slushies e com ser jogado na lixeira? O-O-Ossos do ofício.

— Eu estou tentando ir do jeito fácil com você. Olhe bem pra minha cara bonita, e pense no que o diretor vai achar quando souber que você tentou assediar metade das Cheerios? E isso não é nem inventado. Você vai me assistir chorando no gabinete do Diretor Figgins até que ele te dê uma suspensão, e se isso não for o suficiente eu vou colocar maconha na sua mochila e você nunca mais vai pisar nessa escola, e se isso ainda não for suficiente, eu vou dedicar a minha vida a convencer os professores de que você cola nos testes e plagia trabalhos escolares até que você reprove pelo menos três vezes no Ensino Médio e seja obrigado a se mudar para o outro lado do país, onde você vai ser massacrado. O que vai te obrigar a ficar no colegial até os trinta e três anos de idade, e você estará tão psicologicamente afetado que nunca conseguirá ter barba ou pelos em qualquer parte do corpo, te obrigando a parecer um adolescente até os quarenta anos de idade. Até os quarenta!

 Jacob arfava como quem havia corrido uma maratona sem parar e sem poder beber uma gota de água, enquanto o suor escorria de forma nada graciosa pela sua testa. Quando Quinn Fabray tirou a força do braço que o prendia contra o armário e apenas limitou-se a lhe encarar com o rosto mais intimidador possível ela pôde enxergar os membros superiores do rapaz tremendo feito uma gelatina.

— E-Eu sou um jornalista, Quinn Fabray. – Conseguiu dizer, mesmo que com dificuldade, enquanto o jeito presunçoso que pronunciava o nome da Cheerio lhe dava refluxos.

— Não... Você é um pervertido que quer tirar proveito da minha namorada.— Quinn arregalou os olhos, tudo que ela queria era deixar Jacob amedrontado; não esperava que dizer aquela palavra também fosse capaz de abalar um pouco da sua estrutura.

Era isso que Rachel era... Certo? Sua namorada. Ela precisava acreditar que sim, naquele momento. Por quem mais ela arriscaria sua reputação se não a única pessoa que foi capaz de atravessar as muralhas que ela construiu ao redor de si mesma desde sempre?

Pelo menos, ela costumava ser sua namorada.

— Então, v-v-você admite que vocês duas ‘tão juntas? Oh... — Jacob soltou um gemido malicioso que Quinn preferia não saber o motivo.

— Queime suas calcinhas, queime as malditas fotos que você tem da gente e arranje uma vida, loser!

— O-O-O que a treinadora Sylvester vai achar de ter uma sapatão no time? – Quinn estremeceu, em que ponto daquele drama no corredor ela tornou-se o ratinho assustado? Mantenha-se firme, Q, sua cabeça ordenou enquanto ela não conseguia conceber a ideia de não ser uma Cheerio. —... Loser.

 Como se houvesse se munido de fôlego por algum tempo Jacob saiu correndo em disparada com seu corpo nada atlético e sua mochila transbordando, parte por desespero de levar um soco de Quinn Fabray e parte porque estava disposto a vazar todo conteúdo que tinha das garotas.

O William McKinley High ainda não tinha figuras LGBT’s assumidas, Kurt Hummel –  mesmo com os rumores – ainda jurava ser hétero, Quinn gostava de ser notícia mas, em seu segundo ano, ela esperava estar em manchetes do blog da escola como a CANDIDATA FAVORITA À COROA; ela não tinha certeza sobre o que pensar quanto ser uma desbravadora nessa questão.

 As coisas costumavam ser mais fáceis quando ela namorava Finn Hudson, e enquanto ela ouvia os pés apressados de Jacob Ben Israel correndo em direção à sala de Sue Sylvester, ela também sabia que as coisas costumavam ser mais fáceis e piores quando ela era namorada do quarterback.

Antes daquela apresentação de Push-It na assembleia Quinn vivia furiosa, vivia frustrada com algo que não parecia se encaixar naquele sonho de Ensino Médio. Ela tinha tudo, mas estava miserável.

Sua cabeça girava.

A voz de Rachel ecoava em sua mente como se ela estivesse do seu lado, gritando em seu ouvido.

“Você fala como se estivéssemos namorando... Como se isso fosse durar mais do que uma ou duas semanas. Aposto que iremos gradativamente parar de nos falar e nunca mais olharemos na cara uma da outra. Aposto que não vai demorar até que eu volte para os perdedores do coral e você para sua panelinha do clube do celibato e das Cheerios.”

Perder a Cheerios seria devastador para Quinn Fabray, mas perder qualquer pecinha que Rachel Berry conseguiu encaixar e que lhe tirou daquele looping de frustração lhe deixaria mais cicatrizes do que o suportável.

[...]

Deu passos hesitantes em direção à sala de Sue Sylvester, conseguiu espiar pela janela que a separava do corredor que Jacob já havia evaporado do local, se é que tivera as bolas para enfrentar a treinadora.

— Treinadora Sylvester? – Ela abriu a porta, enquanto sua mente parecia querer lhe puxar de volta. Sua sanidade tentava gritar que aquilo era loucura, mas seus passos já rumavam à cadeira vermelha com logo das Cheerios em frente à mulher. – Preciso falar com você sobre algo, antes que alguém fale primeiro... – E torcia baixinho para que o pseudo-jornalista não houvesse lhe passado.

Sue sorriu, mas era impossível saber o que a mulher pensava.

— Sobre...?

— Sobre Rachel Berry. A garota do clube do Sr. Schue.  


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Notas finais do capítulo

Poor Rachel... E Quinn Fabray finalmente enfrentando seus demônios. Just do it, Q! Comentem o que acharam por favorrrrr ♥