Sonhos de Grãos de Areia escrita por LaviniaCrist


Capítulo 11
Protetora


Notas iniciais do capítulo

Aconselho a lerem enquanto ouvem Nocturno n° 20 de Chopin.



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O ar seco e ao mesmo tempo frio incomodava qualquer coisa em que encostasse. O céu noturno estava tão negro que não se podia ver a Lua ou as estrelas. Se não fosse um exagero impossível, poder-se-ia afirmar que na manhã seguinte iria nevar em Sunagakure.

— Ele deve estar congelando sentado aqui... — uma voz doce e melodiosa estava carregada de preocupação.

— Aqui é quente e ele está vestido com o manto, ainda por cima. — Rasa parecia um tanto alheio ao fato de que Gaara estava dormindo sentado no escritório — Você se preocupa demais com ele, Karura.

— E você não? — ela sorriu, notando a falta de argumentos do marido.

— Não tanto quanto você! — ele retrucou depois de um tempo — Esse garoto já é um Kazekage e você trata ele como uma criança...

— Criança não, um garoto, como você mesmo acabou de falar! — mais uma vez, ela deixou o marido sem argumentos — Ele é tão novinho para ter que ser tão responsável...

— Ele dá conta.

— “Ele dá conta”, é tudo o que você tem a dizer sobre seu filho estar se matando no meio de todos esses papéis e dormindo sentado e sem ter comido nada o dia todo?

— Viu...? Você se preocupa demais.

— Mas ele precisa se cuidar melhor...

— Ele precisa aprender com os próprios erros, não ser mimado.

— Diz isso a pessoa que fez um quarto só para ele guardar as pelúcias quando pequeno. — Karura revirou os olhos — Eu só estou querendo o bem dele...

— O Gaara não vai morrer por dormir sentado vez ou outra, nem vai ser o fim do mundo se ele fizer hora extra para tentar revisar todos esses papéis. — o homem suspirou, rondando a mesa — Logo ele aprende a dar prioridade ao que precisa... — Rasa passou calmamente a mão entre as folhas com várias palavras escritas — Céus, ele vai mesmo ler e fazer anotações por tudo isso? Não é para tanto!

— Ele está se esforçando para ser um bom Kazekage, deveria ficar orgulhoso do meu filho! — apesar de tentar parecer brava, Karura só conseguia ficar ainda mais adorável fazendo um bico e colocando as mãos na cintura.

— Estou, eu estou de verdade... — novamente, ele suspirou — Mas eu acho que ele é inocente demais para um cargo desses.

— Inocente? O que tem de mal em ele ser inocente?

— Nesse caso, todo. Imagine quantos pedidos duvidosos de alguma aliança que ele vai receber? Isso sem contar quem não vai querer que ele seja o Kazekage... E se ele receber alguma ameaça? Um golpe? Suna receber um golpe e ele ser culpado? — agora era Rasa quem tinha a voz cheia de preocupação — Droga... Por que eu não deixei um manual ou algo assim?

— Porque você achava que o Kankuro seria responsável...

Karura e Rasa se entreolharam e riram em cumplicidade. Sempre fizeram planos com o futuro dos filhos onde Temari seria uma ótima médica como o tio, Kankuro seria o sucessor do pai como Kazekage e Gaara seria a arma de Suna e a vitória certa em qualquer guerra. No entanto, Temari sempre foi melhor em causar feridas do que curar elas, Kankuro não passava nem perto de querer alguma responsabilidade e Gaara tentava se esquivar de qualquer luta desnecessária e, quando participava, escolhia proteger e não lutar.

— Talvez eu tenha passado a mão na cabeça do filho errado — Rasa deu de ombros.

— Estou realmente ouvindo isso? O meu marido de tantos anos está assumindo que cometeu um erro? — Karura se fez de surpresa.

— Talvez ele ainda consiga um cargo mais importante, como embaixador...

Novamente, os dois se entreolharam e riram. Já era raro que o filho do meio saísse do quarto e parasse de mexer em suas marionetes, quando saia, era para fazer a escolta de Gaara e passava o tempo todo com os irmãos.

— Vamos voltar a falar do meu filho que vai acabar morrendo de hipotermia se continuar aqui — a voz de Kakura voltou a sair preocupada — Será que você consegue levar ele para o quarto?

— Ele está bem...

— Não está não!

— Karura! — ele segurou a esposa pelos ombros — Se controle, ele já é um rapaz e não vai morrer se passar uma noite mal dormida! — a fala saiu dura, como se ele chamasse a atenção de alguém por cometer um erro.

— Eu... E-Eu só estou preocupada com o meu filho...

— Não, não... Por favor, sem chorar por isso, está bem? — a voz rígida transformou-se em preocupação novamente, enquanto ele a abraçava — Ele é nosso filho, claro que vai ficar bem...

— Acha mesmo? — ela retribuou o abraço, escondendo o rosto.

— E você acha que não? Ele é seu filho, tão forte quanto você.

Depois de um tempo de silencio, ela encarou Rasa tão profundamente que parecia estar vendo a alma dele.

— Ele é como você...

— Sempre achei mais parecido com você.

— De certo modo sim, mas estou falando da aparência...

— Aparência? Karura, ele é parecido com você...

— Claro que não, ele tem até os mesmos círculos escuros que você tem! — ela suspirou — Eu não quero garotas correndo atrás dele por achar essas manchas bonitas, ele ainda é novo demais para isso...

— Céus... Você muda de assunto tão fácil!

— Estávamos falando sobre o meu filho e continuamos falando dele! — novamente ela parecia irritada — Só que agora estamos falando de proteção contra interesseiras e não contra o frio...

— Você não se preocupa tanto sobre a Temari andar com aquele sujeito e ainda diz que eu exagero, mas quando é o Gaara...

— Shi-ka-ma-ru. Ele é um rapaz bonito, educado e gentil, trata ela como uma princesa... — ela riu — Você que ainda vê ela como uma garotinha.

— Igual você vê o Gaara como um bebê, sendo que ele está dormindo igual uma pedra, aquecido, confortável e vai acordar cheio de disposição para continuar o trabalho amanhã de manhã... — dessa vez foi Raza quem fez bico e cruzou os braços — A Temari...

— A Temari já é grandinha para saber o que fazer com a vida dela.

— Kankuro também já é grandinho e não sabe tão bem assim...

— É... Mas é um ótimo mestre de marionetes — ela sorriu, orgulhosa do filho — Ainda não sei como a Chiyo não aceitou ele como aprendiz... — Karura ficou pensativa.

— Foi a pedido meu, achei melhor prevenir de mais alguém tomar os passos do neto dela.

— É incrível como você faz a coisa certa do jeito errado, querido... — ela colocou uma mão na testa, tentando conter as risadas — E o Kankuro está dormindo bem, na cama dele, enrolado em cobertores igualzinho a Temari, enquanto o Gaara está aqui, assim! — ela foi até o filho caçula — Que tipo de mãe eu sou para deixar ele assim?

— Você é protetora demais... — Rasa caminhou calmamente até ela e o filho — Olha só para ele, daqui a alguns anos o manto nem vai arrastar mais no chão — o homem comentou enquanto se apoiava na cadeira para olha-lo melhor.

— Ótimo, daí vou poder ter certeza de que ele não anda por aí descalço ou coisa assim... — Karura abraçou o filho cuidadosamente, tentando aquece-lo um pouco — Mas ele ainda vai demorar para crescer, não vai?

— Acho que não, eles crescem tão rápido...

Esse pequeno comentário fez com que os mais velhos se perdessem em lembranças graciosas de suas três crianças, até que Karura deu uma risada meiga e contagiante.

— Rasa, nós conhecíamos eles tão mal!

— Não que conheçamos completamente bem hoje em dia, você quer dizer.

— Bem, conhecer perfeitamente seria impossível. Estou me referindo aos nossos planos para os três... — ela suspirou — Temari vai ser uma embaixadora...

— Vai? — Rasa a interrompeu, arqueando a sobrancelha.

— Vai sim. — ela suspirou — Kankuro é tão habilidoso com os venenos e marionetes que não precisou nem mesmo de um mestre para se tornar um — ela sorriu — E o Gaara é Kazekage, assim como você.

— É...

— Só vai concordar?

— O que mais você quer de mim? — ele encarou a esposa sem entender.

— Pelo menos algo como “estou orgulhoso dos três” ou “eles se saíram melhor do que planejamos” ou até mesmo “podemos fazer planos com nossos netos agora”...

— Netos!? — Rasa quase se engasgou com essa pequena palavra.

— Claro! Eu quero netos, em breve... — ela sorriu — Não faça essa cara, aposto que você vai mimar eles como fazia com nossos filhos! — algumas risadas escaparam.

— Que raro você se referir a eles como nossos e não só seus!

— Aceito dividir eles um pouquinho com você, mas só um pouquinho... — ela deixou mais risadas escaparem.

— Obrigado. — ele sorriu gentilmente, afagando o cabelo da esposa — Vamos?

— Só quando parar de fazer frio, estou aquecendo o Gaara. — Karura abraçou mais ainda o filho.

— ... Certo —Vendo que não teria outra opção, Rasa apenas concordou e continuou a afagar os fios loiros da esposa.

Quando Gaara acordou pela manhã, ainda se sentindo aquecido e confortável em sua cadeira, ele se perguntou várias coisas:

Realmente estava levando tudo a sério demais?

Precisava aprender a cuidar de si mesmo mehor?

Temari e Shikamaru tinham alguma ligação além dos Exames Chunin?

... Aquele sonho foi real?


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Notas finais do capítulo

Fiz duas pequenas referências a fanfics minhas aqui: primeiro brincando com o fato de que a Karura é protetora demais com o Gaara (Um feliz Dia das Mães...) e de que o Gaara já se aproveitou do manto cumprido para andar por aí descalço (Gaara Chibi).
Música: https://www.youtube.com/watch?v=_hyAOYMUVDs
Espero que tenham gostado!
Sugestões para próximos capítulos, dicas, críticas e observações são muito bem-vindas.



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