Coração Rebelde escrita por Aurora Boreal, Maiah Oliveira


Capítulo 2
Capítulo I - "Diga-me o que quero saber"


Notas iniciais do capítulo

Hey Zombies!
Primeiramente me desculpem a demora a postar, prometi a mim mesma que faria isso sexta, mas aconteceram algumas coisas que me fizeram perder o foco que eu simplesmente não conseguia finalizar o capítulo, mas aqui estou eu!
ADIVINHA QUEM FEZ UM TUMBLR!?!? Agradeço imensamente a Lilo por ter tido paciência comigo e com minhas milhões de perguntas e a Júpiter por ter me mandado uma mensagem de madrugada quase me esganando pedindo pelo capítulo.
Enfim, visitem!
(Por enquanto indisponível!)

Nos vemos lá embaixo...

Aqui é a Lilly, com o capítulo editado - 09/04/18



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CAPÍTULO I

"Diga-me o que quero saber"

 

 

“O sentimento da vingança é tão agradável, que muitas vezes o homem deseja ser ofendido para se poder vingar, e não falo apenas de um inimigo habitual, mas de uma pessoa indiferente, ou até mesmo, sobretudo em alguns momentos de humor negro, de um amigo.”

Giacomo Leopardi

O céu trazia consigo rastros de uma tempestade que, até então, não havia iniciado, seus clarões iluminando a noite da capital.  As tábuas de madeira rangiam sobre o trânsito das poucas pessoas que compunham os frequentadores da estação naquele horário, a maioria de trabalhadores encerrando seu turno. Mas, dentre todos, havia o leitor do pequeno livro que carregava a célebre citação de Giacomo Leopardi. O próximo trem chegaria dentro de algumas horas, tornando incomum a quantidade de malas que carregava enquanto reservava toda a sua atenção à desgastada literatura durante sua espera.

Sua postura era diferente das demais. Visivelmente usava um sobretudo caro, seu terno feito sob medida e seus sapatos, mesmo molhados, exibindo um polimento magnífico. Seus modos evocavam alta classe, bem como sua expressão austera um indicativo claro de seu berço. Aquela não era uma pessoa qualquer, e não estava naquele lugar decrépito por um motivo aleatório. Nada naquele cenário insólito, era uma mera coincidência.

— De fato, acredito que esteja apressado para voltar ao conforto de seu lar. — Um homem, de aparência mais simples, se aproximou. Poderia ser uma pessoa qualquer, se não usasse àquele horário um chapéu que cobria quase toda a área de seus olhos, deixando apenas sua boca ressequida pelo frio a amostra sobre seu cachecol pesado.

— Estaria, se de fato não estivesse acostumado a Florenza e seu clima severo. — Mesmo com sua postura superior, o homem levantou e deixou seu livro de lado a fim de cumprimentar o recém-chegado. — É um prazer vê-lo novamente, John. Pensei que não deixaria o mar tão cedo.

— Não estava em meus planos, mas descobri há muito que planos, assim como lealdades, são mutáveis. — Ele encarou seu acompanhante e o sorriso tomando conta de seu rosto. — Quem diria, Desmond. Política. Você me parecia um magnífico aventureiro.

— Cumpri com meu papel de devasso, agora entrei em minhas responsabilidades e preciso me certificar de que elas sejam cumpridas da melhor forma possível. — Caminhando enquanto era seguido por John, levando apenas seu livro, elegantemente o depositado no bolso de seu sobretudo. Ambos seguiam para uma rua lateral, sendo recebidos por um homem de postura firme que estava em frente a um carro. — E você deixou o mar.

— Apesar de não possuir nada de valor, também cumpro com minhas responsabilidades aqui. — John se acomodou no banco bem trabalhado em couro e imediatamente se livrou do cachecol que usava.

O motorista deu partida sem precisar de qualquer aviso prévio. Pequenas gotículas de chuva enfeitavam o vidro enquanto ambos aproveitavam o calor do novo ambiente para terem uma conversa mais agradável. Desmond passou as mãos de forma que seus cabelos castanhos rebeldes ficassem para trás com o auxílio da umidade. John retirou seu chapéu, e seus cabelos ruivos cacheados lhe caíram sobre os olhos.

— Eu não deixaria o mar se fosse você — comentou cauteloso.

— Foi o que disse quando estávamos a caminho de Veneza. Aquele era um bom vinho, o que nos acompanhava. — Misteriosamente o tom da conversa parecia carregar um peso que fez com que ambos se reposicionassem no banco de forma mais confortável.

— Então ressentimento o corrompeu? — O monarca apontou com a cabeça em direção à mão do homem dentro de seu casaco, a mesma que quando retirada revelaria uma arma de cano curto.

— Hipócritas. É o que somos. Nos permitimos corromper pelo meio.

Apesar de se esforçar para demonstrar confiança, Desmond em seu conhecimento superficial de armas sabia que aquela certamente o mataria, ou o deixaria bem próximo desse fim, mesmo com o claro nervosismo que tomava o homem com a arma.

— Eles me ensinaram a sobreviver. E você… Bem, me ensinou o preço disso.

Ele escutou as engrenagens da arma trabalhando. Sentiu o chumbo perfurando seu corpo e se misturando ao seu sangue. Uma onda de dor súbita dominou seu corpo abatido. Ao mesmo tempo o veículo perdeu o controle e virou no momento em que provavelmente o motorista se assustou com o barulho. O monarca foi lançado em direção a calçada quando uma das portas do veículo se abriu. John acompanhou o trajeto, caindo por cima do homem, fazendo com que a arma escorregasse para longe, seus ouvidos ainda zumbiam enquanto ele tentava se livrar de John para buscar ajuda. Mas a quantidade de sangue em sua camisa logo o alertou de que algo estava errado, aquele mar vermelho não era seu.

O buraco na testa de John fez com que Desmond olhasse ao redor rapidamente, mesmo enquanto foi atingido por uma tontura que o deixou sem ar. Foi então que o viu. O homem segurava uma arma assim como a de John, mas sua identidade estava encoberta pelas sombras. O monarca não ousou se mexer até o momento que o misterioso atirador desapareceu pela rua, sabendo que não poderia ser seguido.

E como se houvesse levado uma surra, o príncipe desmaiou.

***

Ainda era cedo quando entrou em seu escritório. Estava agora perfeitamente acomodado na cadeira imponente diante de sua mesa, observando alguns documentos referentes às suas propriedades no interior do país. Sua postura demonstrava completa displicência ao deixar seu blazer de lado e desabotoar os primeiros botões de sua camisa. O cheiro do chá intocado invadia o ambiente, dando um clima mais confortável e receptivo ao lugar. A agitação da casa o trazia para o mundo real.

Uma suave batida soou na porta, sendo aberta após sua autorização. Apenas parte do rosto de seu mordomo apareceu por trás da grande estrutura de madeira. Enquanto o homem se preparava para falar, foi interrompido pela entrada abrupta e intempestiva de uma dama de cabelos loiros seguida por um amontoado de tecido coral, ela proferia palavras rapidamente, contrariando todas as regras de etiqueta que tinha sido doutrinada a seguir.

Exibindo seu costumeiro leve sorriso pela reação da jovem, o mordomo saiu silenciosamente.

— Um tiro? — questionou ao tocar o ombro machucado do homem, afastando a gola da camisa dele para observar a atadura que envolvia o ferimento. — Uma semana na Escócia e você leva um maldito tiro?

— Quem a observa de longe não acredita que tende a esse nível de pudor — disse com leve sarcasmo, Desmond a observou com atenção sua sobrancelha expressiva se contorcendo em descrença e desconsideração por seu comentário. — Apenas um assalto, Pietra. O ladrão se desesperou e sacou a arma.

— E este homem deve estar preso, acredito eu. — O homem a conhecia bem demais os astutos caminhos da mulher para saber que buscava arrancar de seus comentários evasivos qualquer informação que saciasse sua curiosidade investigativa.

Desmond foi salvo pelo gongo, quando a conversa foi interrompida por outra batida na porta, mas uma vez aberta depois de sua autorização. Seu mordomo entrou novamente acompanhado por outra empregada trazendo com ela uma bandeja com um serviço de chá completo. Ficaram em silêncio enquanto a jovem deixava uma bandeja de chá na mesinha do outro lado do escritório. Assim que a empregada saiu seguida do mordomo, Pietra ocupou um lugar no sofá perto da janela e se serviu do chá, continuando sua conversa como se nada tivesse acontecido, para frustração de Desmond.

— Por que não me vem qualquer outra justificativa para o fato de estar sentado em seu escritório lendo um monte de documentos ao invés de seguir sua índole de justiça.

Ele a encarou e deixou que o silêncio tomasse conta do lugar novamente durante alguns segundos. Ela sempre esteve por perto, sempre sabia de todas as coisas. Isso era algo que a caracterizava, mas nada o convenceria de contá-la sobre o destino que havia levado o pobre homem. Depois de tantos anos, conhecia perfeitamente o ímpeto que seria capaz de fazê-la caçar a verdade em todos os lugares que pudesse. E por mais sujo que pudesse parecer, mentir era sua opção mais aceitável. Ela não poderia saber da morte do homem.

— A polícia se encarregou da procura, acharam melhor que eu passasse algum tempo em casa, para que pudesse me recuperar. — Durante alguns milésimos de segundo chegou a acreditar que ela rebateria sua declaração, e de fato a ideia passou pela mente da moça. Mas seu rosto, antes exibindo imensa desconfiança, ganhou certa suavidade ao esfregar as têmporas como se um imenso peso houvesse sido tirado de seus ombros.

Ele se inclinou para trás e a observou.

A moça ficou em silêncio por alguns segundos apreciando seu chá, contrariando seu comportamento habitual. Mas antes que Desmond pudesse tomar qualquer iniciativa pela situação, a porta mais uma vez se abriu, dessa vez sem qualquer cerimônia ou aquiescência e um rapaz alto adentrou com rapidez o escritório, tamanha velocidade o fazendo desabar na poltrona ao lado de Pietra.

— Pietra calada? — perguntou ao observar a mulher com atenção ao mesmo tempo que aguardava alguma espécie de explicação por parte de seu amigo.

— Costumo apenas direcionar minhas palavras a pessoas capazes de compreendê-las. — A mulher respondeu entre uma bebericada e outra. — O que infelizmente não é o seu caso.

— Tão doce, essa dama — declarou ao encará-la com deboche. — Espero que um dia encontre um marido. Mas isso não vem ao caso no momento, precisamos conversar, Desmond. — Ele encarou o monarca sentado para logo direcionar seu olhar para Pietra novamente de forma muito sugestiva. Depois de alguns segundos de silêncio, foi obrigado a ser mais claro.  — A sós.

Como se tivessem a insultado pessoalmente, Pietra deixou a sala com uma dose considerável de irritação, o que fez com que os dois homens a encarassem com cautela quando Pietra fechou a porta atrás de si. E como se soubessem que ela não perderia a oportunidade de tentar ouvir qualquer coisa atrás da porta, deixaram o pequeno escritório em direção à varanda da casa, sendo recebidos com uma bela vista da pequena praça movimentada.

— Vincent? — O nome saiu com amargura dos lábios de Desmond, já antecipando o assunto que o outro nome abordaria.

— Ele quer vê-lo. — Eric declarou com certo receio. Se havia alguém que era informado da situação familiar dos gêmeos, essa pessoa era Eric. — Ninguém o julga por isso, sabemos o que ele quer.

— Claro, então deem uma coroa para meu irmão! — Observando com irritação o amigo, Desmond deixou a sala, levando com ele a chave de seu carro conversível.

***

O Palácio de Valhala, como recebera o nome em sua construção, era uma estrutura esplendorosa de pedras cinza que ganhavam ainda mais destaque no inverno. Havia uma lenda antiga que dizia que o palácio era uma miniatura da morada de Odin em Asgard, entregue pelo próprio Pai de Todos para a dinastia que dominaria Midgard assim como o próprio deus havia conquistado os nove reinos. Se era apenas uma história de ninar ou um mero incentivo ao patriotismo, cabia a cada criança decidir, mas Drakar representava a classe de um deus e a bravura de um viking. E tal característica era motivo de orgulho para muitos... Mas não todos.

— Nenhum homem é tão bom a ponto de nenhuma culpa o acompanhar. Tampouco tão ruim que mereça ser completamente ignorado. — As palavras foram proferidas com sagacidade, fruto de um debate que tomava proporções que fugiam do controle dos dois oponentes. Sem nenhuma ofensa, a mulher conseguira atingir o homem, como poucas pessoas eram capazes de fazer, e isso o fez abrir um simples sorriso de satisfação, o que a fez encará-lo com excessiva curiosidade. — Manifestações, terrorismo, morte e você me pede para cobrir esse showzinho que está promovendo?

— Vejamos se é tão esperta quanto dizem, senhorita Temples. Você, assim como eu, sabe do que acontece dentro dos muros deste castelo. Valhala é um mar de desconfiança e traições. — O homem se inclinou sobre a mesa, sua postura exalando a graça de um rei e a determinação de um guerreiro.

— Por isso estamos em um escritório ao invés da proposta ser levada ao Conselho. É um golpe. — Não era uma conclusão difícil de se chegar àquela altura da situação monárquica.

— A história traz muitas definições de "golpe", senhorita. Gabriel Naudé usou o termo em seu livro "Considérations politiques sur le coup—d’état", do ano de 1639, para definir a decisão de Catarina de Médici ao eliminar os protestantes na noite de São Bartolomeu. E este não foi o único. Estes e outros exemplos de golpes de Estado mencionados por Naudé têm em comum serem um ato executado pelo soberano para reforçar o próprio poder. Esta decisão é geralmente tomada de surpresa para evitar reações por parte daqueles que deverão sofrer as consequências.  

Levantando de sua poltrona para contornar a que a mulher permanecia sentada, Vincent seguiu um trajeto familiar para o herdeiro até o grande mapa mundi emoldurado no escritório do rei, contemplando toda a parte da Europa que constituía Drakar. 

— Seu pai sabia de muitos segredos, e isso os matou, assim como os meus — continuou Vincent virando novamente para encarar a loira e seu olhar sombrio. O homem se aproximou da poltrona em que a senhorita Temples permanecia sentada o observando cautelosamente, segurando os apoios de braço e se inclinando de modo que seus rostos estivessem bem próximos. — Me diga se o que acredito estiver errado, e contrarie tudo aquilo que aprendeu. Não posso ganhar esse jogo sozinho, Serena.

— E não vai — respondeu sem exibir qualquer alteração mediante a proximidade em que se encontravam. — Mas eu não serei seu peão, alteza. Espero que estejamos entendidos.

E da mesma forma resignada que entrou na sala ao ser convidada, a deixou, o fazendo sorrir mais uma vez. Se aquela mulher não fosse sua arma secreta, certamente seria seu fracasso total, e se havia algo que Vincent podia reconhecer era o fato de precisar dela assim como precisava dos ensinamentos de seu pai.

Então, como se houvesse ganhado uma das batalhas, o que de fato havia ocorrido mesmo com a reação de Serena, ele observou a janela como costumava fazer. Apenas a entrada abrupta o retirou de seu momento de contemplação pacífica. Sem precisar virar o rosto, já sabia de quem se tratava.

— Olá, irmão. Precisamos, enfim, conversar.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? COMENTEM, por favor. Isso é tão absurdamente importante e legal a nós, meros autores. Perdão qualquer bug no Tumblr, não sabia nem para onde ia. Nada que não possa ser aprimorado! :3 De qualquer forma, espero o feedback...
Xoxo,
~Zombie Geek