Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Se tem uma coisa que me deixa angustiada é ver Jane sentindo-se num beco sem saída. Uma das coisas que mais admiro nela é sua determinação em corrigir seus erros. Mas, infelizmente, coloquei ela numa situação em que tudo que podia fazer era esperar por Avery. Será que as duas fizeram algum progresso nesse capítulo? Kurt poderia ajudar ou não deveria interferir?
Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755106/chapter/3

A noite não foi tranquila apesar de Jane mal se mexer nos braços de Kurt na cama. Há muito tempo ele conhecia essa estratégia dela para enfrentar as lembranças mais sombrias. O diferencial, entretanto, eram os espasmos que sobrevivam de tempos em tempos, demonstrando o quão ressentida ela estava.

Assim que amanheceu, ele sugeriu ficarem em casa. Ela não parecia bem para encarar o SIOC e Avery. Além disso, só ele sabia o quanto ela tinha suportado nos últimos anos e que os problemas com a filha poderiam ter aberto uma comporta pela qual muitas lágrimas ainda poderiam jorrar.

No SIOC, as investigações seguiram sem eles. Não havia nenhuma grande pista sobre as tatuagens, então, restou à equipe aproveitar o tempo para dar conta da parte burocrática.

Avery chegou no horário normal e logo notou a falta do casal. Por isso, foi até o laboratório de Patterson, onde Zapata também estava, questionar a ausência:

— Onde eles estão? Foram investigar alguma coisa que estão escondendo de mim?

Patterson arqueou a sobrancelha olhando para Zapata numa clara interrogação sobre como lidar com a jovem e depois disse:

— Eles tiraram o dia de folga.

Avery franziu a testa e contestou:

— Folga? Vocês estão no meio de uma investigação importante e os dois simplesmente se ausentam do trabalho? Quanta responsabilidade...

Zapata que até então estava debruçada sobre a mesa de Patterson, endireitou o corpo respirando fundo para não ser tão agressiva quanto sentia vontade:

— Kurt e Jane dedicam horas muito além do que são remunerados nesse trabalho, Avery. Os dois raramente se ausentam. Se precisaram desse tempo hoje, todos nessa equipe concordam que eles têm direito a isso.

Avery continuou em tom de deboche:

— Bem, só espero que os dois sejam sensatos para não fazerem um bebê durante a folga. Realmente espero que um dia Kurt entenda que ele merece mais.

As amigas se entreolharam novamente. Foi Patterson quem continuou:

— Avery, Kurt fez uma escolha e essa escolha é Jane. Eles se amam.

A réplica veio de forma imediata:

— Vocês realmente confiam nela depois de todas essas histórias?

Tasha e Patterson responderam ao mesmo tempo:

—Claro!

Então Patterson continuou:

— Nós vivemos muitas dessas histórias com Jane, Avery. E ela conquistou nossa confiança e ainda mais: a nossa amizade.

— Sabe, Avery, eu já tive meus problemas com a Jane. Acho que fui a pessoa por aqui mais resistente em aceitá-la. Uma vez eu cheguei a atirar nela._ a expressão de espanto no rosto de Avery ao ouvir o relato de Tasha era nítida. Então a latina continuou. _ Eu estava realmente muito brava com ela naquele momento. Hoje, se eu pudesse voltar ao passado, jamais teria puxado o gatilho. Aliás, minha reação seria totalmente outra. Eu iria até ela e a puxaria para um abraço. Infelizmente, quando estamos com raiva de alguém é muito difícil se colocar na pele do outro, mas o tempo passa e muda nossas perspectivas.

A garota respirou pesado e saiu batendo os pés. Patterson olhou para os monitores ao seu redor e confessou:

— Que mais esse momento difícil passe, deixando sequelas menores em todos nós. Tasha, podemos pular para o dia em que Jane e Kurt estarão de folga fazendo realmente seu bebê?

Tasha contornou a mesa e foi dar o abraço que a amiga estava precisando.

Surpreendendo a todos, o casal apareceu no NYO após o almoço. Os cumprimentos foram rápidos e se dirigiram para suas estações de trabalho. Jane acenou com a cabeça para Avery que manteve a distancia. No meio da tarde, a garota estava num computador vasculhando pela enésima vez os arquivos de Crawford quando Kurt se aproximou e disse:

— Eu ampliei seu acesso ao sistema. Estou liberando os arquivos sobre Jane. Tudo que sabemos está lá.

— Obrigada, mas tudo que eu preciso saber estão nesses arquivos aqui._ Avery respondeu apontando para o monitor com a foto de Crawford.

— Olha, Avery, eu tenho me esforçado para ficar fora da relação de vocês duas. Pensei a noite toda e também durante essa manhã. E a verdade é que , aconteça o que acontecer, eu estarei lá por Jane. Mas você não tem mais ninguém. Há muito pouco de bem que essa sua obcessão por vingança possa te trazer. Pare de olhar para trás, para tudo que você perdeu, e comece a enxergar quem você ainda tem a sua volta.

Kurt não aguardou qualquer comentário da garota. Deu meia volta e se retirou da sala.

Ao final da tarde, Tasha arrebanhou o team com uma proposta:

— Vamos sair beber juntos. Afinal, o infeliz do novo Diretor Assistente não consegue entender nossas necessidades nesse SIOC.

Os próximos dias transcorreram naquela rotina quase cotidiana de “salvar o mundo”.

No final de uma manhã, após retornarem de uma missão arriscada chamuscados por uma explosão que não conseguiram evitar, Avery aguardava na porta do elevador. Seus olhos correram imediatamente para Jane que tinha as mãos segurando o lado direito do abdômen e olhou apenas brevemente para ela. A pergunta, entretanto, ela dirigiu a todos:

— Vocês estão todos bem?

Todos a tranquilizaram. Tasha e Reade seguiram para o andar médico, enquanto Jane e Kurt seguiram para o vestiário. Avery foi atrás dos dois e observou enquanto Kurt entregava gelo para Jane:

—Ei , vocês não vão para a avaliação médica também?

— Estou bem. _ Jane respondeu.

— Jane, se a dor não diminuir com isso, vamos subir e fazer alguns exames. Ok?_ Kurt parecia preocupado, mas diante do consentimento que Jane fez com a cabeça, se retirou do local.

Assim que sentou na sua plataforma de trabalho para preencher aqueles relatórios que ele detestava, viu Avery se aproximando com a postura desafiadora de sempre. Ele respirou fundo buscando algum resquício de paciência lá no fundo para evitar um confronto depois de um dia tão difícil quanto aquele. Tudo que Kurt queria era preencher os relatórios o mais rápido possível para voltar a insistir com Jane sobre a necessidade de um check up médico.

— O que foi você quer, Avery?

A garota bufou.

— Eu realmente simpatizava com você, Weller, mas a cada dia percebo que estava errada nisso.

— Qual é o problema dessa vez?_ ele não estava disposto a dar corda para a rebeldia dela, queria o foco principal da reclamação sem rodeios.

— Qual é o problema, Weller? Você nem insistiu pra Jane passar pela avaliação médica!

— Ela disse que está bem.

— Quem tem que dizer se ela está ou não bem é o médico! Meu Deus do céu, vocês são incompreensíveis. Você diz que a ama, mas não se importa com o bem estar dela. Sem contar que você sequer impediu que ela acabasse nas mãos da CIA!

Weller lutou para não deixar transparecer o alívio que sentia por ver Avery demonstrando preocupação com Jane. Tudo o que ele queria era poder correr para o vestiário contar isso a sua esposa. Mas respirou fundo novamente e disse.

— Quando prendi Jane não sabia que isso a levaria a enfrentar um Black Site da CIA. Eu jamais aceitaria o que aconteceu com ela.

Avery riu sarcasticamente

— Os relatórios dizem que Mayfair sempre impediu a CIA de ter a custódia de Jane. Mas você a entregou de bandeja.

Kurt respirou pesadamente e tentou se justificar:

— Eu era novo no cargo, não tinha a experiência de Mayfair para lidar com essas negociações..._ então parou por alguns instantes e continuou _ Eu estava decepcionado e com muita raiva da Jane, Avery. E quando estamos tomados por esses sentimentos, eles nos cegam. Não se passa uma noite sem que eu não me arrependa por isso. A única força que me faz seguir em frente é ver que nos olhos dela não existe qualquer magoa por esse meu erro. Se ela me perdoou por isso, eu tenho que me perdoar também.

— Mas você está cometendo outro erro agora. Ela pode estar muito mais machucada do que aparenta. Você sabe o quanto ela resiste em demonstrar dor.

— Eu sei de tudo isso, Avery. Eu também sei o quanto ambientes médicos são desconfortáveis para Jane depois de tudo que ela passou. Então, também tenho que confiar na avaliação que ela mesma faz de si própria para evitar danos maiores.

Avery deu as costas para ele e saiu visivelmente desgostosa com a conversa.

De volta ao vestiário, encontrou Jane ainda fazendo a compressa fria.

— Você devia passar pela avaliação médica. _ disse com cara de poucos amigos.

Jane olhou para ela surpresa e ficou sem palavras. Avery continuou:

— Eu te acompanho. Vai ser rápido.

Jane se esforçou ao máximo para segurar a negativa. Alguns momentos com sua filha valeriam o desconforto. Então, ela apenas concordou com a cabeça e seguiram para o ultimo andar do NYO onde ficava o hospital.

Na sala de espera, Avery não desgrudava os olhos de Jane, atenta a cada reação dela. A garota percebeu  como Jane estava tensa, evitava seu olhar, com os braços defensivamente cruzados à frente do próprio corpo. Mas só sentiu seu estomago revirar no momento em que viu sua mãe tentando conter os reflexos que afastavam o toque do médico na mesa de exames. Nesse momento, Kurt entrou bufando na sala e lançou um olhar repreensivo para Avery. Ele imediatamente se colocou ao lado de Jane, segurando sua mão enquanto a avaliação médica acontecia. Descartada qualquer possibilidade de complicação, foram liberados.

De volta ao escritório, as duas voltaram a se distanciar.

Ao final do expediente, a garota se aproximou da ilha de trabalho de Jane e disse:

— Você atendeu meu pedido ao subir pra avaliação médica, então acho que tem o direito de me pedir alguma coisa também.

Jane nem pensou muito na resposta:

— Podemos conversar um pouco, fora daqui?

Diante da confirmação de Avery, as duas se dirigiram até um parque próximo. Começaram com assuntos casuais até que Jane tomou fôlego e disse:

— Avery, eu sei que não tenho o direito de exigir nada de você e não quero substituir seus pais. Eu sou muito grata a eles por terem te dado uma vida feliz com amor, cuidados e um conforto material que eu não podia te oferecer naquele momento. Eu só não quero que você se sinta sozinha. Estarei aqui sempre que você precisar, mesmo que você nunca possa me perdoar.

A garota permaneceu em silêncio. Então Jane continuou, buscando coragem para encarar a filha:

— Eu sinto muito por não me lembrar do passado para poder te dizer o que realmente aconteceu, mas tem alguns fragmentos que voltaram à minha memória desde que soube de sua existência. Eu me lembro de sentir você se mexendo dentro de mim e também da primeira vez que te peguei no colo. E foram momentos bons. Eu acho que são os únicos fragmentos de tudo que já lembrei em que eu me sentia realmente feliz..._ Jane respirou e continuou_ Também é com você a pior lembrança que já tive: quando acordei e vi seu berço vazio no hospital. A sensação de desespero que senti ainda volta toda vez que isso vem à minha mente._ os olhos dela se encheram de lágrimas._ Eu sei que não é muito... Eu realmente sinto muito...

Jane voltou a envolver os braços em torno de si mesma. A sensação de fracasso em oferecer tão pouco à filha era frustrante demais até para encarar o olhar da garota, então ela simplesmente olhou para baixo se perguntando como agir dali em diante.

O tempo pareceu desacelerar a partir do momento que Jane viu a mão de Avery entrando em seu campo de visão e se entrelaçando a dela para depois puxá-la para a caminhada:

— Já é alguma coisa. Vem, Jane, vamos procurar alguma coisa pra comer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Talvez pareça pouco, mas minha experiência como mãe sempre me conduz para pequenos passos sem perder de vista o longo caminho. Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reencontro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.