Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Enquanto no capítulo 1 tentei deixar tudo da forma como eu gostaria que acontecesse, aqui falhei miseravelmente. O que vocês lerão é o oposto do que eu quero ver em Blindspot. Não sei dizer o que acontece quando estou escrevendo, a história parece mais forte que eu.
Esse capítulo gira em torno da relação de Jane com Avery.
Boa leitura.



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No início da semana seguinte, Avery aceitou ir ao cinema com Jane. A garota não abriu muito espaço para o diálogo, mas já era um passo a mais.

Dias depois, foi o jantar no apartamento dos Wellers. Avery chegou com cara de poucos amigos e respondeu aos diálogos apenas de forma monossilábica.

Ao final da refeição, Sentaram-se no sofá da sala e a garota buscou algo que havia trazido dentro de uma sacola. Fotografias de vários momentos de sua vida.

Indescritível a emoção de Jane por ver sua filha compartilhar aqueles momentos que doíam tanto nela ter perdido. Ela imediatamente se mudou para o lado de Avery, observando as fotos e as narrativas que acompanhavam cada uma delas. A garota falava sem parar nem dar espaços para comentários:

— Aqui eu estava aprendendo a andar. Nessa outra, a minha testa tá ralada porque caí do balanço no parque. Olha, minha primeira apresentação de balé. Ganhei a boneca que mais queria por ter feito tudo direitinho. Ah, tá vendo essa? Olha a cara horrível que eu estou. Três dias com febre. Eles me levaram ao parque pra ver se eu comia alguma coisa...

A narrativa parecia que não teria mais fim. Momentos da escola. Amigos. Viagens.

Jane acompanhava tudo atentamente procurando reter cada detalhe enquanto o sentimento de gratidão pela relação das duas ter chegado àquele patamar. Várias vezes, teve que se concentrar para não deixar as lágrimas caírem.

Após apresentar a última foto da seleção, Avery recolheu todas as imagens rapidamente e as devolveu na sacola:

— Enfim, essa é minha vida..._ disse. Jane já ia abrindo a boca para agradecer pelas fotos quando sua filha continuou de forma impetuosa_ ... essa é a MINHA FAMÍLIA. Eles estavam lá o tempo todo por mim. Eles cuidaram quando estive doente, eles me ensinaram a ser quem eu sou. Eles me amaram. A minha mãe é essa pessoa maravilhosa que você viu nas fotos. Ela nunca me abandonou. Então, por favor, vamos parar com essas tentativas de aproximação porque isso é patético. Foi escolha sua não estar em cada uma dessas fotos e desses momentos, Jane. E você sabe o motivo real dessa ausência: você nunca me amou.

A tormenta voltou. Novamente Jane se viu numa espiral que a puxava para o chão ou talvez mais fundo. O tombo foi imenso, tão grande que ela não conseguia organizar tudo o que queria dizer de forma coerente:

— Avery, eu... eu não te abandonei, eu lutei por você...

— Lutou??? Então, por favor, você pode me dizer como, Jane?

— Eu não me lembro... você sabe que não posso me lembrar. Roman disse que lutamos...

— Roman? Seu irmão psicopata? Aquele me usou e me prendeu? Aquele em quem você me disse pra não confiar?

— Avery, eu sei que é tudo muito confuso...

—Não! Não tem nada confuso aqui. Você só não quer aceitar. Eu estou aqui e vou colaborar com tudo que for preciso para derrubar Hank Crawford e só! Eu não estou aqui para resgatar qualquer tipo de elo perdido com você, Jane. Se as coisas puderem continuar como estritamente profissionais de agora pra frente, ótimo! Se não, eu caio fora já!

Jane tentou conter o turbilhão de emoções que tomava conta de sua alma. Existiam mais de mil coisas que ela queria dizer. Existiam tantos sentimentos que ela queria compartilhar com a filha, mas estava claro que forçar isso naquele momento seria comprometer tudo. Ela só desejava ter o direito de desistir de derrubar Roman e Crawford para tentar resgatar qualquer coisa que fosse com Avery, mas isso significava por inúmeras vidas de pessoas inocentes em risco. Jane também duvidava que verbalizar isso nesse momento tivesse algum efeito positivo sobre a filha. Então, disse apenas:

— Eu nunca quis invadir sua vida nem substituir as pessoas que você amou... Eu prometo que me afasto e paro de insistir numa aproximação com você se continuar aceitando a proteção do FBI.

Avery assentiu com a cabeça endurecendo ainda mais a expressão facial e se retirou do apartamento.

Kurt, que até então acompanhou a sequencia de acontecimentos decidido a não interferir receando agravar ainda mais a situação, acompanhou a garota até a portaria e garantiu que seus seguranças a levariam até a casa segura. No trajeto, não tentou partir para a defesa de Jane, por mais que sentisse vontade de fazê-lo. Ele sabia que certas questões cabiam apenas as duas. Com cuidado, perguntou a garota se ela estava bem para seguir sozinha com os seguranças e se precisava de algo. Diante da negativa, se despediu, dizendo:

— Se precisar, estamos aqui.

Enquanto voltava para o apartamento, Kurt elencou as possibilidades do que dizer a Jane. Em sua mente, projetou Jane se esforçando para se mostrar forte após o desfecho desastroso do jantar. Mas ele sabia o quanto aquilo a tinha abalado, por menos que ela demonstrasse.

Assim que entrou no apartamento, percorreu os cômodos com os olhos a procura da esposa, sem sucesso. Alguns passos mais adentro, pode vê-la na varanda, de costas para ele, com as mãos apoiadas no parapeito e olhando para a cidade. Ele se aproximou sem dizer nada e se colocou ao lado dela levando a mão direita até suas costas.

O olhar de Jane parecia perdido no infinito das luzes de NYC, marcas de lágrimas recentemente enxugadas de seu rosto o surpreenderam.

— Ela tem razão, Kurt. Eu não sei amar. Eu só machuco as pessoas que se aproximam de mim.

Ele inspirou buscando as melhores palavras enquanto insistia nos movimentos suaves nas costas de Jane. Mais uma vez, ele odiou sua pouca habilidade com palavras.

— Essa sua afirmação está baseada apenas no que Avery disse ou você  está relembrando o fato que a Dra. Sun também levantou essa hipótese?

A Jane fechou os olhos, apertando os dentes e virando levemente a cabeça na direção contrária ao marido. Kurt continuou:

— Talvez você esteja certa. Os fatos são favoráveis a essa interpretação. Enquanto o amor que sinto por você e que diz o contrário pode estar nublando minha avaliação, não é? _ Jane não respondeu. Kurt respirou fundo e seguiu_   Mesmo sem que você seja capaz de amar, você pode ser sincera ao me responder três perguntas?

Ela balançou a cabeça demonstrando desistência, mas disse:

— Acho que é o mínimo que eu posso fazer, não é?

— É, eu acho. _ Kurt inspirou buscando fôlego e coragem _ O que foi pior:  os três meses no Black Site ou a forma como te tratei no seu retorno?

Jane relutou em responder. Ele insistiu:

— Você disse que seria sincera. Eu quero a resposta.

Jane nunca imaginou ter que voltar a esse assunto, ainda mais naquele momento. Nem imaginou o quanto seria difícil verbalizar aquela resposta que estava tão nítida no seu coração. Tomando fôlego, disse:

— O jeito como você me tratou foi pior.

— Ok. Vamos pra próxima. O que foi pior: os três meses no Black Site ou ouvir tudo o que Avery acabou de te dizer?

Jane não respondeu. Ela estava nitidamente lutando para controlar as emoções que pareciam querer vencê-la. Mesmo dilacerado ao ver que estava levando sua esposa ao limite, Kurt insistiu:

— Vamos, Jane. Você sempre foi sincera e conseguirá responder isso. Eu estou aqui pra te ajudar a enfrentar essa resposta.

De repente, Jane se virou e se atirou nos braços de Kurt, chorando compulsivamente. Ele a envolveu em seus braços e a confortou por alguns minutos, depois voltou a insistir:

— Janie, você ainda não me respondeu.

Entre soluços, mal sendo capaz de articular as palavras, ela respondeu:

— Isso é muito pior, Kurt... Eu preferia... passar o resto da minha vida com Keaton naquele inferno do que passar por isso.

Então, ele a encaminhou para dentro da sala e se sentou ao seu lado no sofá. Tomou uma pequena distância e puxou o queixo de Jane forçando-a a olhar para ele.

— Ainda tenho direito a mais uma pergunta...

— Kurt..._ Jane disse com olhar suplicante.

— Só mais essa, Janie. Porque tudo que vem de mim e de Avery é pior que o inferno que você viveu naquele Black Site?

Pacientemente ele aguardou até que mais uma sequência de soluços se acalmasse e ela tivesse força para responder:

— Por que dói muito mais...

— O nome dessa dor é amor, Janie. Se você não nos amasse, nossas atitudes não te atingiriam dessa forma. _ e puxou a esposa de volta para seu abraço._ Eu estou aqui com você, sempre!

Kurt sempre admirava o quanto sua esposa era forte para enfrentar situações até desumanas. Vê-la quebrar diante de uma adolescente parecia surreal. Ele se sentiu pequeno e impotente diante da situação. Tudo que estava ao seu alcance era estreitar o abraço ao redor dela. Talvez pudesse fazer algo mais amanhã.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não me odeiem.
Juro que tento melhorar as coisas nos próximo... se eu conseguir enxergar alguma luz no fim do túnel.
Obrigada pela leitura.



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