Amem escrita por Liz Setório


Capítulo 8
Safadeza


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O que ela faria? Eu não fazia a menor ideia. Se eu soubesse a cura da homossexualidade, eu mesmo teria feito uso dela.

— Quando você descobriu isso? — questionei.

— Ele me contou ontem, mas eu sempre desconfiei — revelou visivelmente incomodada com aquela situação.

Dona Antônia tinha me pegado de surpresa. Além de não saber o que dizer a ela, eu me sentia terrivelmente incomodado com aquela situação, era como se estivéssemos discutindo a minha homossexualidade. Julguei que o melhor seria conversar com o rapaz. Assim, talvez, eu me sentisse um pouco mais à vontade.

— Diga a ele pra me procurar lá na igreja. Eu quero conversar com ele.

— Tá bom, padre. Vou mandar ele ir lá, espero que o senhor consiga curar ele desse mal.

Meu Deus, onde eu estava me metendo? A pobre mulher achava que eu poderia curar a homossexualidade do filho dela, quando na verdade eu não conseguia nem curar a minha.

Eu não sabia muito bem como seria a minha conversa com o rapaz, mas tentaria fazer o máximo para o garoto entender que ser homossexual não era algo nada bom.

[...]

No dia seguinte, ao final da missa, um rapaz veio falar comigo, era o Mário, filho de dona Antônia.

Depois de pedir a benção, ele foi logo dizendo:

— Minha mãe disse que o senhor quer falar comigo. É sobre a minha homossexualidade, não é?

— Sim, a sua mãe está muito preocupada com essa sua opção sexual.

— Não é uma opção, eu não escolhi, padre.

— Realmente, meu filho, você não escolheu. Isso é uma tentação do Demônio.

— Eu não estou com o Demônio. Por que é tão difícil entender isso? Por que a culpa tem que ser dele? — interrogou visivelmente nervoso.

Naquele momento, foi como se eu estivesse falando com Miguel. Eu me sentia jogado contra a parede. A homossexualidade poderia mesmo ser algo normal? Não, não poderia ser… Isso não entrava na minha cabeça. Como Deus poderia deixar dois homens se atraírem? Não, ele não poderia permitir isso, afinal tinha criado Adão e Eva e não Adão e Ivo.

— Isso é o que todo gay diz. Deus não permitiria esse tipo de coisa — argumentei, a fim de convencê-lo.

— O senhor e  minha mãe nunca irão me entender — protestou.

Ah, como eu o entendia... A diferença era que eu sabia o quão errado era ser um homossexual.

— Por que você não começa a frequentar a igreja? Talvez seja bom para você…

— Não, eu não quero, não me interessa fazer parte de um lugar onde serei julgado a todo momento e visto como uma aberração necessitada de cura — argumentou extremamente irritado e deixou o local.

Nem que eu quisesse poderia impedi-lo de ir embora e mesmo que eu conseguisse isso, não conseguiria fazê-lo entender o meu ponto de vista.

A homossexualidade era algo complicado para mim. No entanto, eu sabia que ela não era, de forma alguma, natural.

Eu queria tanto poder acordar um dia e me livrar desse desejo imenso de estar com outro homem, ou mais precisamente, desse desejo imenso de estar nos braços do padre Miguel.

Deixei a igreja pensativo. Pensava em Mário, em mim e no Miguel. O que de errado havia conosco? Tínhamos feito algo ruim? Aquilo era um castigo de Deus?

No caminho passei por uma praça e vi Mário sentado em um dos bancos, enquanto alguns garotos zombavam dele.

— A bichinha saiu do armário foi? Todo mundo já sabia que você era viado.

Aproximei-me deles e com uma voz firme, ordenei:

— Deixem o Mário em paz. Vocês não têm o que fazer não?

Os garotos olharam para mim por alguns instantes. Depois um deles chamou os outros para irem embora.

Sentei-me ao lado de Mário. Ele estava chorando muito, mal conseguia falar.

Tudo aquilo fez eu me dar conta que a pior parte da homossexualidade era a homofobia. Eu não fazia a menor ideia do que dizer ao garoto, eu estava muito confuso com tudo aquilo. Então, acabei o abraçando. Depois de alguns instantes, já mais calmo, Mário soltando se do meu abraço, interrogou:

— Por que tem que ser assim? O senhor sabe por que eu tenho que sofrer por ser quem eu sou?

— As pessoas são cruéis.

Naquele momento, o sofrimento de Mário, era o meu sofrimento também. Eu sabia o quão as pessoas eram cruéis, pois eu era cruel comigo mesmo, era preconceituoso contra mim mesmo.

— Eu não faço mal a ninguém sendo gay. Por que isso incomoda tanto?

Não respondi a pergunta dele. Uma leve vontade de chorar surgiu em mim, mas consegui controlá-la.

Diante do meu silêncio, Mário acabou se levantando e saindo dali. Eu fiz o mesmo e fui caminhando em direção à minha casa. Ainda era cedo, provavelmente Michele ainda não teria chegado do cursinho, eu teria então, um tempinho sozinho.

Enquanto caminhava não conseguia deixar de pensar no Mário, a situação dele me afetava diretamente, porém eu não poderia fazer nada para ele se sentir melhor e isso me causava um certo incômodo.

Tentei desviar os pensamentos de Mário e os direcionei para Michele. Eu estava muito feliz por ela, a garota estava se adaptando muito bem à cidade e dava gosto de ver a amizade que estava surgindo entre ela e o primo do Miguel, o Lucas.

Pensar sobre o Lucas também não era algo muito bom, pois às vezes eu imaginava que ele poderia ter algo com o Miguel e isso era imensamente perturbador, porque juntava duas coisas completamente absurdas: incesto e homossexualidade.

Ao chegar em casa, assim que abri a porta tive uma surpresa. Encontrei Lucas e Michele deitados no sofá, trocando carícias. O garoto ainda estava completamente vestido, mas a minha sobrinha já se encontrava sem blusa.

Assim que eles perceberam a minha presença, rapidamente mudaram de posição, sentando-se no sofá e Michele colocou a blusa de  forma apressada.

— Qual dos dois vai me explicar a safadeza que estava acontecendo aqui? — interroguei extremamente irritado.


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