Link olhou confuso para quem estava ao seu lado. As pessoas reconheciam Hylians, mas não imaginou que, de cara assim, iria ser reconhecido por alguém que ele nunca nem viu na vida. Sua resposta foi assentir pouco antes de desviar o olhar para o chão. Na verdade, seus olhos não conseguiam ficar muito tempo sem encarar aquela curiosa figura que estava ao seu lado, tão próximo que dava ao campeão ganas de tocar em sua pele. Poderia ele ser da mesma espécie de Mipha, mas o loiro achava que deveria o tocar agora, pois acreditava que ele era tão diferente que até mesmo a pele seria assim.

— Como se chama? – Link perguntou, não conseguindo resistir à isso.

A figura ao seu lado o olhou, arqueando uma das sobrancelhas que tão pouco era vista em sua face pálida com a mistura em vermelho.

— Sidon. Meu pai pegou uma referência a Poseidon, e me batizou assim. E você? Não me lembro de ter ouvido seu nome na sala do trono, perdão. – Disse o príncipe, que queria justificar até seu próprio nome.

—Link. Me chamo Link. . – Ele respondeu.

Sidon esboçou um sorriso rápido. Honestamente, ele não sabia por qual motivo estava querendo conversar com alguém de Hyrule, já que seu povo se encontrava tão arisco a ponto de travar uma guerra, coisa que nunca fizeram antes. Afinal de contas, séculos atrás, essas terras foram dadas a Zora para que pudesse fundar seu próprio reino. Claro que na condição de que o território continuaria pertencendo a Hyrule.
Talvez seu pai estivesse errado em querer mais, afinal o povo estava bem acomodado daquela forma, e estavam próximos da água. Não havia problema com aquela região.

Bom, isso era o que se passava na cabeça de Sidon, que por alguns momentos se mostrou como Zelda mais cedo, voando em seus pensamentos, como se sua mente fosse a única coisa que possuísse razão naquele momento e que, se todos seguissem o que sua mente alava, tudo iria melhorar rapidamente.
Seus pensamentos, porém, foram cortados quando Link cutucou suavemente o braço do príncipe, e em instantes depois, passou suavemente a palma da mão pela pele do antebraço de Sidon, como se estivesse diante de um objeto de valor inestimável, que precisava ser tocado e visto por bastante tempo, querendo guardar na memória aquilo.

Por outro lado, Sidon não entendia nada do que estava acontecendo ali. Ficou encarando Link, que era quem estava distante nos pensamentos agora.

—Link..? Está tudo bem? – Sua voz mais grave, porém suave, se fez presente naquele ambiente.

O loiro despertou com isso, e quase num impulso retirou a mão de perto do rapaz, devido o leve susto, numa mistura de constrangimento, do momento.
Os olhos azuis deslizaram até focar em um ponto distante de Sidon, como se não quisesse o ter em seu campo de visão. Mas, novamente, isso era impossível. Não conseguia tirar os olhos daquela figura que, estranhamente, lhe chamou tanto a atenção. Parecia até que Link nunca havia visto alguém de Zora antes.

—Sim, eu estou bem... Desculpe por isso, não sei o que deu em mim. – Foi a única coisa que ele conseguiu dizer antes de coçar a nuca, sem graça.

Sidon riu. Sua risada era abafada pelos lábios estarem fechados, mas mesmo assim, era algo bom de se ouvir. Claramente ele compartilhava de uma mesma personalidade que a irmã, afinal era introvertido, mas não tanto como a mais velha que só não escondia o rosto em um buraco por precisar manter a pose e comportamento que se esperam dela.

Sidon já possuía mais liberdade para as coisas, porém não aproveitava disso.

— Então, você e Mipha... Vão mesmo casar? Ou está fazendo isso apenas para evitar uma guerra? – Ele perguntou, olhando para a frente, observando com pouca atenção o reino.

Num ato de mais folga e relaxamento, pôs as mãos nas laterais do corpo, repousadas no banco e usando de apoio e sustento quando o quadril escorregou um pouco pela superfície de granito, deixando o tronco de Sidon mais inclinado, quase como se estivesse deitado. Os ombros mais encolhidos e o olhar descontraído. Apesar de não apoiar, ainda assim não tinha escolhas a não ser aceitar isso.

Link o encarou por alguns instantes, um pouco sem graça com o que poderia responder diante daquilo, afinal nenhuma resposta parecia ser boa o bastante para aquela pergunta que parecia ser tão simples, mas encurralou o Hylian.

— Sendo bem sincero mesmo? Eu não quero guerras, que pessoas morram, e que ninguém se machuque. Se a paz depende desse casamento, então estou disposto a largar tudo para que nenhuma gota de sangue seja derramada. – Ele respondeu com seriedade e confiança pouco antes de sorrir, mas de forma forçada.

Sidon não era burro, reconhecia bem que ele estava se casando mais por se sentir forçado, e não porque amava Mipha. Até porque Link a conhece faz apenas um dia.

— Compreendo. – Respondeu o príncipe. – Mas espero que você cuide bem de minha irmã. Odiaria saber que ela está infeliz. – Completou.

Os olhos azuis mostraram surpresa naquilo, mas as expressões de Link demonstravam o contrário, como se seu subconsciente já esperasse que aquele ser tão belo e curioso na sua frente tivesse algum grau de parentesco com Mipha, sua noiva.
Sua reposta foi sorrir, porque não tinha falas boas o bastante para aquilo que ouviu.

Sidon o observou, vendo aquela ação, e sorriu de volta.

—Até que você não é tão ruim e ameaçador quanto o povo daqui, e eu, pensava. Parece ser gentil, de qualquer forma. Mas... É óbvio que não quer casar com minha irmã. – Sidon dizia. Link não era alguém que falava tanto quanto parecia. Expressava-se mais com ações e expressões faciais.

Assim, as horas passaram.

Sidon e Link acabaram fugindo do assunto do casamento e guerra, e entraram em conversas mais divertidas, e acabaram aprendendo um sobre o outro.
Link descobriu que Sidon era o irmão mais novo, e que possuía mais de cem anos de idade, que seria o próximo rei na linha de sucessão se não fosse pelo casamento daqui um mês.
Sidon descobriu que Link era uma pessoa de honra e caráter, que não poderia ser impedido de nada, e que, realmente, estava disposto a tudo para poder salvar o reino.

No fim daquela madrugada, ambos se respeitavam. E quando a conversa precisou chegar ao fim, para os dois descansarem, parecia que nenhum deles queria ir dormir. Ambos poderiam passar horas e mais horas no papo, que não cansariam de forma alguma.

Foi então, que num ato de impulso talvez, por estar tendo uma conversa que não envolvesse afazeres reais, e pela boa companhia, que Sidon segurou suavemente a mão de Link, sem segundas intensões, apenas para o fazer parar de andar antes que saísse da área da sacada.
Sem graça, com as bochechas adquirindo um tom rosado, o príncipe tentou dizer.

—Link, como você irá morar aqui... Estive pensando, caso queira, amanhã eu posso te mostrar o reino. Depois do café da manhã. – Ele fez o convite, com um olhar esperançoso.

— É claro! — Exclamou o Hylian, que com um largo sorriso assentiu.

Depois daquela despedida, os dois se separaram, e se dirigiram para seus cômodos. Link sentia que um peso maior ainda chegava em seus ombros, e que poderia o nocautear a qualquer momento, e Sidon sentia algo estranho na boca do estômago, como um misto de nervosismo e ansiedade por amanhã ter algo para fazer que não fosse coisas sobre o reino, ou afazeres domésticos e aulas de etiqueta.
Às vezes ele detestava ser um príncipe.