Nos terrenos dominados por Zelda, a princesa se encontrava aflita, distante em seus próprios pensamentos enquanto encarava o horizonte. Do seu lado, o campeão de Hyrule, Link, estava da mesma forma. Os braços repousados no parapeito da enorme sacada do quarto da princesa, e os olhos azuis fixos nos limites de onde sua visão alcançava, mas com os pés no chão quando o assunto era os pensamentos. Não sabia o que poderia fazer. Qualquer escorregão, assim dizendo, que qualquer um dos reinos fizesse, uma guerra poderia ser travada. A espécie de Zora exigia um território maior, que a princesa negava, pois almejava a área onde aquela espécie aquática habitava. 
Num pesado suspiro, a princesa abaixou a mão, que antes sustentava o queixo, e direcionou o olhar a Link, seu velho amigo. 

— Sabe, Link... Imagino que essa guerra já esteja para acontecer, e manter a tensão no ar é algo exaustivo para todos no meio dessa atmosfera pesada, não acha? - Zelda perguntou, encarando o rapaz loiro então. Um sorriso exausto se formou nos lábios da donzela, que logo se distanciou do parapeito da sacada, não tardando em então sair daquele lugar.

Quando Link resolveu a seguir, andou calado pelo ambiente até saírem dos aposentos da donzela de madeixas loiros, seguindo por extensos corredores do palácio, até chegarem ao grande salão, onde desciam de forma lenta as escadas do ambiente. 

— Compreendo bem que, se não resolvermos isso, teremos uma guerra, Zelda. Mas, o que poderíamos fazer para deter isso?— Link perguntava, mas não encarava a dama. 

Zelda se mantinha calada, engolindo em seco até terminar de descer os degraus, assim como o campeão havia feito.  E, antes de se pronunciar novamente, Link se viu calado quando um dos guardas da princesa se aproximou, dizendo que a visitante havia chegado. Ou melhor, uma antiga amiga da princesa já estava nos territórios, pronta para a reunião que Link não sabia que iria acontecer. 
A moça se preparou, segurando suavemente na saia de seu vestido, enquanto o campeão, confuso, encarava a porta que aos poucos era aberta. Quando menos esperou, lá foi revelado uma habitante de Zora. Apesar da rixa entre ambas os reinos, Zelda mantinha a amizade com a princesa Mipha, a dama que se mostrava caminhando de maneira tão suave e calma na direção dos dois.

Link estava confuso, encarando de cima a baixo aquela figura tão peculiar e chamativa, de um misto de cores de pele vermelha e salmão, com os olhos amarelos e olhar delicado como o de uma criança. Mipha era baixa, um pouco menos que Zelda, e possuía uma voz tão delicada quanto sua aparência ou personalidade. 

— Chamou-me, princesa?— Ela perguntou de uma calmaria que, até então, percebeu não ser compartilhada de Link, que suava frio. 

Zelda apenas encarou a velha amiga com um sorriso curto, assentindo com a cabeça, e pedindo para que a princesa visitante, e Link, a seguissem para a mesa central, onde seria feita a reunião com eles. 
Os passos de Link eram tensos, e sua destra tremia, como se a qualquer momento pudesse pegar a espada de sua bainha e atacar Mipha, que mantinha o semblante calmo de sempre, com os olhos percorrendo todo o ambiente com um sorriso. 
E foi nesse silêncio que chegaram na mesa. Zelda se sentou na ponta, e os dois acompanhantes um em cada lado. 

— Zelda, o que uma habitante de Zora faz aqui? São os inimigos!— Link protestou antes que qualquer uma das duas pudesse se pronunciar primeiro. Mipha o olhou surpresa, da mesma forma que Zelda o observava com calma, e ao mesmo tempo decepção, pois queria que Link mostrasse um pouco de respeito diante da visitante.

— Sim. Link, essa é Mipha, princesa e campeã de seu território. É uma velha amiga minha, e pedi para vir aqui justamente para entrarmos em um consenso.— Nesse momento, Link se calou, engolindo em seco junto da vergonha e orgulho, e se calou. 

Toda a reunião durou cerca de duas horas. As duas debatiam entre si de forma pacífica, e Link praticamente dormia no lugar, com a cabeça apoiada numa das mãos enquanto a baba escorria. 
Foi seu ronco que acabou chamando a atenção das duas, e o grito de Zelda, o repreendendo, que o acordou de forma imediata. 
Mipha riu, mas não demorou em abaixar o semblante em decepção mais uma vez, deixando um pesado suspiro escapar de seus lábios.

—Mas então, o que faremos?— Pergunto Mipha, sem esperanças. 

Foi nesse momento que Link resolveu se pronunciar em prol dos dois reinos e a favor da paz, mas duvidava muito que sua ideia tivesse rumo após a reunião. 

—Princesas, se me permitirem falar... Por que não propõem um casamento? Muitos reinos evitaram guerras quando um membro da realeza de cada reino se casou, e unificou ambos. Se isso ocorresse, não haveriam mais perigos de ocorrer uma guerra.— Comentou, na esperança de que pudesse ter, em fim, uma ideia boa. 

Zelda trocou olhares com Mipha, e ambas sorriram, entusiasmadas com isso. Mipha estava na idade para casar, mas não tinha pretendentes em Zora. Essa seria a oportunidade perfeita para que pudessem realizar dois feitos de uma vez. 
As duas concordaram quando trocaram olhares, e depois disso passaram mais meia hora decidindo quem seria. Zelda não tinha irmãos, e não havia mais ninguém da realeza ali.

— Link... Por que você não realiza esse feito?— Zelda questionou, olhando o campeão, que a observou confuso. 

—Perdão?— Link perguntou. 

— Case com Mipha, e una os reinos.— Ela disse num tom simples, como se fosse a coisa mais comum do mundo até então. 

Link engoliu em seco, mas quis por para fora. Em sua vida toda, nunca teve vontade de casar. Queria viver de aventuras, conhecer os mais vastos lugares, lutar contra o mal. Mas, também queria salvar o reino. 
Se, se casar com Mipha, salvasse o reino, e todo o território, e impedisse uma guerra, o jovem estava disposto a fazer tal sacrifício. 
Se levantou da cadeira que estava, nervoso e andando até Mipha. Se ajoelhou na frente da princesa de olhar delicado, segurando uma de suas mãos e esboçando um sorriso. 

—Princesa Mipha.. Teria a honra de se casar comigo, e apaziguar os reinos?— Ele perguntou. 

Mipha aceitou o pedido tão fofo e desajeitado, e Zelda sorriu no mesmo momento. 
Link sentia um peso sair dos ombros, e um maior ainda chegar logo em seguida disso. Não queria se casar. 

Após o pedido, Mipha passou a noite no castelo. Link não conseguiu dormir, ficou sentado na cama, encarando a espada que segurava em mãos. Trocou a vida que sempre quis, cheia de amigos e aventuras, para que pudesse ficar ao lado de uma moça que não conhecia, fingindo amar alguém que não merecia esse falso amor, e ter uma vida de casado monótona. 
O sol raio, e Link só notou que era dia quando a luz incomodou seus olhos claros ao passar pelas cortinas de ceda. Iria agora ao reino de Mipha, conversar com seu pai, o rei.
Após o café da manhã, uma carruagem os aguardava. Mipha precisou se hidratar bastante antes de seguir para o transporte que conduziria o "casal" para Zora. 

A viagem durou cerca de duas horas, até que, chegando lá, a princesa foi recebida por guardas, que a conduziram junto do noivo para ver Dorephan, o rei do lugar. Era um Zora enorme, de cores azuis e mais gordo do que os demais. De um lado, estava um velho ancião, pequeno e de cor esverdeada. Do outro, uma figura que chamou a atenção de Link. 
Era semelhante a Mipha, de coloração avermelhada, grandes olhos amarelos e em sua cabeça uma coroa prata com uma pena negra. 

— O rei não está aceitando visitantes agora, ainda mais alguém das terras inimigas, Mipha.— Aquela curiosa figura se pronunciou, olhando para Link ao cruzar os braços. 

A irmão mais velha assentiu, e depois olhou o pai. 

— Pai, trago notícias de Hyrule. Após a reunião, foi proposto uma união entre um membro da família real daqui, e um de Hyrule.— A irmã mais velha disse, e seu irmão mais novo, inconformado, encarou os dois, confuso. 

O rei arqueou uma sobrancelha, coçando o queixo e depois o apoiando numa das mãos, já sabendo onde aquela história iria acabar. Ele estava de acordo, pois não queria uma guerra, e nem perder o território onde habitava. 
Quando a princesa olhou para o lado, viu que seu irmão não estava mais ali, e Link já olhava para o chão, desviando às vezes o olhar para o rei enorme na sua frente. 

—Possuem minha benção. O casamento irá ocorrer em um mês. Até lá, jovem, irá morar conosco.— O rei disse, com um sorriso pequeno. 

Após isso, Link foi para um dos aposentos. Todos os quartos possuíam muita umidade, mas não era algo que ele ligava. 
Estar num quarto do castelo do território inimigo era estranho, e pior ainda era saber que estava desarmado. Apesar de já estar anoitecendo naquele lugar, saiu para observar o ambiente. O povo de lá não olhava para Link de forma amigável, mas nessa altura todos já possuíam noção dos motivos dele estar por lá. 
Não saiu dos territórios do castelo, e quando resolveu se sentar no banco de uma sacada que dava visão para todo o território dos seres aquáticos, escutou passos. 

De início, pensou ser Mipha, mas ao se virar, viu ser aquela figura de nome desconhecido, o encarando. Não demonstrava estar arisco na presença de Link. Assim como o loiro, aquela criatura alta demonstrava curiosidade na medida que se aproximava. 

—Perdoe minha arrogância no trono de meu pai.— Ele disse. Tinha um tom de voz autoritário e, ao mesmo tempo suave, demonstrando passividade.

Link apenas se via cada vez mais curioso, ainda mais agora que estava ao lado dele que, apesar de tão pequeno perto do rei, era enorme. Deveria ter uns três metros, no mínimo.
Os olhos amarelos penetrantes e chamativos se cruzaram com as orbes azuis do rapaz, que não sabia o que dizer diante daquele ser que, apesar de tudo, era absurdamente atraente aos olhos do Hylian. 

—Tudo bem.. Qualquer um ficaria assim com um inimigo no território. —  Link disse, sorrindo. 

Sidon o olhou, forçando um rápido sorriso. 

—Perdoe minha intromissão... Mas você é um Hylian, não é?— Sidon perguntou por fim.