Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 18
Éramos Heróis


Notas iniciais do capítulo

Em 'Éramos Heróis' vemos algo que talvez alguns já vinham esperando a algum tempo.

Sim, mas não.

Leiam u.u
Espero que gostem!



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O salão estava iluminado como nas noites dos bailes de gala. Dentro, no entanto, o banquete tinha várias cadeiras vagas e os que ali estavam pareciam mais desanimados do que vibrantes.

Não podia culpa-los.

Mas podiam ver em Pharvra algo em que me apoiar e não entregar os pontos. Quando o portão foi aberto e nossos nomes foram anunciados, ela como a o Bastião de Nagbraser, eu como a Esperança de Estherburg.

Éramos heróis.

Mas manchados pelo sangue das centenas que não caíram no campo de batalha. O senhor de Estherburg sentava-se no trono mais imponente e bem cuidado, ao seu lado, sua esposa, e do outro, seu três filhos.

Lady Arthúria sorri para nós, mais feliz do que os demais.

Independente do que eu suspeitasse, ela, entre todos os Esthers, era a mais bondosa e humana. Sempre se compadecendo dos problemas dos demais, sempre ajudando quem ela podia. Mesmo depois de suas atitudes suspeitas ainda mantinha seus hábitos.

Perguntava-me se ela tinha tais atitudes por vontade própria.

Outros foram anunciados. Curvamo-nos a nossos nobres e nos sentamos às mesas. Cansados, muitos mal tocaram em suas comidas, outros se entregaram ao bom vinho, enquanto alguns poucos se dedicaram a conversar e a explicar o evento que enfrentaram para aqueles interessados em saber.

Cada um tinha sua forma de tentar digerir aquele dia.

Sentia um pouco de culpa, e explicava isso para a mãe de Lady Arthúria. Marge era uma mulher tristonha, desde que a conhecia, mas que se tornava alegre a ouvir histórias. As heroicas eram as que ela mais gostava.

Por isso contei-a sobre como Maurice De'Levor e como ele deu sua vida por seus homens, quando  estavam cercados em uma viela. A maça forjada nas forjas dos mil anos derrubou sistematicamente Trusgo a Trusgo que tentava penetrar no lugar enquanto seus soldados não conseguiam escapar pela passagem que eles mesmos criaram através das grossas paredes do arsenal da cidade.

Ele morreu lutando na retaguarda, onde deveria ser mais seguro. E eu sobrevivi, lutando na vanguarda da Nona Legião.

Tentaram me convencer de que aquilo só provava o motivo de eu ser o Comandante. Tentaram me convencer de que aquilo só provava que eu era o melhor soldado. Mas nada podia me fazer esquecer que se as bestas não tivessem cruzado a minha linha, elas não chegariam até a onde ele estava.

O único a me entender, surpreendentemente, era Jhon Lander. E eu não sabia como lidar com aquilo.

O Grifo Dourado de Andallon estava ao meu lado. Estava calada, ainda cansada da batalha. Pharvra tentava anima-la, mas eu podia ver em seus olhos, atentos aos meus gestos durante a história que aquilo era doloroso demais para ela.

Maurice era seu esposo há quatro anos.

Mas ao contrário do que eu pensei no começo, ela não me culpou. Andal era como minha tenente, entendia a guerra e suas consequências. Homens morrem. Seu homem morreu, assim como maridos, filhos e pais, outros homens, morreram naquele mesmo dia pelo mesmo propósito.

"Meus parabéns Dancan"— A voz de Jhon Lander sempre soou  como unhas riscando um quadro para mim. "Ou devo dizer, Sor Dancan, a partir de agora" — Ele falou, adentrando o salão, logo após ser anunciado.

Agora ele não era mais o Comandante da tríplice Legião. Esthersburg tinha dois Comandantes de Legiões desde a minha volta.

Todos me parabenizaram, gritavam espontaneamente, ou me congratulavam formalmente. A própria Lady Arthúria veio me abraçar. Seu pai e sua mãe, diferente dela, agiram pelas regras da etiqueta me cumprimentando com mais pompas.

Jhon Lander também anuncia que os heróis mortos terão seus nomes gravados em uma estátua comemorativa que será erguida na praça da cidade, à custa da própria Coroa. Mas, obviamente, esqueceu-se de prestar as condolências a Andal, que chorava e eu não era capaz de compreender quantos sentimentos transbordavam ali.

A cerimônia onde me tornariam cavaleiro aconteceria dentro de dois meses, com a vinda do próprio Rei, Charles Nardal VIII. Por isso, insisti para que ninguém me chamasse daquela forma sugerida pelo comandante Lander. Não era apropriado.

Era bom demais para ser verdade, meu sonho. O sonho de todo o guerreiro. Ser um Cavaleiro de Dantália.

Na sacada, eu tentava me perder na visão do céu, as luas, cada uma em sua posição corriqueira. Tantas vidas, tantos soldados mortos. Eram homens e mulheres com os quais eu criei um laço profundo.

Deram a vida por essas pessoas e por muitas outras. Eu sabia disso. Mas sobreviver enquanto mais gente morreu sob o meu comando, era difícil. Não me sentia um herói.

"Não pense em me abandonar" — Aquela voz era de Pharvra. Mas continham um pouco de álcool a mais do que eu estava acostumado a ouvir. "Você me ouviu, não é?" — Ela voltou a falar, agora do meu lado. Segurava seu capacete em uma das mãos e uma caneca de vinha na outra.

Ficamos olhando as estrelas por muito tempo sem dizer nenhuma palavra.

Aquela mulher era o ser mais poderoso que eu já havia visto dentro e fora do campo e batalha. Implacável como soldado e mulher. Seu cabelo ruivo, solto como estava, era estranho aos meus olhos. Há vi tantas vezes com seu cabelo de fogo preso, ou mesmo oculto pela malha e seu capacete, que as vezes me esquecia como ele era.

Pharvra era uma mulher linda, mas não era sua beleza que a fazia brilhar ainda mais pela luz das luas. Nem sua capacidade com as armas, ou sua habilidade de motivar os demais, ou de por medo em seus corações.

Ela era uma mulher incrível, leal e amável, se você aguentasse a bruteza com que ela tratava o mundo. E aquelas palavras eram como ela mostrava que se importava.

Pharvra era alguém que com certeza eu poderia amar.

"Dancan.."— Ela falou logo depois de uma longa golada no vinho. Ainda olhava para as luas, sem se virar para mim. "É engraçado, mas sempre que tomo muito vinho eu acho que amo você" — A espontaneidade de suas palavras me surpreendeu de uma forma que eu não sentia há muito tempo.

Como eu deveria reagir a isso?

"Mas é mais engraçado que quando eu acordar amanhã, volto a te achar um idiota" — Ela completou, rindo e voltando para dentro do salão.

Amores vêm e vão tão fáceis, pensei. Mas não era como se eu nunca tivesse feito aquilo, ou ouvido aquilo outras vezes.

Soldados são irmãos e amantes muitas vezes.


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Notas finais do capítulo

Ihiiii Pegadinho do Malandro!
Ok, nem tanto né.

Espero que vocês gostem desse capítulo, ele é outro que serve de ligação e ambienta o final do conto como um todo.

Os próximos chegam logo.
Obrigado por acompanharem!



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