Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 17
Use-a por mim


Notas iniciais do capítulo

"O mundo da voltas!
O Dancan não vai parar!
Pode correr atrás"

Como já dizia o Bardo Badauí, o mundo da voltas, nada vai voltar a ser como era.

Dancan mostra aqui o resultado de uma história conturbada e, eu espero que vocês gostem.

Boa Leitura xente burita!




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Diferente do habitual estava acompanhando Lady Arthúria dentro de sua carruagem como seu guarda-costas. A posição, normalmente, tomada pelo chefe da sua guarda pessoal, popularmente chamada de Guarda do Vinho, era para ser uma honra, mas naquele dia ela soava mais como uma maldição para mim.

Um dia antes Pharvra me repreendeu por aceitar o convite, dizendo a verdade, se ela sabia de todos os meus passos através de Houser, aquele convite era uma armadilha muito clara. Para ela, Pharvra, não só estava claro, como aquilo foi nitidamente um plano arquitetado, novamente com o auxílio de Houser, a quem ela, agora, nutria um imenso ódio.

Só não o empalou com sua espada por mil pedidos meus.

Conversamos algumas vezes, mas ela diferente do comum, não mudou sua opinião sobre a minha decisão. Tinha aceitado ir como guarda costas de nossa inimiga. Minhas razões, eu a expliquei, eram simples: nós não sabíamos até que ponto ela tinha informações, além de que negar um pedido desses soaria mal, causaria atrito entre os Esthers e as forças armadas. O que geraria desconfiança.

A situação estava tensa demais para torna-la ainda pior.

Fui, a contra gosto de Pharvra, que ficou como minha encarregada enquanto eu estava fora. Ela, junto de Houser e outros tenentes, me acompanharam até a comitiva da nobre donzela.

Íamos para um lugar chamado Mar de Flores. Afastado quatro dias da fronteira mais próxima de Dantália. Meu convite era para ser seu guarda costas pessoal, mas também lideraria outros vinte soldados das legiões de Estherburg. A própria Lady Arhtúria, no entanto, matinha sua guarda pessoal por perto. Eram seis soldados, que não descolavam da carruagem.

Eu estava cercado, sentando ao lado de uma víbora que preparava o ataque. Uma víbora lindamente ornamentada, preciso reconhecer.

A viagem duraria quatro dias em um ritmo lento, para que os soldados a pé pudessem acompanhar. Tentei me manter focado na escolta que liderava. Estávamos próximos e eu não desejava deixa-la sentir minha hesitação.

Mas claro que não deu certo.

Durante uma das noites, fui abordado por Lady Arthúria que sorria de forma sensual e assustadora ao mesmo tempo. Naquele momento soube que minha poker face não me protegeria como de costume.

"Você pegou essa espada de Hurtan, não é?" — Ela falou com voz doce e ludibriante. O sorriso que carrega em seus lábios era um convite. "Não se preocupe, Comandante Dancan" — Disse sorrindo baixinho, procurando não chamar atenção dos demais. "Chamei-te aqui porque você me surpreendeu" — Seu corpo se aproximou ainda mais, enquanto me mantinha irredutível, sem sequer fazer contato visual.

Atravessávamos um rio revolto o que obrigava os soldados a pé a se organizarem de forma que a correnteza não os levasse. Tentei escapar da situação dizendo que devia guiá-los, o que era minha obrigação real, mas fui impedido por um toque em meus ombros.

Lady Arthúria acabava de me segurar no acento. Mas não somente isso. Projetou-se para cima de mim, montando em meu colo.

"Você não entendeu Dancan, eu quero você"— Disse de forma tão agressiva que chegava a ser melódica. Um convite difícil de negar.

Logo compreendi o que estava acontecendo.

Maldita feitiçaria.

Segurei-a pelos braços a afastando de mim o máximo que consegui.

"Posso ter o homem que eu quiser" — Comentou com a o sorriso maquiavélico de quem só diz as mais puras verdades. E, convenhamos, eu já queria aquilo há muito tempo. "E não vai ser você que vai me negar o que quero" — A pausa curta foi suficiente para mais uma dose de expressões que me geravam sensações diferentes. "Não importa se você tem ou não a Chama Crua, você é meu Dancan White" — Ela falou e avançou contra mim que indefeso, ou não, não pude impedi-la de me beijar.

Quem era eu para resistir aquilo? Como outros já haviam dito, eu era apenas um homem normal.

Na manhã seguinte o condutor da carruagem comentava da dificuldade que foi conduzi-la devido aos balanços. A donzela apenas comentou que teve uma noite conturbada, enquanto me mantive calado, sem transparecer nada.

O Mar de Flores era um lugar lindo, muito mais do que os escribas ou os bardos podiam descrever. As ruinas das cidades antigas, deterioradas pelo tempo, se elevavam do manto de flores que se estendiam além de onde os olhos podiam ver.

Como guarda-costas, tive de acompanha-la, sozinho. Caminhamos por alguns minutos até perder de vista a comitiva, que montou acampamento na borda do lugar. Os demais guardas e soldados, cansados, preferiam descansar a apreciar aquela criação da natureza.

Estava curioso sobre o que ela faria ali. Sabia dessas visitas, o culto de Murmoth visitava o lugar uma vez por ano para celebrar com as flores. Mas ninguém sabia o que faziam, geralmente iam sozinhos, os sacerdotes que lideravam em nome da Senhora das Rosas.

No momento comecei a duvidar se minha ida até lá era apenas para a segurança de Lady Arthúria.

E eu tive certeza de meus pensamentos assim que ela tirou suas roupas e se aproximou de mim.

Felizmente para mim, não houve sacrifício. Não mesmo. Ou batalha, ou qualquer outro tipo de coisa.

Com a noite se aproximando e o céu tomando tons vibrantes de laranja, nos vestimos. Afivelava a bainha da Chama Crua a minha cintura quando a donzela sedutora se aproximou novamente.

Tocou o cabo da espada e me olhou profundamente nos olhos.

"Use-a por mim" — Ela disse, dando-me um beijo lascivo.

Tomei-a em meus braços, olhando-a com potência. A mulher cedeu a meu corpo. Dizia para que eu a amasse. Dizia que os outros homens não eram nada comparados a mim. Nobres, feiticeiros, guerreiros, nenhum era, pois eu não era um homem comum.

Puxei seu corpo contra o meu. Um gesto de afeto ou submissão, Arthúria provavelmente pensou. Enquanto colado um no outro, saquei a espada e a usei, como ela havia pedido. Encravei-a no solo e suas chamas esbranquiçadas aqueceram minha malha até a um ponto quase insuportável enquanto transformava o campo florido a nossa volta em cinzas com o propagar das chamas até onde meus olhos podiam ver.

Deleitei-me com a imagem das cinzas subindo e se desfazendo somada a resposta da mulher em meus braços, que imóvel parecia duvidar da realidade a sua volta. Ela nunca havia sentido aquilo em seu peito, aquele temor, que fez um tremular tomar seu corpo inteiro.

"A uso apenas por mim"— Eu disse enquanto saboreava a imagem, sem perceber as mudanças que estariam por vir, ou o que mudava em mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

PAM!

Usar alguma geralmente é um hábito comum desde que o homem se tornou homem. A evolução nos fez ser capaz dessas coisas.

Usar uma pessoa, é algo que as vezes é útil, as vezes faz parte do trabalho, as vezes faz parte da diversão. Uns perdem outros ganham.

Mas seja em qual parte da equação você estiver, faça bem feito.

Espero que tenham gostado da história e da leitura!



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