Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 16
Sonho


Notas iniciais do capítulo

Vocês já tiveram um sonho?
Mas um daquelas puta sonhão?
Que cês acordam e ficam pensando "carajo, queria isso ai mesmo?"

Pois é, o Dancan já.

Boa leitura! Espero que gostem!



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Perligan virou-se e explicou-me sobre o que era aquilo, um dragão na forma de espada, que cospe o fogo tão quente que funde aço a carne. Sua voz fina era irritante, por isso não dava peso ao que contava.

Sverdtenner foi um dragão que viveu em uma era passada, segundo o próprio pequeno. A criatura era enorme, invencível aos olhos dos homens. Nada podia o parar, principalmente quando suas baforadas reduziam exércitos a cinzas. Mas a idade o fez mudar, com o tempo e gerações sendo destruídas por sua irá, seu coração foi se apaziguando. E ninguém sabe o motivo, concorda Perligan com ele mesmo, mas seu ímpeto destrutivo foi dando lugar ao arrependimento e o genuíno dom de reconstruir um mundo que ele ajudava a queimar.

No fim de sua vida, no entanto, sentindo-se em debito com todos os que fez sofrer, tornou-se parte de uma espada que foi forjada por seu sopro, em metais que ele mesmo tirou das entranhas da terra.

Chamava-se Chama Crua, na nossa língua pelo menos, pois a que ele falou, era bem diferente disso. Disse que era o próprio idioma dos dragões.

Pegou meu braço após toda a longa explicação e conferiu a queimadura em minhas mãos. Elas doíam, mas ele não hesitou em cutuca-las sem dó.

Não preciso dizer que me controlei para não arremessa-lo pela janela. Mas ele parou antes que eu o fizesse, talvez notando meu olhar de ódio profundo, ou talvez por ter terminado de procurar o que queria.

"Nah.. você não tem sangue deles..."— Ele falou em descaso, saindo da minha vista. Pegou uma caneca da cerveja do seu povo e ofereceu.

Se aquilo era cerveja, eu prefiro nunca tomar algo mais forte.

Disse depois de rir da minha cara que eu era só um homem normal, que usou uma das armas mais lendárias de todo o mundo, perdida a séculos. Eu estava um pouco confuso, e perguntei como eu, um homem normal, poderia ter usado a tal Chama Crua quando reis, bruxos e feiticeiros não foram capazes.

O bastardo riu do jeito que mais me fazia ficar irritado. Por um momento, a ideia de joga-lo pela janela voltou a mim, mas logo percebi que eu também estava rindo e, pior, não tinha ideia do motivo.

Maldita cerveja.

Perguntava-me onde eu estava por nunca ter tomado aquilo. Talvez o tal chocolate quente, puro ou não, não fosse a melhor bebida que existia.

A verdade é algo que muda a cada esquina, não é mesmo?

"Vai saber... jovem Dancan" — o maldito falou ainda rindo. "As vezes as coisas acontecem sem motivo" — e continuou a rir, em meio a bebericadas em sua caneca, que era do tamanho da minha, ou seja, tinha quase o seu tamanho.

Estávamos apenas eu e ele, Perligan, o pequeno se da floresta que me colocava medo e me provocava ódio. Bebíamos e ríamos. Seus truques mágicos me faziam gargalhar, suas histórias, antes tão chatas, agora me fazia imaginar os mundos do passado, do presente, e, segundo sua língua afiada, do futuro que poderia ou não acontecer.

Seja como for, bebemos até o dia clarear. Apenas eu e ele. Sob a luz das luas, do céu estrelado, na companhia da Majestosa floresta, e dos animais que cantavam para nós sem vergonha ou esperança de retribuição.

Largado sobre a rocha, a frente da cabana, encarava as estrelas esperando que o mundo parasse de girar. O pequeno, ao contrário, não estava mais lá. Não estava em condições de confabular motivos, mas Perligan havia sumido.

Com a voz embargada perguntei aos gritos onde ele estava, mas tudo o que eu podia ouvir eram suas risadas, com sua voz fina e irritante, que me faziam querer rir ao mesmo tempo em que me deixavam bravo.

Onde ele foi, eu nunca descobri e ele também nunca me disse. Mas quando acordei no dia seguinte, sozinho, sobre a pedra a frente da cabana, encontrei um bilhete que dizia apenas: "Não pergunte, use-a".

Aquela cerveja de pequenos era tão boa que não provocava ressaca, um avanço entanto. Quando me levantei, notei que na mesa, dentro da cabana, havia uma garrafa. Era a própria, cheia e lacrada. Um presente ao lado da espada, que brilhava como as chamas esbranquiçadas ao serem tocadas pelo sol da manhã.

A Chama Crua era minha. Por nenhuma razão específica, ela cedeu ao meu toque, um homem comum, mesmo tendo passado em mãos muito mais nobres ou poderosas.

Meu pai e, toda sua família talvez jamais me perdoasse por ter perdido a espada da família em batalha. Isso era a desonra para meu povo. Para os meus ancestrais. Até mesmo para nossos animais. Nossa origem tribal tratava esses bens como entes queridos e, por isso, eu ainda sentia um pesar em meu coração.

Mas às vezes a morte é necessária para o renascimento de algo ainda maior.

O maior sonho do guerreiro, a arma única.


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Notas finais do capítulo

Mas quem diria que o personagem principal ia ter um momentinho de paz no meio de toda a treta que anda rolando, não é mesmo?

Deve ser o olho do furação. A calmaria antes da tempestade. A falta de inspiração do cara que escreve.

Espero que tenha gostado! O próximo capítulo logo aparece!

Umbejo.



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