Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 14
Morte


Notas iniciais do capítulo

Ser comandante é difícil. Mas as vezes as pessoas nascem para ser algo e quando tem a oportunidade elas mostram isso.

Dancan está de frente para o seu destino. O que ele fará?



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Era noite quando chegamos ao ponto de encontro. A marcha foi longa, o peso da armadura, das armas, das provisões, da nobre missão, tudo isso era demais para cada ombro ali. E não poderia ser diferente sobre os meus. Merecíamos um descanso.

Nagbraser era dividida por um rio. Chegamos ao portão sul, que apontava para Estherburg. A Quinta e a Décima Sexta já estavam lá, cada uma estacionada em um ponto da cidade. A população foi realocada por eles para a parte sul da cidade, por esse motivo, o fluxo de pessoas no lugar onde estávamos era muito maior do que esperávamos.

Fomos até a praça da ponte, o ponto central da cidade. Nós três representávamos Estherburg, e encontramos outros seis Capitães, a Quinta vinha de Todo Verde enquanto a Décima Sexta era de Monte Gar.

A praça estava transformada em um posto de inteligência e preparativos. Pude contar mais de dez escribas, além de mapas e instrumentos de medição. Na maior tenda, três cadeiras, cercavam uma mesa, com pequenas figuras.

A mesa de guerra. Vi muitas vezes, enquanto acompanhava Jhon Lander, mas dessa vez, eu estaria sentado lá, junto dos demais comandantes.

Sorrisos confiantes e palavras animadas foram trocadas. As tradicionais boas vindas, quando em missão, dadas pela cultura que imperava nas forças militares. Já tinha batalhado ao lado desses soldados e sabia de suas habilidades. Por isso não temia o conflito.

Convenhamos, Pharvra estava comigo.

Reconhecia em seus olhos a ânsia pela batalha, assim como os meus também carregavam. Não tínhamos medo de morrer, desde que isso mantivesse todos em segurança, ali em Nagbraser e em nossas próprias terras.

Fomos até a mesa. Sentar naquela cadeira me deu calafrios por um instante. Mas não deixei transparecer, meus olhos expressavam apenas o que todos ali precisavam ver, ou sentir. Talvez todos fizessem o mesmo, escondessem o nervosismo ou mesmo o medo.

Sor Olleg apontou para o mapa, era a direção por onde a horda de Trusgo se aproximava. Ele era o comandante a mais de 10 anos da Décima Sexta e um dos guerreiros mais famosos no campo de batalha que tive a honra de acompanhar em combate.

Ele nos diz que devem chegar ao amanhecer com uma força pelo menos duas vezes maior que a nossa.

Fiz as contas sem perceber e, o número em que cheguei me incomodou profundamente.

Decidimos o plano em poucos minutos, o próprio Sor Olleg tomou a dianteira da situação, ofertando, quase tomando a decisão por nos, um plano simples, mas que parecia muito eficaz. Ele dividira as nossas forças em duas frentes; duas legiões ficariam na parte norte da cidade, nos muros, enquanto a terceira, que ficou decidido por ele mesmo, que seria a Nona, ficaria posicionada na ponte fortificada com palhiçadas.

Nosso objetivo primário seria auxiliar na evacuação das pessoas para os campos, enquanto fosse possível.

Comecei a acha-lo levemente parecido com o Jhon Lander de antes.

Comentei com Andal e Maurice sobre a decisão e ambos concordaram que estávamos sendo colocados de lado. Apesar disso, quando amanheceu e as notícias da chegada da horda chegaram, suspeito que eles talvez tenham mudado de ideia.

Alguns escribas diziam que eram dez mil outros quinze e, os mais histéricos, contavam mais de vinte mil Trusgos.  Alguns gritavam, outros rezavam para os velhos deuses, e  outros mais apenas choravam. Vi alguns se misturando entre a população e saindo no fluxo interminável para fora dos muros da cidade.

Cavalguei sozinho para fora, para acompanhar o êxodo e ao olhar para a cidade, pude compreender o que fez aqueles escribas fugirem com o povo. A Horda Trusgo estava lá.

Lembrei-me da sensação ao vê-los, por mais que já tenhamos cruzado em batalha, nunca era a mesma coisa que vê-los e os enfrenta-los outra vez.

Mas ao contrário de antes, dessa vez havia uma chama acesa dentro de mim. O chefe da tribo estava lá e tínhamos contas a acertar. Eu o queria. Desejava banhar minha espada em seu sangue, por todos os que ele levou até o encontro da morte e, por todos aqueles que ele ameaçava.

Eu não percebi, não havia como perceber, mas naquele momento, eu estava mudando.

A fumaça tomou o céu na nossa frente. O mensageiro de Olleg não voltará desde a última mensagem. Então um soldado banhado em sangue surgiu entre as casas, correndo em desespero. Após ele, outro e outro, e mais o seguiram.

Olhei para Maurice, que em uníssono ordenou, junto de Andal que todos entrassem em formação. Sacaram suas armas e recuaram para seus postos. A primeira linha defensiva era aquela, e eu estava à frente, como um líder deveria fazer.

Eu só não sabia, naquele momento, que fazia isso pelo gosto e não, para inspirar.

"Juntos"— Gritei com fúria.

"Juntos"— Gritei com ordem de comando, como Pharvra fazia.

A tenente caminhava batendo sua espada em seu escudo, mexendo com os soldados. A cada batida e a cada palavra a moral inflava mais.

"Vamos mostrar ao mundo o que é a Nona Legião"— Ela disse. Aquela frase me fez apertar ainda mais forte o cabo da espada.

Eu não perderia aquela luta. Eu matei a Bruxa, enfrentei os homens rato, batalhei por anos contra aqueles Trusgos e agora tinha a oportunidade de acabar com aquilo.

Escudo colado com escudo. Lanças e espadas prontas para se chocar. Os capacetes rentes aos olhos. Eles chegaram.

Gritei "Morte", como nunca havia feito, mesmo que aquele fosse o grito de guerra que tínhamos na Nona legião, e em todas as Legiões de Estherburg.

E foi exatamente o que aconteceu. Morte. Morte por todos os lados. Das mais simplórias as mais bárbaras. Sem piedade e tomada por ódio, vingança e terror.

A pouca armadura dos Trusgo permitia que fossem transpassados com facilidade oposta à dificuldade que existia para se matar um. Suas pesadas armas quebravam escudos, mas se quebravam no processo.

O som da batalha, com gritos e choro, ecoou por toda há tarde.

O povo de Nagbraser não estava mais na cidade quando o confronto teve seu fim. Não havia testemunhas do final, para o bem ou para o mal.

Os que voltaram para ver, ao longe, viram as colunas de fumaça e o silêncio sepulcral.

Sabia que depois daquilo nenhuma batalha seria difícil e, eu nunca mais seria o mesmo.


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Notas finais do capítulo

'Morte' trata de um momento bem específico no que diz respeito ao ser humano Dancan. Ele já havia passado por situações como essa, mas nada nunca tão bárbaro.

Traumas e experiências se somam e dão resultado após esse episódio de barbárie humane e não humana.

O próximo capítulo vem, tão logo possível. Espero que tenham gostado.



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