Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 12
A torre de vigia


Notas iniciais do capítulo

Era uma vez;
Um lugarzinho no meio do nada;
Com uma torre abandonada;
E um cheiro de madeira molhada;

Pro Dancan ser feliz;
Tem que acabar com toda a feitiçaria...



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Cavalgar a noite a luz de uma única tocha não é exatamente algo inteligente. Não que eu desmereça a segurança das terras de Estherburg, se estivesse fazendo isso, estaria falando que meu trabalho era ruim. Mas o perigo de cair em um buraco, me perder ou ser atacado por algum transeunte intrépido e protegido pelo sigilo também era real.

Não era uma boa ideia. Mas dada a situação, era a melhor que eu tinha. Tudo bem, nunca fui alguém realmente genial.

Comuniquei a Houser que visitaria um informante local, algum plebeu que morava em uma vila na região rural da cidade. Todos nós, capitães, tínhamos alguns e, era assim que a informação sigilosa chegava aos nossos ouvidos.

Era mentira. Mas uma mentira que encobria outra mentira. O plano era criar essa rede de mentiras. O que não era mentira. Ou era? Já estou ficando confuso.

Cavalguei com minha lanterna de mão por uma hora até um local esquecido pelo povo, mas famoso por suas histórias; a torre de vigia de Certan Yakoglev. Um capitão que viveu há quatro gerações e defendeu o povo da Estherburg dos ataques contínuos dos homens rato e dos povos bárbaros que vinham do Oeste. Hoje o prédio é uma ruina, longe da sua imponência de outrora.

Logo avistei o topo da torre carcomida pelo tempo. Aproximei-me com a mesma calma que conduzi minha montaria por todo o percurso. Procurei um local mais seguro, com grama próxima e deixei-o lá. Desmontado fui para seu entorno.

Perguntava-me o que seria aquilo. Quais os motivos de tal encontro ser marcado em um local tão distante. Tinha dúvidas se aquilo era uma emboscada ou um plano tomado pelo segredo.

Saquei minha espada, por segurança.

O capacete dificultava um pouco a visão, principalmente depois de apagar a tocha ao chegar até a porta de madeira escura. Pensei comigo mesmo sobre como aquele poderia ser um momento complicado. Se fosse uma emboscada, ela aconteceria ali, ao abrir aquela porta.

Empurrei-a com calma, enquanto apertava tenso, o cabo de minha espada. A porta se abriu revelando a escuridão perturbadora do interior da torre de vigia. Meus olhos mesmo já acostumados com o escuro nada puderam fazer. Dei o primeiro passo para do vazio escuro.

Meu reflexo me salvou da investida surpresa. O fio da lâmina brilhou com a lua parcial, lá no alto do céu. Defendi, com minha própria espada e, por instinto, empurrei com uma das pernas, numa espécie de pisão, jogando para longe meu atacante.

"Está é a pior emboscada que já sofri"— Gritei, dando alguns passos para frente, ocultando-me ainda mais na escuridão.

A resposta me surpreende de certa forma. A voz feminina pergunta por meu nome, com um tom até que humorístico. Reconheço-a, mas não era algo que eu esperava. Sua pergunta é seguida de um pedido de desculpas.

Instantes se passam e a luz de uma tocha, alaranjada e quente, surge, iluminando parcialmente o lugar. É quem eu achava que era; Luppa, uma das capitães da Quarta Legião.

Entreolhamo-nos, a marca de minha bota estava bem evidente na túnica sobre a sua cota de malha. Não sabia como reagir sobre aquilo. Pedi desculpas pelo chute, mas ela nega, diz que não aceita, que aquilo provava que sua escolha era correta.

Vejo duas cadeiras velhas, depois que ela aponta. Sentamo-nos, mas ficamos em silêncio por um instante. Ela parece bem, deixando de lado a marca do meu recente ataque, seu rosto está limpo, sem olheiras, o que indica que anda conseguindo descansar e focar nos seus afazeres com calma. Redburg, talvez, estivesse numa situação melhor, pensei nesse curto tempo de silêncio.

O culto de Murmoth era o problema apontado por Luppa. Sua história girava em torno desse grupo secreto, que acreditava e se dedicava ao nome da Deusa das Rosas, das flores e da felicidade. Tudo o que estava acontecendo, acontecia por conta dos asseclas, que procuravam uma forma de atingir seus planos.

Perguntei sobre quais seriam, e a capitã não soube dizer ao certo. Mas sabia que tinha algo haver com um manto mítico, que dava poderes além da imaginação.

Mantive-me sério, mas por dentro, não pude deixar de achar graça. Mesmo já tendo experimentado a feitiçaria por mais vezes do que gostaria.

Contudo, o mais impactante não foi essa revelação, que se encaixava criando a ligação da malha de retalhos que eram os acontecimentos esquisitos que vinham chegando até mim. Luppa conta sobre um agente externo, alguém capaz de compreender a feitiçaria de forma mais profunda e natural que qualquer um de nós; um Antigo Senhor.

 Ao ouvir aquilo, eu tremi.

Os Antigos Senhores eram membros comuns das mitologias, sejam as locais, ou as dos povos que nos cercavam, mas o nome original de sua cultura foi perdido há muito tempo.  Dandália foi criada pautada nessa mitologia, assim como os selvagens, e as bestas. As tais criaturas, esbeltas, eram tão antigas, que viram montanhas nascerem, florestas surgirem, rios secarem e mares brotarem de fendas no solo. Dizem as histórias, que eram seres de beleza única, de pele de tons variados, mas macias e sedosas, seus olhos variavam, mas o dourado se destacava, assim como seus cabelos que brilharam em tons do nascer ou do por do sol. Suas vozes eram sinfonias que navegavam entre poderosa ou suave intensidade. A inteligência, sabedoria e compreensão do universo, provindas daqueles seres, eram tão complexas, que os poucos registros encontrados naquela época eram compreensíveis. Eles eram os mestres e senhores do mundo, criadores da feitiçaria.

Luppa me olhou de cima a baixo, vendo minha reação. Não me obrigava mais a esconder nada. Ela pergunta se tenho medo de tudo aquilo. Por um instante, penso em negar, mas logo me questiono o motivo daquilo. Eu confirmo e ela sorri. Espero que ela compreenda que sou só um homem, errado e incompleto.

"Mas não acho que isso seja possível"— Ela fala, quebrando a tensão da sua última pergunta, "Não é possível que algo assim dure tanto tempo"— Completou a capitã gesticulando de forma confusa.

E mesmo arrancando um sorrio de meu rosto, me fez pensar sobre como seria um ser desses, depois de tantas eras, como se sentiria e o que saberia?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse episódio!

A Luppa é um personagem que gosto bastante e pretendo explorar melhor. Imagino ela como um futuro, um pouco diferente, do que a Pharvra será.

E é, talvez, por isso, que o Dancan se da tão bem com ambas.
Será?



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